segunda-feira, 30 de junho de 2008

André Augusto Passari (O mago da ironia)

Lá se vão cem anos, e quanta solidão!
De lá para cá, o ser humano
Esse espectro frágil de qualquer coisa que seja Deus
Tropeçou em suas próprias armadilhas e se perdeu

Por isso, com a mesma ironia
E em memória àquele que um dia iluminou essa escuridão
Dedico estes versos, pobres e insuficientes versos
Mas que dão mote à grandeza do nome sobre o qual verso

Antes do mais, perdoe-me o engano
Não, não é um espectro frágil o ser humano
É antes o próprio ideal trágico de um sonho infeliz e patético
Uma gargalhada profunda de um Deus incrédulo e imagético

Mas vá lá, voltemos ao nosso mote
E à homenagem ao grande Cavaleiro das Letras
Fundador da Academia Brasileira de Letras
E que nos inspira em vida e em morte
Joaquim Maria Machado de Assis
Ou somente Machado de Assis

Não era mesmo para ser o orgulho da pátria
Estava mais para um néscio ou um paria
Mulato pobre, gago, órfão, epilético e sem estudo
Tornou-se logo entre todos o mais culto
E contrariando a ordem lógica do mundo
Inverteu a lógica, o real e o oculto

Enxergou como ninguém a alma humana
E a revelou com a elegância de uma arte grega ou romana
Mas o fez com tal sinceridade
Que até parece crueldade
É que o homem vive numa crise de identidade
Ante o bem e o mal, a dualidade

Homenageado com honras em seu velório
Machado de Assis nunca foi um simplório
Sabia que a vida é um desafio complexo
E que só com maestria e valentia é que faz nexo
Por isso aproveitou a ironia de ter nascido pobre
Para morrer com a insígnia de um espírito nobre
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Notas sobre o autor:
André Augusto Passari, novo escritor nascido em Sorocaba (SP), veio ao mundo em 1979. Médico psiquiatra, reside em Ribeirão Preto (SP). Na literatura, assume sua condição de profundo admirador de Machado de Assis.
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Fonte:
PASSARI, André Augusto. Tempo, Solidão e Fantasia. São Paulo: Scotercci Editora, 2005.

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