terça-feira, 7 de outubro de 2008

Daniel Piza (Machado de Assis - O pai da prosa brasileira)

Tudo nele tem razão de ser, o que o deixa extremamente alerta para incorporar improvisos

Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) não teve filhos, mas transmitiu às novas gerações o legado de sua obra. É o pai da literatura brasileira e não apenas num gênero, o do romance, principalmente a partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). É também o pai da crônica - se Rubem Braga foi o príncipe, é porque antes houve um rei -, o pai do ensaio - pois de seu Instinto de Nacionalidade (1873) nasceram os Sérgios Buarques e Antonios Candidos - e o pai do conto - que sua primeira biógrafa, Lúcia Miguel Pereira, considerou exageradamente como o melhor de sua obra. Por isso tudo e mais alguns motivos, ele é, enfim, o pai da prosa brasileira moderna.

Alguns escritores têm jeito, outros têm estilo, disse Graciliano Ramos. E, numa injustiça consigo mesmo, acrescentou que tinha jeito; quem tem estilo, no Brasil, é Machado. Mas, afinal, o que era o estilo de Machado? Estilo não é apenas o conjunto de recursos de linguagem mais utilizados por um escritor; é o uso desses recursos para a expressão articulada de seu ponto de vista único, de sua visão pessoal de mundo. E poucos como Machado lançaram mão de figuras e ritmos com tamanha consciência que não podemos alterar uma vírgula sem prejudicar sua força e integridade. Tudo nele tem razão de ser, o que o deixa extremamente alerta para incorporar improvisos.

Um dos recursos que mais caracterizam a prosa de Machado é a maneira com que usa as metáforas. As metáforas foram usadas e abusadas no romantismo para criar imagens simbólicas que levassem ao que então se chamava de "sublime", a uma intensidade emocional máxima. No Machado maduro, pós-romântico, as metáforas se concretizam ironicamente; voltam do campo idealista para sua materialidade. O exemplo mais famoso é do início de Brás Cubas: "Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma idéia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas de volatim que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um x: decifra-me ou devoro-te."

Outra passagem conhecida em que a meditação desmancha metáforas e mostra ironias é de Dom Casmurro: "Escobar veio abrindo a alma toda, desde a porta da rua até ao fundo do quintal. A alma da gente, como sabes, é uma casa assim disposta, não raro com janelas para todos os lados, muita luz e ar puro. (...) Não sei o que era a minha. Eu ainda não era Casmurro, nem Dom Casmurro; o receio é que me tolhia a franqueza, mas, como as portas não tinham chaves nem fechaduras, bastava empurrá-las, e Escobar empurrou-as e entrou. Cá o achei dentro, cá ficou, até que..."

Não à toa é que Cubas descreve o morrer como "estudar a geologia dos campos santos". As metáforas de Machado servem para desconstruir o comportamento romântico e/ou religioso, devolvendo o símbolo à imagem. Em alguns momentos ele leva o jogo com as metáforas a tal ponto que é capaz de criar um diálogo entre dois burros sobre o bonde elétrico (em crônicas) ou mostrar Deus e o Diabo conversando sobre a ópera que fariam em parceria (Dom Casmurro) ou fazer a célebre história em que agulha e linha trocam opinião sobre seus papéis morais (no conto Um Apólogo). Se Machado escreve alegorias, não é para fins edificantes ou barrocos, mas inspirado na literatura satírica iluminista de autores como Voltaire e Diderot.

Na mesma linha entram suas paródias e citações da Bíblia. Machado escreveu paródia do Sermão das Montanhas ("Bem-aventurados os que não descem"), citou o Eclesiastes em muitas ocasiões como no capítulo final de Dom Casmurro, satirizou o clero em figuras como a do padre glutão do mesmo livro. Outras crenças foram ironizadas, como o espiritismo e o hipnotismo. As menções eruditas - a pensadores, romancistas, músicos e personagens históricos - também são comuns, mas nunca como recurso "de autoridade", para dar verniz sofisticado à história. Quando o Conselheiro Aires escreve em seu Memorial que releu Shelley e Thackeray e que "um consolou-me do outro, este desenganou-me daquele; é assim que o engenho completa o engenho, e o espírito aprende as línguas do espírito", deixa claro o contraste entre romantismo e realismo que está na raiz das preocupações literárias de Machado.

Outra figura tipicamente machadiana é o "understatement", o modo como diz coisas importantes sem parecer que as diz. Casmurro, o narrador, é mestre nisso. Quando conta que depois do casamento com Capitu vive "dias de felicidade e glória" e que "ao fim de dois anos de casado, salvo o desgosto grande de não ter um filho, tudo corria bem", o leitor atento percebe: como é que tudo pode correr tão gloriosamente se existe um desgosto grande? Casmurro conta isso entre vírgulas, num aposto, como se fosse algo secundário na frase e em sua vida. Mas sabemos que não é. E Machado lida como ninguém com as expectativas do leitor, com as informações que lhe dá ou deixa de dar - ou então dá sem a devida hierarquia, sem a corriqueira explicitude.

Há uma série de modos que Machado usa para fazer suas descrições mais sugestivas, sombrias, ambíguas. Um deles, pouco analisado, é a própria construção sintática. Um exemplo excelente de Brás Cubas está no capítulo do delírio, outra grande metáfora ou alegoria desfeita pela ironia. É quando Pandora diz: "Levo na minha bolsa os bens e os males, e o maior de todos, a esperança, consolação dos homens. Tremes?". Ao usar "o maior de todos", Machado nos levanta a dúvida: maior de todos os bens ou maior de todos os males - ou de ambos? O mesmo vale para o último capítulo, Das Negativas, quando, depois de enumerar derrotas e consolos de sua biografia, o defunto Cubas diz: "Ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas." Cabe ao leitor julgar se esse pequeno saldo é positivo ou negativo.

Com essas maneiras peculiares de aplicar metáforas, paródias, apostos e ambigüidades, Machado queria justamente fugir às dicotomias. Não só aquelas vigentes em seu tempo e lugar, mas também as eternas dicotomias, a "eterna contradição humana" - entre bem e mal, alma e corpo, etc. Isso, no entanto, não significava ficar em cima do muro ou buscar um meio-termo confortável, conformista; muito ao contrário. Para ir além das dualidades banais, Machado precisou explorar o idioma em toda sua complexidade, o que só é possível para quem o tem como orgânico e elástico, não como algo congelado em dicionários.

Outro dilema que Machado superou, em conseqüência disso, foi aquele entre norma culta e norma coloquial. Ele fez uma grande e criteriosa mistura entre ambas. Para entender como escreveu de modo mais próximo da fala, sem pompas, sem academicismos, basta comparar qualquer página sua com a de um contemporâneo que por sinal admirava, Coelho Neto. Até hoje lingüistas reagem à falta de purismo de Machado. Olhando o mundo como olhava, não poderia ser diferente. Machado era um crítico das ilusões de pureza, de plenitude, de totalidade, de conciliação perfeita dos contrários. Esse é seu maior assunto

É por isso tudo que escreve frases como "Dessa terra e desse estrume nasceu esta flor". Ou que usa num mesmo parágrafos termos "nobres" como "perpetuidade" e termos "chulos" como "jururu". Ou que Cubas confessa que em seu cérebro "cruzavam-se pensamentos de vária casta e feição". E acrescenta: "Não havia ali a atmosfera somente da águia e do beija-flor; havia também a da lesma e do sapo." Essa mescla de registros, tão mal compreendida até hoje, é seu maior trunfo lingüístico. É com ela que Machado consegue criar a "simultaneidade" de naturezas que Pascal não admitia.

Antipuritano, Machado também "suja" o texto com uma variedade enorme de sinais gráficos; sua pontuação não exclui nada, os dois pontos, o travessão, o ponto-e-vírgula, a exclamação, as reticências... Seus períodos podem ser tão curtos quanto uma palavra ou tão extensos quanto um parágrafo. E em geral há um contraponto entre breves e longos: "Não havia lua; mas nossa amiga aborrecia a lua - não se sabe bem por quê -, ou porque brilha de empréstimo, ou porque toda a gente a admira, e pode ser que por ambas as razões. Era uma de suas esquisitices" (Trio em Lá Menor).

Poeta e dramaturgo frustrado, Machado soube dar novo uso a esse aprendizado juvenil. Seu ouvido para as palavras é excelente, como se vê nos trechos em que dá voz romântica aos narradores: "Vi-a sair de uma cadeirinha, airosa e vistosa, um corpo esbelto, ondulante, um desgarre, alguma cousa que nunca achara nas mulheres puras." Seus adjetivos nunca são redundantes, nunca usados somente para completar a métrica. E o teatro aparece nos enredos ou em cenas específicas, como aquela em que Bentinho desvia a atenção de José Dias dizendo que o botão de sua calça está aberto - e que soa extraída de uma comédia de salão como as que Machado escrevera aos 20 e poucos anos.

É também para não cair em dualidades que Machado usa com freqüência expressões como "sem... nem..." ou "nem... nem..." ou "mas também". Em Dom Casmurro, por exemplo, o narrador descreve sua vida pós-Capitu como "sem encantos nem espinhos", o que quer dizer que o problema de Bento era acreditar que existem encantos sem espinhos, homem iludido e covarde que é, sempre pronto a acreditar em sua própria felicidade. E, quando ele sente ciúme dos braços de Capitu, ela os veste com um tecido "que não cobria nem descobria inteiramente". Nos contos, os exemplos também são muitos: "Nem entusiasmo nas primeiras horas, nem horror depois da primeira semana; algum prazer e certo fastio" (Um Homem Célebre); "Não se pode dizer que era bonita; mas também não era feia" (Uns Braços).

Machado também não respeita a pureza dos gêneros, o que explica que tenha sido pai da prosa brasileira em quase todos eles. Seus romances têm passagens que poderiam ser destacadas e publicadas isoladamente como crônicas (a exemplo do capítulo da Confeitaria do Custódio em Esaú e Jacó) ou contos (História de Dona Plácida em Brás Cubas). Escritor elíptico, que deixa lacunas no texto em vez de trabalhar por acumulação (como um Eça de Queirós trabalhava), ele adota formas fragmentárias, principalmente os capítulos curtos. Cada um, por sinal, na linha de Cervantes e Sterne, tem seu título, muitas vezes contendo uma auto-referência irônica.

Os nomes dos personagens tampouco são casuais. A mãe de Bento se chama Glória, a "santíssima", segundo o superlativo que o filho poria em sua lápide. Capitu na verdade se chama Capitolina, aquela que na Roma Antiga era capaz de convencer os outros de sua suposta inocência pelas artimanhas do discurso. O compositor que não consegue ir além das polcas em Um Homem Célebre se chama Pestana. Cubas, na terceira acepção do dicionário Houaiss, significa um sujeito malandro, esperto, dado a fantasia. Pedro é o irmão monarquista do republicano Paulo em Esaú e Jacó. O alferes de O Espelho se chama Jacobina. Por tática simbólica ou humorística, os nomes sempre são significativos.

Foi com a filosofia e o humor que Machado superou a ficção romântica sem aderir aos dogmas do realismo. O idioma foi o maior beneficiado. O que Machado tem, afinal, é o dom de fazer frases: "Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada mais." Como as pessoas que escrevem em inglês não conseguem esquecer a música das palavras de Shakespeare, nós que escrevemos em português - mesmo inconscientemente - temos uma dívida com Machado a cada período. Cromático e sintético, seu estilo é inspirador, mas inimitável; modelar, mas único. Como são os melhores pais.

Fontes:
http://www.sorocult.com , extraído do Jornal A Folha de São Paulo on line
Caricatura = http://fragacaricaturas.blogspot.com

Augusto dos Anjos (Santuário Poético)

A esmola de Dulce
Ao Alfredo A.

E todo o dia eu vou como um perdido
De dor, por entre a dolorosa estrada,
Pedir a Dulce, a minha bem amada,
A esmola dum carinho apetecido.

E ela fita-me, o olhar enlanguescido,
E eu balbucio trêmula balada:
- Senhora, dai-me u’a esmola - e estertorada
A minha voz soluça num gemido.

Morre-me a voz, e eu gemo o último harpejo,
Estendo à Dulce a mão, a fé perdida,
E dos lábios de Dulce cai um beijo.

Depois, como este beijo me consola!
Bendita seja a Dulce! A minha vida
Estava unicamente nessa esmola.
=========================
A esperança

A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.

Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?

Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a crença de fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro - avança!

E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da morte a me bradar: descansa!
=========================
A dança da psiquê

A dança dos encéfalos acesos
Começa. A carne é fogo. A alma arde. A espaços
As cabeças, as mãos, os pés e os braços
Tombara, cedendo à ação de ignotos pesos!

É então que a vaga dos instintos presos
— Mãe de esterilidades e cansaços —
Atira os pensamentos mais devassos
Contra os ossos cranianos indefesos.

Subitamente a cerebral coréa
Pára. O cosmos sintético da Idéa
Surge. Emoções extraordinárias sinto...

Arranco do meu crânio as nebulosas.
E acho um feixe de forças prodigiosas
Sustentando dois monstros: a alma e o instinto!
=========================
A floresta

Em vão com o mundo da floresta privas!...
- Todas as hermenêuticas sondagens,
Ante o hieróglifo e o enigma das folhagens,
São absolutamente negativas!

Araucárias, traçando arcos de ogivas,
Bracejamentos de álamos selvagens,
Como um convite para estranhas viagens,
Tornam todas as almas pensativas!

Há uma força vencida nesse mundo!
Todo o organismo florestal profundo
É dor viva, trancada num disfarce...

Vivem só, nele, os elementos broncos,
- As ambições que se fizeram troncos,
Porque nunca puderam realizar-se!
=========================
A fome e o amor

A um monstro

Fome! E, na ânsia voraz que, ávida, aumenta,
Receando outras mandíbulas a esbangem,
Os dentes antropófagos que rangem,
Antes da refeição sanguinolenta!

Amor! E a satiríasis sedenta,
Rugindo, enquanto as almas se confrangem,
Todas as danações sexuais que abrangem
A apolínica besta famulenta!

Ambos assim, tragando a ambiência vasta,
No desembestamento que os arrasta,
Superexcitadíssimos, os dois

Representam, no ardor dos seus assomos
A alegoria do que outrora fomos
E a imagem bronca do que inda hoje sois!
=========================
A idéia

De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!

Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica ...

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica
=========================
A ilha de Cipango

Estou sozinho! A estrada se desdobra
Como uma imensa e rutilante cobra
De epiderme finíssima de areia...
E por essa finíssima epiderme
Eis-me passeando como um grande verme
Que, ao sol, em plena podridão, passeia!

A agonia do sol vai ter começo!
Caio de joelhos, trêmulo... Ofereço
Preces a Deus de amor e de respeito
E o ocaso que nas águas se retrata
Nitidamente reproduz, exata,
A saudade interior que há no meu peito.

Tenho alucinações de toda a sorte...
Impressionado sem cessar com a Morte
E sentindo o que um lázaro não sente,
Em negras nuanças lúgubres e aziagas
Vejo terribilíssimas adagas,
Atravessando os ares bruscamente.

Os olhos volvo para o céu divino
E observo-me pigmeu e pequenino
Através de minúsculos espelhos.
Assim, quem diante duma cordilheira,
Pára, entre assombros, pela vez primeira,
Sente vontade de cair de joelhos!


Soa o rumor fatídico dos ventos,
Anunciando desmoronamentos
De mil lajedos sobre mil lajedos...
E ao longe soam trágicos fracassos
De heróis, partindo e fraturando os braços
Nas pontas escarpadas dos rochedos!

Mas de repente, num enleio doce,
Qual se num sonho arrebatado fosse,
Na ilha encantada de Cipango tombo,
Da qual, no meio, em luz perpétua, brilha
A árvore da perpétua maravilha,
A cuja sombra descansou Colombo!

Foi nessa ilha encantada de Cipango,
Verde, afetando a forma, de um losango,
Rica, ostentando amplo floral risonho,
Que Toscanelli viu seu sonho extinto
E como sucedeu a Afonso Quinto
Foi sobre essa ilha que extingui meu sonho!

Lembro-me bem. Nesse maldito dia
O gênio singular da Fantasia
Convidou-me a sorrir para um passeio.
Iríamos a um país de eternas pazes
Onde em cada deserto há mil oásis
E em cada rocha um cristalino veio.

Gozei numa hora séculos de afagos,
Banhei-me na água de risonhos lagos,
E finalmente me cobri de flores...
Mas veio o vento que a Desgraça espalha
E cobriu-me com o pano da mortalha,
Que estou cosendo para os meus amores!

Desde então para cá fiquei sombrio!
Um penetrante e corrosivo frio
Anestesiou-me a sensibilidade
E a grandes golpes arrancou as raízes
Que prendiam meus dias infelizes
A um sonho antigo de felicidade!

Invoco os Deuses salvadores do erro.
A tarde morre. Passa o seu enterro!...
A luz descreve ziguezagues tortos
Enviando à terra os derradeiros beijos.
Pela estrada feral dois realejos
Estão chorando meus amores mortos!

E a treva ocupa toda a estrada longa...
O Firmamento é uma caverna oblonga
Em cujo fundo a Via-Láctea existe.
E como agora a lua cheia brilha!
Ilha maldita vinte vezes a ilha
Que para todo o sempre me fez triste!
=========================
A lágrima

- Faça-me o obséquio de trazer reunidos
Cloreto de sódio, água e albumina...
Ah! Basta isto, porque isto é que origina
A lágrima de todos os vencidos!

-"A farmacologia e a medicina
Com a relatividade dos sentidos
Desconhecem os mil desconhecidos
Segredos dessa secreção divina"

- O farmacêutico me obtemperou. -
Vem-me então à lembrança o pai Yoyô
Na ânsia física da última eficácia...

E logo a lágrima em meus olhos cai.
Ah! Vale mais lembrar-me eu de meu Pai
Do que todas as drogas da farmácia!
------------------
In "Augusto dos Anjos: Poesia e Prosa", de Zenir Campos Reis, Ed. Ática, São Paulo, 1977.
=========================
A louca
A Dias Paredes

Quando ela passa: - a veste desgrenhada,
O cabelo revolto em desalinho,
No seu olhar feroz eu adivinho
O mistério da dor que a traz penada.

Moça, tão moça e já desventurada;
Da desdita ferida pelo espinho,
Vai morta em vida assim pelo caminho,
No sudário de mágoa sepultada.

Eu sei a sua história. - Em seu passado
Houve um drama d’amor misterioso
- O segredo d’um peito torturado -

E hoje, para guardar a mágoa oculta,
Canta, soluça - coração saudoso,
Chora, gargalha, a desgraçada estulta.
=========================
A luva
Para o Augusto Belmont

Pensa na glória! Arfa-lhe o peito, opresso.
-O pensamento é uma locomotiva-
Tem a grandeza duma força viva
Correndo sem cessar para o Progresso.

Que importa que, contra ele, horrendo e preto
O áspide abjeto do Pesar se mova!...
E só, no quadrilátero da alcova,
Vem-lhe à imaginação este soneto:

"A princípio escrevia simplesmente
Para entreter o espírito...Escrevia
Mais por um impulso de idiosincrasia
Do que por uma propulsão consciente.

Entendi, depois disso, que devia,
Como Vulcano, sobre a forja ardente
Da Ilha de Lemnos, trabalhar contente,
Durante as vinte e quatro horas do dia!

Riam de mim, os monstros zombeteiros,
Trabalharei assim dias inteiros,
Sem ter uma alma só que me idolatre...

Tenha a sorte de Cícero proscrito
Ou morra embora, trágico e maldito,
Como Camões morrendo sobre um catre!"

Nisto, abre, em ânsias, a tumbal janela
E diz, olhando o céu que além se expande:
"-A maldade do mundo é muito grande,
Mas meu orgulho ainda é maior do que ela!

Ruja a boca danada da profana
Coorte dos homens, com o seu grande grito,
Que meu orgulho do alto do Infinito
Suplantará a própria espécie humana!

Quebro montanhas e aos tufões resisto
Numa absoluta impassibilidade",
E como um desafio à eternidade
Atira a luva para o próprio Cristo!

Chove. Sobre a cidade geme a chuva,
Batem-lhe os nervos, sacudindo-o todo,
E na suprema convulsão o doudo
Parece aos astros atirar a luva!
Fonte:
Soares Lustosa. In Jornal de Poesia.
http://www.secrel.com.br

Palavras e Expressões mais Usuais do Latim e de outras Línguas Estrangeiras

Letra B.
------------------------------
Abreviações:
Lat = latim; fr = francês; ing = inglês; Dir = direito; esp = espanhol; gr = grego

------------------------------
baby
ingl Bebê; criança de peito.

beati pauperes spiritu
lat Bem-aventurados os pobres de espírito. Primeira das bem-aventuranças evangélicas citada por São Mateus no capítulo V, versículo 3, e que inicia o sermão da montanha. No contexto do Evangelho significa: Bem-aventurados os simples.

beati possidentes
lat Felizes os que estão de posse. Locução celebrizada por Bismarck, que adotou a política do fato consumado como fonte de direito.

bella matribus detestata
lat As guerras detestadas pelas mães. (Horácio, Odes, 11, 24-25).

benedicite
lat Rel Catól Bendizei. Invocação ritual, antes das refeições, que começa por esta palavra. Usada principalmente em conventos, comunidades religiosas e colégios.

bis dat qui cito dat
lat Dá duas vezes quem dá prontamente. Sêneca elogia a espontaneidade das dádivas.

bis de eadem re non sit actio
lat Dir Não haja dupla ação sobre a mesma coisa. V litispendência.

bis repetita placent
lat As coisas repetidas agradam. Horácio refere-se ao emprego de figuras literárias repetidas quando bem aplicadas.

bona fide
lat De boa fé: Enganar-se, proceder bona fide.

bon mot
fr Boa palavra; dito divertido.

bon ton
fr Bons modos; boas maneiras.

bonum vinum laetificat cor hominis
lat O bom vinho alegra o coração do homem. Modificação do texto do Eclesiástico XL, 20, cujas palavras são: Vinum et musica laetificant cor (o vinho e a música alegram o coração).

bout d'essai
fr Ponta de experiência. Cinema. Pequena parte final do filme que o assistente operador corta e revela imediatamente para orientação da tomada da cena seguinte.

bye-bye
ingl Adeus, adeusinho.

Fonte:
http://www.portrasdasletras.com.br

Erivelto Oliveira de Sales (Só um cadinho de prosa...)

No principiozinho criou nosso Sinhozinho o ceuzinho e a terrinha, mas elazinha num tinha nadinha de nada. Já imaginou se Moisés tivesse escrito o Pentateuco todo no diminutivo? Bem, que mal teria? Nenhumzinho, penso eu. Afinal, é uma belezinha essa tal linguagem diminuta, sim? A própria Bíblia, em 2 Samuel, 12:3, usa algumas palavrinhas assim: (...) mas o pobre não tinha coisa nenhuma, senão uma cordeirinha... Além de se valer da expressão pequenino noutras passagens. Ora, para alguns religiosos o Padre Cícero não é Padinciço?

Os Diminutivos servem para agradar... Deixa eu te fazer um cafunezinho, meu amorzinho! Elogiando: Que feijãozinho bom! Ô coisinha tão bonitinha do papai! Ironizando ou desmerecendo algo ou alguém: Olha só que carrinho mais sem graça! (na verdade é um carrão). Seu penteado está uma gracinha! Só se for o penteado da Medusa. Abreviando: Aguarde só um segundinho! Essa é uma das mentirinhas mais deslavadas que eu conheço. Por que eles não dizem logo pra esperar Um Minutão? Espera só um pouquinho... O pouquinho (un petit peu, em francês) são eternidades. Amenizando: A injeção vai doer só um tiquinho... Nesse caso, nem o diminutivo vai te livrar da dorzinha...

O poetinha Vinicius de Moraes usava essa sutilidade para fazer amizades mais rapidinho. Chamava seus parceiros musicais de Tonzinho (Tom Jobim), Carlinhos (Carlos Lyra), Eduzinho (Edu Lobo), e o Toquinho, que já era diminuto, ele o chamava de Toco! Carlinhos Lyra, quando conversou com o poetinha pela primeira vez, pediu que Vinicius colocasse umas letrinhas em suas músicas. Estava feita a parceria...

Guimarães Rosa adorava uma diminutância. Repare o nome da personagem Miguilim. O nome é Miguel, e o mais comum é que se usasse Miguelzinho. Mas o Rosa preferia o sufixo im em vez de inho, inha, zinho, zinha. Daí beijim, passarim, cabelim, partim, sozim, lugarim et cetera. Miguilim é a estória de um garotinho de oito anos, nascido e crescido num lugarzinho do interior de Minas, em plena fase das descobertas da visão do mundo. O poeta e crítico Augusto de Campos escreveu sobre esse pormenor na obra do Rosa no livro Guimarães Rosa em Três Dimensões.

Agora, se você pegar o Grande Sertão: Veredas... Ali Rosa criou diminutivos antológicos. Minha amiga Dricca está lendo a fabulosa aventura de Riobaldo, e tenho certeza de que ela está se deliciando com coisas assim: miúdo satanazim/ pois essezinho, essezim/ de pouquinho em pouquim/ bala é um pedacinhozinho de metal/ sozinhozinho/ de manhãzim/ mindinhas idéias/ o rio Soninho/ veredazinhas e veredinhas/ ave-mariazinha/ os finos ventos maiozinhos/ tolicezinhas/ as arvoreszinhas ruim-inhas de minhas... E, a minha preferida: o Brejinho-do-Brejo!

Curt Meyer-Clason, o tradutor alemão de Rosa, em carta ao próprio, revela a impossibilidade da tradução: O alemão tornou-se um idioma duro e sem coração. Os diminutivos são usados por aqui quase que tão-somente no sentido irônico (...) Qual a sua opinião, por que esta aversão contra os diminutivos: o medo atroz de Witsch (o editor alemão) de que os leitores iriam rir dele vendo-o como um pequeno burguês sentimentalóide e um reacionário? (02/04/1965).

No Japão, um país em diminutivo, segundo contou minha amiga Erikinha, é assim: pequeno = chiisai / osanai (infantil) / hikui, kogara (na estatura) / mini = kogata no. (Em alguns casos eles usam a palavra estrangeira adaptada, ex.: mini sukato, para mini saia/ mínimo = saisho no, motto mo chiisai/ miúdo = goku chiisai, komakai. Tá entendido? E no Tupi, como é? Os sufixos usados são o –im e o –i. É assim: pedra é itá, pedrinha é itá–‘im; criança é pitanga, criancinha é pitang-‘im; além do adjetivo mirim: ‘y é rio, e ‘y-mirim é riozinho. Lindinho, sim?

Já ouviu expressões como andandinho, correndinho, comendinho, bebendinho e chovendinho? Pois é, o uso dessas formas peculiares, em que o verbo é flexionado, é comum para pessoas de algumas cidades do interior, como Capão Bonito (não é, Dricca?), Capela do Alto e Porangaba. Em Sorocaba e Votorantim também. Mas é novo? Olhe, lá no poema Cobra Norato (1931), do Raul Bopp, está assim: Quero estarzinho com ela/ Querzinho de ficar junto.

E por falar em cidades... Dê só uma espiadinha nesses nomezinhos: Alagoinha (PB, PE, PI, BA); Barreirinha (AM); Barroquinha (CE); Brejinho (PE) e Brejão, também em PE; Chopinzinho (PR); Chorozinho (CE); Lavrinhas (SP) e Lavras (MG); Matão (SP) e Matinhos (PR); e Comercinho, Porteirinha, Riachinho e Ressaquinha, todas da minha queridinha Minas Gerais. Uai, eu sou mineiro! Mineirinho!

Fonte:
Grupo Sorocult (Sorocaba/SP).
http://www.sorocult.com

Erivelto Oliveira de Sales (Balzaquiana, eu?)

Abracadabra! As palavras têm poderes, sim senhora. A escrita egípcia hieroglífica é um notável exemplo etimológico. Hieróglifo é um nome composto por hieros, a escrita, e gluphein, ou seja, gravar. Logo, a arte sagrada de gravar (na pedra). Escrita dos deuses. Os egípcios tinham até um deus da escrita, Thot.

Abre-te, Sésamo! A expressão mágica faz parte das Mil e Uma Noites, proferida por Ali Babá para abrir a porta da caverna e encontrar um tesouro. Quantas palavras já foram usadas com poderes sobrenaturais por toda a história? Fiat Lux! Deus disse, e a luz apareceu. No livro de Hebreus, 4:12, diz assim: Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.

Na literatura há inúmeros exemplos em que a palavra é um instrumento poderoso, podendo ser usada para o bem e para o mal. Clarice Lispector escrevia inebriada pela ação da palavra: Nunca esquecer que a palavra é fruto da palavra. A palavra tem que se parecer com a palavra. Atingi-la é o meu primeiro dever para comigo. E a palavra não pode ser enfeitada e artisticamente vã, tem que ser apenas ela.

No livro Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, há um conto chamado Famigerado. É uma aula do Mestre Rosa para quem quiser se deleitar com os efeitos, tramas, suspenses, humores e desenlaces a partir de uma palavra não assimilada, não compreendida, não captada. A dedução, muito comum em leituras de todo naipe, é astuta e oscilante. Acatafásica pode ser um elogio ou uma ofensa à leitora. Que fazer? Apelar para um sétimo sentido feminino dedutível? Convém ir ao dicionário, pois do contrário... Bem, do contrário, você terá que se contentar com sua imaginação. Ou morrer com a dúvida. As palavras também são traiçoeiras. Será?

Valdevinos? Só pode ser nome de gente, desde que tirando o s. Vovô Valdevino! Nada mal. Ou quem sabe será o nome de uma tribo indígena nalgum canto remoto do Brasil? Ou uma grife italiana. Ou uma porção de alguma espécie de molusco. Balabrega? Essa é fácil: uma bala que é vendida na Feira da Barganha, vinda do Paraguay, bem ruizinha de chupar. Ou uma corruptela para Uma Balada Brega, como me disse uma aluna.

Mirmecófago é um túmulo moderno. Antigamente chamava-se sarcófago. Ou será um instrumento cirúrgico usado em clínicas de alto padrão? Quiasma? Trata-se de uma interjeição vinda do português de Portugal. Quicuio? Claro que também é uma interjeição, mas de baixo calão. Mixteque? Mix quer dizer mistura. O teque deve ser uma bebida exótica. Mistura de Bebida Exótica! Renrém é o barulho que as ocas fazem quando o índio e a indiazinha conversam à noite. Weltanschauung é espirro, em alemão. O nosso Atchim!

Choutear era o verbo para chutar, usado no futebol do século 19. Aí o técnico gritava para o artilheiro fominha: Chouteia logo essa pelota pro gol! Xantorréia? Essa não é fácil... Ah, sim, é um tratamento contra a seborréia (ou a diarréia) a partir de Xampus. Zeribando é o sujeito que está no vermelho, sem vintém. Ou uma expressão para um bando que acabou. Alopatia? A mais fácil de todas! O mesmo que Alopamãe, Alopopai, Alopavó, Alopoamor... Essa até a Balzaquiana saberia responder...

Utopia é o nome para um exame médico complexo, segundo um aluno meu. Leréia é o nome de uma prima do interior com quem a gente brincava de oftalmologista. Borrasca é a pronúncia para borracha, só que em russo. Despostigar é um verbo da primeira conjugação usado em cerimônias militares para descansar a tropa perante o general. Ferrabrás é o nome da primeira empresa de trem de Sorocaba. Exornado é o sujeito que foi expulso de algum lugar. Atávico é quem sofre do Mal de Atávia, doença degenerativa que impede a pessoa de pronunciar as vogais. Haliêutica e Ludopédio são palavras que Sir Ricardón adora ouvir.

Então, minha pacóvia leitora, você vai ou não dormir com o dicionário a partir de agora? Cuidado com as pseudo-induções. Ao menos você sabe quem foram Viterbo, Morais, Aurélio e Hoauiss, yes?

Fonte:
Grupo Sorocult (Sorocaba/SP).
http://www.sorocult.com

Erivelto Oliveira Sales (1976)

(autobiografia)

É mineiro de Três Corações. Nasceu no Hospital São Sebastião, no dia 30 de janeiro de 1976. É aquariano, mas acredita em signos superficialmente. Ou, só o suficiente. Em Elohin, que é Deus, ele crê profundamente.

É graduado em Letras Português pela Uniso, Sorocaba, desde 2005, quando findou o curso, e desde 2006, quando eliminou as parcelas pendentes. É cronista. Sobretudo intertextual. Gosta de ser chamado de Cronista. Mas já ganhou um concurso de poesia, o que lhe dá um leve e despretensioso constrangimento. Pois poesia não é para os jovens: porque sei que a filosofia não é para os jovens/ e a poesia (para mim) vai ficando cada vez mais parecida com a filosofia... Haroldo de Campos, em meninos eu vi.

Gosta de citar Haroldo de Campos, Guimarães Rosa, e Millôr Fernandes. Considera-se um humorista em fase experimental por toda a vida. Aprecia música. Aprecia mais ainda o silêncio, até porque, como já se disse: o silêncio proposital dá a maior possibilidade de música... (Guimarães Rosa).

Atualmente trabalha numa indústria química, lecionando Português e Literatura Brasileira aos colegas de trabalho (informalmente – ou às escondidas). Espera que o governo estadual tome tento e dê um ou mais bastas para a saúde da educação brasileira e abra logo de uma vez concursos para professores efetivos. Que história é esta de dar aula como eventual?

É casado com Andréia. Ainda não tem filhos, pois acredita que dias piores virão. Também não tem cachorro, gato, papagaio ou passarinho. No entanto, pretende comprar uma calopsita para sua esposa, presente de aniversário de casamento.

Não assiste a futebol há mais de uma década. E gostaria de, sinceramente, não precisar mais colocar esse a preposicionado aí antes de futebol.

É Cronista Intertextual, Leitor Insipiente de Dicionários e Poeta em estado de pedra.

Fonte:
Grupo Sorocult (Sorocaba/SP).
http://www.sorocult.com

Expo Literária de Sorocaba – 2008”

Mário Prata, Gabriel Pensador, Arnaldo Antunes e Ziraldo, entre outros nomes de grande expressão na área de literatura e fomentação cultural, vão rechear a 2ª Expo Literária da Prefeitura de Sorocaba. A programação completa do evento foi anunciada na manhã desta segunda-feira (6), no Palacete Scarpa/Secretaria da Cultura, pelo prefeito de Sorocaba (veja a lista de eventos no arquivo abaixo, emSumário Executivo).

"O evento é uma grande oportunidade de, cada vez mais, valorizarmos e incentivarmos leitura do sorocabano, principalmente de nossas crianças e adolescentes", destacou o prefeito, lembrando ainda que, neste ano, o evento homenageia os cem anos de nascimento de Machado de Assis.

Acompanhado pelos secretários da Cultura e da Educação, ele explicou que a Expo Literária de Sorocaba acontecerá nos dias 30 e 31 de outubro e 1º de novembro na Biblioteca Municipal. Dividida em três tendas (Machado de Assis, Dom Casmurro e Iaiá Garcia), a mostra reunirá nada menos do que 48 atrações, entre bate-papo com escritores, contação de histórias, palestras e recreações.

Com a instalação de tendas, espaços para exibição de filmes e shows, a Biblioteca Municipal irá dispor de várias opções para o visitante conferir as novidades literárias e se interagir com os autores convidados e também os escritores locais.

A abertura oficial da 2ª Expo Literária de Sorocaba está agendada para o dia 29, às 19h, com a palestra "Aprendendo e Empreendendo", a ser proferida pelo consultor Fernando Dolabela. Informações pelo telefone 3228.1955.
=============================

No dia 13 de setembro de 2008, no auditório da Biblioteca Municipal, aconteceu uma reunião com vários escritores sorocabanos com as organizadoras da próxima Expo Literária, Tânia Kalil e Margareth Moreno Comitre Silveira responsáveis pela Biblioteca, que falaram sobre como será a próxima Expo, que será realizada nos dias

- 30, 31 de outubro de 2008 das 8h às 20h30 e
- 01 de novembro de 2008 das 10h às 16h30.

Durante a reunião comunicaram aos presentes que os escritores interessados em participar do evento deverão comparecer à biblioteca para se inscreverem. Disseram que os mesmos poderão participar de duas maneiras: apenas colocando seus livros à venda ou também se utilizando dos espaços oferecidos pelo evento para que mostrarem seus trabalhos de forma ativa e também para fazerem lançamentos de seus livros.

O que é a "Expo Literária de Sorocaba"

A “Expo” é uma realização da Prefeitura Municipal de Sorocaba através da união das forças da Secretaria da Cultura e da Educação. Ela nasceu em 2007 da união dos trabalhos destas secretarias com os escritores da cidade de Sorocaba, que deram corpo e alma ao evento no ano de sua criação.

Todo o custo do evento é patrocinado pelas duas secretarias e nasceu para dar amplo espaço para as questões literárias no geral e para divulgar a literatura local e seus escritores, desejando ser um espaço único e especial dentro da área literária e cultural.

A “Expo Literária de Sorocaba – 2007” foi marcada pela alegria da criação e realização, já que escritores e entidades literárias da cidade se deram as mãos para que um projeto audacioso, importante e necessário para a cidade de Sorocaba fosse posto em prática. Assim, o Secretário da Cultura, Sr Anderson Santos, fez acontecer o que há muito tempo era sonhado pela classe literária da cidade.

Podem participar expondo e vendendo seus livros, apenas os escritores sorocabanos, mas o evento reúne também vários escritores da região, muitos deles também colunistas do site Sorocult.

A Expo oferece palestras com escritores locais e outros bastante conhecidos no cenário literário nacional. Oferece saraus apresentados pelas entidades literárias da cidade, exposição de trabalhos artísticos, atividades educativas infantis e favorece amplo espaço para bate-papos entre os escritores.

