quinta-feira, 12 de junho de 2008

Aninha Calijuri (O Grande Amor de Anitinha e Lazzini)

O calendário assinalava o ano de 1953.

Anitinha com apenas onze anos de idade e o Lazzini vinte anos mais velho que ela. Na cidadezinha onde residiam, o céu testemunhava aquele amor tão grande e parecido ao de Julieta e Romeu.

O Lazzini, que havia tido inúmeras namoradas, cantor, boêmio, de repente encontrara-se demasiadamente apaixonado pela menina, que a todos encantava pela sua sensibilidade. Ele confessava aos seus amigos mais íntimos que deixara de lado a boêmia, seu ritmo antigo de vida, para ser feliz com sua namoradinha tão criancinha, sua paixãozinha!

Certa vez, numa noite linda, um baile abrilhantava a Festa de Formatura dos alunos daquele tradicional Colégio. O Lazzini era cantor da famosa Orquestra de uma cidade paulista, que percorria várias cidades do Brasil. Pelo fato de ser ele cantor, ser bem mais velho que ela e haver tido muitas namoradas, o pai dela era desesperadamente contra aquele namoro, ainda mais por ela contar somente com onze anos.

Naquele único Clube da cidadezinha, o baile avançava pela noite adentro. Anitinha sabia que lá ele estaria cantando com sua Orquestra. A tia dela, então, levara-a ao Clube. Ele, no palco cantando, não tirava os olhos daquela mesa, onde ela estava ao lado de sua tia Maria.
Aquela noite foi uma triste despedida, porque no dia seguinte, logo de manhã, o Lazzini e sua família estariam seguindo de mudança, para o interior do Rio de Janeiro. Ele prometera-lhe que voltaria sempre para revê-la... Assim passaram-se oito anos!...
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Na nova cidade, onde ela passara a residir, juntamente com sua família, no primeiro semestre do ano de1961, ela já estava com dezenove anos, quando pela vez primeira, ele pisara aquele chão e, também a última!...

- Anitinha, jamais irei esquecê-la, porque você é a minha pequenina namorada, uma Julieta tão criancinha. Sei que nunca mais conhecerei alguém tão doce igual a você! (Ela realmente era doce e meiga e o tempo encarregara-se de mudar bastante aquele belo aspecto).
- Lazzini, com o coração partido, deixo-o, porque meu pai não simpatiza com você e assim, com essa barreira enorme, jamais conseguiremos ser felizes.

Havia lágrimas nos olhos dele e nos olhos dela. Os olhos dele de cantor romântico, sensível, pleno de esperanças, que durante aqueles oito anos ofertara-lhe flores, cartões coloridos e cartas apaixonadas, perdera naquele momento todo o brilho. Ele, que nascera numa cidade do Estado de Minas Gerais e, menino ainda chegara com sua família ao Norte do Paraná, encontrara-se naquele momento, com seu semblante tomado de imensa tristeza.

O rosto de Lazzini (parecido com o rosto do cantor Plácido Domingo), o rosto de Lazzini, tão amado por ela, a paixão dele por ela, o Tempo encarregara-se de guardar, no mais profundo e refrigerado verde recanto da alma dela!... Nunca, jamais alguém a amaria daquela maneira. Como ele adorava aquela menininha!...

A primeira mão de um homem em sua mãozinha, fora a do Lazzini. O primeiro abraço de um homem, em seus delicados braços, fora o do Lazzini. E o primeiro beijo de um homem, nos lábios dela tão doces, fora o do Lazzini.

- Anitinha, minha menina meiga, doce flor, nosso amor é igual ao de Julieta e Romeu. É terrível estarmos separando-nos hoje. É uma dor lancinante. Ouça bem, nunca acabarei por unir-me a outra mulher, porque creio firmemente que, se um dia, você decidir-se chamar-me de volta, quero estar totalmente livre para você!

A partir do ano de 1961, quarenta e cinco anos passaram-se. No silêncio da alma dela, seus pedidos de perdões como em preces para ele. - Perdoa-me, Lazzini, meu querido cantor tão amado, meu primeiro namorado, meu único e verdadeiro grande amor, perdoa-me, por deixá-lo um dia! Ainda estou a ouvi-lo no longe do Tempo, cantando as famosas canções: “Caminhemos”, “Mis noches sin ti”, “El dia que me quieras”!... Saiba querido Lazzini, as minhas doçuras, meiguices guardadas, estão no mais profundo de meu âmago. Perdoa-me, meu querido cantor, porque é bem verdade que nunca mais alguém me amará como você me amou! Por essa razão, minha doçura e minha meiguice, estão bem escondidinhas, no cantinho especial, precioso de meu coração!...

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Vésperas de maio de 2006. O Tempo passara demais. Onde estaria o Lazzini, na hora presente? Será que ele já terá partido para o Outro Lado da Vida, deixando terrivelmente órfã a alma dela?... Ou será que ainda vive?... Estará só ou com alguém?...

Dizia para si mesma que aquele sonho lindo de unir-se a ele nunca se realizaria!... E ela sabia que morrera imensamente, por dentro de sua alma, naquele dia tão triste, quando se separaram para sempre!...
- Oh, Lazzini, meu primeiro namorado, meu único e verdadeiro amor!...

Sim, são lembranças que a Vida não desfaz e ao redor dela, apenas subsiste o vazio, da grande ausência dele. Só restara para ela, lágrimas, muitas para chorar!... Chorar demais e desconsoladamente!... E apesar de tudo saber que Amanhã será um outro dia e ela tem que forçosamente continuar vivendo. Assim é a Vida!... Mas também, por outro lado, mesmo dentro de todas as machucaduras em seu coração, a plena certeza do amor dele, naquela época, já bem distante. Como ele a amara!... Aquela verdade tão rica acompanha-a, porque não houve somente perdas. Ele amara-a muito! E isso é tudo para Anitinha!...

Fonte:
Academia de Letras de Maringá
http://www.afacci.com.br/

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