quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Josie Mello (Poemas)

Quotidiano 17

ela
lava passa coze
borda a fronha
arruma a cama
e nessa espera medonha
fica repleta de horas
fica vazia de tempo

ele
quer ficar na rua
iludindo a liberdade
sente a noite
encher-lhe o peito
vira o copo com despeito
e se esvazia de vontade

ela
sabe que ele volta
mesmo sem querer voltar

ele
sabe que ela espera
mesmo se ele não chegar

Poema
(dedicado a Adélia Prado)

se eu não houvesse nascido
com essa maldita mania de escrever poemas
gostaria de ser viticultora
daquelas bem robustas
de pouca conversa
de muito labor
[pisar uvas
desenhar rótulos
fiscalizar tonéis
vender a safra]

e à noite
na minha poltrona
fazer meu crochê
ler a Bíblia
com aquela indescritível sensação de felicidade
que só as mulheres sentem
quando estão com as contas pagas
a casa limpa
e os filhos dormindo.
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Sobre a autora
Josie Mello (Josefina Neves Mello) nasceu em Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro. Escreve desde pequena. Mora em São José dos Campos (SP), onde leciona língua portuguesa, compila textos, faz traduções para o espanhol e, é claro, escreve prosa e versos. Teve alguns trabalhos publicados em jornais e revistas, sendo que o "Poema" em homenagem a Adélia Prado consta do livro "Mulheres de São José - Antologia Poética", organizado por Celso de Alencar.
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Fonte:
http://www.releituras.com/

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