Sobre a “Expo Literária de Sorocaba – 2008”

Já estão abertas as inscrições para os escritores que queiram participar da próxima Expo. O tema deste ano foi escolhido para homenagear o centenário da morte de um dos maiores escritorres brasileiros, Machado de Assis.

A organização do evento comunicou que neste ano todo o evento acontecerá fora do espaço físico da Biblioteca Municipal sendo que apenas o auditório dela será utilizado pelos escritores para apresentações de seus trabalhos e performances. Para tanto, contará com a montagem de várias tendas grandes e bastante confortáveis, ao redor dela.

Uma delas será para 500 pessoas onde acontecerão palestras, contação de histórias e outras apresentações culturais e literárias variadas.

Outra tenda, com capacidade para 80 pessoas e com ar condicionado, será para a exibição de filmes (cinema) .

Haverá mais uma no parque de diversões do Paço Municipal para atividades lúdico-educativas como pintura de rosto e jogos variados.

Haverá ainda uma tenda gigante que abrigará stands para livrarias, editoras, entidades literárias locais e venda de livros dos escritores sorocabanos. Nesta tenda haverá também uma mostra dos trabalhos da Secretaria da Educação de Sorocaba com uma exposição dos trabalhos de alunos da Rede Municipal de Ensino.

Obs: As coordenadoras gerais falaram também aos presentes que o sr Secretário da Cultura de Sorocaba, anunciará em breve os nomes dos palestrantes convidados para participarem da Expo 2008.

Segue abaixo o regulamento para os escritores sorocabanos que queiram participar do evento. Os agendamentos devem ser feitos com antecedência na Biblioteca com as coordenadoras Tânia ou Margareth.

Expo Literária de Sorocaba - 2008

De 30 de outubro a 01 de novembro

Local : Biblioteca Municipal "Jorge Guilherme Senger" de Sorocaba
Endereço : Rua Ministro Coqueijo Costa 180, Alto da Boa Vista, Sorocaba/SP
Data : Dias 30 e 31 de outubro , 5ªfeira, das 8h às 20h30
e dia 1º de novembro, sábado das 10h às 16h30

Informações: fone (15) 3228-1955 com Tânia Kalil.

Regulamento para participação dos escritores “sorocabanos” na Expo Literária de Sorocaba - 2008

Resumo da 1ª Reunião com os escritores sorocabanos no dia 13 de setembro de 2008 na Biblioteca Municipal de Sorocaba, enviado pela coordenação geral do evento.

Orientações para participação dos escritores sorocabanos
1. Exposição e venda de livros por conta da organização:

O escritor deverá entregar na secretaria da Biblioteca entre os dias 22 a 24 de outubro os livros para exposição e venda sendo:

- 06 volumes de cada título (máximo de 03 títulos).
- preencher a ficha e assinar o regulamento.
- os livros e o pagamento serão devolvidos a partir do dia 04 de novembro na secretaria da biblioteca.

2. Exposição e venda de livros por conta do autor ou da entidade a que pertence

- o escritor ou a entidade deverá entregar na secretaria da Biblioteca um oficia solicitando um stand e relacionando os escritores envolvidos até o dia 17 de setembro
- a venda e a mobília do stand serão de responsabilidade da entidade ou dos escritores

3. Performance do escritor no auditório da Biblioteca dia 01 de novembro das 10h às 15h30 – tempo de apresentação máximo de 30 minutos

O escritor ou a entidade interessado em expor seu trabalho deverá:

a. Encaminhar um ofício na secretaria da Biblioteca informando a performance, quais as necessidades áudio visuais para a apresentação, inclusive o tempo de duração

b. Cada interessado deverá ser responsável pelo seu público

c. O tempo de duração de cada apresentação dependerá do número de interessados

d. As apresentações deverão respeitar rigorosamente o tempo permitido

e. Os ofícios poderão ser entregues até o dia 25 de setembro na secretaria da Biblioteca

f. Todos os ofícios devem ser endereçados à Profª Tânia Kalil, coordenadora da programação

Prêmio Anual Sorocaba de Literatura

O prêmio foi instituído através da Lei nº 2395 de 02 de julho de 1985 e é um prêmio outorgado ao melhor livro lançado no ano anterior à sua entrega. A escolha do livro a ser premiado é feita por uma comissão formada por representantes de várias entidades da cidade e o ganhador recebe uma medalha, um diploma específico da própria premiação e um valor em dinheiro que atualmente é de R$500,00. A premiação voltou a acontecer no ano de 2007, quando ficou estabelecido que a entrega dele seria realizada na Expo Literária de Sorocaba. Desta forma, em 2008 a premiação fará parte também da programação da abertura da Expo.

Informações :

Biblioteca Municipal "Jorge Guilherme Senger"
Endereço: Rua Ministro Coqueijo Costa, 180, Alto da Boa Vista, Sorocaba/SP . Fone (15) 3228-1955

Fonte:
Coordenação Geral da Expo.
http://www.sorocult.com

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Rodamundinho 2008 à venda

Exemplares do Rodamundinho 2008 estão à venda. A antologia Rodamundinho, lançada durante a 4ª Semana do Escritor de Sorocaba, devido a pedido de amigos e familiares dos participantes, continua a venda. O Rodamundinho é uma coletânea infanto-juvenil que reúne 25 autores de até 15 anos de idade. É uma seleção de textos com poesias, contos e crônicas, sobre amor, natureza, escola, família, viagens, entre outros.

O projeto recebeu inscrições no início do mês de maio de 2008, foram selecionados 25 autores de Sorocaba e Região para participarem gratuitamente dessa antologia. Cada jovem participou com quatro páginas do livro que contém 114 páginas. Todo o projeto tem o objetivo de estimular a leitura e a escrita aos jovens. No dia do lançamento os participantes receberam, gratuitamente, quatro exemplares do Rodamundinho 2008 e um do Roda Mundo 2008.

O projeto foi idealizado pelo escritor sorocabano, Douglas Lara e pelo ex-presidente da Fundec Alexandre Latuf, com o patrocínio do editor Mylton Ottoni. A organização é da jornalista Cintian Moraes, apoio do suplemento infanto-juvenil Cruzeirinho do Jornal Cruzeiro do Sul, do Gabinete de Leitura Sorocabano e da Fundec.

A antologia está à venda por R$ 18,00. Os interessados podem entrar em contato pelos telefones (15) 3227.2305 ou 3226.4178.

Cintian Moraes - jornalista - (15) 8119.2476
cintian.moraes@yahoo.com.br

Fonte:
E-mail enviado por Douglas Lara.
Notícias de Sorocaba e região no
http://www.sorocaba.com.br/acontece

Fahed Daher (Poesias Avulsas)

Acróstico

Bandos passaram, de ilusões variadas,
A se esbater e a procurar abrigo,
Ri-me de todas, nãos lhes fui amigo
Bondoso e terno, foram-se estioladas.

Algumas trago ,ainda, mal guardadas,
Rotas e tristes a seguir comigo,
Astros sem luz no vasto, infindo e antigo
Firmamento brutal das madrugadas.

Emerge, agora, em minha solidão,
Límpida, bela e pura ,outra ilusão
Indicando-me a vida desejada;

Passam-se os dias e ela não decresce,
Projeta-se, se eleva e me enternece,
Obrigando-me a ver que és minha amada.

=============================
Mulher

Você surgiu
do fundo dos tempos,
obra prima de Deus.
Não sei se da costela de um Adão,
ou da sublimidade de uma estrela,
ou a primata em plena evolução...
Mas em você o mundo se revela.
Foi o fogão, foi o tanque,
a lenha, o tacho...
Foi o filho, a cama, o riso
para o macho...
Ombros estreitos,
longos cabelos,
traz nos seus peitos
tantos desvelos.
O século passou
e o homem não ergueu
o templo da bonança
que um dia prometeu.
A máquina chamou você,
você atendeu,
entrou na produção, também,
e ali cresceu.
Lá no banco é o seu sorriso,
no escritório a sua graça,
no volante o seu juizo,
que linda você na praça.
Arquiteta, enfermeira,
empresária, motorista,
doméstica, lavadeira...
Você tem alma de artista.
Mulher do mundo moderno,
seja lá você o que for,
não há nada mais eterno
que o fogo do seu amor.
Não deixe que se perca no serviço
o frescor deste amor, sublime viço;
buscando nessa luta a nova trilha,
não esqueça que é a base da família.
Unindo a máquina ao beijo,
a pá unida à doçura,
o ideal ao desejo,
a garra unida à ternura...
Será tão belo, por certo,
o mundo que está por vir.
Se nesse mundo eu desperto,
eu só quero lhe servir.
====================================
Bárbara

Amo!
E porque amo sorrio.
Quero!
E por querer me empenho.
Não sei se por amar
ou por querer
eu tenho:

Sua paciência que acalma,
os seus beijos que me exaltam,
suas carícias que amansam,
o seu ser onde me encontro.

Serei um rei?
Não sei!
Talvez de um sonho,
de uma quimera...
Se de um império
ou de uma era...
Se sou um rei,
me entreguei
prisioneiro
de você.
============================
Meu Amigo

Eu sei que não foi fácil entende-lo,
pois do seu tempo ao meu houve mudança
e eu não sabia ver no seu desvelo
a projeção, em mim, de uma esperança.

Foi meu amigo, também pude sê-lo...
Mas nobre e firme na perseverança,
no ar severo você punha o selo
do amor, da disciplina, da esperança.

Chegada a minha vez de estar na idade
que você tinha, quando eu era moço,
posso entender, por mim, sua ansiedade.

Perdoa-me se errei ou se fui grosso,
pois hoje mais preciso com saudade,
sua presença ó Pai!
Que Pai Colosso.
=========================

Meu Pai Amigo

Quero você por companheiro e amigo,
embora eu viva em outras companhias;
quero você, de calças “jeans”, comigo,
um tênis bem legal, cabelo solto
e a alma destravada.

Faça de conta que é um adolescente,
sem compromisso de assinar o ponto,
nem compromisso de pagar o banco,
solto para viver.

Ao menos nuns instantes desta vida
quero escutar seus passos na calçada,
ouvir seu assobio destoado,
contar-lhe uma anedota engraçada
e ouvir seu riso alegre.

E sentaremos numa choparia,
veremos a passagem das garotas
que você gosta, mas disfarçaria
como quem não viu.

E de repente escutar histórias
de quando você tinha a minha idade,
contando até mesmo das maldades
sem pretender me aconselhar demais,
apenas me contar.

E eu contarei, também, os meus segredos,
você me escutará atento e quieto
e eu falarei bem livre , bem sem medo.
aliviando as angústias e incertezas,
que afligem a minhalma.

É fato que serei desobediente
algumas vezes, na hora da chegada,
como você fazia com seu pai,
burlando ,alguma vez , hora marcada,
mas não abusarei.

Mas com certeza nós discutiremos
opiniões políticas, morais
e me dirás que não entendo nada
e direi que você não sabe mais
doque já soube um dia.

E vamos nós jogar o futebol,
passo-lhe um drible, você se aborrece
e passa-me um carrinho desastrado,
fica mancando e se compadece,
achando que é um azar.

Acho bom ter você por companheiro,
ensinando-me a vida e a honestidade;
amigo, mas mantendo a disciplina,
e, conhecendo a minha insegurança,
sem humilhar, comigo você ensina
o caminho do amor.
======================================
Sobre o autor

Nascido em Curitiba, Paraná, décimo filho de casal de libanesas vindos , jovens imigrantes e evoluindo no Brasil às custas de muita persistência e trabalho.

Fahed Daher, formado em medicina pela Universidade do Paraná, exercendo a profissão na especialidade de otorrinolaringologia, frequentando diversos cursos e congressos médicos.

Membro da Associação Médica de Apucarana- da Associação Médica do Paraná. Da Associação Médica Brasileira- Da sociedade Brasileira de Otologia. Da Sociedade Brasileira de Oftalmologia. Da sociedade Paranaense de otorrino.

Tenista, praticante de natação sem ser nadador, gosta de montaria, viagens atividades comunitárias, rotariano, tendo sido governador do distrito 4710, Paraná, anos 95/96 - Palestrante e conferencista.

Na vida social e cultural, foi presidente da APAE, criador de Fundação de ensino técnico, formando mão de obra operária, Presidente diocesano do movimento familiar Cristão, Orador da turma de formatura em medicina. Orador oficial na Plaça de San martin, em Buenos Aires, representando as caravanas brasileiras naquela cidade. Titular ca cadeira 33 da Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina, Paraná. Efetivo da Academia José de Alencar, em Curitiba. Presidente fundador da Academia de Letras , Artes e Ciências Centro- Norte do Paraná, em Apucarana.- Efetivo do Centro de Letras do Paraná, em Curitiba . Membro ds Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.- Membro da União Brasileira de Trovadores.-Membro do Elos Clube de Londrina (Pr).

