quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Jandira Zanchi (Poesias Avulsas)



Amendoeira

O poeta é
tão instante
e fronteira
quanto as
estrelas
pisadas
do óleo
de uma
amendoeira.
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Luvas de Aço

Desfaço com
luvas de aço
a complexidade
do conhecimento
consciente

Arranho com
punhos da água
a valsa
do recôndito
rebanho
inconsciente

Vago por marés
de plumas e
cortejo jasmins
jesuítas sisudos no
toque de recolher.
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Língua Cifrada

Língua cifrada
de Arcanjos
NEGROS
Lençóis de agulhas ao vento
lilases as metáforas da sina
em frente e por sobre
a fralda do Tempo
(Anjo Arcanjo
de mim)

na casa do pai
em nome do Santo
Amém
teu verbo é ósculo
de pranto e pompa
arena de sereno
quase estupidez

que flor de vida
nas cores do jardim
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Gume de Gueixa

Sou uma única mulher
quando a trombeta anuncia
um inverno sem tropeços.

Os legionários da palavra
espiam sua falta de dados
como me fiz por nenhum motivo
conheço o luxo de ser nua e insofismável
inquestionável é a questão e o próximo dia.
Também invoco nas santas armações
da luta contínua por porto algum
as desculpas estilhaçadas em farpas
dos ausentes cansados em dentes de ogro.

Mas me canso descanso de meu fel.
Ardia na boca do estômago a fúria da pretensão
– esqueci-a retaliada no sofá branco e bagunçado –
deve haver algo melhor do que essa faca
gume de gueixa
a ponta de prata que rebola a qualquer ultraje
para dentro através da margem.

e porém... como dizia tenho azia
dor de baço e um cansaço...
aí retomei a pena e o pó dos livros
a lide das pernas e a busca do pão
pensei no amor como um condimento vespertino
dos enfeites adiei o aprumo e por três ou quatro
minutos dos restantes sorri e adormeci
ali ao pé do carvalho planto, morena,
serena e de orvalho em pé e sombra
afogada e deslumbrada
– o nome daquele é o mesmo deste?
Estes os problemas e sua função.
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Claudicante





Alvéolos de partículas semicerradas
alheias e frias, pingando sua calda
quente e quimérica
Ruiva e Romã
enlevos de ouro e prata
azul lançado para água
e estirado no mar
ainda me fazem sonhar......
Claudicante, a neblina da noite, faiscante
de pudor e amassada de desejo, não extraí
em seus ruídos nenhum símbolo sedimentado
nenhuma curva consciência de onipresenças
antes, enrola-se a meus pés, arfante,
vinil de neve agridoce e quase rude em
seu percurso de longa latitude de extorsão
enviesada e serena nos compartimentos
ora fluídos, outros, efervescentes de gases
e experimentos dessas terras extensas.
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Anunciação
O sonho e suas sete partes de dúvidas
as esperanças e suas intoleráveis
vertentes de lixo e dor

maresia maré morena
a agonia esquecida
que fatos eram aqueles
que remavam e vexavam
o desanuviar certeiro
do esplendor?

Joguei-os em meio aos cadernos
mal elaborados
maltrapilhos ensangüentados
nu e decidido o poente da terra
a anunciação do demover solícito
- era plano e mácula
e nada me dizia a respeito
a respeito do que forma e se conforma.


era oriente na face oeste da lua –
divisei o pranto e o exílio
e fui-me vencida
em meio ao luxo da vitória.
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Aspirinas
Me levem em
surdina e sem gritos
o leito perfumado
de aspirinas
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Vésperas

A negra sombra do fio da lua
assombrou a serpente em
sua cauda de fantasia,
amava-te em frases perjuras
espiava-te senhor do amanhecer
e esquecia-me sobre o sol
- verde véspera –
das notícias malevolentes
que levaram-me
santa pontífice navegadora
a espiar enviesada
uma suave passagem
semáforo e sombra
fugas fugazes do meu ser.

No dia demarcado te darei
três pontas da flor amarela
nave trevo entressafra

Minhas mãos enfraquecem
e não se formam
no molde cor de marte
que se arrasta na encosta

aqui no árido vale da morte
os ventos se envaidecem
de nuvens e grinaldas
tules de aspargos e
vazadas aspirações .

Malvada maldita colheita
estimo em cem tantos mil
os passos que contei
chamuscando os seios
nas setas indiferentes

mas te aguardo com tamanha
contenção de euforia
que quase rezo em
cima de duas afrontas
a certeza do amor.

Vácuos de luz me acompanham
na reforma os vestidos e as vésperas
quatrocentos arroubos de incertezas
era quase já tanto tanto tarde
mais dia e muita pouca noite
eram tropeços trôpegos do silêncio
no seu colar de gestos e enfoques....
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Pontífices

sou vazada e diurna
escorrego na ponte
pontífices e pedras
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Favorita

O mistério não cede
ele sobe desce.

As três flores da geração passada
Curvaram o boreal de divergências.
Público e privado – quantas vertentes
vértices vacâncias exprimiu teus lábios.

Independência – morte
sugerida em 120 flexões.

Enquanto cursava discursava
a ponte desligou o último beijo
- nos prepararam cem mil milhas
de vidas mal vividas.

Noite e calor – quem parte ?
O que vence se distraiu , o
espelho turvo eram as águas
do rio dourado e sujo –
brincalhão.

O Barco passava ao largo
- ajuste de contas –
te devo alguns cem mil réis,
me deves uma esperança
redonda e não jocosa.

Estou na porta aberta
rumo ruminante
ao futuro branco
esfarelado de reticências
pós vontades

que humano tolo
não interroga a estrela
mas tenta devorar
a entranha do outro.

Não falo mais verdades
as palavras enrubescem
frente ao fronte.

Fulmino esse momento branco
As cores coradas da manhã de Sábado

Desconheci o amplamente reconhecido

Seguro pôr hoje o novecentos.
Se parto? Quedo-me em teus braços.
Espero pôr teus olhos que engoliram
dos meus a corrente que enfurecia
essas entranhas de medusa
e Madona aborrecida.

Ah, os compassos e seus componentes,
quem eram e pôr que vieram?
Nunca soube imprimir a
expressão balbuciada do outro.

Me diziam que era um aparte
apostei na briga
esvaziei a intriga.

A branca montanha que se nos oferecem
distancia abaixo o desvio das faces.

Não percebi porque foi sem muito entender
que vesti a túnica creme cor de amarelo
se me basto...
ignoro a tal corrente
me deram a folha e seu perfume
namoro essa macia visão na água.

Estúpida estúpido espetáculo
sombras na noite vieram despedir
acenei-lhes com o envelope branco,
dentro a alforria e vinte e sete
pares de ímpares.

Saí pela manhã, era o 1º
dia da liberdade,
os códigos estavam mornos
se já sabes e inventas
sela o selo do silêncio

No 1º dia na 1ª missa
conjunto de hóstias na cabeça
a cabaça vazia e feita
- vi as malas que partiam para
um rumo desconhecido e certo –

Tão quente e favorita
a menina guardou na
caixinha de madrepérola
suas jóias turcas
azuis e ametistas

luz e dia sombra alta
a terra arde e ama
o Sol de seu príncipe
segue-se um terço
e partes.

- e recomeça-se na quinta hora
quando definir-se a margem –
te veremos com três lances
de cores e momentos
és fria e fácil e farta
fulmina-te no fado fascinante
de tuas últimas facetas
agrimensora de noite e circo
é teu e vela-o
os frutos, que nascem em grupos,
terão seus pés amarelos
azul anil e açucarado

te reúnas, pôr 5 ou 6 vezes,
com sábios e alfarrábios
satisfazes esse silêncio
de sonatas e sonetos.
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Sobre a Autora
Poeta, ficcionista e educadora. Curitibana, licenciou-se em Matemática em 1979 pela Universidade Federal do Paraná. Tem cursos de pós-graduação em astronomia e educação e é profissional de magistério, com experiência em ensino superior, médio e preparatório. Entre as muitas faculdades e colégios em que trabalhou, inclui-se a Universidade Agostinho Neto, em Luanda – Angola, no período de 1985 a 1987, como professora cooperante. É autora de alguns livros de poesia e literatura ainda inéditos.
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Fontes:
http://jandirazanchigueixa.blogspot.com/
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/parana/jandira_zanchi.html

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