sexta-feira, 30 de maio de 2008

Entrevista com a presidente da União Brasileira de Trovadores / Paraná Vânia Maria Souza Ennes


Lairton: Qual o seu nome completo, onde nasceu e reside?

Vânia: Meu nome é Vânia Maria Souza Ennes e sou natural de Curitiba – Paraná, cidade onde resido.

Lairton: Sente-se feliz na cidade, onde vive? O que a leva a sentir-se assim?

Vânia: Sou feliz por ser curitibana e sinto muito orgulho por ter nascido aqui, terra dos meus antepassados, tanto do lado materno quanto paterno. Ambos bandeirantes, procedentes das 13 famílias que vieram de São Paulo para colonizar esta região, quando, em 1693, foi chamada de Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais e, anos mais tarde, foi denominada Curitiba.
Quando penso nisto, fico imaginando a coragem, a disposição, a abnegação e o talento construtivo desses pioneiros empreendedores.
Sinto-me muito bem aqui porque hoje, 313 anos após sua fundação, Curitiba é uma cidade onde, ainda, se respira o verde.
Posso dizer que vivemos numa cidade organizada e, devido à boa imagem que conquistou nacional e internacionalmente, foi reconhecida como “Capital Americana da Cultura/2003”.
Curitiba possui 26 parques e cerca de 81 milhões de metros quadrados de área verde preservada. São 55 metros quadrados de área verde por habitante, três vezes superior ao índice recomendado pela Organização Mundial de Saúde e, por isso, possui o título de “Capital Ecológica”.

Lairton: Qual a sua formação universitária, e que profissão desempenha?

Vânia: Sou formada em Administração de Empresas com habilitação em Comércio Exterior e, no momento, estou cursando o 3º ano do Curso de Direito. Desempenho minha profissão na área administrativa empresarial.

Lairton: Como foi a sua iniciação na poesia e na trova?

Vânia: Neta, sobrinha e filha de poetas, trouxe do berço o gosto pela poesia, literatura e pela arte. Aos 9 anos tive minha primeira poesia publicada em jornal, e, aos 10 anos, fui convidada para entrevistar, na Rádio PRB2, o ilustre Jornalista carioca Ibraim Sued, por ocasião da sua passagem por Curitiba.

Lairton: Sente-se suficientemente realizada?

Vânia: Sim, a vida me deu muito mais do que havia imaginado.


Lairton: Em sua opinião, por que a trova tem tanto destaque na história do povo luso-brasileiro?

Vânia: O destaque na história do povo luso-brasileiro é porque a “nossa” trova, de hoje, passou pela quadra portuguesa. E por ser uma composição curta, leve, agradável, tão ao gosto do povo, ela se difundiu entre nós, refletindo-se, por exemplo, nas quadras populares, nas cantigas de roda, nos folguedos e na arte repentista.
E assim, foram surgindo quadras bem elaboradas e tão apreciadas que ganharam espaço, elevando-se a uma categoria literária mais formal.
Embora pareça fácil, a boa trova requer muita arte e a verve de um verdadeiro poeta, combinando a perfeição da forma com a beleza do conteúdo em apenas 28 sílabas métricas.
Cabe ressaltar, aqui, que o termo “trovador” se reporta aos poetas portugueses da Idade Média, que ao som da lira recitavam nos palácios dos nobres. Suas criações poéticas eram as chamadas “cantigas”, e nada tinham de comum com o aspecto formal da nossa trova de hoje.
Rememorando, no Brasil, após a revolução nas Letras, com a Semana da Arte Moderna, em 1922, duas formas de poesia clássica resistiram e continuam intensamente cultivadas até hoje, Uma delas é a trova; a outra, o soneto.
Como sabemos, a trova é um poema curto, composto de uma única estrofe. Esta estrofe é uma quadra, isto é, formada de quatro versos paralelos. Cada verso contém sete pés, ou sete sílabas métricas. Pois bem! Para uma quadra ser considerada trova, dentro desse conceito atual, deve ser única, independente, sem título e – eis o mais importante – deve ter sentido completo.
Parece fácil, mas a boa trova deve ser bem elaborada, de forma perfeita e excelente conteúdo.

Lairton: Apesar da grandeza da trova e da sua popularidade, nota-se aqui um paradoxo: Porque, nas escolas, a trova ainda não é estudada na mesma proporção das outras formas literárias? O que fazer para resolver esta questão?

Vânia: Na minha visão, a trova não é estuda como deveria, por falta única e exclusiva de interesse, aliado à falta de maior atenção à realidade literária presente, por parte dos dirigentes educacionais. Tem-se, ainda, descaso, ou mesmo ignorância das entidades governamentais, em melhor desenvolver a criatividade mental do ser humano.
A solução definitiva, para esta questão, é apresentar um projeto, demonstrar e convencer o Ministro da Educação e Cultura, Secretários da Educação e Cultura e outros, dos inúmeros benefícios dessa modalidade poética. Fazê-los entender que a Trova, através da poética dos versos com bons pensamentos, com princípios de integridade moral, de civismo e da ética, pode educar, distrair, aumentar o vocabulário, desenvolver o raciocínio, intensificar a criatividade e ensinar a humanidade sobre conceitos, idéias e ideais jamais imaginados, em apenas quatro versos. E com que facilidade! E com que rapidez!
Para isso tornar-se realidade, bastaria incluir a Trova, de forma obrigatória, na Grade Curricular de Ensino em todo o Brasil. Poderia ser na área de Literatura ou na de Ensino da Língua Portuguesa.

