segunda-feira, 16 de junho de 2008

Fiodor Dostoievski (O Idiota)

Livro escrito em Florença entre 1867 e 1868, durante quatro meses, por Fiódor Dostoiévski.

Foi bem recebido pelos críticos da época. O escritor inspirou-se em Dom Quixote para escrever essa obra, visto a similaridade do protagonista príncipe Míchkin com o protagonista do romance de Cervantes. A obra foi publicada em 1869.

Enredo

Príncipe Míchkin morou na Suíça por vários anos para tratar de sua idiotia. Quando precisou voltar à Rússia para reclamar uma herança, estando praticamente curado, conhece uma parente distante (Aglaia Epantchiná) e afeiçoa-se a ela. Ao longo do romance, o príncipe mostrará ser honesto, bondoso e romântico, mas terá problemas com isso, pois, os outros acham que isso é sintoma de idiotia.

Personagens do romance
Príncipe Lev Nikoláevitch Míchkin (o idiota) – É o protagonista desta história.
Visto que o mundo contém todo o tipo de espíritos entre o bem e o mal, e, se num extremo pode-se encontrar pessoas abomináveis, infames, corruptas e mais uma quantidade de adjectivos que caracterizam a perversidade, então poderemos ter a certeza de encontrar o príncipe Míchkin sentado no trono no extremo oposto a esta perversidade. Tal como o autor do livro, Míchkin é um doente que sofre de epilepsia, mas não é com certeza por padecer desta condição, o motivo que o fez viver completamente privado de poder racional; o seu apurado senso comum é que o dispensa de necessitar dessa racionalidade que lhe está em falta para poder fazer juízos de valor. Em compensação, é pejado de uma grande generosidade, benevolência e, consequentemente, de muita ingenuidade. No entanto, mesmo acarinhado e bem tratado por todos, embora até sendo visto como um coitadinho devido à sua bondade, não se consegue livrar da chacota e das alfinetadas que frequentemente lhe atiram, como é tão próprio serem lançadas por quem se aproveita da bondade de alguém que, erroneamente, a relacionam com algum tipo de pessoa fraca e débil. Nem suspeitam pois que, por ser conotado como um pateta, um idiota debaixo do olhar de toda a gente, o príncipe seja capaz de ser tão esperto que os restantes, quanto mais detentor de uma mente superior, possuindo um dom intuitivo, praticamente profético, capaz de deslindar a essência do espírito sob os rostos de quem o rodeia, o fundo das pessoas, ou seja, a verdadeira índole de cada um e avaliar na perfeição os seus atributos. Órfão de pais e sendo o último da linhagem dos Míchkin, a história começa quando ele retorna à Rússia para recolher uma herança deixada por um velho amigo e familiar de seu pai.

Rogójin, Parfion
Com esta personagem Dostojevski cria um puro antagonismo relativamente ao príncipe Míchkin. Uma personagem bastante sombria e endinheirada devido ao capital que o seu pai, Semion Parfiónovitch Rogójin, lhe deixou ao falecer. Ele e o príncipe Míchkin conhecem-se logo no início da história, criando-se rapidamente um laço de amizade entre os dois, todavia, o que neste laço que parecia estar bem atado, mais tarde ir-se-ia enfraquecer e tornar numa competição rival pelo afecto de Nastássia Filíppovna, uma mulher que se intromete na amizade entre as duas figuras principais.

Nastássia Filíppovna
Se na sua mocidade era já uma mulher culta, de boas maneiras e com uma notável presença de espírito, mais tarde iria mudar radicalmente o seu comportamento. Mesmo ainda antes de a conhecer, foi para o príncipe Míchkin uma das mulheres pela qual ele se apaixona imediatamente, quando, na casa dos Epantchin, fixa o olhar fascinado para um retrato seu. Devido à morte trágica de seus pais, foi ainda na sua meninice acolhida por Tótski juntamente com sua irmã, falecendo também esta última pouco tempo depois. Seria entregue a vários cuidados durante a juventude. Concluída a sua educação tornara-se então numa mulher adulta, portadora de grande beleza e de grande poder de sedução. Prometia muito para o seu futuro. Contudo, a partir do momento que soube do pretenso casamento de Tótski com uma das Epantchin, torna-se numa mulher completamente diferente, enchendo o coração e a alma de intensa malvadez.

Ivan Petróvitch Ptítsin
É um modesto usuário, amigo de Gavrila e frequente convidado em casa da família Ívolguin. Nutre, ao mesmo tempo, um especial carinho pela irmã de Gravila, a Varvara Ardaliónovna.

Kólia
É um miúdo alegre que se dá bem com toda a gente.

Lébedev
É um bêbado nato.

Ferdíchenko
Um jovem funcionário e um inquilino na casa dos Ívolguin.

Tótski, Afanássi Ivánovitch
É um homem adequado à alta sociedade. Um conservador bem estabelecido e proprietário de numerosas terras, que teve em Nastássia Filíppovna, o papel de orientá-la na sua educação. Enlaça ainda uma grande amizade com o general Epanchin. Sendo o tutor de Nastássia Filíppovna, reparando que ela estava extremamente sozinha na vida, atribui-lhe um dote no valor de setenta e cinco mil rublos. Desejava que ela se case, embora, visse Filíppovna desprendida de tal desejo, permanecendo ela indiferente a vários candidatos altamente classificados. Tótski, conjuntamente o general Epanchin, elaboram uma manobra de casar Filíppovna com Gavrila Ardaliónitch, talvez o único pretendente a quem ela pudesse vir aceitar como marido. E, sendo o próprio Tótski amante da beleza, um entendido no assunto, pretendia assim nesta ocasião casar-se aos cinquenta anos com uma das filhas do general Epanchin.

Pavlíchev, Nikolai Andréevitch
O parente afastado do príncipe Míchkin que pagava a sua manutenção na Suíça para tratamento médico. Dado a sua morte, deixa ao príncipe uma herança avultada de dinheiro.

Schneider
É o médico-professor que assistia o príncipe Míchkin enquanto este passou os anos na Suiça dentro de um sanatório para doentes mentais em tratamento da sua epilepsia.

Daria Alekséevna
Uma amiga de Tótski. Uma personagem muito secundária.

Os Epantchin
Ivan Fiódorovitch Epantchin
É um general com cinquenta e seis anos que se sente na fase ideal da sua vida, em pleno gosto por ele próprio e pela sua família. A fortuna avolumada que juntou deveio-se, substancialmente, do dote de sua mulher quando se haviam casado há já muito tempo, arrecadando apenas uns modestos cinquenta rublos. Dote pequeno, embora importante, que lhe veio servir de base fundamental para negócios posteriores. A sua presente actividade lucrativa é arrendar casas e propriedades, e até uma fábrica nos arredores de Petersburgo, da qual é senhor. A sua família numerosa é composta, no momento da história, pela esposa e pelas suas três filhas adultas.

Lisaveta Prokófievna Epantchiná
É a mulher do general Epantchin, recebendo, assim, o estatuto de generala. É proveniente da linhagem dos príncipes Míchkin, implicando-a ser parente do protagonista da história, o príncipe idiota.

Aleksandra, Adelaída e Aglaia Epantchiná
São as três filhas do casal Epantchin. Umas pequenas princesas, devido à linhagem principesca da mãe. Bonitas, dotadas de cultura e inteligência. Teriam cerca de vinte cinco, vinte e três, e vinte anos respectivamente. A primeira é a mais feliz e a mais simpática, a do meio, a mais enigmática, e por último mas não em último, Aglaia é das três irmãs a mais importante na história, caprichosa e bastante temperamental.

Os Ívolguin
General Ívolguin (Ardalion Aleksándrovitch Ívolguin)
O patriarca da família. Um general na reserva, acabado e amigo da bebida, simultaneamente com uma necessidade compulsiva de mentir, pedindo sempre dinheiro emprestado a toda a gente que lhe aparece pela frente para, enfim, gastá-lo todo em bebida.

Gavrila Ardaliónitch Ívolguin (por vezes Gánia, Gánetchka ou ainda Ganka)
Um amigo e secretário do general Epantchin. Sabendo da amizade que este mantinha com Tótski, acabaria para o interesse de todos por ganhar o consentimento de se casar com Nastássia Filíppovna assim que esta desse sua permissão. Ao mesmo tempo que isto, enquanto que Tótski, o general, e ele próprio congeminavam forças para que o enlace se concretizasse, o seu coração pertencia a Aglaia Epantchiná, alimentando esperanças ocultas para que esta findasse qualquer pretensão do seu casamento com Filíppovna.

Nina Aleksándrovna Ívolguina
É a mãe de Gavrila Ardaliónitch. Uma mulher modesta e digna, embora ressequida e amargurada pela sua vida triste e difícil.

Varvara Ardaliónovna Ívolguina (por vezes Vária)
A irmã de Gavrila Ardaliónitch.

Sujeitos pertencentes ao bando de Rogójin.
Zaliójev, o senhor dos punhos, keller, Lébedev, entre outros…
São uma cambada de salafrários e de trambiqueiros, acompanhando quem lhes for mais conveniente na onda dos seus interesses, sempre com o pretexto de oferecer a protecção e ajuda do bando.

Sobre o livro

Dostoiévski nesse livro fala do nacionalismo russo e do catolicismo eslavo. Com o príncipe, ele tenta resgatar uma figura pura e quase santa de uma sociedade russa que talvez tenha existido. O livro é considerado o mais típico de seu estilo, com abundantes personagens, análises psicológicas, histórias e humor. Pode-se dizer, como será natural, que o livro contém muita coisa da vida do autor e da sua ideologia. Uma semelhança bastante evidente é a de o príncipe também sofrer de ataques epitéticos, a personagem Aglaia crê-se que foi criada a partir de uma mistura entre Ana Korvin Krukovskaia e Paulina Suslova. A primeira mulher foi a quem Dostoiévski fez corte durante algum tempo por correspondência e pediu em casamento, mas esta recusou o pedido por achá-lo de aspecto pouco atraente (a família Epantchin também teria sido inspirada na própria família de Ana Krukovskaia, os Krukovski), a segunda mulher foi na realidade a grande paixão de Dostoievski e a pessoa mais retratada nos seus romances[2].

Ideologia

Os anos em que Dostoiévski viveu na Europa contribuíram para o escritor um forte conhecimento acerca de vários países e de vários costumes da época. Foi uma oportunidade excelente para este poder fazer comparações entre a Rússia da altura e a Europa Ocidental, sempre sob o ponto de vista eslavo. Os avanços técnicos eram notórios na Europa Ocidental com a industrialização que batia largamente a Rússia aos pontos, contudo, a espiritualidade da Rússia revelava-se bastante superior à da Europa Ocidental, e Dostoiévski, que acreditava piamente no renascimento da ortodoxia russa e sendo ele também um devoto da fé ortodoxa, tinha conhecimento desta Rússia e a sua força espiritual. Julgava o sentimento patriarcal e ortodoxo como sendo a única solução verdadeira para realização-pessoal de a Rússia não vir a cair na mesma cultura materialista de afirmação-pessoal que a Europa começava a eleger e até de poder salvar a Europa do seu próprio declínio, daí, sob o desejo de cultivar e propagar esse sentimento eslavo, escreve certas partes do romance acerca da contradição Europa-Rússia

Fontes:
http://pt.wikipedia.org

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