domingo, 10 de maio de 2009

Academia de Letras do Maranhão



1908: O ano de fundação da AML

Nada melhor do que um recuo de 100 anos no tempo, para mostrar, ainda que de forma sumária, como era o Brasil, o Maranhão e São Luís na época da fundação da Academia Maranhense de Letras, a 10 de agosto de 1908, quando doze intelectuais se reuniram, em São Luís, com o propósito de criar uma nova instituição cultural, que recebeu inicialmente a denominação de Academia Maranhense, mas, mercê da reforma estatutária de 1934, passou a ser denominada de Academia Maranhense de Letras.

No ano de nascimento da nossa Academia, o Brasil mostrava que o regime republicano, proclamado havia não mais que dezenove anos, chegara para impor-se como forma de governo. O país vivia nova fase histórica, pois o comando da nação não dependia mais da vontade dinástica, mas de um processo eleitoral, conquanto vulnerável e fraudulento, que daria ao segmento elitizado o direito de eleger os seus representantes.

O mineiro Afonso Pena se encontrava à frente do Poder Executivo do Brasil, por efeito de uma eleição realizada em1906, que o elegera para o cumprimento de um mandato a se findar em 1910, mas interrompido em razão de seu falecimento em junho de 1909. Antes de assumir o governo da República, ele veio ao Maranhão, em julho de 1906, a convite do governador Benedito Leite, para realizar uma excursão ao rio Itapecuru, ao final da qual se convenceu da necessidade da construção de uma estrada de ferro, ligando São Luís a Caxias.

O Poder Legislativo, composto de Senado e Câmara dos Deputados, cujos membros eram eleitos também pelo voto livre, tinha na presidência do primeiro o fluminense Nilo Peçanha e, no comando da segunda, o mineiro Carlos Peixoto Filho.

Em 1908 tiveram ressonância na sociedade fatos como: a atracação no Porto ,de Santos do primeiro navio trazendo imigrantes japoneses para trabalhar nas lavouras de café de São Paulo; a inauguração no Rio de Janeiro da Exposição Nacional, da qual o Maranhão participou, em comemoração ao primeiro centenário da Abertura dos Portos; aprovação da lei que tornava o serviço militar obrigatório para homens entre 21 e 44 anos; o desaparecimento, nos meses de setembro e outubro, de dois expressivos representantes da cultura brasileira, o escritor Machado de Assis e o dramaturgo Artur Azevedo, e o nascimento de João Guimarães Rosa, Sílvio Caldas, Cartola e Luis Viana Filho.

O Cenário Maranhense

Em 1908, o Maranhão atravessava uma fase de relativa tranqüilidade institucional, por conta do ajustamento de suas forças políticas ao novo regime implantado no país. Benedito Leite, que desde novembro de 1891, como integrante de uma Junta Governativa Provisória, impôs-se como a figura mais proeminente da vida pública maranhense, elegeu-se governador do Estado, para o quadriênio 1906 a 1910.

Nesse ano, ele cumpria o seu terceiro ano de mandato, no exercício do qual se consolidava como o grande chefe político estadual Ele teve nesse época de empenhar-se com todas as forças para vencer a crise financeira em que se debatia o Estado, com a adoção de medidas que visavam melhorar a agricultura e a pecuária, reduzindo impostos, instituindo prêmios, criando novos serviços e aperfeiçoando os já existentes. Em que pese todo esse esforço, as dificuldades não foram superadas.

A crise financeira do Estado, que resultou inclusive no atraso do pagamento do funcionalismo público, fez agravar o estado de saúde do governador. Uma junta médica aconselhou seu afastamento do Governo e uma viagem para tratamento da debilitada saúde na Europa. Foi para a França, onde veio a falecer em 6 de março de 1909.

No ano de fundação da Academia Maranhense de Letras, o Congresso Legislativo do Estado era composto de 30 deputados, sendo 24 do governo e 6 da oposição. Da Mesa Diretora do Congresso do Estado faziam parte os deputados: Joaquim Gonçalves Ribeiro, presidente; José Eusébio de Carvalho Oliveira, 1 ºvice; Manoel Inácio Dias Vieira, 2º vice; Manoel Gomes Veras, 1º secretario; e Manoel Ribeiro da Cruz, 2º secretario.

O Congresso Legislativo, naquela época, funcionava apenas nos meses de março e abril. Em 1908, os deputados aprovaram 28 leis. Compare-se esse número com a fúria legiferante de hoje no Brasil, que produz novas leis em série.

Nesta legislatura, os deputados Clodomir Cardoso, Domingos Barbosa (um dos fundadores da Academia), Francisco da Cunha Machado, Joaquim Ribeiro Gonçalves, João Vital de Matos, João Dunshee de Abranches Moura, José Eusébio de Carvalho Oliveira, José Barreto da Costa Rodrigues e Luiz Carvalho eram apontados como os mais brilhantes e atuantes.

O Superior Tribunal de Justiça do Maranhão, assim chamado desde o advento do regime republicano, era presidido, em 1908, pelo desembargador Francisco Xavier dos Reis Lisboa, nomeado para o cargo pelo governador Lourenço de Sá em 27 de agosto de 1891, e eleito para dirigir o STJ de 1906 a 1912.

A Diocese do Maranhão, naquele começo de século, tinha em D. Francisco de Paula e Silva o seu comandante espiritual. Nomeado pelo Papa Pio X , assumiu o Governo do Bispado em 30 de agosto de 1907. Em 15 de julho de 1908, o prelado assinou uma portaria determinando que “não se iniciem construções de igrejas ou capelas sem antes ser passada escritura pública de doação de terreno necessário ao edifício com larga área ao redor e apresentada a planta com orçamento, com aprovação pela Diocese, que entrará na posse do conjunto”.

Para melhor compreensão da situação econômica do Maranhão, no raiar do século XX, nada melhor do que Bandeira Tribuzi, que, no no seu estudo Formação Econômica do Maranhão, esclareceu: “Com todos os percalços de uma agricultura em crise grave – e uma vez mais reduzida à rigidez da monocultura do algodão, pelo fracasso da tentativa agro-industrial do açúcar, de tão curta duração – e de uma indústria que apresentava esforço superior à sua real capacidade financeira, o Maranhão ingressou no século XX sem boas perspectivas”.

Malgrado essa situação de dificuldade econômica, a Associação Comercial do Maranhão, fundada em 1854, não media esforços, em 1908, para reverter esse quadro desalentador. De sua diretoria, faziam parte o presidente Emilio José Lisboa, o vice-presidente, José João de Sousa, o 1º secretário, Manuel Ribeiro de Faria, o 2º secretário, Artur Leão e Silva, e o tesoureiro, Manuel Alves de Barros.

O trabalho da diretoria da ACM era principalmente focado para a construção da Estrada de Ferro São Luís-Teresina, que vinha sofrendo interrupções constantes pelo não cumprimento do contrato das firmas construtoras com o Estado com vistas à execução da obra no tempo previsto.

As viagens fluviais e marítimas eram realizadas por empresas nacionais e internacionais, destacando-se a Companhia de Vapor do Maranhão, Companhia Fluvial Maranhense, Loyd Brasileira, The Booth Steanshipg Com. Ltda e os vapores alemães, em que vinham os produtos de consumo local. Em São Luís, tais artigos eram comercializados por firmas maranhenses ou de representações nacionais, localizadas principalmente nas Ruas Grande, Afonso Pena e do Sol, sendo as mais famosas a Casa Otomana e as Lojas Pérola, Mariposa e Notre Dame.

O Cenário de São Luís

No começo do século XX, São Luís, intitulada de República Ludovicense por Raimundo Palhano, no livro de sua autoria, Coisa Pública, com respeito à oferta de serviços de infra-estrutura, afirmava que na Capital do Estado “os problemas de falta de água potável de boa qualidade, dos esgotos, que praticamente não existiam, ou aqueles ligados à falta de luz, de transporte coletivo, de existência de logradouros públicos e de higienização, dentre outros, dava sinais de um quadro de dificuldades e complexidade.”

Em outro trecho de sua preciosa obra, Palhano sentencia: “Praticamente ao longo de quase toda a década de vinte, a maioria dos cerca de 60.000 habitantes de São Luís viviam em uma situação de decadência urbana e, por isso mesmo, continuavam prisioneiros de velhos problemas, como a contaminação da água, a poluição dos mananciais, o precário saneamento, a falta de luz, e sujeitos a doenças terríveis, como o tifo, febre amarela e varíola.” A varíola grassava avassaladoramente no Maranhão, levando diariamente à morte numerosas pessoas.

Era este o quadro que marcava a sociedade de São Luís quando da fundação da Academia Maranhense, quadro que representava um desafio para os administradores da capital do Estado, na época, chamados de intendentes.

Governava a cidade o intendente Alexandre Collares Moreira Junior, que ocupava o cargo pela segunda vez. Eleito em 1906, seu mandato expiraria em 1908, mas, em face da Lei nº 482, de 25 de abril de 1908, teve-o prorrogado para 31 de dezembro de 1910. Todavia, Collares Moreira Junior não cumpriu todo o mandato. Viajou para o Rio de Janeiro, em abril de 1909 para assumir o mandato de senador do Maranhão, o que obrigou a Câmara Municipal a indicar um de seus membros para responder temporariamente pela Intendência da Capital.

O então presidente da Câmara Municipal, Afonso Giffening de Matos, em 12 de abril de 1908, assumiu interinamente o cargo de intendente. Em 9 de junho do mesmo ano, ele o transmitia para o novo intendente Raul da Cunha Machado. Na gestão deste, foram realizadas as obras de conclusão dos passeios e balaustradas da Praça Gonçalves Dias, de construção de um pavilhão para a venda de peixe no Mercado Público, do calçamento da Rua de Santaninha e da Travessa do Monteiro e melhoramentos nas estradas do Caminho Grande e do Cutim do Padre.

Do ponto de vista artístico e cultural, dois espaços dominavam a cidade: o Teatro São Luís e o Clube Euterpe Maranhense, local de reuniões literárias, onde os intelectuais maranhenses e de outras plagas, proferiam palestras e conferências, entre eles Antônio Lobo, Fran Pacheco Barbosa de Godois e Armando Vieira da Silva, todos fundadores da Academia, e cuja diretoria era formada por Artur Belo, presidente, Luso Torres (que foi presidente da Academia), vice-presidente, Otacílio Soares, 1º secretário, Tancredo Matos, 2ºsecretário, e João Laurine Guimarães, tesoureiro.

Em 1908, São Luís teve a oportunidade de conhecer o mais moderno equipamento de cinema visto no Brasil: o cinematographo falante, de propriedade da Empresa Fontenelle, que projetava fitas produzidas nos Estados Unidos, Inglaterra e França.
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Mais Que Uma Academia, Uma Antologia

A Academia Maranhense de Letras inscreveu a 10 de agosto de 2008, seu nome no panteão das instituições centenárias. E o faz em companhia do povo maranhense, compartilhando as honras do dia com o seu patrono e maior poeta brasileiro, Gonçalves Dias. Um século nos contempla.

É um dia de pausa e descanso da luta que vem travando, sem trégua, contra a ignorância e obscurantismo cultural. Mas, é também um dia de festa, confraternização e vigília, para mostrar o rico tesouro de nossas mais elevadas tradições, de que é depositária: o legado das melhores mentes do espírito maranhense – colheita na seara de nossa biodiversidade literária – que nos legitima intelectualmente perante nós mesmos e os maranhenses.

O centenário, traduz, portanto, sob ventos de tradição e renovação, em seu múltiplo simbolismo, a mensagem da vitória do tempo e da luz – união entre juventude e eternidade, a conjunção de vocação e missão, aliada à capacidade de resistência e dedicação, de abrigar e cuidar dos nossos valores – de uma instituição que vem cumprindo o seu luminoso papel, sustentada pelo ideário de servir à consciência da comunidade e ao espírito das épocas. Exibe, em sua contabilidade existencial, a despeito de sua franciscana pobreza material, ou até por isso mesmo, a riqueza do maior patrimônio espiritual do Estado: os frutos de sua inteligência e cultura. Mas, não dormimos sobre os louros. Como Goethe, queremos luz, mais luz.