Lairton: Tendo se tornado Presidente da UBT do Paraná, já teve a felicidade de realizar feitos importantes em favor da trova. Qual a meta prioritária da sua administração?

Vânia: Fui presidente por três gestões consecutivas da UBT Seção de Curitiba/PR e tive a oportunidade de empreender, juntamente com uma brilhante diretoria, grandes projetos em favor da Trova.
O maior deles foi a brilhante parceria da UBT Curitiba com a Brasil Telecom, ao colocar no mercado 440.000 cartões de telefones públicos, com trovas de renomados trovadores paranaenses.
A Brasil Telecom investiu na Trova e no Trovador, consciente da importância do seu papel educativo no desenvolvimento do nosso estado e, principalmente, no aprimoramento do povo brasileiro. Essa parceria resultou num passo gigantesco em prol da Cultura e da Cidadania do nosso Estado e do nosso País.
Entre outras, uma grande realização foi em parceira com a URBS de Curitiba S/A, quando trovas educativas de trânsito invadiram as ruas de Curitiba. Foram colocadas nas esquinas, em cima das placas indicativas do nomes das ruas e Curitiba virou uma antologia de Trovadores.
Já, na qualidade de Presidente da UBT Estadual do Paraná, cargo assumido em março de 2006, juntamente com uma eficiente diretoria, estamos trabalhando no sentido de aumentar, significativamente, o número de Novas Seções e Delegacias no Estado. O saldo é positivo. Quando assumimos, éramos 6 (seis) entre Seções e Delegacias. Hoje, cinco meses depois, somos 14 (quatorze). Já lançamos o Boletim Informativo nº 1, ano 1, para melhor integração dos trovadores paranaenses com o resto do País.
A meta prioritária, agora, é crescer muito, muito mais.

Lairton: É autora do CEN – “Cá Estamos nós”? – O que o CEN representa para você?

Vânia: Sim. O CEN é um brilhante e árduo trabalho de incentivo e democratização da cultura e da arte literária que une intelectuais, no âmbito internacional. Uma progressão geométrica fantástica!

Lairton: Tem algum projeto literário para o futuro?

Vânia: Sim, tantos que não encontro tempo para realizá-los.

Lairton: Já editou ou pretende editar algum livro e/ ou livro eletrônico? Cite-nos seus títulos.

Vânia: Já editei opúsculos referentes a genealogia de minha família, pelo lado paterno. São eles: “Resgatando o Passado da Família Marés de Souza I, II, III, IV e V”.
Tenho, ainda, vários outros em andamento para publicação.

Lairton: No universo de leitores, muitos adolescentes irão ler esta entrevista. Que incentivo daria a eles, a fim de que, respeitando seus pendores, venham a ser (quem sabe?) trovadores brilhantes?

Vânia: O assunto é muito vasto. O que eu melhor posso dizer é que a Trova, sendo um jogo de palavras inteligentes, mantém nossos neurônios ocupados, ativa nosso cérebro, estimula a agilidade dos nossos pensamentos, desconhece fronteiras mentais e dá mais colorido à nossa vida.
Pela força e riqueza de seu conteúdo de fácil memorização, pode-se chegar, até, mudar a mentalidade de um povo ou de uma nação, conforme a popularidade que é possível alcançarmos em seus quatro versos.
Entendo que a trova opera milagres!

Lairton: Na conclusão desta entrevista, escreva-nos algumas trovas de sua autoria, e agradecemos muito a sua importante participação. Um grande abraço!

Vânia:
Eu não mudo de país,
nem de cidade ou estado,
porque aqui sou bem feliz...
exatamente... ao seu lado!!!

Romântico e apaixonado,
meu pensamento flutua,
vai ao céu... volta zoado:
Vive no mundo da lua!

Acalmar gesto impulsivo
num conflito sem razão:
Medicinal... curativo...
é a humildade e o perdão!

Reconheço que a razão
me exerce extremo fascínio,
mas, se acerta o coração...
perco o rumo e o raciocínio!

Mãos que orientam crianças,
seja na escrita ou leitura,
mostram sinais de alianças
de nobreza e de ventura!

Educação e cultura,
seriedade e competência
é alvo certo de ventura
que aguardamos com urgência!

Quero um planeta perfeito,
sem guerra, sem corrupção.
Povo justo e satisfeito,
respeitando seu irmão!

Fonte:
ANDRADE, Lairton Trovão de Andrade. Falando de Trovas e Trovadores. Portal CEN. n. 1. Agosto de 2006. Disponível em: http://www.caestamosnos.org/rev_trovasetrovadores/revistatrovasetrovadores01Ago.htm

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