domingo, 27 de dezembro de 2009

Jerônimo Mendes (História da Poesia Universal – Breve Relato ) Parte VI



Henrique Heine é considerado o segundo maior poeta alemão do século passado e o maior poeta judeu de língua alemã, em qualquer tempo. O primeiro, naturalmente, é Goethe, que, de resto, velho e consagrado, não deu a mínima atenção ao seu conterrâneo.

Sua origem criou alguns problemas para Hitler, mas não para Ezra Pound, que o admirava e traduziu, neste século finalizante. Foi contemporâneo de Byron 1 e, pode-se dizer, byroniano, pelo cinismo anti-romântico e pelas posições políticas rebeldes e revolucionárias, mas superou-o pela finura e precisão de sua arte poética. Converteu-se ao catolicismo e ao protestantismo, seguindo conveniências; foi amigo de Karl Marx, criou o famoso slogan “A religião é o ópio do povo “, encontrou abrigo na Paris das lutas republicanas, expulso da Alemanha pela política prussiana.

Sua prosa narrativa de viagens e suas canções tornaram-no famoso antes dos trinta anos, bastando dizer que o seu livro de canções teve treze edições enquanto ainda era vivo, canções essas que foram musicadas por Schubert e Schumann, entre outros.

Em 1848, data de publicação do Manifesto Comunista , em visita ao Museu Louvre, em Paris, sofreu um desmaio diante da Vênus de Milo: era a sífilis medular que o mandou para a cama durante oito anos, enquanto duas mulheres se picavam ao seu redor, pela grande fama e pequena fortuna, por conta de seus poemas românticos, como a jóia que coletamos de sua obra :

Violeta - brilho dos olhos
Lírio - brilho das mãos
Rosa - brilho das faces
Violeta, rosa, lírio :
Flores do coração secas.

Jean-Nicolas Arthur Rimbaud é o demoníaco anjo loiro da poesia ocidental moderna e um dos maiores mestres da poesia de todos os tempos (Décio Pignatari, p.130). Amigo de Baudelaire, foi um nômade que rompeu as convenções poéticas, estéticas e sexuais de sua época.

Nascido em Charleville, pequena cidade do interior da França, nas Ardenas, fugiu de casa pela primeira vez, aos dezessete anos; nessa e em muitas outras ocasiões, nos rolos que apresentava em suas andanças, resgatado pela mãe (por quem, de resto, não nutria estima qualquer). Em 1862 ingressou no Collège Charleville e em 1870 fez amizade com seu professor de retórica George Izambard. Em 1871 escreveu ao amigo Paul Demeny a “ Carta do Vidente “, seu manifesto poético e existencial. Rebelde, ateu, antimonarquista, não tardou a mandar-se para Paris, novamente, a Paris da Comuna, à qual aderiu, embora estivesse em Charleville, quando os communards foram esmagados.

Como que entediado, escreveu suas primeiras obras-primas com dezessete anos, tais como Ma bohème e Cabaret vert. Como se isso fosse pouco, pouco antes de completar dezoito anos compôs Le bateau ivre (O Barco Bêbado), um de seus poemas mais surpreendentes e famosos, ao lado do poema em prosa, Une saison en enfer (Uma Temporada no Inferno), que compôs e publicou às suas custas.

Em 1872 fugiu para a Bélgica com seu amigo poeta Verlaine, dez anos mais velho e que abandonou a mulher grávida e saiu pelo mundo, seduzido pelo anjo loiro. Em seguida partem para a Inglaterra onde, juntos, levaram uma vida miserável, entre disputas, discussões, tiros e cacetadas. Em Paris, dois tiros, um fere-lhe a mão : dois anos de cadeia mais multa. Em 1875, viveu em Stuttgart, na Alemanha, onde escreveu seus manuscritos famosos de Illuminations. Depois de viajar pela Áustria e Holanda, retornou, retornou à Alemanha e trabalhou como intérprete do Circo Loisset, excursionando pela Suécia e Dinamarca.

Rimbaud é um grande entre grandes, os grandes eram todos simbolistas e levavam o nome de Baudelaire, Mallarmè, Corbière, Verlaine. Em sua vida nômade, conheceu Alexandria, trabalhou no Chipre e visitou o Oriente Médio. Realizou expedições, comercializou peles, marfim e chegou a traficar armas e escravos na África. Segundo Rodrigo Garcia Lopes (1996 : 164), a poesia do trajeto de Rimbaud reflete a velocidade e pressa de ver e viver tudo ao mesmo tempo :

“ ... suas idas e vindas a Londres, suas vadiagens por Paris, Bruxelas, Stuttgart, no período de redação de suas famosas Iluminuras, acabaram fazendo com que o dinamismo também se revelasse a nível textual. O poeta insistia na Ação; ler, escrever e pensar caminhando, incorporando ou coletando os dados tal como acontecem durante o trajeto embriagado pelas ruas em que se “caça crônicas” como se fosse um “cavaleiro selvagem ”.

