quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Pedro Du Bois (Poemas Avulsos)


ADERALDOS

Digo ver
aderaldo cego
como lembra
o que nunca viu
mas sabe das cores
nuances e detalhes
da visão perdida
aderaldo cego
no que digo ver
o pássaro sobre a árvore
enluvada mão sobre o ombro
o rosto da mulher contra o vidro

aderaldo cego
cantor da saudade e da terra
no que não viu nem lembra
mas sabe as cores e mete o nariz

o cheiro da terra traz a paisagem
fechada no escuro do que não vê
aderaldo cego
que me vê no que digo
e sabe da minha face.

(publicado em AS PESSOAS NOMINADAS)
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RELATOS

hoje chove e nem por isso entendo melhor
a vida tida ao redor dos compromissos
desaconselhados em premissas verdadeiras
de parentes e conhecidos

os amigos se retiram em pares amparados
uns aos outros fossem as duplas paredes
da caverna aberta à visitação pública
antes de ser higienicamente tratada
para que as doenças deixadas
não se propaguem aos ventos e aos ares

(publicado em POETAS EM OBRAS, Volume II, fragmento)
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ELAS: SENHORA

4

De nenhum talento falamos
senhora
apenas o dia termina
em ocasos
simples
como as coisas comuns
os fatos
e a natureza completam o ciclo
senhora
no primeiro homem
se destaca o estômago
proeminente
fosse a comida a tentação
no segundo homem
o instante se apresenta
na profundeza do olhar perdido
senhora
e nenhum talento
os habitaria em diferenças
histéricas
e históricas páginas reviradas.

(publicado em LIBERDADE (ELAS)
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CANÇÃO DE HOJE

Espero a canção de hoje
suave e calma
anseio a canção mais longe
baixa e cálida
ofereço a canção de onde
silencioso e rude
possa ouvir a canção de ontem.

Nada quero com a canção de hoje
recomposta trajetória
nada espero da canção de hoje
fuga e ária
nem anseio pela canção de hoje
finita e pura.

(publicado em OS SENTIDOS SIGNIFICANTES)
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NÚMEROS RECONTADOS

Em intuitivo gesto
recupera do calendário
a data e a lua

seca o copo, cinco pessoas
em volta do corpo choram
a hora do adeus

intui o amor nos olhos
em frente, olha o luar
em destrancada porta, par e par
onde terminam as jornadas

sabe do corpo caído, cinco pessoas
se afastam em choros furtivos:
no desencontro residem reticências
e sóis teimosos retornam datas.

(publicado em NÚMEROS RECONTADOS)
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O ANCIÃO

O ancião pediu a palavra e ouviu o silêncio
como deferência e cortesia
com que o grupo oferecia seu tempo
a ouvir os anciãos dizerem dos tempos idos
dos prazeres anteriores e das felicidades
alcançadas em pares e famílias e dos filhos
oriundos e descendentes da linhagem nobre
da raça pura em constância e fechamento
sobre mundos ininteligíveis
e não alcançados além da poeira e dos desertos
fechados aos passos e aos cérebros cansados
dos guerreiros que foram até uma parte
e retornaram dizendo das impossibilidades

(publicado em POETA EM OBRAS, Volume III, fragmento)
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A PEDRA DESCORTINADA

Onde se escondem
as horas
da minha passagem

invisível
corpo descontraído
onde se escondem
as feras
mal distinguidas
dos que sofrem
o vazio da ausência

transformado
em pedra
de reconstruídos muros
dos isolamentos

sei das horas passadas:
do tempo vindouro
a página reescrita
pelas bordas.

(publicado em A PEDRA DESCORTINADA)
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RAZÕES

XI

razões com que espera da vida
o caminho correto e exato dos sonhos
das ilusões com que entende
o vento assobiar entre frestas

recém é quarta-feira
e a manhã se apresenta clara
em chuvas passageiras

elenca razões para ser na continuação
afogadas idéias que se remoçam
na força suplantada à lógica e a função
de pensar naufragada aos primeiros votos

a semana passa lenta
feita no tempo
certo e exato e o relógio da cozinha
determina as fomes e as horas
das limpezas e dos polimentos

nas razões a família se acomoda e a vida
mancha o destino onde é encontrado
inerte sobre o sofá em única luz.

(publicado em COMPORTADAS RAZÕES)
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EXISTIR

A existência sustenta
a palavra expressada
quando a noite cobre
a cama onde repousam
pedaços do dia

nada representa a vida:
as palavras dão ao contexto
a certeza do que foi dito

sombras dialéticas
discutem luzes espiraladas
onde se perde o minotauro.

(publicado em A INCERTEZA DA VIDA)
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ARMAZÉM DAS PALAVRAS

O copo d'água
ao lado
do microfone.

Inseparáveis
companheiros
dos extremos.

Secura.
Sede.

O copo d’água
renova
o discurso.

O microfone
explora
a sede
dos ouvintes.
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APARECER

Rompes a casca
frágil
mostra-te

não há o que temer
além da tua imagem
aflorada

essa
já conheces
desde o início.

(publicado em PEQUENOS ESCRITOS)

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Sobre o Autor
Pedro Quadros Du Bois, ou simplesmente Pedro Du Bois nasceu em Passo Fundo, RS, 1947. Residente em Itapema/SC. Poeta e contista. Membro da Academia Itapemense de Letras e do Clube dos Escritores Piracicaba. Vencedor - na categoria poesia - do IV Prêmio Literário Livraria Asabeça, 2005, com o livro "Os Objetos e as Coisas" (Editora Scortecci, São Paulo, 2005).

Também se classificou no 13° Prêmio Poemas no Ônibus (2005), da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, com Posse. É editor-autor com diversas obras registradas e depositadas junto à Biblioteca Nacional, membro da Academia Itapemense de Letras e do Clube dos Escritores Piracicaba.

Fontes:
http://www.globoonliners.com.br/icox.php?mdl=pagina&op=listar&usuario=5812
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/santa_catarina/pedro_du_bois.html
http://pt.wikipedia.org/
Imagem = http://aqueiva.wordpress.com/

Um comentário:

Pedro Du Bois disse...

Caríssimo Feldman,
agradeço emocionado pela gentileza de sua divulgação, incluído o texto feito pela Tânia.
fico disponível para o que o amigo precisar.
abraços,

Pedro

ps: incluí o blog entre meus favoritos.