domingo, 27 de dezembro de 2009

Alex Giostri (O plano B de cada Autor Brasileiro )




Não é de hoje que venho trabalhando com autores. Autores teatrais, autores literários, roteiristas, dramaturgos, autores de poemas nada poéticos, Adicionar imagemautores de textos banais, autores consagrados, autores equivocados, enfim, seres humanos que por causalidade da vida, por alguma circunstância, que não serei eu a dizer aqui qual foi, optou pelo fazer textual, seja lá qual o seu destino, a sua bitola, como se diz no cinema. Talvez a palavra opção não seja a melhor, pois há os que não tem outra senão o escrever, o que invalida o tal livre-arbítrio neste sentido e o põe na posição de necessitado, de um homem (ou mulher) que não conhece o mundo senão sob o olhar de suas palavras, que necessita e se salva no mundo das palavras, o que, aqui, na realidade, não nos importa, menos ainda se escreve bem ou mal. Não nos cabe um julgamento de valor, um critério se isso ou aquilo é bom ou nos agrada enquanto leitores.

O fato é que há autores espalhados pelos quatro cantos do país. Novos, velhos, jovens, idosos, rapazes, meninas, pessoas que são o que poderíamos chamar de a reciclagem do que se diz literatura. E o que é a literatura? E o que ou quem são essas novas pessoas? O que querem?

Naturalmente, alguns querem levar seus discursos adiante, mostrar ao que vieram e ampliar os seus universos aos universos de seus cobiçados leitores, outros querem se salvar de si mesmos, vomitar na tela do computador tudo aquilo que não são, ou o que são, ou o que querem ser e não conseguem. Há também os deslumbrados que querem ficar famosos, reconhecidos internacionalmente, assediados pelos pedestres nas ruas, enfim, há de tudo, como em qualquer ramo profissional.

Independente do objetivo de cada um, que é a única coisa que não nos importa aqui, cada escritor, e eu me incluo nesse pacote, quer sobreviver de seu ofício, de suas obras, de seu campo de pesquisa.

Para isso, há de se ter uma enorme coragem. Sim, coragem. Não está no mérito o talento de cada um. Talento é á ultima característica que é vista. Há de se ter uma enorme coragem para dizer para si mesmo que o que quer se tornar é um escritor, mesmo aqueles que dizem não terem escolha – a sua não escolha, torna-se também uma escolha -, mesmo esses, todos; há de se ter coragem para encarar a vida com uma tela de computador, um teclado, um mouse e idéias na cabeça. Há de se ter coragem para perder um ano e escrever um livro, sem saber se o resultado será satisfatório, se corresponderá às próprias expectativas, se toda a pesquisa feita sobre o assunto tratado na obra será bem direcionada, se os conflitos que entrarão no enredo serão bem conduzidos, se os personagens ficarão verossímeis, mesmo se a verossimilhança pretendida seja uma inverossimilhança quando postos numa balança de peso e medida no campo da vida real, se o tempo pretendido dentro da obra será bem delineado para absorver toda a narrativa imaginada, há de se ter coragem.

Mas não acabou. Com a obra pronta, há de se ter coragem para encarar a vida e as portas nas caras das editoras que quando muito, dizem: não, muito obrigado, volte amanhã. E há de se ter coragem quando, depois de três quatro anos da obra escrita, alguma alma generosa interessa-se pela obra e a publica. Está tudo resolvido. Não. É aí que começam os novos problemas, as novas agonias, as novas investidas no há de se ter coragem. Uma vez publicada, uma obra deve ter toda uma assessoria de imprensa. A assessoria de imprensa só se levantará de sua cadeira se o autor tiver alguma evidência na mídia, se for notícia, ou se a editora tiver um poder de compra muito alto.

Uma vez assessorado, o autor então começa a frequentar os programas de TV, de rádio e colunas literárias, tudo para que o seu livro alce vôo e saia como pássaro das livrarias, direto para casa dos futuros leitores. No entanto, a obra não sai. E por quê? Mas como, se foi tudo feito tão minuciosamente? Ninguém lê? Ninguém compra? Sim, naturalmente sim. Mas não o seu livro. Não o livro do João das Couves que chegou ontem. E essa é a realidade nua e crua, sem demagogia. Nem mesmo o poder de imprensa fará com que um livro seja vendido assim, de uma hora para outra. Há de se ter um gancho, há de se ter coragem para continuar tentando.

Aí então, o escritor, inconformado, depois de lamentar a sua existência sobre os pacotes de seus livros na sala de sua casa, passa para o plano B. Arruma um emprego num banco, vai trabalhar numa loja de shopping, vira balconista, faz faculdade de odontologia, de direito, casa-se com alguém que o financie, endivida-se num banco, ou então, respira fundo e passa a mais uma pesquisa, para uma nova obra, dessa vez a infalível, a que o tirará do fundo do poço, da lama. A palavra mais adequada a isso tudo é a persistência. É dela que se frutificará o alicerce sólido de cada escritor. É dessa persistência que será arrancada a sede de querer conquistar os próprios ideais, os sonhos realizados e o próprio sustento. Agora, essa persistência é muito dura de ser enfrentada sozinho.

Um escritor lutando sozinho não terá forças o suficiente. Mas isso é para qualquer ideal, como uma frase clichê que nem me lembro de quem é, mas não é minha que diz “que um sonho sonhado sozinho não é realidade”. Isso numa reflexão superficial já nos apresenta escancaradamente que o há de se ter coragem tão dito ao longo do texto significa que é fundamental que todos tenham coragem de permanecer no campo de batalha e que todos, principalmente os novos e idealistas, tenham sua força na força do outro, que se amparem e juntos formem o que está por vir, o que será... que é o que a literatura dita clássica hoje já foi; um dia ela também foi o que será, e pelos mesmos jovens que ontem eram cada um dos novos escritores de hoje e que hoje são tudo aquilo que os novos escritores, os reais novos escritores, querem para si, o ser apenas um escritor, reconhecidos e respeitados como tal, sobrevivendo modestamente e com dignidade de seu ofício, sejam indo pelo plano B ou não, mas juntos e unidos, sempre, ao longo da vida. Nunca sozinhos.

Fonte:
http://www.alexgiostri.com.br/artigos.html

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