terça-feira, 23 de junho de 2009

Padre Celso de Carvalho (Poesias)


A lenda dos caminhos

No sertão muitas estradas
Foram e são mal medidas,
Umas de léguas mirradas,
Outras de léguas compridas.

Para explicar-me este fato
Na volta de uma fazenda
Um homem simples do mato
Contou-me um dia esta lenda.

A medição dos caminhos
Por estes matos rasgados
Foi sempre entregue aos carinhos
De pares enamorados.

Iria o casal andando,
andando sem trégua
para abraçar-se só quando
tivesse andando uma légua.

Havia casais velhinhos,
Havia-os jovens em flor,
Sofrem, por isso, os caminhos,
Das diferenças do amor.

Casais de velhos, suspensos,
Em recordar o passado,
Deixavam trechos imensos
Sem o sinal combinado.

Os jovens, não iam avante,
vendo que a légua aprazada
estava muito distante,
marcavam outras na estrada.

Isto explica medidas
de estradas tão desiguais:
às vezes léguas compridas,
às vezes curtas demais..
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Soneto (*)

Beth, não tenho luneta
como você imagina
que corajosa se meta
pela morada divina.

Vejo a lua, borboleta,
no céu-jardim, ou campina,
vejo mais longe um planeta,
uma estrela pequenina...

Mas ver a Nossa Senhora,
ver o céu onde Deus mora,
ou ver os anjos de Deus...

Ver isso, Beth, somente
um coração inocente
e olhos puros com os seus.

(*) Para Maria Elisabeth Becaccini, de Curvelo.
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Diamantina em Serenata

Quando a noite alinda lua
Torna as pedras cor de prata
Diamantina sai à rua
Transformada em serenata
Seresteiros indomados
Dedilhando violões
Levam música aos ouvidos
E saudade aos corações.

A seresta apaixonada
Corre as ruas do Macau
Capistrana Cavalhada
São Francisco, Burgalhau
Essas ruas serpeantes
É tão fácil entendê-las
Descem doidas por diamantes
Sobem ávidas de estrelas.

O Itambé mesmo de longe
Ouve os sons quase em surdina
Ergue as mãos azuis de monge
E abençoe Diamantina
Se de um sonho nada resta
Só saudade, só, mais nada,
Como é linda uma seresta,
Numa noite enluarada.
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