Livros publicados: - Oração de formatura - Pureza Pecado poesia I- Pureza Pecado Poesia II. Idílios Idéias Ideais. - Amor Ideal rebeldia.- Participante de 08 coletâneas de poemas.- Participante da obra de Pompília Lopes dos Santos,na obra sesquicentenário da poesia Paranaense. Cronista publicado em 17 jornais do Paraná e 20 jornais do Brasil
.

Fontes:
Soares Feitosa. Jornal de Poesia. http://www.secrel.com.br
http://www.geocities.com/lipoesias/enviadas/fahed.html
http://www.avspe.eti.br/poetas/fahed_biografia.htm

Sir Arthur Conan Doyle (Sherlock Holmes: Um Estudo em Vermelho)

No mundo inteiro dificilmente se encontrará alguém que não conheça Sherlock Holmes, talvez o mais famoso e genial detetive de todos os tempos. Durante o século 19 seu nome se tornou um ícone em quase todas as linguas do mundo, garantindo a ele mais admiração e respeito que os reais detetives da atualidade. Mas isso não surpreende pois seus métodos de investigação não podem ser imitados por ninguém.

Sherlock Holmes foi criado por Sir Arthur Conan Doyle, autor britânico, em fins do século 19. Um Estudo em Vermelho foi a primeira prova das habilidades de nosso imortal herói.

A sala de estar estava cheia de ouvintes: havia, por exemplo, alguns homens da Scotland Yard que buscavam fama e respeito dos londrinos que diriam "quão bem eles haviam investigado o caso". Subitamente dois garotos entram na sala acompanhados de um velho.

"Deixe-me apresentá-los ao assassino!", gritou Sherlock Holmes apontando o velho, que era um dos poucos proprietários de carruagem de Londres. A longa e misteriosa estória estava pronta para iniciar. O velho, Sr Jeferson Hope, não tinha nada a dizer pois era incapaz de esconder qualquer detalhe de Sherlock Holmes.

Vingança, velhos ódios e ressentimentos tinham um papel muito importante a desempenharem na estória. O caso tinha se iniciado a muito tempo atrás longe da Inglaterra, mas as consequências deste passado não morreram até Jeferson Hope estar apto a vingar o que seus inimigos haviam feito a sua amada e ao pai dela.

O Sr Hope não era um prisioneiro típico que chora, tenta lutar e recusa-se a admitir que o jogo esta terminado. Ele era um velho moribundo que não se importava com o que lhe aconteceria no futuro.O fato de seus inimigos terem pago, através de suas mãos, pelos trágicos acontecimentos do passado era suficiente. Ele queria nada mais do que contar toda a verdade e morrer redimido.

A complicada verdade torna-se clara mais tarde quando Sherlock Holmes tem a oportunidade de explicar suas investigações ao Doutor Watson. Meu livro quase caiu ao chão quando percebi quão simples tudo realmente havia sido. "O maior erro que pode ser cometido é fazer as coisas mais complicadas do que elas realmente são", Sherlock Holmes explica. Mesmo nos dias de hoje cada palavra sua ainda é verdade: as pessoas tornam tudo difícil quando elas mesmas fazem parecer difícil.

Doutor Watson, que sempre trabalhou com Sherlock Holmes tentando ajudá-lo, ficou também boquiaberto. Ele era uma pessoa muito inteligente e calma, entretanto inábil em perceber os detalhes "claros" como pegadas e cinzas de diferentes tipos de cigarro. Ele só podia escutar e observar como seu amigo trabalhava. Sherlock Holmes, que não era o companheiro ideal, estava pronto a responder qualquer pergunta. Ele não queria esconder sua genialidade e inteligencia de ninguém, mas acima de tudo, ter seus talentos notados.

Mesmo em sua vida diária o comportamento de Sherlock Holmes era quase auto didata. Ele tinha muitas opiniões fortes que todos deviam aceitar. "Eu não tenho que ser interessado em nada", era um de seus pensamentos favoritos. Emoções e relacionamentos com outras pessoas não significavam nada para ele. Doutor Watson era talvez a única excessão.

Acredito que Sherlock Holmes era, apesar de seu comportamento orgulhoso, uma pessoa que merece todo o respeito do mundo. Ele devotou sua vida a capturar assassinos e outros criminosos, fazendo seu trabalho fiel e cuidadosamente. Já seu primeiro caso "Um Estudo em Vermelho" deixa claro que ele sabia exatamente o que estava fazendo. Ele não era somente um jovem e inexperiente garoto mas um super inteligente detetive.

O modo como o Sr Conan Doyle conduz e descreve os eventos e pessoas em seu primeiro romance merece todo meu respeito. Suas descrições exatas me fizeram sentir como se eu fizesse parte do que estava acontecendo. Até as pessoas, descritas tão cuidadosamente, me fizeram imaginar outras coisas que não foram mencionadas: como elas falavam, que tipo de voz tinham e como elas realmente se pareciam. A linguagem era também clara e vívida com frases não muito complicadas de entender.

Se voce quer ler algo muito emocionante e que não o deixe entendiado voce deve realmente ler "Um Estudo em Vermelho" ou outras estórias de Sherlock Holmes. Com seus enigmas muito complicados eles lhe oferecerão uma boa oportunidade de voce usar sua imaginação. A resposta da pergunta "quem fez isso" nunca está escondida atrás da próxima porta; a casa inteira tem que ser investigada.

Fontes:
http://www.netsaber.com.br/resumos/

Salman Rushdie (1947)

Sir Salman Rushdie KBE (Bombaim, 19 de Junho de 1947) é um ensaísta e autor de ficção britânico de origem indiana. Cresceu em Mumbai (antiga Bombaim) e estudou na Inglaterra, onde se formou com predicado (with honours) no King's College, Universidade de Cambridge. O seu estilo narrativo, mesclando o mito e a fantasia com a vida real, tem sido descrito como conectado com o realismo mágico. Rushdie casou-se com a famosa atriz e modelo indiana Padma Lakshmi, de quem anunciou divórcio em julho de 2007.

Rushdie foi condecorado em 15 de junho de 2007 como Cavaleiro Comandante do Império Britânico (Knight Commander of the British Empire), fato que provocou diversos protestos no mundo islâmico.

Obras

Estreou na literatura em 1975 com o romance Grimus.

Dono de um estilo próprio e dominando excelentes técnicas de narração, Rushdie já era um autor consagrado quando venceu o Prémio Booker em 1981 com a obra Os Filhos da Meia-Noite.

Tornou-se incomparavelmente mais famoso após a publicação do livro Versículos satânicos(em Portugal) Versos satânicos (no Brasil), em 1989, que causou controvérsia no mundo Islâmico, devido a este livro ter sido considerado ofensivo ao profeta Maomé. A 14 de Fevereiro de 1989, a fatwa ordenando a sua execução foi proferida pelo Aiatolá Ruhollah Khomeini, líder do Irã, chamando o seu livro de "blasfêmia contra o Islão". Para além disso, Khomeini condenou Rushdie pelo crime de "apostasia" - fomentar o abandono da fé islâmica - o que de acordo com a Hadith é punível com a morte. Isto porque Rushdie comunicava através do romance que já não acreditava no Islão. Khomeini ordenou a todos os "muçulmanos zelosos" o dever de tentar assassinar o escritor, os editores do livro que soubessem dos conceitos do livro e quem tomasse conhecimento de seu conteúdo, conforme a fatwa. Devido a este fatos Rusdhie foi forçado a viver no anonimato por muitos anos.

A obra infanto-juvenil Haroun e o Mar de Histórias foi escrita pelo autor como uma forma de explicar ao seu filho por que razão tinha perdido a liberdade de expressão.

Com o seu primeiro romance pós-fatwa, intitulado O Último Suspiro do Mouro, foi vencedor do Prémio Whitebread.

Bibliografia
Grimus (1975)
Os Filhos da Meia-Noite Midnight's Children (1980)
Vergonha Shame (1983)
O Sorriso do Jaguar The Jaguar Smile: A Nicaraguan Journey (1987)
Versos Satânicos The Satanic Verses (1989)
Haroun e o Mar de Histórias Haroun and the Sea of Stories (1990)
Pátrias Imaginárias Imaginary Homelands: Essays and Criticism, 1981-1991 (1992)
Oriente, Ocidente East, West (1994)
O Último Suspiro do Mouro The Moor's Last Sigh (1995)
O Chão que Ela Pisa The Ground Beneath Her Feet (1999)
Fúria Fury (2001)
Step Across This Line: Collected Nonfiction 1992-2002 (2002)
Shalimar, o Equilibrista (Brasil) Shalimar, the clown (2005)

Fontes:
http://pt.wikipedia.org
Foto = http://www.martinfrost.ws

Salman Rushdie (Sinopse de Alguns Livros)

Harun e o mar de histórias

A imaginação de uma criança depende do quanto ela possa nadar, boiar, brincar, chapinhar no enorme “mar de histórias”.

“Harun e o mar de histórias” é a primeira história escrita por Salman Rushdie, num dos lugares onde esteve refugiado depois de ter sido condenado à morte, após ter escrito Versículos Satânicos.

Em “Harun e o mar de histórias”, Salman Rushdie conta-nos a história de Harun, um menino, cujo pai era um famoso contador de histórias no mítico país de Alefbey. Um dia a mãe de Harun decide fugir com um crítico do trabalho do marido. (”Para que servem as histórias, se nem sequer são verdade?” dizia ele. Harun revoltado com a fuga da mãe faz a mesma pergunta ao pai, Rashid. Este com o coração partido, perdeu a alegria de viver e o dom da palavra, não conseguindo contar nem mais uma história. Abria a boca e nada saía.

Harun descobre que o pai, magoado, tinha cancelado o seu contrato com a “água das histórias” situada numa segunda lua da Terra cuja órbita é tão rápida que até hoje não foi detectada pelos satélites.

Uma noite, Harun ouve um barulho. Vai ver. Era o génio Iff, vindo da lua de Kahani, a desligar a canalização da água de histórias. Conversam os dois e Harun começa a fantástica aventura na procura das palavras para devolver ao pai, viajando com o génio até à lua de Kahani. Vamos com ele até ao momento em que deslumbra a superfície desta lua, e vê que ela é coberta pelo Mar de Fios de Histórias: Harun olhou para a água e viu que esta era feita de milhares e milhares de correntes diferentes, cada uma de sua cor, que se entrelaçavam como uma tapeçaria líquida, de uma enorme complexidade. E Iff explicou que aqueles eram os Fios de Histórias, e que cada fio colorido representava e continha uma única narrativa. Nas diferentes áreas do Mar havia diferentes tipos de histórias, e como todas as histórias que já foram contadas e muitas das que ainda estavam para ser inventadas se podiam encontrar ali. O Mar de Fios de Histórias era, na verdade, a maior biblioteca do universo. E como as histórias ficavam ali guardadas em estado líquido, elas conservavam a capacidade de mudar, de se transformar em novas versões de si mesmas, de se unirem a outras histórias. Assim, ao contrário de uma biblioteca, o Mar de Histórias era muito mais do que um depósito de livros. Não era um lugar morto. Era um lugar cheio de vida.

Harun percebe então que o mar está cheio de peixes “milbocas” que engolem histórias e em cujas entranhas “acontece um milagre”: um bocadinho de uma história junta-se com uma ideia de uma outra e pronto! Quando os peixes cospem as histórias, elas já não são as mesmas, são outras novas. Nenhuma história vem do nada; elas nascem das velhas. São novas combinações que fazem com que elas sejam novas.

Escapando de muitos perigos, Harun conseguirá vencer as tenebrosas forças da escuridão e do silêncio.

O mar de histórias é uma metáfora para a textura narrativa. Quanto mais complexa, colorida e diversa é essa textura, mais vivo estará o mar.

Salman Rushdie dedicou esta história ao seu filho Zafar, então com nove anos. Uma narrativa com humor, uma defesa da criação, da fantasia e da liberdade. Uma celebração da alegria de contar histórias e do prazer de ouvi-las e lê-las.

“Há milhares de fios de histórias, há milhares de peixes de “milbocas”, a vitalidade da narrativa está simbolizada nesta história de Rushdie. Quanto mais histórias forem contadas, ou contadas por um maior número de pessoas, maiores são as possibilidades de recriação, logo de maior vitalidade imaginativa. A imaginação de uma criança depende do quanto ela possa brincar, nadar, boiar, chapinhar no enorme “mar de histórias”.
==================
Shalimar, O Equilibrista (Brasil) ou Shalimar, o Palhaço

É uma obra de ficção de Salman Rushdie publicada em 2005 e que conta a história do personagem Shalimar, da infância à morte, da sua carreira como artista a assassino profissional, tendo em foco em quatro personagens fundamentais: Índia/Cachemira, Boonyi, Max, e o próprio Shalimar. O livro não segue a ordem cronológica dos eventos e inicia-se com um misterioso assassinato que se desvenda ao longo do romance.

