sábado, 1 de novembro de 2008

Caldeirão Literário do Pará (Antonio Juraci Siqueira)

Arte Poética

Hoje,
amanheci meio peixe,
meio pássaro.

Estou aprendendo a nadar,
tomando aulas de vôo
e aprimorando o canto.

Amanhã,
pássaro pleno,
insofismável peixe,
debulharei meu canto sobre a terra
em nados abissais

e vôos rasantes.
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Verde Canto

Verde é o meu canto

vivo muiraquitã de amor talhado
na pedra da existência e pendurado
no invisível pescoço do amanhã.

Verde é o meu pranto

musgo a crescer nas fendas seculares
abertas pelas mãos da malquerença
na história carcomida deste chão.

Verde é o veneno

que escondo na palavra – jararaca
furtivamente oculta entre a folhagem
no emaranhado chavascal de mim.
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Vôo Noturno

Na fogueira da aurora eu me consumo
e ressuscito entre os lençóis da noite
para tecer meu ninho de discórdias
no frágil ramo do teu coração.

A minha pena – faca de dois gumes –
ao mesmo tempo fere e acaricia;
as minhas asas - guarda-sóis se abertas,
quando fechadas, grades de prisão.

Trago nas veias sangue canibal:
bebo esperanças, mastigo ilusões
e, às vezes, sorvo sonhos matinais.

Portanto não se engane: sou poeta
em cujo peito dorme um troglodita
que traz no coração pluma e punhal.
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Hai-Cai

a borboleta
põe dobradiças de sonho
sobre o jasmim.
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O Verbo e o Tempo

O verbo é grão
que germinará
na seara do tempo

O tempo é mó
que em pó tornará
os grãos estéreis
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TROVAS

Lírica:

Sempre que na noite calma
ouvires passos na rua,
não tenhas medo, é minha alma
andando em busca da tua!

Filosófica:

Não deixa que as desventuras
sepultem teus ideais;
vê que nas noites escuras
as estrelas brilham mais!

Religiosa:

Prudente quem não descarta
apoio a crentes e ateus
pois o amanhã é uma carta
lacrada nas mãos de Deus.

Humorística:

Deus fez o mundo certinho
porém, por divina troça,
fez a mulher do vizinho
bem mais bonita que a nossa!

Poeminha Gelado

Quero só ver-te
lambuzada de sorvete
para sorver-te toda
da cabeça aos pés.

Amor de Rosa

Se as flores fazem amor
a minha amada
é uma rosa que em meus braços desabrocha
entre beijos e ais.
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Sobre o Autor
Antonio Juraci Siqueira nasceu em 28 de Outubro de 1948 em Cajary, município de Afuá no Pará, onde, ainda menino, descobriu a literatura através dos folhetos de cordel. Aos 16 anos mudou-se para Macapá (AP) onde casou-se, prestou serviço militar e concluiu os estudos de segundo grau. Em 1976 mudou-se para Belém graduando-se em Filosofia em 1983 pela UFPa. Pertence a várias entidades lítero-culturais, entre estas a União Brasileira de Trovadores, a Malta de Poetas Folhas & Ervas, a Academia Brasileira de Trova e o Centro Paraense de Estudos do Folclore. Atua como oficineiro, performista, contador de histórias e publicou mais de 60 títulos individuais entre folhetos de cordel, livros de poesias, contos, crônicas, histórias humorísticas e versos picantes. Colabora com jornais, revistas e boletins culturais de Belém e de outras localidades e conta com mais de 200 premiações em concursos literários em vários gêneros, em âmbito nacional e local.
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Fonte:
http://www.culturapara.art.br/

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