quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte XXVII – final


IX. — Riquet à la Houppe
Ritual nupcial, Riquet mostra o poder mágico do amor sobre o ente amado.

1. — As variantes

Saintyves analisa esses contos nos quais o amor transforma a cônjuge. A mutação animal pode ser completa e constante (Le crapaud ) (O sapo) ou episódica (Le loup gris, L’homme Crapaud) (O lobo cinzento, O homem-sapo). O marido pode deixar sua mulher que não soube guardar um segredo (Le roi de Pietraverde). O homem, transformado em bicho, torna ao seu estado assim que uma mulher se decidir a beijá-lo ou a desposá-lo. (A Bela e a Fera, O Pentameron). As vezes a esposa é o personagem encantado (Perceval, La chaise de crapauds) (Parsifal, A cadeira dos sapos).

2. — Interpretações

A bela — a aurora — desposou o Sol que obscureceu; mas ao tornar-se cintilante ela deve segui-lo do Oriente ao Ocidente até a porta do palácio da noite.

Essa proibição de interrogar o ente amado significa para Saintyves o respeito de tabus nupciais. La veuve et ses filles torna-se ma das variantes de Barba-Azul: a história do casamento infeliz. Essas metamorfoses se referem às práticas de sociedades secretas pagãs ou religiosas: os membros, durante sua iniciação, revestiam peles de animais ou máscaras de animais.

É assim que essas narrativas mágicas de metamorfoses deram origem aos Pururavas, a Psiquê, a Riquet à la Houppa ou aos contos de Mme Leprince de Beaumont (Kusa le prince spirituel) (Cusa, o príncipe espiritual).

X. — O gato de botas

1. — Variantes

Se encontramos um conto semelhante em Pentameron (Gagluso), o conto de Zanzibar Sultant Darai assemelha-se muito ao nosso Gato de Botas. Mas quando a gazela benfeitora adoece, Darai esquece o que lhe deve; somente o povo lhe dedicará funerais públicos.

2. — Interpretações

A raposa da versão mongol é, sem dúvida, esse animal sagrado da Ásia mediterrânica, o gato é um animal feiticeiro (Europa); os gatos pretos acompanham as feiticeiras (Bodin). O gato calçado como os oficiantes persegue ritualmente a raposa e sem dúvida liga-se à liturgia egípcia: é o servidor do Sol.

Esse papel de proteção relaciona-se ao ritual da instauração dos antigos padres-reis das sociedades primitivas. Saintyves observa que o casamento prepara a ascensão ao trono e o futuro esposo troca de nome bem como o futuro rei.

Purificado pelas águas do rio, o herói veste novos trajes, é o cerimonial do coroamento; os súditos encontrados prestam obediência ao novo rei que toma posse do seu palácio: ritual de instauração real. Na maior parte dos contos o homem é ingrato; mas o animal pode demitir o rei que tem obrigações para com o seu povo.

A água é o emblema da ressurreição e da vida eterna. Com as águas maternais adquire-se um corpo novo que é o ritual do batismo. A água, essa fonte de Juvência, permitirá que Hera volte à virgindade depois de cada imersão na fonte de Canatos em Nauphie; eis ai uma reencarnação da qual aproveita o nosso marquês de Carabas.
------------------------------------------------------

BIBLIOGRAFIA SUMÁRIA

LANGLOIS, Monuments littéraires de l’Inde (Lefêvre, 1827).
FALIGAN, Ernest. Histoire de la légend de Faust (Hachette, 1887).
A. VAN GENNEP, La formation des légendes (Flamamarion, 1910).
MENENDEZ PIDAL, L’épopée Gastillane (Colin, 1910).
GENDARME DE BEVOTTE, La légende de Don Juan (Hachette, 1906 e 1911).
J. LOTH, Romans de la Table Ronde (Paris, 1912).
PARIS, Gaston. Légendes du Moyen Age (Hachette, 1912).
BÉDIER, Joseph. Les légendea épiques (Champion, 1914).
COSQUIN, Emmanuel. Etudes folkloriques (Champion, 1922).
BOISSONNADE, La chanson de Roland (Champion, 1923).
PAUPHILET, Quête du Graal (Champion, 1923).
SAINTYVES, Les contes de Perrault (Nourry, 1923).
A. VAN GENNEP, Le folklore (Stock, 1924).
GUENON, Le roi da Monde (Paris, 1927).
LORENZI DE BRADI, Don Juan (Librairie de France, 1930).
BIANQUIS, Genevieve. Faust à travers quatre siècles (Droz, 1935).
SAINTYVES, Manuel de folklore (Nourry, 1936).
DONTENVILLE, Henri. La mythologie française (Payot, 1949).
LOEFFLER-DELACHAUX, La symbolisme des légendes (L’Aréhe, 1950).
MARX, Jean. La légende arthurienne (Presses Universitaires de France, 1952).
SAUVAGE, Micheline. Les cas Don Juan (Le Seuil, 1953).

Fonte:
BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores

Nenhum comentário: