sábado, 3 de janeiro de 2009

Contos do Folclore Português (A Sobrinha do Papa)


Havia um rei e uma rainha que tinham um filho. Quando este era já homem, sonhou com a sobrinha do Papa, que em sonhos, lhe pareceu duma grande formosura. Pediu o príncipe licença aos pais para ir, por mar, a Roma. Seus pais, a muito custo, lhe deram a licença. Chegou o príncipe a Roma, e, apesar de visitar muitas vezes o Papa, nunca lhe viu a sobrinha. Dez meses havia que estava em Roma, foi convidado por um amigo a passar o dia no campo, onde este tinha um bonito palácio. Foi e subiu à varanda do palácio, de onde se admirava um lindíssimo panorama. Em todas as direções havia opulentos palácios, sobressaindo um destes pela sua arquitetura.

- De quem é aquele palácio? - perguntou ao amigo.

- É do Papa: só ali vai duas vezes no ano cumprimentar a sobrinha, uma bela mulher, afastada completamente da nossa sociedade. Todos os dias vai um criado levar a comida para ela e uma aia.

Ouviu o príncipe e fingiu não prestar atenção.

No dia seguinte foi passear até ao palácio da sobrinha do Papa. Viu entrar o criado e sair, fechando-se a porta à saída. Preparou-se no dia seguinte e, quando o criado entrou e deixou a porta aberta, seguiu-o e teve artes de se esconder numa sala. O criado saiu e fechou a porta. À noite apareceu o príncipe à sobrinha do Papa. Quis gritar, mas o príncipe declarou-lhe quem era. Conservou-se no palácio três dias, e voltou novamente, dias depois, muito triste porque recebera de sua mãe uma carta participando a morte do pai e pedindo-lhe que voltasse imediatamente.

Choraram ambos muito e o príncipe à despedida entregou-lhe um precioso anel.

Meses depois viu-se a senhora grávida e combinou com a aia, logo que tivesse a criança, depositá-la nas escadas do palácio, depois do criado ter entrado, para que a encontrasse à descida. E assim sucedeu. Ficou o criado muito admirado de encontrar ali um recém-nascido; pegou-lhe e tornou a subir, indo mostrá-lo à senhora.

Ela beijou muito o menino e tomou-o sob a sua proteção, escrevendo imediatamente ao tio, o Papa, que logo mandou procurar uma ama, que amamentasse o enjeitadinho.

Cresceu o menino; foi posto na escola, mostrando-se muito estudioso. Quando tinha doze anos ouviu aos seus companheiros umas alusões ao facto dele não ter pai.

Nessa tarde esteve com a sua madrinha (a sobrinha do Papa) e perguntou-lhe quem eram o seu pai e a sua mãe. Respondeu a senhora com evasivas, mas ele tanto insistiu que ela lhe contou toda a verdade.

Nessa mesma noite recebeu de sua mãe a benção e dinheiro e preparou-se para visitar o pai que agora era rei. À última hora entregou-lhe a mãe uma carta para ele a entregar ao rei.

Apresentou-se o rapaz no palácio e ofereceu-se como 'criado de servir. O rei era solteiro e gostou muito da presença do novo criado. Uma noite o rei encarregou o criado de levar a certa dama uma carta, com a recomendação de a entregar pessoalmente, e quando ela estivesse só.
Foi o rapaz, subiu as escadas e pediu para falar à senhora.

Mandaram-no entrar numa sala, onde estavam muitas visitas. Ele entrou, e na presença das visitas, entregou a carta dizendo:

- O rei, meu amo, encarregou-me de lhe entregar esta carta. Foi um escândalo monumental, pois falava-se à boca pequena nos amores do rei com aquela senhora. Esta queixou-se ao rei, e seu pai levou-o a assinar sentença de prisão contra o rapaz.

Na ocasião em que o rapaz ia para a prisão e o rei estava à janela com o pai da referida senhora, pediu o rapaz para entregar uma carta ao rei. Era um pedido sagrado pela hora em que era feito.
Levaram a carta ao rei, que a abriu e leu. Dentro da carta vinha o anel que ele oferecera à sobrinha do Papa e dizia esta que o portador era filho de ambos.

O rei fez sinal que suspendessem a execução da sentença, e disse para o pai da senhora:

- Quem quereis que vá preso, o teu sangue ou o meu? Não soube o fidalgo que resposta desse.
Então o rei mandou soltar o rapaz e chamou-lhe filho.

No dia seguinte enviou o rei ao Papa uma carta pedindo-lhe a sobrinha em casamento.

Casaram e houve grandes festas.

Fonte:
história recolhida por Consiglieri Pedroso intitulada “A Sobrinha do Papa”.
http://www.estudioraposa.com/index.php/category/historias/

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