sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Rodrigo Andolfato (O Poeta no Papel)



FOI DE REPENTE...

Foi de repente...
O que era um sorriso,
tornou-se um olhar.
O que era o sol,
tornou-se o luar.

Foi de repente...
O que era brincadeira,
tornou-se a pista.
O que era prosa,
é poesia.

Foi de repente...
O ordinário tornou-se único.
O deserto, agora é mar.
O toque, arrepio.

Foi de repente...
Tanto tempo.
Num instante aconteceu.
O retrato tornou-se aquarela.
O chão se moveu.
Só importava ela.

E foi assim...
eu me perdi.
Apagaram as luzes,
ficou o desejo.
Era um abraço.
Tornou-se um beijo.
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MESMO SEM TE VER, EU SEI

Quem é você?
Que me acalma, quando estou prestes a explodir.
Quem é você?
Que me protege de mim mesmo.

Quem é você?
Que mostra o caminho, em silêncio.
Que me cala quando estou próximo da ofensa.
Que me acovarda diante da luta inglória.
E me encoraja quando precisam de mim.

Quem é você?
Que num flash mostra a imagem da tragédia.
Um relance de pensamento.
Um aviso oculto.

Por que me protege?
E não desiste de mim?
O que me deve?

O que é Você?
É Deus? É um anjo?
Alguém que conheci?
Eu não o vejo, mas sinto.
Nas pequenas coisas,
nas simples coincidências.

Consegue escutar meu agradecimento?
Minha oração?
Consegue ler meus pensamentos?
Implorando para que nunca se vá?

Quem é você?
Você não faz parte de mim.
É algo melhor.
Eu sou o andarilho.
Você é o caminho.
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VOCÊ ESTÁ NA ESTRADA

Eis que você está na estrada.
Todos nós estamos.
A estrada não é a mesma para todos.
Às vezes ela se parece.
Outras vezes em nada se assemelha.
Só sabemos que estamos na estrada.
Fora dela não há caminho a seguir.
A estrada possui encruzilhadas,
entroncamentos.

Possui atalhos e desvios.
Algumas vezes somos deixados sozinhos na estrada.
E temos que percorrê-la com nossos próprios pés.
Às vezes conquistamos um transporte.

Outros recebem um transporte.
E nos sentimos tristes. Porque enquanto uns ganham,
outros devem conquistar o seu transporte.
Muitos não têm transporte algum.

Alguns dias a estrada é fria e escura.
Outros dias é clara e quente.
E paramos, nos sentamos, apenas para admirar a estrada,
a sua beleza e complexidade.
Observamos o caminho que ainda temos que percorrer.

Fazemos planos.
Tentamos avistar o que existe depois da montanha.
Se ainda haverá estrada.

Outras vezes somos nós que largamos alguém na estrada,
sozinho e com medo.
Pessoas que amamos do fundo do coração.
Mas que não seguem mais o mesmo caminho.

Outras vezes percebemos que há pessoas que ficam pelo caminho,
que jamais chegarão a seu destino.
E nos perguntamos se amanhã não seremos nós.

Às vezes, quando estamos no meio do caminho,
percebemos que pegamos a estrada errada.
No último cruzamento ou mais atrás.
E temos que voltar, porque andar pelo caminho errado
é andar pra trás.

Alguns tem um mapa, outros não.
Às vezes, temos inveja de quem o tem.
Outros param para perguntar.
Alguns, com o mapa, chegam, outros não.

Alguns chegam, mesmo sem mapa ou transporte.
ou mesmo carregando algo mais pesado
do que ele parecia ser capaz.
Com suas próprias forças.

E a triste viagem dos que tinham transporte, mapas e nada a carregar,
mas não chegaram.
Por que?

Às vezes, ficamos muito tempo parado num cruzamento,
perguntando qual o melhor caminho a seguir.
Pois em seu inicio muitos caminhos são iguais.
Às vezes vale a pena arriscar, outras vezes não.
Que também é arriscar.

Às vezes gostamos de olhar o por do sol, por detrás da estrada,
Contemplá-la.
Pensamos sobre todos aqueles que ficaram para trás.
Sobre quem encontraremos.

Às vezes temos bons companheiros de viagem, outras vezes não.
Às vezes viajamos em silêncio.
Alguns vão em ônibus lotados e barulhentos.
Outros em carros, acompanhados por dois companheiros, ou três.
Alguns vão em motocicletas, sozinhos.
Em dupla talvez.

Uns admiram cada pedaço da paisagem.
Outros nem sequer olham em volta.
Os primeiros às vezes saem da estrada.
Os segundos às vezes não sabem o porquê estão nela.

Às vezes você está de motorista
Outras vezes está de passageiro.

Às vezes está num caminho que parece não levar a lugar nenhum.
Mas que te leva onde queria chegar.

Outras vezes acha que está no caminho, e encontra uma estrada sem saída,
Ou o fim da estrada.

Às vezes a estrada é de pedras,
Outras vezes é dupla, sinalizada e limpa,
Com ou sem pedágios.

Às vezes alguém te da carona.
Você da carona para alguém.
E você acaba encontrado pelo caminho, no meio do caminho,
aquilo que achava, estaria no fim da estrada.
Às vezes não há nada no fim da estrada.

Alguns são jogados para fora da estrada,
Outros se jogam.
Mas uma vez fora da estrada não há como voltar.

Você está nela.
Procurando seu caminho, olhando ou não a paisagem.
Você está de passageiro, ou de motorista.
Sozinho ou acompanhado, com ou sem um mapa.
Tudo que você quer é encontrar o que procura.
É saber o que procura.
É saber procurar.

Está é a estrada.
Está é a sua estrada.
A estrada da vida.
Você está nela.
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