quinta-feira, 7 de maio de 2009

Mady Benoliel Benzecry (Poetas do Amazonas)

CARMEM-DOIDA

Carmem-doida! Gritava
a criançada da antiga
praça da prefeitura,
a Carmem-doida endoidava
mandava banana pra todos,
cuspia a dentadura
xingava a mãe e a família
da garotada e berrava
os piores palavrões...

Carmem-doida! E a tua mãe,
está no hospício também?
"No céu! Seus mizerentos
rebentos do Satanás,
na paz do Senhô, ela está!"
E ia ao "Juizado
de Menores" se queixar!

"Seu juiz, não é prussive,
tanta, tanta bandalheira,
eu sou muié de respeito
e não ardimito brincadeira!
A gente tem de acabá
com esses moleque de rua,
já é a quinta dentadura
que eles me faz quebrá,
entonces esta, foi cara,
ganhei ela de natar
e tinha um dente de ouro
bem na frente, seu dotô
eles tem de me pagá!"

E lá se iam dois guardas
a garotada autuar...

Um dia, foi no Natal
uma "vaquinha" correu
na praça da prefeitura
e Carmem-doida ganhou
um presente dos meninos
com cinco dentes de ouro
uma nova dentadura!

E desde então Carmem-doida,
muito mais doida, ficou...

(In: Sarandalhas, 1967)
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ÀS DEZ HORAS DE UMA NOITE TRISTE

Não te demores meu bem!...
Minhas mãos ainda estão trêmulas
das carícias que te deram...
Ainda se estendem quentes, delirantes,
ainda se crispam dos anseios que tiveram
ao maltratar-te a pele...
Chamam-te ainda nervosas, implorantes
mas, já não estás comigo,
lembro triste,
faz apenas meia hora que partiste...

Não te demores meu bem!...
Meus lábios permanecem entreabertos
como se ainda esmagados contra os teus,
bebessem teu sangue nos desertos.
Ainda estão úmidos e sentem o jogo intenso
que tua boca transportada de desejo,
derramou na avidez de um infindo beijo...
Mas já não estás comigo,
lembro triste,
faz apenas meia hora que partiste...

Não te demores meu bem!...
Meu corpo ainda está como o deixaste,
morno... todo marcado da volúpia
com que o amaste...
No entanto, ainda deseja como um louco
languidamente entregar-se, e pouco a pouco,
matar a sede deste amor que não mataste!
Mas já não estás comigo,
lembro triste,
faz apenas meia hora que partiste!...
(In: De Todos os Crepúsculos)
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Sobre a Poetisa
A poeta Mady Benoliel Benzecry, ou Mady Benzecry, filha de família tradicional do Amazonas, deixou pouca informação bigráfica. Sabe-se que nasceu em Manaus, no dia 19 de fevereiro de 1933 e que mudou-se para o Rio de Janeiro, onde dedicou-se as artes plásticas. Casou-se com o entalhador pernambucano Eugênio Carlos Batista, mais conhecido como Batista. Mady fez diversas exposições de seu trabalho ao lado do marido e publicou alguns poemas no jornais de Manaus.

Contribuiu para a literatura amazonense ao publicar dois livros de poesia: De Todos os Crepúsculos (1964) e Sarandalhas (1967), ambos ilustrados pelo astista amazonense Moacir Andrade. Dois de seus poemas,Às dez horas de uma noite triste e Procissão do tempo, foram publicados em 2006 na Antologia Poesia e Poetas do Amazonas. De acordo com o jornal local Amazonas em Tempo (03/06/2004), a carreira de Mady como poeta não foi bem sucedida devido ao encalhe de seu segundo livro nas prateleiras, o que a obrigou a recolhê-los.

Mady Benzencry faleceu em 11 de julho de 2003

Fontes:
Poesia e Poetas do Amazonas. 2006. Ed. Valer.
Jornal Amazonas em Tempo (03/06/2004)
http://www.sumauma.net/amazonian/literatura/biom/bio_mady.html
Fotomontagem = José Feldman

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