sexta-feira, 1 de maio de 2009

Kathryn VanSpanckeren (Panorama da Literatura dos Estados Unidos – Parte II)


O Período Romântico, Ficção

Walt Whitman, Herman Melville e Emily Dickinson — assim como seus contemporâneos Nathaniel Hawthorne e Edgar Allan Poe — representam a primeira geração literária importante dos Estados Unidos. No caso de escritores de ficção, a visão romântica tendia a se expressar na forma que Hawthorne chamava de “romance”, uma forma sofisticada, emocional e simbólica da narrativa ficcional. Segundo a definição de Hawthorne, os “romances” não eram histórias de amor, mas literatura de ficção séria que recorria a técnicas especiais para comunicar significados complexos e sutis.

Em vez de definir cuidadosamente os personagens de forma realista por meio da riqueza de detalhes, como fazia a maioria dos romancistas ingleses ou continentais, Hawthorne, Melville e Poe construíram figuras heróicas maiores do que a vida, impregnadas de significados míticos. Os protagonistas típicos do chamado romance americano são pessoas atormentadas e isoladas. Arthur Dimmesdale ou Hester Prynne, de Hawthorne, em A Letra Escarlate, Ahab, de Melville, em Moby Dick, e muitos dos personagens segregados e obcecados dos contos de Poe são protagonistas solitários jogados ao destino sombrio e impenetrável que, de alguma maneira misteriosa, se sobrepõem ao seu “eu” inconsciente mais profundo. As tramas simbólicas revelam ações ocultas do espírito angustiado.

Uma razão para essa exploração ficcional dos recôncavos da alma era a ausência na época de uma comunidade estabelecida. Os romancistas ingleses — Jane Austen, Charles Dickens (o grande favorito), Anthony Trollope, George Eliot e William Thackeray — viviam em uma sociedade tradicional, bem articulada e complexa, além de compartilhar com seus leitores atitudes que embasavam sua ficção realista.

Os romancistas americanos enfrentavam uma história de conflito e revolução, uma geografia de vastos ermos não desbravados e uma sociedade democrática fluida e relativamente sem classes. Muitos romances ingleses mostram um personagem principal pobre que galga os degraus da escada social e econômica, talvez devido a um bom casamento ou à descoberta de um passado aristocrata desconhecido. Mas essa trama não desafia a estrutura social aristocrática da Inglaterra. Ao contrário, ela a confirma. A ascensão social do personagem principal satisfaz a realização do desejo dos leitores que na Inglaterra daquela época eram principalmente de classe média.

O romancista americano, ao contrário, tinha de adotar uma estratégia própria. Os Estados Unidos eram, em parte, uma fronteira indefinida, em constante movimento, habitada por imigrantes que falavam diversos idiomas e cujo estilo de vida era estranho e rude. Portanto, o personagem principal de uma narrativa americana poderia se encontrar sozinho entre tribos canibais, como em Taipi – Paraíso de Canibais, de Melville, ou explorar terras selvagens, como os caçadores de peles de James Fenimore Cooper, ou ter visões de sepulcros isolados, como os personagens solitários de Poe, ou encontrar o demônio durante uma caminhada pela floresta, como o jovem Goodman Brown de Hawthorne. Praticamente todos os grandes protagonistas americanos são “solitários”. O americano democrático teve, por assim dizer, de se “inventar” a si mesmo. O romancista americano sério também precisou criar novas formas: daí o formato disperso e idiossincrático do romance Moby Dick de Melville e a narrativa em clima de sonho e divagação de Poe, O Relato de Arthur Gordon Pym.

Herman Melville (1819-1891)

Herman Melville era descendente de uma família antiga e abastada que caiu repentinamente na pobreza com a morte do pai. Apesar de sua criação, das tradições familiares e do trabalho árduo, Melville não teve educação universitária. Aos 19 anos, foi para o mar. Seu interesse pela vida dos marinheiros foi uma conseqüência natural de suas próprias experiências e seus primeiros romances foram em grande parte inspirados em suas viagens. Seu primeiro livro, Taipi, foi baseado no tempo em que viveu entre o povo taipi, nas Ilhas Marquesas, no Sul do Pacífico.

Moby Dick; ou, A Baleia, obra-prima de Melville, é um épico sobre a história da baleeira Pequod e de seu capitão, Ahab, cuja busca obsessiva pela baleia branca, Moby Dick, leva o barco e seus homens à destruição. Essa obra, romance de aventura aparentemente realista, contém uma série de reflexões sobre a condição humana.

