segunda-feira, 16 de junho de 2008

Wilson Bueno (Língua D’Antanho)

Durante generosa parte de sua longa e frutuosa vida, o professor Vasco Taborda Ribas (1909-1997), bem mais que o conhecido poeta de um tempo curitibano que o vento levou, foi o criador e permanente entusiasta da famosa Edições O Formigueiro.

Estreitamente ligada ao Centro de Letras do Paraná, outro dos grandes entusiasmos do velho mestre, a editorinha publicou mais de uma centena de poetas e ficcionistas paranaenses d’antanho. E não se deixe de anotar aqui que Vasco Taborda Ribas era, antes de tudo, um homem modesto. De uma modéstia lírica e elegantíssima.

Lembro dele instruído pela saudade do pivete atrevido que sempre fui. Pobre e atrevido, ou atrevido justamente por isso mesmo. A mim e a Luiz Manfredini que, aliás, atenção, senhores, tem na gaveta um inédito precioso, o romance Memória de neblina, Taborda Ribas nos orientou o mundo com desvelo. Naquela pré-história de nossa humanidade...

Mas não há nostalgia aqui; antes o gosto pela linguagem de outros tempos, uma marca da maioria dos textos publicados pela Edições O Formigueiro. Linguagem que o Tempo, implacável, pulverizou e que, vista desde a ótica de nossos internéticos dias, tem um efeito cômico e, alguma vez, devastador.

Pego, aqui e ali, em alguns autores que prefiro não citar, certas palavras ou expressões que se reafirmam a Língua como coisa movente e sempre nova, nos dão, também, sem dó, a medida de sua cruel fugacidade.

Por exemplo, galanteio era, ora direis!, “fazer pés-de-alferes” o que também é o mesmo que o nosso ainda vivo “arrastar as asas” para alguém. Cousa bem mais galinácea, convenhamos, que a finada expressão grafada pelo esquecido contista num dos livros da Formigueiro. “Malandrim” era sinônimo de “peralta” e “peralvilho” de um peralta ainda mais incorrigível.

Sumiram os “peraltas” e ainda mais os “peralvilhos”. Substituídos por “meliantes” (também em franco desuso...) ainda que inumeráveis, de Brasília às favelas do Complexo do Alemão, no Rio, de uma forma assim meio indiferençada, senão misturada de todo... Ausente daqui motejo ou debique.

Inteira colho uma frase, em outro autor editado pelo saudoso Vasco e até por ele prefaciado: “Com grave defluxo se acercou o astioso capa-goma, o trabuco ao peito do níveo carniceiro”. Quem for de entender, que entenda.

Língua luso-brasileira, ouro latim em pó, nem é preciso ir muito longe (né mesmo, Toninho Vaz?) pois quem diz hoje que está apaixonado por um broto legal? E se ele (ou ela) é jóia nada difere dos supimpas d’outrora, sécios pimpolhos...

Estava certo Vasco Taborda Ribas. O negócio era juntar tudo e todos em torno da Formigueiro. Sem importar se casquilhos, tetéias barbanhudos ou vates de cavanhaque. Ao final e ao cabo, acabamos todos, sem a nada assistir, no mesmo - vão - “cinematógrapho”, a sete palmos de fundura. Sem modernidades nem ademanes.

Fonte:
http://www.parana-online.com.br/noticias/ . Publicado em 13/04/2008.

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