Desde que Platão fundou a sua Escola Filosófica, em 387 a.C., destinada inicialmente ao culto das musas, situada nos jardins consagrados ao herói ateniense Akademus, muita idéia surgiu nos embates filosóficos. O termo reapareceu na Renascença, ampliando o seu significado para agremiação literária, depois científica, artística e cultural. No Brasil, a primeira academia, a dos Esquecidos, foi fundada na Bahia em 1724. Sob a presidência de Machado de Assis, a Academia Brasileira de Letras veio ao mundo em 1897.

No Maranhão, coube, como na Bíblia, a um Grupo de Doze – Antonio Lobo, Alfredo de Assis, Astolfo Marques, Barbosa de Godóis, Corrêa de Araújo, Clodoaldo Freitas, Domingos Barbosa, Fran Paxeco, Godofredo Viana, Inácio Xavier de Carvalho, Ribeiro do Amaral e Vieira da Silva – associarem-se , em 1908, sob inspiração do espírito das letras, para servi-la e disseminar os seus ensinamentos.

Ser literário por evidente vocação é o maranhense, em sua índole de criar a beleza, mais apto ao cultivo da pena do que ao manejo da espada. Em sua atividade criadora, a pena reflete o destino de erguer-se para denunciar falsidades e incoerências, além de transformar-se em instrumento de rica produção, na intensa luta diária que é a do escritor com os seus símbolos.

Orgulha-se a Academia Maranhense de Letras, no revezamento das 40 cadeiras que compõem o seu acervo humano, em contar com os nomes mais representativos da cultura maranhense no século. Vale registrar, no entanto, que proeminentes prosadores e poetas, principalmente estes últimos, não integram – embora constituam patrimônio maranhense – a Casa. Mas, isso deve-se mais às peculiaridades de seus temperamentos. A Academia continuará a aguardá-los, como a companheiros com quem compartilha visões comuns.

Somos quarenta, mas somos apenas um. Somos um e, no entanto, somos quarenta. O coletivo preside a unidade. E a unidade manifesta-se na individualidade coletiva. Somos mais que uma Academia, uma Antologia.

De nossa rica tradição literária emergem, com reconhecimento nacional e internacional, importantes nomes, como Josué Montello, autor de mais de 150 títulos e considerado o maior romancista de todos os tempos do Maranhão, autor do epopéico Os tambores de São Luís; José Sarney, autor de inesquecíveis romances como O dono do mar, ex-Presidente da República, poeta, cronista e tribuno, hoje, decano da Academia, onde está desde os 23 anos de idade; Franklin de Oliveira, com vasta obra de erudição crítica e considerado por José Guilherme Merquior como o maior crítico cultural brasileiro de todos os tempos, e talvez do Ocidente; João Mohana, padre, psicólogo e escritor que alcançou excelência no romance e pioneiramente no aconselhamento psíquico e espiritual; José Louzeiro, contista, novelista, jornalista, notabilizado também como roteirista e autor de diversos romances que se tornaram sagas cinematográficas; Jomar Moraes pesquisador, historiador e editor de textos, responsável por retirar do esquecimento autores maranhenses importantes, mas esquecidos, com edições anotadas e comentadas, autor do Guia de São Luís e da Vida de Gonçalves Dias e responsável pela terceira edição do clássico de nossa historiografia, o Dicionário histórico-geográfico da Província do Maranhão, de César Marques, com mais de 1.200 notas explicativas; José Chagas, autor de vasta obra impregnada de Maranhão e universalidade e um dos mais importantes poetas de toda a nossa historiografia lírica; Lucy Teixeira, poetisa, romancista, contista, teatróloga e agitadora cultural que, junto com Ferreira Gullar, organizou no final dos anos quarenta o Congresso Súbito de Poesia, origem do Grupo Ilha que teve entre seus participantes Bandeira Tribuzi e José Sarney, sendo autora do extraordinário No tempo dos alamares e outros sortilégios, livro de contos.

É um conjunto estelar que escreverá ainda, como o fez no passado, muitas páginas de grande riqueza espiritual.

Somos jovens, temos apenas 100 anos. Contemplaremos muitos séculos.
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Breve Memória da Academia Maranhense de Letras
Refletindo a intensa vida literária que São Luís conheceu entre a última e a primeira décadas dos séculos XIX-XX, diversas agremiações culturais foram fundadas, duas das quais tiveram particular importância: a Oficina dos Novos e a Renascença Literária, destacando-se a última, pela saudável emulação que estabeleceu com a primeira.

A Oficina dos Novos, fundada a 28 de julho de 1900, tinha estrutura organizacional semelhante à das Academias. Dava a seus membros o título de operários e editava um boletim oficial denominado Os Novos, em cujo frontispício se lia: “periódico evolucionista”.

Constituída, inicialmente, com 20 cadeiras, a Oficina ampliou seu quadro para 30, em 1904. Afora os membros efetivos, tinha-os honorários e correspondentes. Cada cadeira estava sob o patronato de um vulto eminente da cultura maranhense.

Como é natural, muitos desses patronos também seriam adotados como patronos das cadeiras da Academia, da mesma forma que diversos “operários” viriam integrar o grupo dos fundadores desta Instituição ou nela posteriormente ingressaram, o mesmo cabendo dizer relativamente aos sócios honorários e correspondentes.

Tendo Gonçalves Dias como seu patrono geral, a Oficina escolheu o poeta Sousândrade para seu presidente honorário. O culto a Gonçalves Dias estava representado pelos propósitos, declarados em estatuto, de organizar uma estante gonçalvina que fosse a mais completa possível, editar a obra do poeta e, futuramente, transformar a Oficina em Grêmio Literário Gonçalviano.

Ainda sobre a Oficina dos Novos, contradiga-se, por oportuno, a errônea versão segundo a qual essa entidade desapareceu para que em seu lugar surgisse a Academia. Além de um jantar de confraternização que as duas entidades promoveram no Hotel Central, a 15 de dezembro de 1908, diversos fatos atestam a co-existência da Oficina e da Academia, por alguns anos. Um deles foi a reorganização que a Oficina realizou em 1917, quando ocorreram a aprovação de novos estatutos, a eleição de diversos “operários” e da diretoria.

A Academia Maranhense de Letras, oficialmente instituída às 19 horas de 10 de agosto de 1908, data do 85º aniversário de nascimento do poeta da Canção do Exílio, também já demonstrava claramente, com esse fato, sua resolução de adotar Gonçalves Dias como seu nume tutelar.

Fundada no salão de leitura da Biblioteca Pública do Estado (prédio onde, a partir de 1950, tem sua sede própria), compôs-se, inicialmente, de 20 cadeiras.

Dispunham os estatutos que ao grupo dos 12 fundadores (nominados no início) viriam juntar-se os oito membros restantes, admitidos mediante eleição, e também com as honras de fundadores.

A 7 de setembro de 1908 realizou-se a solene sessão inaugural da Academia, que, assim, iniciava oficialmente as suas atividades. Por força de disposição estatutária, foi o primeiro presidente da agremiação o professor e historiógrafo José Ribeiro do Amaral, que era, aos 55 anos, o mais idoso entre seus confrades.

Em razão da incontestável liderança de um de seus fundadores, a Academia foi cognominada Casa de Antônio Lobo. Menos de uma década após sua fundação – a contar de 1916, entrou a Instituição numa fase de instabilidade, marcada por alguns períodos de reação vivificadora, em meio ao generalizado estado de apatia em que se arrastou até a década de 40.

As sucessivas reformas estatutárias (em 1916, 1934, 1942, 1946, 1948, 1957, 1979 e 1999) introduziram diversas modificações na estrutura e funcionamento da Academia, sendo particularmente interessantes, no que respeita a seus quadros, a de 1934, que fixou em 25 o número de membros titulares, e a de 1946, que elevou esse quadro ao número clássico de 40 poltronas, estabelecendo que seriam 60 os membros correspondentes. Este quadro honorífico, fixado em 30 cadeiras pela reforma de 1957, compõe-se, atualmente, de 20 cadeiras, às quais foram atribuídos patronos pela Resolução Nº 6, de 20 de setembro de 1987, da Diretoria.

O não dispor de sede própria durante longos anos, levou a Academia a funcionar, provisoriamente, na residência do presidente Ribeiro do Amaral, até seu falecimento em 1927. Depois teve abrigo nos baixos da Assembléia Legislativa do Estado, por achar-se, durante o Estado Novo, esse Poder suprimido. A seguir, seus arquivos estiveram guardados em casa do acadêmico Ribamar Pinheiro, que faleceu no exercício da Presidência. O presidente seguinte, Clodoaldo Cardoso, conseguiu que o Governo do Estado alugasse o sobrado da Rua de Nazaré, 200, para sede provisória da Academia. Enquanto isso, ia ela realizando suas sessões solenes em auditórios cedidos pela Assembléia Legislativa do Estado, Teatro Artur Azevedo, Casino Maranhense, Grêmio Lítero-Recreativo Português, Associação Comercial do Maranhão e outras entidades.

Houve, nesse período adverso da Academia, deserções, esmorecimentos e descasos. Estes, principalmente dos Poderes Públicos, apesar de se contarem, entre os acadêmicos de todos os tempos, deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores, prefeito e titulares de outros cargos e funções relevantes.

Algumas cadeiras ficaram vagas por longos anos. As sessões, em diversas fases, eram realizadas a espaços irregulares.

Na Presidência de Clodoaldo Cardoso, deu-se o processo de revigoramento da Entidade. Contando ele com a sensibilidade do Governador Sebastião Archer da Silva, cujo nome é aqui inscrito como preito de reconhecimento e gratidão, a Academia recebeu, por doação do Estado (Lei nº 320, de 3 de fevereiro de 1949), o prédio em que hoje se acha instalada, e que a devolveu ao lugar de sua fundação.

Providenciou-se o preenchimento das cadeiras vagas, fez-se a reorganização do Quadro de Membros Titulares e foi adotada uma série de outras providências necessárias. Entre elas, a edição da Revista (de que até 1948 só haviam sido publicados três números), a aprovação, em 3 de abril de 1948, do desenho do sinete e ex-libris, este posteriormente adotado como medalha do colar usado pelos acadêmicos em sessões solenes.

Entre os novos membros então eleitos, teve a Academia a felicidade de incluir o professor e historiador Mário Martins Meireles, que, feito secretário, vice-presidente e depois presidente, em sucessivos e profícuos mandatos, muito deu de si à organização e movimentação que então se processaram.

É dessa fase a decisiva contribuição prestada pela Academia para o desenvolvimento e consolidação do ensino superior no Maranhão. A Faculdade de Filosofia de São Luís, instituição matricial dos atuais cursos de Letras, Filosofia, Geociências e História, da Universidade Federal do Maranhão, contou com a colaboração da Academia, em cujo salão nobre ocorreu a aula inaugural, proferida pelo acadêmico Bacelar Portela, e que não somente operacionalizou a fundação da Faculdade, mas também lhe deu grande parte dos professores de que precisava, e aos quais, nos primeiros anos, nada podia pagar.

De 1966 a 1983, na condição de secretário, depois vice-presidente e por fim presidente, a figura dominante da Academia, sua alma e seu principal animador, foi o professor Luiz de Moraes Rêgo. Ao trabalho, dedicação e empenho desse saudoso acadêmico, muito deve a Academia. Foi esse um período de conferências, cursos, concursos literários e sessões comemorativas inesquecíveis.

Quatro governadores do Maranhão figuram, ao lado de Sebastião Archer, na Galeria dos Benfeitores da Instituição, a saber:

Urbano Santos, que, pelo Dec. Nº 92, de 19 de novembro de 1918, considerou-a de utilidade pública, previu que o Estado lhe daria sede condigna e determinou que a Imprensa Oficial lhe editasse regularmente a Revista;

João Castelo, a quem é devido o envio de mensagem à Assembléia Legislativa, que resultou na Lei Nº 4.350, por ele sancionada em 31 de outubro de 1981, autorizando o Poder Executivo a pagar mensalmente à Academia subvenção correspondente a 10 salários mínimos;

João Alberto Souza, que, pelo Dec. Nº 11.788, de 12 de março de 1991, regulamentou a referida lei, atualizou os pagamentos não efetuados pelo governador que o antecedeu imediatamente, e aprovou convênio celebrado com o hoje extinto Sioge, graças ao empenho do então diretor-presidente dessa autarquia, José de Ribamar Carvalho Moura.

Registra-se, para a História, que o convênio AML/Sioge nunca foi implementado, por falta de apoio do governador seguinte, e que a subvenção referida deixou de ser paga a contar de janeiro de 1997.

O gov. Jackson Lago, porém, baixou o Dec. Nº 23.433, de 2 de outubro de 2007, restabelecendo a subvenção suprimida, fato que o tornou membro da Galeria dos Benfeitores da Academia.

Alguns, no passageiro exercício do Governo do Maranhão, e desatentos ou hostis às tradições que mais enobrecem e de que mais se orgulha nossa terra, negaram apoio à Academia e até lhe suprimiram parcas, mas importantes ajudas. Sobre seus nomes, porém, o mais absoluto silêncio, pelo desprezo que merecem, pois nem para integrá-los a uma galeria de malfeitores da Academia valeria a pena consigná-los. A Diretoria que, com exceção de alguns de seus membros, esteve à frente da Academia no período de 2 de fevereiro de 1984 a 2 de fevereiro de 2006, por força de sucessivas reeleições, desenvolveu diversas atividades voltadas para o melhor e mais dinâmico funcionamento da Casa.

Tornou-se isso possível graças à completa reforma do prédio-sede, compreendendo obras ali iniciadas em abril de 1984 e concluídas em janeiro de 1986, e que constaram da restauração de todo o imóvel, da ampliação e adaptação de espaços, bem assim da aquisição de móveis e equipamentos. Esses trabalhos, para os quais contribuíram órgãos públicos e empresas privadas, foram ultimados com a substancial ajuda financeira do Governo Federal, à época chefiado pelo acadêmico José Sarney.

Concluída essa tarefa absolutamente prioritária e indispensável para dar à Academia uma sede condigna, seguiram-se outras iniciativas. Destacam-se, entre elas: a realização de cursos e concursos literários; a cessão do Auditório para diversas atividades culturais; a promoção de lançamentos literários, palestras, conferências e exposições de artes plásticas; a criação da Livraria Maranhense; a manutenção de um programa editorial; a retomada da publicação da Revista; a restauração de um sobrado em Alcântara, onde funciona, desde 6 de maio de 1988, a Pousada do Mordomo Régio; a reorganização da Biblioteca da Academia, então denominada Astolfo Marques, especializada em bibliografia maranhense, e cujo acervo está a caminho de tornar-se um dos mais importantes da capital maranhense, em sua especialidade.

As Diretoria e Comissão Fiscal eleitas em 27 de novembro de 2007 e empossadas a 31 de janeiro de 2008, estão compostas dos seguintes membros: Presidente, Lino Raposo Moreira; Vice-Presidente, José Maria Cabral Marques; Secretário-Geral, Jomar Moraes; 1º Secretário, José Chagas; 2º Secretário, Laura Amélia Damous; 1º Tesoureiro, Mont´Álverne Frota; 2º Tesoureiro, Alex Brasil.

Comissão Fiscal - Ceres Costa Fernandes, José Filgueiras e Mílson Coutinho.

Fundada a 10 de agosto de 1908 por Antônio Lobo, Alfredo de Assis Castro, Astolfo Marques, Barbosa de Godóis, Corrêa de Araújo, Clodoaldo Freitas, Domingos Barbosa, Fran Paxeco, Godofredo Viana, Inácio Xavier de Carvalho, Ribeiro do Amaral e Armando Vieira da Silva. Composta, inicialmente, de 20 cadeiras, que, em 1946, foram fixadas no número clássico de 40. Cognominada Casa de Antônio Lobo, tem sede própria na Rua da Paz, 84.

Fontes:
Benedito Buzar (1908: O ano de fundação da AML)
Jomar Moraes (Breve Memória da Academia Maranhense de Letras)
Lino Moreira (Mais que uma Academia, uma Antologia)
In Suplemento Cultural & Literário Guesa Errante. 2009. Edição 190. http://www.guesaerrante.com.br/
http://www.academiamaranhense.org.br/

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