A pesca da baleia, que percorre todo o livro, é uma grande metáfora da busca por conhecimento. Embora a busca de Ahab seja filosófica, ela é também trágica. A despeito de seu heroísmo, Ahab é condenado e talvez amaldiçoado no final. A natureza, ainda que bela, é misteriosa e potencialmente fatal. Em Moby Dick, Melville desafia a idéia otimista de Emerson de que os seres humanos podem entender a natureza. Moby Dick, a grande baleia branca, representa a existência cósmica e impenetrável que domina o romance, da mesma maneira que obceca Ahab. Os fatos sobre a baleia e sua pesca não podem explicar Moby Dick; ao contrário, os próprios fatos tendem a se dissolver em símbolos. Por trás do conjunto de fatos relatados por Melville está uma visão mística — mas se essa visão é do mal ou do bem, humana ou desumana, não é explicado.

Ahab insiste em imaginar um mundo de absolutos atemporal e heróico. Insensatamente, ele exige um “texto” acabado, uma resposta. Mas o romance mostra que, assim como não existem formas acabadas, não há respostas definitivas exceto, talvez, a morte. Algumas referências literárias ressoam pelo romance. Ahab, cujo nome vem de um rei do Antigo Testamento, deseja o conhecimento absoluto, faustiano e divino. Como Édipo na peça de Sófocles, que paga de forma trágica pelo conhecimento equivocado, Ahab é atingido pela cegueira antes de ser morto no final.

O nome do barco de Ahab, Pequod, refere-se a uma tribo indígena extinta da Nova Inglaterra; assim, o nome sugere que o barco está fadado à destruição. A pesca da baleia, na verdade, foi uma indústria importante, em especial na Nova Inglaterra: ela fornecia óleo de baleia como fonte de energia, principalmente para lamparinas. Portanto, a baleia literalmente “lança luz” sobre o universo. O livro tem ressonância histórica. A pesca da baleia era inerentemente expansionista e ligada à idéia histórica de um “destino manifesto” para os americanos, já que exigia que navegassem ao redor do mundo em busca de baleias (de fato, o atual estado do Havaí caiu sob o domínio americano porque era usado como importante base de reabastecimento de combustível para os navios baleeiros). Os membros da tripulação do Pequod representam todas as raças e várias religiões, sugerindo a idéia de um Estados Unidos como um estado de espírito universal, bem como de um caldeirão cultural. Finalmente, Ahab incorpora a versão trágica do individualismo americano democrático. Ele afirma sua dignidade como indivíduo e ousa se opor às inexoráveis forças externas do universo.

A Ascensão do Realismo

A Guerra Civil Americana (1861-1865) entre o Norte industrial e o Sul agrícola e escravagista foi um divisor de águas na história dos EUA. Antes da guerra, os idealistas defendiam os direitos humanos, especialmente a abolição da escravidão; depois da guerra, os americanos passaram a idealizar cada vez mais o progresso e o “self-made man”, como chamam as pessoas que conseguem vencer na vida pelo próprio esforço. Essa foi a era dos industriais e dos especuladores milionários, quando a teoria de Darwin sobre a evolução biológica e a “sobrevivência dos mais aptos” entre as espécies foi aplicada à sociedade e parecia sancionar a falta de ética ocasional nos métodos utilizados pelos magnatas empresariais de sucesso.

Os negócios prosperaram rapidamente após a guerra. O novo sistema ferroviário intercontinental, inaugurado em 1869, e o telégrafo transcontinental, que começou a operar em 1861, deram à indústria acesso a materiais, mercados e comunicações. O ingresso constante de imigrantes propiciou o fornecimento aparentemente interminável de mão-de-obra barata. Mais de 23 milhões de estrangeiros — alemães, escandinavos e irlandeses nos primeiros anos e, a partir de então, cada vez mais imigrantes da Europa Central e do Sul — entraram nos Estados Unidos entre 1860 e 1910. Em 1860, a maioria dos americanos vivia em fazendas ou pequenos povoados, mas em 1919 metade da população estava concentrada em cerca de 12 cidades.

Surgiram os problemas da urbanização e da industrialização: habitações pobres e superlotadas, falta de saneamento, baixos salários (chamados de “escravidão assalariada”), condições de trabalho difíceis e controle inadequado dos negócios. Os sindicatos trabalhistas cresceram, e as greves levaram ao conhecimento da nação a difícil situação da classe trabalhadora. Os agricultores também se viram lutando contra os “interesses monetários” do Leste. De 1860 a 1914, os Estados Unidos passaram de ex-colônia agrícola a uma imensa nação industrial moderna. A nação endividada de 1860 havia se transformado no Estado mais rico do mundo em 1914. Na época da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos tinham se tornado a maior potência mundial.

A industrialização cresceu e, com ela, cresceu também o distanciamento. Dois grandes romancistas desse período — Mark Twain e Henry James — reagiram cada um à sua maneira. Twain voltou-se para o Sul e o Oeste no coração dos Estados Unidos rurais e fronteiriços para encontrar seu mito definidor; James voltou-se para a Europa a fim de avaliar a natureza dos novos americanos cosmopolitas.

Samuel Clemens (Mark Twain) (1835-1910)

Samuel Clemens, mais conhecido por seu pseudônimo Mark Twain, cresceu à beira do Rio Mississippi, na cidade fronteiriça de Hannibal, no Missouri. Ernest Hemingway disse que toda a literatura americana vem de um grande livro, As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain. No início do século 19, os escritores americanos tendiam a ser demasiadamente rebuscados, sentimentais ou pomposos — em parte porque ainda tentavam provar que poderiam escrever de forma tão elegante quanto os ingleses. O estilo de Twain, baseado na fala americana vigorosa, realista e coloquial, deu aos escritores do país uma nova valorização de sua voz nacional. Mark Twain foi o primeiro autor importante do interior do país. Ele captou suas gírias peculiares e humorísticas e o espírito iconoclasta.

Para Twain, assim como para outros escritores americanos do final do século 19, o realismo não era apenas uma técnica literária: era uma maneira de falar a verdade e detonar antigas convenções. Portanto, era profundamente libertador e potencialmente hostil à sociedade. O exemplo mais conhecido é a história de Huck Finn, menino pobre que decide seguir a voz da consciência e ajudar um escravo negro a fugir para a liberdade, apesar de pensar que isso o condenaria ao inferno por infringir a lei.

A obra-prima de Twain, lançada em 1884, tem como cenário a aldeia de St. Petersburg, às margens do rio Mississippi. Filho de um vagabundo alcoólatra, Huck acabara de ser adotado por uma família respeitável quando seu pai, em estupor alcoólico, o ameaça de morte. Temendo por sua vida, Huck foge, fingindo estar morto. Nessa fuga, junta-se a ele outro marginal, o escravo Jim, cuja dona, senhorita Watson, está pensando em vendê-lo rio abaixo para a escravidão mais empedernida do extremo Sul. Huck e Jim descem o majestoso Mississippi em uma canoa, mas ela é abalroada por um barco a vapor e afunda; eles se separam e mais tarde voltam a se encontrar. Os dois passam por muitas aventuras cômicas e perigosas à margem do rio mostrando a variedade, a generosidade e, às vezes, a irracionalidade cruel da sociedade. No final, descobre-se que a senhorita Watson já havia libertado Jim, e uma família respeitável está cuidando do rebelde Huck. Mas Huck não se adapta à sociedade civilizada e planeja fugir para “os territórios” — terras indígenas.

O final dá ao leitor outra versão do clássico mito da “pureza” americana: a estrada aberta levando a terras ermas intocadas, longe das influências moralmente corruptas da “civilização”. Os romances de James Fenimore Cooper, os hinos de Walt Whitman à estrada livre, O Urso de William Faulkner e On the Road — Pé na Estrada de Jack Kerouac são outros exemplos literários.

Henry James (1843-1916)

Henry James certa vez escreveu que a arte, especialmente a literatura, “faz a vida, faz o interesse, faz a importância”. A ficção de James é a mais consciente, sofisticada e difícil de sua época. James se destaca pelo “tema internacional” — ou seja, as complexas relações entre americanos ingênuos e europeus cosmopolitas.

O que seu biógrafo, Leon Edel, chama de primeira fase ou a fase internacional de James inclui obras como The American [O Americano] (1877), Daisy Miller (1879) e sua obra máxima, Retrato de uma Senhora (1881). Em The American, por exemplo, Christopher Newman, industrial milionário que venceu por seu próprio esforço, ingênuo, mas inteligente e idealista, vai para a Europa em busca de uma noiva. Quando a família da moça o rejeita por não ser aristocrata, ele tem a oportunidade de vingança; ao decidir nada fazer, mostra sua superioridade moral.

A segunda fase de James foi experimental. Ele explorou novos temas — feminismo e reforma social em The Bostonians [Os Bostonianos] (1886) e intriga política em The Princess Casamassima [A Princesa Casamassima] (1885). Em sua terceira fase, ou a “principal”, James volta aos temas internacionais, mas os trata com crescente sofisticação e profundeza psicológica. O complexo e quase mítico As Asas da Pomba (1902), Os Embaixadores (1903) — que James considerava seu melhor romance — e A Taça de Ouro (1904) datam desse importante período. Se o tema principal da obra de Mark Twain é a diferença sempre cheia de humor entre a falsa aparência e a realidade, a preocupação constante de James é a percepção. Em James, só a autoconsciência e a clara percepção do outro levam à sabedoria e ao amor altruísta.

Modernismo e Experimentação

Muitos historiadores caracterizaram o período entre as duas guerras mundiais como o “amadurecimento” traumático dos Estados Unidos, apesar do fato de que o envolvimento direto dos americanos foi relativamente curto (1917-1918) e com muito menos mortos do que seus aliados e inimigos europeus. Chocados e para sempre transformados, os soldados americanos retornaram à sua pátria, mas nunca mais puderam recuperar a inocência. Tampouco os soldados provenientes da zona rural do país conseguiram voltar facilmente às suas raízes. Depois de conhecer o mundo, muitos deles agora ansiavam por uma vida moderna e urbana.

No “grande boom” do pós-guerra, os negócios floresciam e os bem-sucedidos prosperavam além do que podiam imaginar em seus sonhos mais desvairados. Pela primeira vez, muitos americanos entraram no ensino superior — na década de 1920 as matrículas universitárias dobraram. A classe média prosperou; os americanos começaram a desfrutar da renda média nacional mais alta do mundo dessa época.

Os americanos dos chamados “loucos anos 20” se apaixonaram pelos entretenimentos modernos. A maioria das pessoas ia ao cinema uma vez por semana. Embora a Lei Seca — proibição nacional da venda de álcool instituída por meio da 18º Emenda à Constituição do EUA — tenha começado em 1919, bares ilegais, conhecidos como “speakeasies”, e nightclubs proliferaram, oferecendo jazz, bebidas e maneiras ousadas de vestir e dançar. Dançar, ir ao cinema, fazer passeios de carro e ouvir rádio eram manias nacionais. As mulheres americanas, em particular, se sentiram liberadas. Elas cortaram o cabelo curto (“a la garçonne”), usavam vestidos curtos estilo “melindrosa” e vibraram com o direito ao voto garantido pela 19a Emenda à Constituição, aprovada em 1920. Falavam o que pensavam com ousadia e ocupavam funções públicas na sociedade.

Apesar dessa prosperidade, os jovens ocidentais na “vanguarda” cultural encontravam-se em um estado de rebelião intelectual, enfurecidos e desiludidos com a guerra selvagem e com a geração mais velha que responsabilizavam. Ironicamente, as condições econômicas difíceis do pós-guerra na Europa permitiam que os americanos endinheirados — como os escritores F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Gertrude Stein e Ezra Pound — vivessem no exterior confortavelmente com pouquíssimo dinheiro e absorvessem a desilusão do pós-guerra e também outras correntes intelectuais européias, em particular a psicologia freudiana e, em menor grau, o marxismo.

Diversos romances, em especial O Sol Também se Levanta (1926), de Hemingway, e Este Lado do Paraíso (1920), de Fitzgerald, evocam a extravagância e a desilusão do que a escritora americana expatriada Gertrude Stein chamou de “a geração perdida”. Em “A Terra Desolada” (1922), longo e influente poema de T.S. Eliot, a civilização ocidental é simbolizada por um deserto desolado necessitando desesperadamente de chuva (renovação espiritual).

Modernismo

A grande onda cultural do modernismo, que surgiu na Europa e depois se espalhou para os Estados Unidos nos primeiros anos do século 20, expressava um sentido de vida moderna pela arte como uma ruptura brusca com o passado. À medida que as máquinas modernas mudavam o ritmo, a atmosfera e a aparência da vida diária no início do século 20, muitos artistas e escritores, com graus variados de sucesso, reinventavam formas artísticas tradicionais e buscavam radicalmente outras novas — eco estético do que as pessoas haviam passado a chamar de “era da máquina”.

T.S. Eliot (1888-1965)

Thomas Stearns Eliot recebeu a melhor educação em comparação a qualquer outro grande escritor americano de sua geração. Freqüentou a Faculdade de Harvard, a Sorbonne e a Universidade de Oxford. Estudou sânscrito e filosofia oriental, o que influenciou sua poesia. Como seu amigo, o poeta Ezra Pound, foi para a Inglaterra cedo e se tornou figura de destaque no mundo literário inglês. Um dos poetas mais respeitados de sua época, sua poesia iconoclasta modernista, aparentemente ilógica ou abstrata teve impacto revolucionário.

Em “A Canção de Amor de J. Alfred Prufrock” (1915), o impotente e velho Prufrock acha que “mediu sua vida em colherinhas de café” — a imagem das colherinhas de café refletindo uma existência enfadonha e uma vida desperdiçada. A famosa abertura de “Prufrock” convida o leitor para vielas urbanas de mau gosto que, como a vida moderna, não oferecem respostas às questões da vida:

Sigamos então, tu e eu,
Enquanto o poente no céu se estende
Como um paciente anestesiado sobre a mesa...
(Tradução de Ivan Junqueira)

Imagens semelhantes permeiam “A Terra Desolada” (1922), que ecoa o “Inferno” de Dante para evocar as ruas apinhadas de Londres na época da Primeira Guerra Mundial:

Sob a fulva neblina de uma aurora de inverno,
Fluía a multidão pela Ponte de Londres, eram tantos,
Jamais pensei que a morte a tantos destruíra... (I, 60-63)

(Tradução de Ivan Junqueira)

Robert Frost (1874-1963)

Robert Lee Frost nasceu na Califórnia, mas foi criado em uma fazenda no nordeste dos EUA até os 10 anos. Como Eliot e Pound, foi para a Inglaterra, atraído por novos movimentos poéticos. Escreveu sobre a vida nas fazendas tradicionais da Nova Inglaterra (no nordeste dos Estados Unidos), mostrando nostalgia pelo estilo de vida do passado. Seus temas são universais — colheita de maçã, muros de pedra, cercas, estradas rurais. Embora sua abordagem fosse clara e acessível, seu trabalho muitas vezes só é simples na aparência. Muitos poemas sugerem um sentido mais profundo. Por exemplo, uma noite tranqüila e nevosa pode sugerir, por meio de uma combinação de rimas quase hipnótica, a aproximação não de todo indesejada da morte. De “Stopping by Woods on a Snowy Evening” [“Parado no Bosque Numa Noite de Neve”] (1923):

De quem é esse bosque acho que sei.
Sua casa, no entanto, fica na aldeia;
Ele não me verá parado aqui
Olhando seu bosque se cobrir de neve.

Embora a prosa americana no período entre guerras tenha feito experimentações relativas ao ponto de vista e à forma, de modo geral os americanos escreviam de maneira mais realista do que os europeus. A importância de enfrentar a realidade tornou-se tema dominante nas décadas de 1920 e 1930: escritores como F. Scott Fitzgerald e o dramaturgo Eugene O’Neill retrataram diversas vezes a tragédia que aguardava aqueles que vivem de sonhos frágeis.

F. Scott Fitzgerald (1896-1940)

A vida de Francis Scott Key Fitzgerald parece um conto de fadas. Durante a Primeira Guerra Mundial, Fitzgerald se alistou no Exército americano e se apaixonou por uma moça rica e bonita, Zelda Sayre, que morava em Montgomery, no Alabama, onde ele estava estacionado. Depois de ter sido dispensado no fim da guerra, foi em busca de sua fortuna literária na cidade de Nova York para poder se casar com ela.

Seu primeiro romance, Este Lado do Paraíso (1920), se tornou um best-seller, e aos 24 anos se casou com Zelda. Nem um dos dois estava preparado para lidar com as pressões do sucesso e da fama, e acabaram dissipando o dinheiro que tinham. Em 1924, mudaram-se para a França para economizar e retornaram sete anos depois. Zelda tornou-se mentalmente instável e precisou ser internada; Fitzgerald virou alcoólatra e morreu jovem como roteirista de cinema.

Fitzgerald garantiu seu lugar na literatura americana principalmente com seu romance O Grande Gatsby (1925), história escrita com brilhantismo e economicamente estruturada sobre o sonho americano do homem que se fez sozinho (self-made man). O protagonista, o misterioso Jay Gatsby, descobre o preço devastador do sucesso em termos de realização pessoal e do amor. Mais do que qualquer outro escritor, Fitzgerald captou a vida de esplendor e desespero dos anos 1920.

Ernest Hemingway (1899-1961)

Poucos escritores tiveram um vida tão intensa quanto Ernest Hemingway, cuja carreira poderia ter saído de um de seus romances de aventura. Como Fitzgerald, Dreiser e muitos outros romancistas do século 20, Hemingway veio do Meio Oeste dos EUA. Apresentou-se como voluntário para trabalhar como motorista de ambulância na França durante a Primeira Guerra Mundial, mas foi ferido e ficou hospitalizado por seis meses. Depois da guerra, como correspondente de guerra baseado em Paris, encontrou os escritores americanos expatriados Sherwood Anderson, Ezra Pound, F. Scott Fitzgerald e Gertrude Stein. Stein, em particular, influenciou seu estilo conciso.

Depois de ficar famoso com o romance O Sol Também se Levanta, ele continuou a trabalhar como jornalista, cobrindo a Guerra Civil Espanhola, a Segunda Guerra Mundial e a luta na China na década de 1940. Durante um safári na África, feriu-se em um acidente com seu pequeno avião; apesar disso, continuou gostando de caçadas e da pesca esportiva, atividades que inspiraram alguns de seus melhores trabalhos. O Velho e o Mar (1952), breve romance poético sobre um pobre e velho pescador, cujo peixe imenso pescado em mar aberto é devorado por tubarões, rendeu-lhe o Prêmio Pulitzer em 1953; no ano seguinte, recebeu o Prêmio Nobel. Acossado por um histórico familiar problemático, doenças e por acreditar que estava perdendo o dom de escrever, o escritor se matou com um tiro em 1961. Hemingway é considerado o mais popular romancista americano. Seus interesses são basicamente apolíticos e humanísticos, e nesse sentido ele é universal.

Como Fitzgerald, Hemingway se tornou porta-voz de sua geração. Mas ao invés de retratar seu glamour fatal, como fez Fitzgerald, que nunca lutou na Primeira Guerra Mundial, Hemingway escreveu sobre a guerra, a morte e a “geração perdida” de sobreviventes desiludidos. Seus personagens não são sonhadores, mas toureiros, soldados e atletas durões. Se intelectuais, são profundamente marcados e desiludidos. Sua marca registrada é o estilo claro desprovido de palavras desnecessárias. Usa com freqüência a contenção. Em Adeus às Armas (1929) a heroína morre ao dar à luz dizendo: “Não tenho medo. É só um golpe baixo.” Certa vez comparou sua produção literária a icebergs: “Para cada parte que se revela, há sete oitavos debaixo d’água.”

William Faulkner (1897-1962)

Nascido em uma antiga família sulista, William Harrison Faulkner foi criado em Oxford, no estado do Mississippi, onde viveu grande parte de sua vida. Faulkner recria a história da terra e das várias raças que nela viveram. Escritor inovador, Faulkner fez experimentações brilhantes com a cronologia narrativa, diferentes pontos de vista e vozes (inclusive a de párias, crianças e analfabetos) e um rico e absorvente estilo barroco, constituído de frases extremamente longas.

Entre os melhores romances de Faulkner estão O Som e a Fúria (1929) e Enquanto Agonizo (1930), duas obras modernistas que fazem experimentações com pontos de vista e vozes para explorar fundo o drama de famílias sulistas sob a tensão de perder um membro da família; Luz em Agosto, sobre as relações complexas e violentas entre um mulher branca e um homem negro; e Absalom, Absalom! (1936), talvez seu melhor livro, sobre a ascensão de fazendeiro que subiu na vida por seu próprio esforço e sua trágica queda.

Dramaturgia americana no século 20

A dramaturgia americana foi uma imitação do teatro inglês e europeu até o século 20. Foi somente no século 20 que peças sérias americanas tentaram fazer inovações estéticas.

Eugene O'Neill (1888-1953)

Eugene O’Neill é a grande figura da dramaturgia americana. Suas diversas peças combinam enorme originalidade técnica com visão renovada e profundidade emocional. As primeiras peças de O’Neill tratam da classe trabalhadora e dos pobres; trabalhos posteriores exploram o mundo subjetivo e destacam sua leitura de Freud e a tentativa angustiada de aprender a conviver com as mortes da mãe, do pai e do irmão.

Sua peça Desejo sob os Ulmeiros (1924) recria as paixões escondidas de uma família. Suas peças posteriores incluem as reconhecidas obras-primas The Iceman Cometh (1946), obra cabal sobre o tema da morte, e Longa Jornada Noite Adentro (1956) —poderosa autobiografia em forma dramática, enfocando a própria família e sua deterioração física e psicológica, com a ação transcorrendo no período de uma noite.

Fonte:
http://embaixadaamericana.org.br/HTML/literatureinbrief/

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