O lançamento mundial do livro teve como principal evento a Festa Literária Internacional de Paraty, no Brasil, em 2005, com a presença do autor.
==============================
O Chão que Ela Pisa

Publicada em 1999. É um romance viciante. 575 páginas que assustam quem olha por fora e suspendem quem olha por dentro. Mas, do início então. "O Chão que ela pisa" é a história do casal Ormus e Vina, contada por Ray.

Ormus e Vina formam o núcleo artístico e pensador do VTO, uma banda de rock que vende bilhões de discos, incomoda a ordem vigente com suas letras e que é o veículo de expressão do amor louco de Ormus por Vina, e vice-versa.
Ray é fotografo, amigo de Ormus, amante de Vina. É ele quem conta a história depois de todo o desastre.

O romance é a recriação do mito de Orfeu e Eurídice. No mito, Orfeu desce ao inferno para buscar Eurídice, morta por uma picada de cobra. Nesse romance, Vina, tragada por um terremoto, é o caminho do inferno para a dupla Ormus/Ray, mas, a certa altura, o interlocutor questiona: "Será que o fracasso de Orfeu em resgatá-la é uma prova do destino inevitável do amor (ele morre); ou da fragilidade da arte (ela não é capaz de levantar os mortos); ou da covardia platônica (Orfeu não morre para estar com ela; não é nenhum Romeu, ele); ou da dureza dos, digamos, deuses (eles enrijecem o coração contra os amantes) ?".

O pano de fundo da história é o rock and roll e a nascente industria de celebridades. A certa altura Ray contempla:

"Por que a gente gosta de cantores? Onde se esconde o poder das canções? Talvez se origine da mera estranheza de se existir canto no mundo. A nota, a escala, o acorde; melodias, harmonias, arranjos, sinfonias, ragas, óperas chinesas, jazz, blues: o fato de essas coisas existirem, de termos descoberto os intervalos mágicos e as distâncias que produzem o pobre punhado de notas, todas ao alcance da mão humana, com as quais construímos nossas catedrais sonoras, é um mistério tão alquímico quanto a matemática, ou o vinho, ou o amor. Talvez os pássaros tenham nos ensinado. Talvez não. Talvez sejamos, simplesmente, criaturas em busca de exaltação. Coisa que não temos muito. Nossas vidas não são o que merecemos. De muitas dolorosas maneiras elas são, temos de admitir, deficientes. A música as transforma em outra coisa. A música nos mostra um mundo que merece os nossos anseios, ela nos mostra como deveriam ser os nossos eus, se fôssemos dignos do mundo".

O "Chão que ela pisa" é romance contemporâneo, clássico, vivo, instigante e inteligente. É uma história de amor, morte e rock and roll. É cultura popular global. É obrigatório. E, ah, claro, Salman Rushdie é, sim, autor dos Versos Satânicos, e a canção do VTO, letra de Ormus, que dá titulo ao livro, The ground beneath her feet, foi definido por Toni Morrison como uma obra global. O título inspirou uma canção homónima da banda irlandesa U2.

Fontes:
http://www.screamyell.com.br/literatura/chaoquelapisa.htm
http://pt.wikipedia.org
http://www.interescolas2006.esel.ipleiria.pt/?p=129

A Obra e o Pensamento de Salman Rushdie

Tempos atrás um escritor poderia passar meses na cadeia se não tomasse cuidado com o que colocasse no papel, poderia arruinar toda a sua vida com uma simples estrofe. Eram tempos difíceis, mas as palavras, talvez por serem armas de poucos eram muito mais temidas e perigosas. Hoje estamos acostumados a ler todo o tipo de coisa, não existe mais aquele lado romântico aonde mesmo indo a forca o escritor sabia que sua mensagem havia mexido com alguém e realizado alguma coisa. São poucos os artistas que conseguem irritar as autoridades com uma idéia e uma caneta na mão, e é exatamente este o caso do Indiano Salman Rushdie

De personalidade assumidamente anti-islâmica e rebelde o autor confessa. “Tenho um talento especial para irritar as pessoas. Sou um inimigo natural.”. Salman é declaradamente anti-religioso se considerarmos como religião as manifestações institucionalizadas encontradas ao redor do mundo. Segundo ele ”inventamos Deus só por duas razões: para saber de onde viemos e como devemos nos comportar. Mas as origens das religiões são falsas e quando impõem uma ética, as pessoas começam a ser torturadas e mortas". Ou seja o escritor coloca-se desde inicio contra toda a religião oficial, e talvez por ter nascido no oriente devotou-se a ser um inimigo especial do Islamismo.

Sua carreira começou com a publicação daquele que talvez exatamente por ser o mais ousado e criticado seja até hoje é seu livro mais vendido; “Versos Satânicos” conta de forma romanceada a experiência pessoal do autor com o islamismo e sua subseqüente frustração. O livro conta com diálogos inteligentes, narrações surrealistas e fatos concretos e históricos. O livro todo de forma implícita ou explicita reserva criticas acidas ao niilismo, ao cristianismo, ao hinduismo, ao ocidente ao oriente, e, mas especialmente as nações islâmicas.

Entre diversas outras criticas encontramos, por exemplo, as evidências de que o Alcorão foi inventado por Mohammad, e que esta suposta revelação surgia de acordo com as necessidades, políticas, econômicas, e até mesmo pessoais do período em que o dito profeta vivia em determinado momento. Segundo Salman e diversos outros estudiosos, Mohamad sofria de ataques epiléticos e soube da mesma forma que os xamãs ameríndios transformar sua estranheza em uma ferramenta de controle sobre os outros homens. O profeta do Islam soube servir-se de sua debilidade para confirmar suas revelações, afirmando que suas crises eram devidas a contatos diretos e diálogos espirituais que tinha com o Arcanjo Gabriel.

No meio do romance Rushdie ainda faz referência aos primórdios pré-islamicos quando Allah ainda era somente o nome de um entre centenas de ídolos adorados do panteão árabe. Allah e suas filhas Al Lat, Al Uzza e Manat eram largamente adorados em toda a Meca e região. No inicio da pregação de Maomé era permitido adorara Allah e parar pela intercessão de suas filhas, somente mais tarde quando sua influência cresceu é que o culto único a Allah foi imposto.

Como se não fosse o bastante Rushdie expôs de forma nua e crua a opressão contra a mulher e o fascínio e medo do mundo islâmico de ser dominado pelos valores do Novo Oeste. Segundo o autor “Para um número imenso de muçulmanos "crentes", "o islã" representa, de maneira confusa e apenas semi-analisada, não apenas o temor a Deus -e, desconfia-se, é realmente mais de temor do que de amor que se trata-, mas também um conjunto de costumes, opiniões e preconceitos que incluem as práticas alimentares, a reclusão ou quase reclusão forçada de "suas" mulheres, os sermões proferidos pelos mulás de sua preferência, a aversão à sociedade moderna em geral, repleta de música, sexo e a ausência do divino e uma aversão (e medo) mais específica diante da perspectiva de que o mundo que os cerca possa ser dominado pelo estilo ocidental de vida -"ocidentoxicado", por assim dizer.”

Seu livro seria visto com curiosidade e interesse por ocidentais, já menos ligados a forças religiosas do que o restante do mundo, mas no oriente, especialmente nas nações islâmicas onde a teocracia ainda está acima do individuo, o livro foi declarado uma das maiores blasfêmias já escritas e a reação muçulmana foi fortíssima. Protestos e manifestações titânicas vieram das massas muçulmanas da Turquia, Índia e Paquistão. Em outros países a reação foi ainda mais forte.

Com a publicação de Versos Satânicos, o aiatolá Khomeini, a figura mais forte e carismática do mundo muçulmano naquele período, declarou através de um decreto religioso que " é obrigações de todo o glorioso povo muçulmano cooperar para que o autor dos Versos Satânicos, livro que é contra o Islam, o Profeta e o Alcorão, e todos os que estão envolvidos na sua publicação e estavam conscientes do seu conteúdo, sejam desde agora condenados à morte por ofensas graves contra Allah." Livrarias foram saqueadas, e incendiadas. Uma fundação iraniana conhecida como Khordad ofereceu a recompensa de dois milhões e meio de dólares a quem desse provas de ter matado Rushdie. Além disso mais de quinhentos iranianos ofereceram vender um dos seus rins voluntariamente para financiar a execução do autor.

Rushdie passou toda a década seguinte vivendo na clandestinidade fugindo de país em país, trocando constantemente de identidade e endereço. Companhias aéreas se recusavam a transporta-lo sob a alegação deste ser uma ameaça para a segurança dos outros passageiros. Em 1989 Khomeini morreu e segundo as leis islâmicas em que um decreto religioso só pode ser anulado por que o decretou, a condenação de Salman passou a ser eterna. Dois anos depois, Hitoshi Igarashi, tradutor de Versos Satanicos para o japonês foi morto a facadas por radicais islâmicos, Ettore Capriolo, tradutor italiano teve mais sorte e sobreviveu por pouco de um ataque em Milão e em 1993 William Nygarrad, editor norueguês do livro escapa da morte após levar quatro tiros nas costas. Os Editores Chineses da obra receberam mais de cinco mil cartas ameaçadoras inclusive mais de vinte ameaças de bomba.

Hoje em dia Rushidie já aparece mais na mídia, mas ainda faz parte do programa de proteção da policia britânica para a qual pediu exílio. De cabelos grisalhos com sua terceira esposa e talvez mais sarcásticos do que antes o autor é um dos inimigos mais ativos do fundamentalismo religioso. Seu nome tornou-se símbolo de uma nova forma critica de se pensar e se expressar que vem contribuindo na luta contra o fundamentalismo no Oriente. A cada ano mais e mais “Rushies” surgem. Como o próprio autor gosta de colocar: “Ou os muçulmanos reformulam o Islam, ou os Rushdies farão isso por eles.” Mesmo perseguido e condenado à morte, Salman foi autor de mais alguns livros, todos é claro primando por sua própria dose de rebeldia contra o status quo. Segundo suas próprias palavras, seu plano pessoal para a vida é escrever livros até cair e morrer nesse processo. “Sinto que minha cabeça está cheia de livros", diz ele. De qualquer forma, o escritor arca com as responsabilidades de dizer para a massa ignorante o que ela não quer ouvir. A grande ironia é que o homem que “matou” o Profeta profetizou seu próprio futuro em sua própria obra, como lemos no seguinte trecho de Versos Satanicos:

Um livro é o produto de um contrato com o Diabo que inverte o contrato Faustiniano, disse ele à Allie. Dr. Faustus sacrificou sua eternidade em troca de dois anos de poder; o escritor concorda em arruinar sua vida e ganhar (se tiver sorte!) senão a eternidade, pelo menos a posteridade. De qualquer forma é sempre o Diabo que sai ganhando.” Salman foi um destes que teve sorte e saiu ganhando talvez por ser o próprio Diabo. Ele realizou o sonho romântico de todo artista, afinal seus inimigos foram no fim os maiores promotores da própria obra que os denegria. Rushidie tornou-se imortal no exato momento em que foi condenado à morte.

Fonte:
http://www.mortesubita.org/

Elizabeth Kostova (O Historiador)

O Historiador consumiu 10 anos de pesquisas da autora, Elizabeth Kostova, e é inspirado na história real de Vlad, o Conde Drácula, numa mistura magistral de folclore e mito, com preciosos dados históricos, antropológicos e geográficos. Mas a explicação de seu imenso sucesso está na força dramática do seu enredo e na imensa vitalidade de seus personagens.

Certa noite bem tarde, ao explorar a biblioteca do pai, uma jovem encontra um livro antigo e um maço de cartas amareladas. As cartas estão todas endereçadas a "Meu caro e desventurado sucessor", e fazem mergulhar em um mundo com o qual ela nunca sonhou - um labirinto onde os segredos do passado de seu pai e o misterioso destino de sua mãe convergem para um mal inconcebível escondido nas profundezas da história.

As cartas fazem alusão a um dos poderes mais maléficos que a humanidade jamais conheceu, e a uma busca secular pela origem desse mal e sua erradicação. É uma caça à verdade sobre Vlad, o Empalador, o governante medieval cujo bárbaro reinado gerou a lenda de Drácula. Gerações de historiadores arriscaram reputação, sanidade, e até mesmo as próprias vidas para conhecer essa verdade. Agora, uma jovem precisa decidir continuar ou não essa busca - e seguir seu pai em uma caçada que quase o levou à ruína anos antes, quando ele era um estudante universitário cheio de energia e sua mãe ainda era viva.

Fonte:
http://www.americanas.com.br

Jean Paul Bourre (Vlad Tsepesh, o Conde Dracula)

Na Transilvânia, a uma altitude vertiginosa acima de uma paisagem selvagem, toda florestas e ribeiros, eleva-se uma cidadela inacessível onde, enclausurado voluntariamente, vivia noutros tempos um príncipe...

Este solitário não tinha senão um único fim: transpor os limites da morte e entrar vivo na eternidade. Drácula, eis o nome deste amante das ciências malditas. Nosferatu, isto é: o «não morto», aquele que não morre nunca.

Como ele, outros senhores poderosos transformaram os seus castelos romenos em ninhos de águias, ficando discípulos do Anjo Negro, Lúcifer. Esses sim, praticam o verdadeiro vampirismo, alquimia do sangue e da morte.

Nosferatu pode escrever-se só no plural porque não há só um nosferatu. Se Drácula, o príncipe Vlad Drakul, cuja história romena recorda, é considerado como o soberano dos adeptos da noite, ele não é único «não morto». Outros pertenceram ou ainda pertencem a essa cadeia onde os segredos do sangue se transmitem do mestre para o discípulo.

Os vampiristas conhecem o ritual de chamamento à vida, o ritual do despertar que se pode encontrar no Livre Sacré d’ Abramelin le Mage. Foi a partir deste manuscrito que formou a primeira cadeia dos «não mortos» que se espalharia pela Europa inteira.

No âmbito da magia e terror tal como se passa com os elfos, os papões, as fadas, o lobisomem etc., nós vimos o vampiro aparecer com rara constância nas lendas e tradições populares. No entanto, a lenda não é somente uma «crença popular», uma vaga superstição de que nos lembramos. Ela pertence sempre a uma realidade esquecida, temerosa.

A história revela-nos que o conde Drácula não era conde mas príncipe e que reinou em Valáquia, província dos Cárpatos,de 1456 a 1462. É também conhecido pelo nome de Vlad Tepes, o que quer dizer vlad o empalador. O historiador Florescu descreve-o como especialista em empalamento e tortura, homem sanguinário e destemido guerreiro.

«Ele empregava», escreve ele, «estacas e lanças que precisavam ser afiadas, para que as perfurações não provocassem imediata agonia e antes intensificassem o sofrimento dado o tipo de chaga alargada que daí resultava

A Romênia – especialmente a Transilvânia de século XV tem a marca do vampiro. Tudo, desde a busca mágica do príncipe Drácula, a criação da Ordem do Dragão por Segismundo I da Hungria que se tornou ponta de lança da cavalaria das trevas, uma ordem vampírica a que toda a aristocracia da Transilvânia aderiu, os Drácula, os Garai, Cillei e outros, tudo ali existe.

A crueldade de vlad ficou na lenda.

«Ele foi vlad Tepes, o tirano. Nada o satisfazia tanto como ver os seus inimigos no estertor e sofrer quando empalados. Conta-se que no meio dos moribundos suspensos de estacas ele se fazia servir das mais lautas refeições, para mostrar que o espetáculo cruel e a forma de matar os inimigos não lhe roubava o apetite.» (F. R. Dumas.)

Em Târgoviste ele empalou, na Páscoa de 1459, quinhentos Boyards. A 24 de Agosto de 1460, os anais da Romênia precisam que ele matou – após torturas e suplícios – 30 000 prisioneiros em Anilas:

Enfim, matou de muitas e diversas maneiras, torturando com a ajuda de utensílios, fazendo atrocidades que só o mais tirano dos tiranos poderia conceber.

O papa Pio li ficou horrorizado. O bispo d’ Erlau, em 1475, secundou a acusação de que o número de vítimas do príncipe Drácula se elevava a mais de cem mil pessoas.

Sendo ele cristão ortodoxo, a sua excomunhão tê-lo-ia atirado para os infernos! E não foi citado que, após ter conquistado Kroonstadt, fez dos seus habitantes prisioneiros levando-os para a capela de S. Jacques, para a Igreja de S. Bartolomeu e para o mosteiro de Holtznetya onde, depois de roubar os paramentos e os cálices, deitou fogo aos edifícios com as pessoas lá dentro, matando todos os que ali se encontravam.

Com a aparição de um tal Eleazar, chegado do Egito, detentor do famoso Manuscrito de Abremelin, é que tudo afinal começou...

Uma seita do Egito revelou-lhe os mistérios da morte e as técnicas que permitiriam obter-se um aspecto de imortalidade. Chegado a Veneza, transmitiu para a escrita tudo o que ouvira da boca de Abramelin, no Egito. É em Veneza que põe em prática a sua ciência sobre os mortos... de um modo eficaz e terrífico. Alguns jovens mais ousados agruparam-se à sua volta e formaram o primeiro elo desta cadeia européia. Este saber vinha das práticas de Osíris, o deus dos mortos-vivos do Egito, aquele que foi desmembrado antes de se tomar imortal.

Nas primeiras páginas do manuscrito maldito, Abramelin revela através da escrita de Eleazar: «Imagina a que ponto a nossa seita se tornou maldita que ultrapassa o gênero humano... de tal modo que em ti , não se manterá para além de uns setenta e dois anos... e outra virá continuar-lhe caminho.»

O discípulo de Abremelin deixou Veneza, onde ficou um grande número de partidários que se instalou na ilha de Lagune, ilha essa onde noutros tempos se orara ao dragão das águas, o que prova que nada se escolhe por acaso...

Eleazar chegou à Hungria, onde se tornou conselheiro, em matéria de ocultismo, do imperador Segismundo, iniciando-o nas práticas de Abremelin.

O imperador da Hungria acabava assim de descobrir uma resposta para as suas angústias, um remédio para o seu temor à morte. Aconselhado por Eleazar fundou a Ordem do Dragão na mitologia do sangue.

Vlad o Diabo, príncipe da Valáquia e pai de Drácula, pertencera a esta Ordem, onde foi iniciado nos mistérios do sangue segundo os ritos de Abremelin.

A seguir à morte de Vlad, Drácula subiu ao trono de Valáquia. Segismundo da Hungria doou-lhe as terras, feudos de Almas e Fagaras situados na outra vertente dos Cárpatos e é sob a bandeira do Dragão que ele combate os turcos, depois de prestar vassalagem ao grão-mestre da Ordem.

Na Ordem do Dragão vamos encontrar os grandes adeptos vampiros da Romênia, homens de armas e ao mesmo tempo praticantes da velha magia. As famílias Garai e Cillei, são conhecidas pela sua crueldade e despotismo, autênticas «eminências pardas» do imperador Segismundo. Hermann de Cillei foi o exemplo vivo desta aristocracia infernal!

As relações pervertidas que mantinha com a irmã bárbara tornaram-se do domínio público mas Hermann de Cillei gozava com o escândalo para o qual ele e sua irmã viviam.

Foi nessa altura que Segismundo I tentou a grande experiência do livro de Abramelin. Ele estava apaixonado por bárbara de Cillei que, ainda nova, cansada pelos seus excessos debochados, acabava de se envenenar. Bárbara de Cillei fora por muito tempo das cúpulas da ordem. Segismundo serviu-se do ritual próprio para ressuscitar esta jovem, segundo nos conta Eleazar através dos seus documentos.

O castelo de Drácula

Bárbara foi enterrada em Gráz, na alta Síria. Algum tempo depois, os seus despojos foram transportados para o castelo de Varazdin. Foi ela a inspiradora da obra prima da literatura vampiresca do século XIX: Carmila, de Shéridan Le Fanu.

Bárbara Cillei, a quem chamavam «a Messalina alemã», perturbou durante muito tempo a sua região, a acreditar-se nas crônicas da época.

O seu duplo ter-se-ia manifestado em 1936, em Varazdin, na atual Jugoslávia, e causou a morte a seis pessoas muito novas da aldeia. Na Transilvânia, a natureza oferece à vista profusão desordenada de montanhas que protegem estreitos vales, tornando assim o acesso muito difícil. Os cumes desnudados ergem-se sobre as aldeias, como que para lembrar as glórias antigas na época em que os enormes penedos suportavam verdadeiras fortalezas de muralhas sombrias, de maciças torres.

Foi aí que, fechado no seu ninho de águia, Hermann de Cillei escreveu a sua Pratique de Vampirisme, deixando às gerações futuras um verdadeiro manual de técnica (o segredo da «horrível transformação» transmitia-se entre as famílias da nobreza da Transilvânia, os Garaï, e os Dráculas, todos nobres da Ordem do Dragão).

«O vosso corpo imortal já existe», escreve Hermann Cillei. «Fazei crescer esta outra realidade em vós, tornai-vos confiante, deixai-vos possuir pelo Real. Sede aquele que nunca dorme, não sucumbe aos automatismos, nunca se esquece de si próprio nem um segundo, um ser que vence o coma e a morte. O vosso corpo prosseguirá. Como poderia ele resignar-se à lei da decomposição? O vosso espírito despertado retém as moléculas da carne. A partir de então o corpo não soçobrará, pois é a falta de vitalidade, de força anímica, que fazem o corpo tornar-se em pó. E o mesmo que tirar as pedras de cunha a uma casa.

»Em primeiro lugar é preciso agir sobre o nosso duplo astral, torná-lo autônomo, forçá-lo a sair do corpo, ensiná-lo a errar no plano astral, ensiná-lo a viver sem depender do corpo e dos seus hábitos. Logo que o duplo se souber governar perfeitamente, pode então a consciência abandonar o corpo e vir habitar o duplo. Depois da morte continuará a errar. Deveis pois alimentá-lo com a vitalidade que o vosso sangue contém


Pode imaginar-se facilmente Hermann Cillei metido numa das torres do seu castelo, fixando a chama hipnótica da vela, escrevendo o manual de vampirismo, já entre este mundo e o outro. Ouve vozes confusas vindas do passado, vê cenas terríveis de que as montanhas foram testemunhas... O vale está povoado por seres fantásticos, sombras que deslizam ao cair da noite... olhos que espreitam entre a escuridão...

A maldição plana como um abutre sobre os castelos da Transilvânia. Bárbara de Cillei morreu envenenada. A mulher de Drácula atirou-se do alto da torre do castelo, em 1462. Drácula voltou a casar-se – sem a bênção da igreja – e vive então na fortaleza de Sibiu. O filho, Mihnea, é tão mau como o pai. Alcunharam-no de Mihnea, o Mau. Também ele pratica decapitações, carnificinas, cortes de orelhas, empalamentos e estuda as «ciências» malditas para fugir à morte.

O príncipe Drácula – vlad Drakul – foi morto pelos turcos numa emboscada perto de Bucareste. Tinha 45 anos, e «foi enterrado subrepticiamente no mosteiro de Snagov sob uma laje sem inscrição. Quando em 1931 foi aberta a sepultura constatou-se que os seus despojos tinham desaparecido».

Que é que se passou? pergunta Ribadeau-Dumas: Os monges do mosteiro de Snagov, na floresta de VIasie, no meio de um grande lago, como existe um em Bucareste, mergulharam o caixão nessas águas ao ver chegar os turcos vitoriosos. Depois de afundado nunca mais se encontrou o caixão. Conta-se que no momento em que o mergulharam na água, teria surgido uma tempestade violenta, deitando árvores abaixo, rebentando os diques do lago, incendiando o mosteiro que desabou em seguida. Aos camponeses pareceu-lhes ouvir durante muito tempo tocar os sinos da igreja, igualmente arrasada nesta onda de destruição. Aquele lago ficou amaldiçoado!

»No século XX reconstruíram a igreja do convento, mas a nave abateu aquando de um tremor de terra em 1940. Hoje, apenas um monge ora nesta ilha, pelo repouso da alma do príncipe Drácula

Para se chegar ao castelo de Drácula, na Transilvânia, é preciso transpor o vale de Ollul, trepar o desfiladeiro da «Torre Vermelha», onde ainda existem ruínas de uma fortaleza militar. Estas ruínas levantam-se sobre a margem direita de uma ribeira, no alto de uma enorme falésia perpendicular à estrada. Encontramo-nos nas nascentes do Arges, por cima das quais brilha a neve dos montes Fagaras.

As aldeias são pobres, as casas modestas, os habitantes mais duros e menos sociáveis e hospitaleiros que os de outras províncias da romênia. A uns trinta quilômetros a jusante encontra-se a aldeia de Arefu onde lá em cima se ergue o ninho de águia de Drácula.

Numerosas lendas relatam a construção do castelo do terror. As crônicas da época dizem que Vlad Draklul reuniu trezentos nobres romenos na sala grande do seu palácio de Târgoviste, oferecendo-lhes um banquete suntuoso. Durante a festa, colocara à volta da sala os seus arqueiros que, a uma ordem sua, aprisionariam os convidados. E, como um rebanho, fez seguir os seus convidados até Arefu, onde chegaram dois longos dias depois.

Numerosas mulheres e crianças, diz a crônica, não agüentando a caminhada, pereceram a meio. Os que sobreviveram, logo se agarraram ao trabalho sob as ordens do príncipe Drácula. E assim construíram a fortaleza de Curtes de Arges, que seria mais tarde o ninho de águia do príncipe.

«A história não esclarece quanto tempo levou esta construção. Escravizados, acabaram por ver suas roupas cair, continuando a trabalhar nus; prosseguiram até tombar mortos pela fome, fadiga, frio e esgotamento...»

Foi assim com sangue que se construiu a fortaleza. Como se o suor, o sangue, a carne dos cadáveres tivessem servido de argamassa a esses pedregulhos.

O caminho que vai de Arefu ao castelo é duro. Uma hora a andar, antes de se atingir algumas pedras daquilo que foi uma das mais poderosas fortalezas de Valáquia. A vista é vertiginosa, distinguindo-se a mancha vermelha das aldeias espalhadas pelos contrafortes alpinos. Lá longe, para norte, luzem os picos de neve dos montes Fagaras.

No pátio do castelo o visitante apercebe-se dos vestígios de uma abóbada, toda coberta de vegetação. Muito perto, vê-se a parte de cima de um poço, cheio de pedras, como se as muralhas do antigo castelo tivessem sido aspiradas pelo abismo, obstruindo para sempre a entrada do mundo subterrâneo.

Ao lado do poço há uma escada enterrada no solo, sem dúvida uma passagem secreta, de que muitos relatos falam, com acesso a uma gruta que os camponeses de Arefu chamam Privnit (A cave), situada na margem de uma torrente. Passados alguns metros de escuridão surge um montão de pedras que barram o subterrâneo.

Os camponeses da região comentam muitas vezes sobre o castelo maldito mas hesitam em ir até lá, pois que o sombrio herói de Bram Stoker assombraria para sempre aqueles lugares.

Para Radu Florescu – o histonador romeno –. «Além da águia e do morcego, as ruínas são frequentadas pelas raposas que procuram os ratos e alguma ovelha ou carneiro que, extraviados do rebanho, caíram num buraco e, prisioneiros no matagal, ali venham a morrer.

»O regougar que os cães selvagens soltam à Lua, sobretudo quando respondem aos uivos, resulta num concerto noturno que não se ouve sem um calafrio. De vez em quando também um urso ou um lince descem os montes Fagaras até aí; mas os visitantes verdadeiramente perigosos são os lobos. Se Bram Stoker escoltasse a parelha de Drácula com as matilhas uivantes para os lados de Borgo, aqui, no alto vale de Argens, as pessoas seriam com certeza atacadas, pois a desolação de Inverno torna esses animais raivosos. Compreende-se assim que pernoitar no castelo de Drácula seja considerado um desafio à morte e mesmo os mais ousados raramente o fazem
».

Diz-se que em Arefu os raros aldeões que de noite vão ao castelo, só se aventuram levando consigo um velho missal que, afirmam eles, afasta «os espíritos do mal que rondam pelas alturas».

O vale dos imortais

No seu romance Drácula, Bram Stoker garante ter encontrado, em 1880, um professor Arminius, da universidade de Bucareste que lhe entregou um dossier «respeitante a V1ad V, filho de V1ad, o Diabo» atestando que depois da morte brutal, da sua inumação na ilha de Snagov, seguido do famoso cataclismo que arrasou a ilha, Drácula reapareceu como «vampiro».

«Pedi ao meu amigo que pusesse em ordem o seu dossier. Todas as fontes de informação levam a pensar que Drácula foi um voïvode que ganhou o seu apelido ao combater os turcos no grande rio, sobre a fronteira da terra turca. Sendo assim, não se trata de um homem vulgar, porque no tempo dele e nos séculos seguintes foi considerado o mais inteligente, o mais ardiloso e valente entre todos os que existiam para além das florestas (Transilvânia), Levou para o túmulo esse poderoso cérebro e um caráter de ferro que ‘utiliza agora contra nós’. Os Drácula, diz-nos Arminius, foram uma grande e nobre raça, ainda que certos descendentes seus (segundo os contemporâneos) tivessem pacto com o diabo. Aprenderam o segredo de Satanás no Scholmance, entre montanhas, sobre o lago Hermanstadt, onde o demônio se reclama, por direito, o décimo erudito.

»No manuscrito encontram-se palavras como estrgoica (feiticeira), Ordog (Satanás), polok (inferno), e ainda se diz neste momento que Drácula, era wampir».

Nos contrafortes dos Cárpatos, nos vales da Transilvânia, as aldeias fazem a época histórica dos Drácula. De longe em longe destinguem-se granjas de madeira, para onde o camponês conduz o seu atrelado. O caminho é escarpado, todo exposto ao sol ao longo das encostas íngremes que levam a cumes solitários. Umas vezes aparece uma cabana de caçadores, um cal vário... meio engolido pela vegetação. Outras vezes surge alguma ruína imponente coroando a colina, os muros de uma antiga fortaleza colocada de sentinela à entrada de uma garganta profunda, ao fundo da qual brilham como um espelho as águas de uma ribeira.

E fácil compreender por que este território inacessível foi noutros tempos a pátria dos Dácios, «o vale dos imortais», que os antigos gregos veneraram.

Num livro misterioso, chamado L’ lcosameron Giacomo Casanova – gentil-homem veneziano, libertino, filósofo e mágico – conta-nos de um povo que vivia no subsolo da Transilvânia, os Mégamicres, bebendo sangue para se tornarem imortais:

«Que belo alimento era o leite dos Mégamicres!... Pensamos que nada de fabuloso nos ensinara a mitologia, que estávamos no verdadeiro domicílio dos imortais e que o leite sugado por nós representava o néctar, a ambrósia, que iria sem dúvida dar-nos a imortalidade de que todos deviam desfrutar... Esta refeição durou uma hora e penso que teríamos ainda continuado não fora verificarmos com pavor algumas gotas que caíram dos seus mamilos para o nosso peito. Pela cor percebemos que era sangue.

»Intermináveis corredores ligam o mundo subterrâneo dos Mégamicres à região do lago Zirchnitz, na Transilvânia, que Casanova descreve como um ‘reino de grutas e de trevas’


Quais são os deuses venerados pelos Mégamicres, em Icosameron? Lendo a descrição que Giacomo Casanova nos faz, pensamos nos vampiros que povoam a tradição de Europa central:

«...Os deuses dos Mégamicres são répteis. Têm a cabeça muito parecida com a nossa, mas sem cabelo. Nada é tão doce e sedutor como o seu olhar, quando se fixa. De dentes são brancos e bicudos, mas nunca se vêem por eles terem sempre os beiços fechados. A voz é apenas um horrível silvo que faz ranger os dentes e gelar o coração. O povo dos Mégamicres dedicam-lhe 1m culto religioso.

A vida e a morte de Casanova continuam misteriosas. Foi preso em Veneza, pela Inquisição, acusado de magia e fechado nos esgotos do Palácio ducal, donde conseguiu fugir e correr a Europa. Manuzzi – espião dos inquiridores de Veneza, conseguiu apoderar-se de livros e documentos manuscritos em sua casa, tais como as Clavicules de Salomon, as obras de d’Agripa, e o Livre d’Abramelin le mage (publicado em Veneza).

No seu L’ Icosameron, Casanova revela que os Mégamicres são os inimigos do envelhecimento, e que nunca envelhecem:

«O sono profundo», escreve ele, «uma tão perigosa languidez, que é visível que nos faz envelhecer e acelera o ritmo das nossas vidas...»

Sabe-se que Drácula foi enterrado na ilha de Snagov, à entrada da igreja do mosteiro, e procedeu-se as várias buscas em vão. O túmulo está vazio, acontecendo o mesmo com o de Giacomo Casanova, enterrado no parque do castelo de Dux, na Boêmia, sob uma pedra tumular rodeada por um gradeamento. Depois foi transladado para poucos metros de distância, perto da entrada da pequena igreja de Santo Eustáquio, na margem de um pequeno lago...

Hoje não existem nem as lages sepulcrais nem gradeamento! Que coincidência tão estranha até à morte... Drácula e Casanova!... Coincidências ou conjugações de forças secretas para lá da nossa compreensão?... Os imortais bebedores de sangue de Giacomo Casanova viveram em tempos longínquos na Transilvânia, perto do lago Zirchnitz, numa região de «grutas e trevas».

A Transilvânia foi a pátria dos dácios muito antes da era cristã. Os gregos acreditavam que este enclave de montanhas era o «Vale dos imortais».

A antiga terra dos dácios era pagã. «Aí existiam, governados pela misteriosa deusa Mielliki, as forças dos bosques, enquanto a oeste a montanha de Nadas tinha o vento como único habitante. Havia um deus único, mas nos Cárpatos supersticiosos havia sobretudo o diabo Ordog, servido por feiticeiras que, por sua vez, tinham ao seu serviço cães e gatos pretos. E tudo vinha dos elementos da natureza e de suas fadas... No meio das árvores sagradas, de carvalhos, de nogueiras fecundas, celebravam-se secretamente os cultos do Sol e da Lua, da aurora e do cavalo preto da noite

Testemunhas da Grécia antiga recordam ter visto legiões de dácios em pé de guerra, armados de escudos, trazendo a efígie do dragão nas armas de guerra.

Para os raros viajantes da Antiguidade, este povo selvagem corresponderia aos Hiperboreanos da mitologia, os homens-deuses que venceram a morte e reinaram na ilha de Thulé (Os filósofos gregos e pessoas que em viagem citam a Dácia hiperboreana).

Os dácios consideravam-se imortais. Tinham – acreditavam eles – o dom de se transformar em lobo ou em morcego, de voar, de dialogar com os deuses no alto das montanhas. Os lugares escolhidos para os rituais eram sobre os picos rochosos, no interior de grutas inacessíveis. E sobre estes cumes que os grandes senhores – Drácula, Garal, Cillei – construíam seus ninhos de águias.

A suprema autoridade religiosa dos dácios, aquele que detinha os segredos da vida e da morte, viveu, ma das florestas da Transilvânia, no cimo de uma montanha agreste na qual construíram um templo. Supõe-se hoje que tivesse sido o monte Cugu, que se eleva a três mil metros de altitude nos confins de Banat e da Transilvânia.

Para os «padres» dácios, a divindade suprema chama-se Zalmonix. E ela que preside à iniciação.

Entre Zalmonix e os sacerdotes de Transilvânia existem outros seres que servem de intermediários entre os homens e a divindade suprema. Estes seres seriam eventualmente os vampiros ou mortos-vivos, isto é, aqueles que venceram a morte e que têm o poder de voltar ao meio dos homens, segundo a sua vontade.

O príncipe romeno Bursan-Ghica, exilado em Paris desde os anos 50, recorda ainda as velhas lendas da Transilvânia:

«Para comunicar com Zalmonix, os dácios têm de recorrer a mensageiros. Escolhem por isso os irmãos mais avançados em magia, aqueles que ultrapassaram o limiar da iniciação. Estes eleitos são os sacrificados. Os dácios trespassam-nos com as pontas das suas lanças. Mas sete dias depois, os corpos trespassados saem do túmulo e juntam-se aos outros. Tornaram-se imortais e farão de elo entre os Dácios e Zalmonix. Naturalmente que as lanças foram substituídas por agudas estacas que se plantavam na terra. Compreendem agora a realidade secreta da estaca dentro do vampirismo, e a razão por que o Drácula foi alcunhado de vlad, o empalador?...

Para certos ocultistas, fanáticos do vampirismo, o príncipe Drácula não seria um guerreiro sanguinário ao empalar as suas vítimas para seu prazer... antes cumpria as práticas da magia antiga e dos Dácios, seus antepassados, os imortais da Transilvânia.

Em 1462, Vlad Drakul foi preso na Hungria, na torre de Salomão, palácio de Visegrad. Segundo Kurytsint um diplomata russo, Drácula mantinha excelentes relações com os guardas. Fez-lhes um pedido que não deixa de ser curioso! Desejava que lhe arranjassem ratazanas, ratinhos, pássaros e outros animais pequenos.

Que razões secretas o levariam a tal? Kurytsint que estudou Drácula narra que ele empalava estes animalejos e os dispunha em redondo ou em cepa, espetados em raminhos afiados sobre o chão da sua cela. Os cronistas referem as distrações atrozes, de um sadismo monstruoso. As obras recentes acerca do personagem histórico Vlad Drakul (entre eles o livro do historiador Romeno Florescu) são bem o testemunho da opinião do autor quanto a tratar-se de perversões psicopatológicas. Apenas os ocultistas e os adeptos do vampirismo viram nelas o ressurgimento da antiga magia Dácia oferenda oculta único vínculo possível com Zalmonix deus dos vivos e dos mortos nas antigas crenças da Transilvânia

Fontes:
http://www.mortesubita.org/biografias/personalidades/