terça-feira, 3 de junho de 2008

Jorge Fregadolli (O Vendedor)

Admiro muito as pessoas que sabem vender coisas. Qualquer coisa. No balcão de uma loja ou indo diretamente ao encontro do comprador. O vendedor me impressiona pelo seu fôlego, pelo seu farto assuntário, pela sua inata psicologia, até muitas vezes pela sua cara-de-pau...

Tenha ele o nome que tiver: picareta, corretor, agente de negócios, é sempre um mágico, um diplomata, um genial lutador que, se for desafiado, é capaz de vender geladeira a esquimó.

De vez em quando um deles aparece na casa da gente ou no escritório. Fala, toma um tempo precioso, chega a irritar pela sua insistência em vender aquilo que não queremos comprar. Todavia, eu gosto de ouvir os vendedores, para analisá-los. São pessoas realmente singulares.

Impressiona-me a paciência deles. Não se importam em levar “chá-de-cadeira”. Sentam-se numa sala-de-espera, uma, duas, três horas, aguardando a atenção do cliente. Nunca perdem o bom-humor, nunca lhes falta aquela piada sensacional para quebrar o gelo. Sabem de tudo. Entendem de futebol, de política, de samba. Entendem de qualquer coisa que o cliente resolva discutir. E, se levam um ”fora”, agradecem do mesmo jeito e prometem voltar no mês que vem. Voltam como se nada houvesse acontecido. E transam o negócio compensador.

O Norte do Paraná é, de certa forma, o produto do trabalho de uma grande multidão de vendedores. Desde os vendedores de terras para lavouras e lotes urbanos, até os que vendem casas, apartamentos, automóveis, máquinas, adubos, inseticidas, material de escritório, produtos de beleza, geléia-real, sapatos, livros, publicidade, tudo enfim.

O vendedor anima a praça. Estimula os investimentos. Faz o dinheiro rodar. É um agente do progresso e, ainda que algumas vezes nos obrigue a comprar o que não queremos, nem podemos, ainda assim a gente gosta dele e o admira.

Um desses gênios do comércio me contou que, certa ocasião, vendeu dois tratores a um homem que nem terras possuía, e para que os tratores não ficassem inúteis, acabou vendendo também um sítio ao mesmo freguês. Depois, ainda ao mesmo dito-cujo, vendeu adubos, pesticidas, uma bela colheitadeira e sei-lá-que-mais. Deu tamanha sorte, que o homem enriquecera em pouco tempo com aquele sítio, comprando mais terras e é hoje um de seus maiores fregueses.

O vendedor é aquele que jamais deixa a peteca cair. Pode estar a maior crise do mundo e ele continua pregando otimismo. Você acaba comprando as coisas dele pelo entusiasmo que ele injetou em sua vida.
====================
Sobre o Autor
Membro da Academia de Letras de Maringá
Cadeira nº.30 – Patrono: Monteiro Lobato
Advogado, jornalista, editor da Revista Tradição. Nasceu em Quatá – SP, no dia 02 de março de 1938. Autor do livro: “De olho na história”.
====================
Fonte:
Academia de Letras de Maringá. http://www.afacci.com.br/

Nenhum comentário: