sábado, 2 de maio de 2009

José de Alencar (1829 – 1877)

José Martiniano de Alencar (Fortaleza, 1 de maio de 1829 — Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1877) foi jornalista, político, advogado, orador, crítico, cronista, polemista, romancista e dramaturgo brasileiro. Filho de influente senador, José de Alencar formou-se em Direito, iniciando-se na atividade literária através dos jornais Correio Mercantil e Diário do Rio de Janeiro. Foi casado com Ana Cochrane. Irmão do diplomata Leonel Martiniano de Alencar, barão de Alencar, e pai de Augusto Cochrane de Alencar.

Vida

José Martiniano de Alencar nasce no dia primeiro de maio de 1829, na localidade de Mecejana no Ceará, filho do senhor José Martiniano de Alencar (deputado pela província do Ceará). É o fruto de uma união ilícita e particular do pai com a prima Ana Josefina de Alencar. Nos anos de criança e adolescente, é tratado dentro da família pelo apelido de Cazuza.

O pai de José de Alencar assume o cargo de senador do Rio de Janeiro em 1830, obrigando a família a se mudar para a capital federal. Com onze anos, foi matriculado no Colégio de Instrução Elementar. Terminado o período preparatório, Alencar matricula-se em 1844 na Faculdade de Direito de São Paulo, começando em 1846. Com os seus dezessete anos incompletos, o jovem já ostenta uma barba cerrada que jamais será raspada. Com ela, a seriedade de seu rosto torna-se ainda mais evidente.

Aos dezoito anos Alencar esboça o seu primeiro romance - Os Contrabandistas. Segundo depoimento do próprio escritor, um dos inúmeros hóspedes que freqüentam sua casa, usa as folhas manuscritas para acender charutos.

Um dos números do jornal Correio Mercantil de setembro de 1854 traz uma seção nova de folhetim - Ao Correr da Pena - assinada por José de Alencar, que estreia como jornalista. O folhetim, moda na época, é uma mistura de jornalismo e Literatura: narrativas leves, tratando de acontecimentos sociais, artísticos, políticos, enfim, coisas do cotidiano da vida e da cidade.

Alencar, aos vinte e cinco anos, obtém um sucesso imediato no jornal onde trabalharam anteriormente o mestre Machado de Assis e Joaquim Manuel de Macedo. Sucesso rápido, porém de curta duração. Tendo o jornal proibido um de seus artigos, o escritor decepcionado desliga-se de sua função.

Depois da decepção o escritor começa uma nova empreitada no Diário do Rio de Janeiro, no passado um jornal bastante influente, que passa naquele momento por uma séria crise financeira. Alencar e alguns amigos resolvem comprar o jornal e tentar ressuscitá-lo, investindo dinheiro e muito trabalho.

No Diário do Rio de Janeiro acontece sua estreia como romancista: em 1856 sai em folhetins, o romance Cinco Minutos. Ao final de alguns meses, completada a publicação, juntam-se os capítulos num só volume que é oferecido como brinde aos assinantes do jornal.

Com Cinco Minutos e, logo em seguida, A Viuvinha, Alencar inaugura uma série de obras em que busca retratar (e questionar) a forma de vida na Corte.

Lucíola, finalmente, resume toda a questão de uma sociedade que transforma amor, casamento e relações humanas em mercadoria: o assunto do romance, a prostituição, obviamente mostra a degradação que o dinheiro pode levar o ser humano a fazer.

Entre Cinco Minutos (1856) e Senhora (1875), decorrem quase vinte anos e muitas situações polêmicas, entretanto ocorreram.

Alencar estreia como autor de teatro em 1857, com a peça Verso e Reverso, na qual focaliza o Rio de Janeiro de sua época. Alencar fica furioso, acusando a Censura de cortar sua obra pelo simples fato de ser ''... produção de um autor brasileiro...'' Mas a reação mais concreta virá quatro anos mais tarde, por intermédio do romance em que o autor retoma a mesma temática: Lucíola.

Imensamente decepcionado com os acontecimentos, Alencar declara que vai abandonar a Literatura para dedicar-se exclusivamente ao Direito. É claro que isso não acontece, escreve ainda o drama Mãe; o mesmo é levado ao palco em 1860, ano em que morre seu pai. Para o teatro, produz ainda a opereta A Noite de São João e a peça O Jesuíta.

O debate em torno de As Asas de Um Anjo não é a primeira nem será a última polêmica enfrentada pelo autor. De todas, a que mais interessa para a Literatura é anterior ao caso com a Censura e relaciona-se ao aproveitamento da cultura Indígena como tema literário. Segundo os estudiosos, é este o primeiro debate literário realmente brasileiro.

Em 1859, tornou-se Chefe da Secretaria do Ministério da Justiça, sendo depois consultor do mesmo. Em 1860 José de Alencar havia ingressado na política, como deputado.

Quando resolve assumir o Diário do Rio de Janeiro, Alencar pensa também num veículo de comunicação que lhe permita expressar livremente suas idéias. É nesse jornal que trava sua primeira polêmica literária e política. Nela, o escritor confronta-se indiretamente com o imperador D. Pedro II.

Seja qual for o motivo, essa polêmica tem interesse fundamental. De fato, nessa época discute-se o que será o verdadeiro nacionalismo na Literatura Brasileira, que até então tinha sofrido grande influência da Literatura Portuguesa.

Alencar considera a cultura indígena como um assunto primordial que, na mão de um escritor inteligente, poderá tornar-se a marca registrada da autêntica Literatura Nacional. Note-se: na mão de um escritor hábil e inteligente...

O veto do imperador impulsiona Alencar para a produção literária. Escreve mais e mais romances, crônicas, teatro: Guerra dos Mascates, Til, O Tronco do Ipê, Sonhos D'Ouro, O Gaúcho, A Pata da Gazela, Senhora, livros publicados entre 1870 e 1877. Muitas polêmicas envolvem José de Alencar, polêmicas em que ele critica e polêmicas em que é criticado por suas idéias políticas e opiniões literárias. Com relação à literatura, duas delas ficam famosas: a primeira, em 1856, em torno do livro A Confederação dos Tamoios, de Gonçalves de Magalhães. Alencar se manifesta duramente contra o indianismo do poeta. A segunda, em 1873, em debate com Joaquim Nabuco no jornal O Globo, na qual defende o fato de o público revelar-se desinteressado pelo escritor nacional. Falecido em 1877, José de Alencar deixa como legado uma obra de extraordinária importância e, principalmente, a realização de um projeto que sempre acalentou: o abrasileiramento da literatura brasileira.

Abrasileirar a Literatura Brasileira é o intuito de José de Alencar. Iracema, um de seus romances mais populares (1865), é um exemplo profundo dessa ansiosa mudança desejada pelo autor. A odisséia da musa Tupiniquim combina um perfeito encontro do colonizador português com os nativos da terra. Iracema é uma bela virgem tabajara e esta tribo é amiga dos franceses na luta contra os portugueses que tem como aliados os índios pitiguaras. Porém Martim, o guerreiro português, nas suas investidas dentro da mata descobre Iracema, e ambos são dominados pela paixão.

José de Alencar assim nos conta o primeiro encontro entre a musa Tupiniquim e seu príncipe lusitano:

"Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.

Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.

Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.

Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste.

A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão.

Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.

Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo
.”

De Iracema, dirá Machado de Assis no Diário do Rio de Janeiro:

"Tal é o livro do Sr. José de Alencar, fruto do estudo e da meditação, escrito com sentimento e consciência… Há de viver este livro, tem em si as forças que resistem ao tempo, e dão plena fiança do futuro… Espera-se dele outros poemas em prosa. Poema lhe chamamos a este, sem curar de saber se é antes uma lenda, se um romance: o futuro chamar-lhe-á obra-prima”.

Aos vinte e cinco anos, Alencar apaixona-se pela jovem Chiquinha Nogueira da Gama, herdeira de uma das grandes riquezas da época. No entanto o interesse da moça é outro: um rapaz carioca também vindo da burguesia. Desprezado pela moça, custa muito ao altivo Alencar recuperar-se do orgulho ferido. Somente aos trinta e cinco anos ele irá sentir o sabor, de fato, da plenitude amorosa que tão bem soube criar para o final de muitos dos seus romances. Desta vez sua paixão é correspondida, o namoro e matrimônio são rápidos. A moça é Georgina Cochrane, filha de um rico inglês. Conheceram-se no bairro da Tijuca, para onde o escritor se retirara para se recuperar de uma das crises de tuberculose que teve na época. Casam-se em 20 de junho de 1864.

Alencar não se limita aos aspectos documentais como autor. Na verdade o que vale de fato em suas obras é, sobretudo, o poder criativo e a capacidade de construir narrativas muito bem estruturadas. Os personagens são heróis regionais puros, sensíveis, honestos, educados, muito parecidos com os heróis de seus romances indianistas. Mudavam as feições, mudava a roupagem, mudava o cenário. Porém, na invenção de todos esses personagens, Alencar busca o mesmo objetivo: chegar a um retrato do homem totalmente brasileiro.

Não cessa por aí a busca do escritor: servindo-se de fatos e lendas de nossa história, Alencar inventará ainda os chamados romances históricos.

No romance Guerra dos Mascates, personagens fictícios escondem alguns políticos da época e até o próprio imperador. As Minas de Prata é uma espécie de modelo de romance histórico tal como esse tipo de romance é imaginado pelos ficcionistas de então. A ação passa-se no século XVIII, uma época marcada pelo espírito aventureiro. É considerado seu melhor romance histórico.

Com as narrativas históricas, Alencar cria o mapa do Brasil que desejara desenhar, fazendo aquilo que sabe fazer: a verdadeira Literatura.

Nos trabalhos de Alencar há quatro tipos de romances: indianista, urbano, regionalista e histórico. Evidentemente, essa classificação é muito esquemática, pois cada um de seus romances apresenta muitos aspectos que merecem ser analisados separadamente: é fundamental, por exemplo, o perfil psicológico de personagens como o herói de O Gaúcho, ou ainda do personagem central de O Sertanejo. Por isso, a classificação acima se prende ao aspecto mais importante (mas não único) de cada um dos romances.

Em 1868, tornou-se Ministro da Justiça e, em 1869, candidatou-se ao Senado.

Em 1872 se tornou pai de Mário de Alencar, o qual, segundo uma história nunca totalmente confirmada, seria na verdade filho de Machado de Assis, dando respaldo para o romance Dom Casmurro.

No ano de 1876, Alencar vende tudo o que tem e vai com Georgina e os seus filhos para a Europa, buscando tratamento para sua saúde precária. Tinha programado uma estada de dois anos. Durante oito meses visita a Inglaterra, a França e Portugal. Seu estado de saúde se agrava e, mais cedo do que pensava, retorna ao Brasil.

Apesar dos pesares, ainda sobra tempo para atacar D. Pedro II. Alencar publica alguns números do semanário O Protesto durante os meses de janeiro, fevereiro e março de 1877. Nesse jornal, o escritor deixa vazar todo o seu velho ressentimento contra o imperador, que não o havia indicado para o Senado em 1869.

Em 1877 viria a ocupar um ministério no governo do Imperador.

O escritor já com a saúde um tanto abalada, morre no Rio de Janeiro, no dia 12 de dezembro de 1877.

Coube-lhe a homenagem de ser patrono da cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras. Nas discussões que antecederam a fundação da academia, seu nome foi defendido por Machado de Assis para ser o primeiro patrono, ou seja, nominar a cadeira 1. Mas não poderia haver hierarquia nessa escolha, e resultou que Adelino Fontoura, um autor quase desconhecido, veio a ser o patrono efetivo.

Produziu romances urbanos (Senhora, 1875; Encarnação, escrito em 1877, ano de sua morte e divulgado em 1893), regionalistas (O Gaúcho, 1870; O Sertanejo, 1875) e históricos (Guerra dos Mascates, 1873), além de peças para o teatro. Característica de sua obra é o nacionalismo, tanto nos temas quanto nas inovações no uso da língua. Em um momento de consolidação da Independência, Alencar representou um dos mais sinceros esforços patrióticos em povoar o Brasil com conhecimento e cultura próprios, em construir novos caminhos para a literatura no país. Em sua homenagem foi erigida uma estátua no Rio de Janeiro.

Características da obra de Alencar

José de Alencar é o grande nome da prosa romântica brasileira, tendo escrito obras representativas para todos os tipos de ficção românticos: passadista e colonial (O Guarani, 1857), indianista (Iracema, 1865), sertaneja (O Sertanejo, 1875).

Pode-se dividir, didaticamente, a obra de Alencar em indianista (O Guarani, 1857; Iracema, 1865; Ubirajara, 1874); urbana (Lucíola, 1862; Diva, 1864; Senhora, 1875), regionalista (O Gaúcho, 1870; O Sertanejo, 1875) e históricos (Guerra dos Mascates (primeiro volume), 1873).

Seus grandes mestres são o francês Chateubriand e o escocês Walter Scott. Mas também o influenciaram muito os escritores Balzac e Alexandre Dumas.

A obra de José de Alencar pode ser dividida em dois grupos distintos


Quanto ao espaço geográfico
O sertão do Nordeste - O Sertanejo
O litoral cearense - Iracema
O pampa gaúcho - O Gaúcho
A zona rural - Til (interior paulista), O Tronco do Ipê (zona da mata fluminense)
A cidade, a sociedade burguesa do Segundo Reinado - Diva, Lucíola, Senhora e os demais romances urbanos.

Quanto à evolução histórica
O período pré-cabralino - Ubirajara.
A fase de formação da nacionalidade - Iracema e O Guarani.
A ocupação do território, a colonização e o sentimento nativista - As Minas de Prata (o bandeirantismo) e Guerra dos Mascates (rebelião colonial).
O presente, a vida urbana de seu tempo, a burguesia fluminense do século XIX - os romances urbanos Diva, Lucíola, Senhora e outros.

Obras

Romances
Cinco minutos, 1856
A viuvinha, 1857
O guarani, 1857
Lucíola, 1862
Diva, 1864
Iracema, 1865
As minas de prata - 1º vol., 1865
As minas de prata - 2.º vol., 1866
O gaúcho, 1870
A pata da gazela, 1870
O tronco do ipê, 1871
Guerra dos mascates - 1º vol., 1871
Til, 1871
Sonhos d'ouro, 1872
Alfarrábios, 1873
Guerra dos mascates - 2º vol., 1873
Ubirajara, 1874
O sertanejo, 1875
Senhora, 1875
Encarnação, 1893

Teatro
O crédito, 1857
Verso e reverso, 1857
Demônio familiar, 1857
As asas de um anjo, 1858
Mãe, 1860
A expiação, 1867
O jesuíta, 1875

Crônica
Ao correr da pena, 1874

Autobiografia
Como e por que sou romancista, 1873

Crítica e polêmica
Cartas sobre a confederação dos tamoios, 1856
Ao imperador:cartas políticas de Erasmo e Novas cartas políticas de Erasmo, 1865
Ao povo:cartas políticas de Erasmo, 1866
O sistema representativo, 1866

Fontes:
http://www.vidaslusofonas.pt/jose_alencar.htm
http://pt.wikipedia.org/

Um comentário:

NalvinhaFigueirôa disse...

Muito magestoso e simpático este blog, cultural e inspirador. Parabéns.