Rimbaud morreu em dezembro de 1891, vítima de um tumor cancerígeno no joelho direito agravado por uma antiga sífilis e depois de ter uma das pernas amputada. Há um século o poeta vêm apaixonando e alimentando diversas gerações de leitores sendo capaz de influenciar escritores tão diferentes com Proust, Ezra Pound, Samuel Beckett e Jim Morrison. Um pouco de sua obra, hoje parte integrante e fundamental na poesia universal :

MARINHA

As carroças de cobre e prata -
as proas de prata e aço -
Espalmas espumas, -
esgarçam macos de sarças.
As correntezas da roça,
E os sulcos imensos do refluxo,
fluem em círculos rumo a leste,
rumo às hastes da floresta, -
rumo aos fustes do quebramar,
cujo ângulo é ferido por turbilhões de luz .

Aos 33 anos estava de cabelos brancos. Aos vinte, não era mais poeta. Nesta década corrente, no centenário de sua morte, foi lembrado e muito comemorado, onde quer e por quem que tivesse interesse real pela poesia do planeta Terra. Rimbaud foi um dos seus melhores representantes.

Ralph Waldo Emerson, ensaísta, professor e poeta, foi um dos grandes expoentes da literatura norte-americana do século XIX. Depois de abandonar o trabalho como prelado da igreja unitarista, passou a residir em Concord, Massachussetts, onde se tornou figura central entre os transcendentalistas.

O verdadeiro evangelho do grupo, apresentado em seu ensaio Nature (1836), mereceu pouca atenção, mas com os discursos O Erudito Americano (1837) e O Endereço da Escola Divin (1838), despertou muita polêmica. A publicação dos primeiros volumes de Ensaios (1841) e Poemas (1847), e de Homens Representativos (1850), resultou em grande prestígio dentro e fora dos Estados Unidos. Emerson foi o maior pensador do chamado “renascentismo americano” de meados do século XIX.

Em seus Ensaios sobre Auconfiança, História, Leis Espirituais e Amizade entre outros, Emerson despeja toda sabedoria de um homem consciente dos valores da vida e maturidade suficiente para orientar uma multidão de pessoas. Todos eles são iniciados por um poema de maior profundidade que o outro e em simples há muito mais verdades que nas centenas de páginas restantes, tal como o abertura do ensaio Prudência, que transcrevemos a seguir:

“ Nenhum poeta cantou de bom grado um tema
caro aos velhos e infame aos jovens,
nas desdenhes o amor pelas vozes na melodia
nem os objetos das artes.
A grandeza da perfeita esfera celeste
deve-se aos átomos que juntos se mantêm”.

O sensível polonês Guillaume-Albert-Wladimir-Alexandre-Apollinaire–Kostrowitzky é o maior poeta francês do Século XX, ao lado de Paulo Valéry, que representa a sensibilidade antiga, simbolista e pós-simbolista. Imerso nas vanguardas artísticas do início do século, tais como cubismo, futurismo e orfismo, é um poeta confluente e defluente. Confluem Mallarmé (ideografia) e Rimbaud (dessemantização); defluem muitos, a partir de dada e o surrealismo, incluindo brasileiros de gerações literárias várias, como Mário de Andrade, Vinícius de Moraes, Oswald de Andrade.

Segundo Décio Pignatari (1996 : 132), talvez o projeto mais revolucionário de Apollinaire esteja menos nos seus caligramas, mesmo ambiciosos, como o de Lettre Océan, do que na paratatização sistemática, que ele chamava de simplificação sintática, cujo melhor exemplo é o de As Janelas, inspirado num quadro pioneiro do abstracionismo geométrico, da autoria de Robert Delaunay.

Filho de uma aventureira e de um padre, viveu na França estranhas e tumultuadas peripécias, que incluem involuntária receptação de estatuetas roubadas do Louvre, composição de anônimas obras pornográficas e reiterados casos de amor conflituosos, o mais célebre dos quais com uma aristocrática quarentona hunguenote, Louise de Coligny-Châtillon, a Lou (loup = lobo) de seus poemas ( repelido, engaja-se no exército francês, como artilheiro, e vai para a guerra; a moça, patrioticamente tocada pelo seu gesto, vai ao seu encontro, mas o namoro dura poucas semanas: apavorada com a truculência erótico - amorosa do poeta, rompe e foge). Naturalizou-se francês, foi ferido na cabeça, condecorado, passou por uma trepanação, apanhou uma pneumonia e deu-se bem, mas não escapou da gripe espanhola, que o matou a poucos dias do armistício. Foi dos primeiros poetas a registrar poemas em disco. Retratado por Picasso, o Douanier Rousseau, Marie Laurencin (também sua namorada) e Vlaminck.

Seus poemas, escritos sem pontuação, revelam uma clara tentativa de vanguardismo, tanto na forma quanto no conteúdo, a exemplo do que transcrevemos a seguir , em seus Versos a Lou :
[ . . . ]
Os ramos que se agitam são seus olhos que tremem
Vejo você em toda parte você tão bela tão terna
Os pregos dos meus sapatos brilham como os seus olhos
A vulva das jumentas é rosada como a sua
E nossas armas engraxadas são como quando você me quer
A doçura da minha vida é como quando você me ama . . .

Outro poeta de maior importância no desenvolvimento da poesia foi o norte-americano Thomas Stearns Eliot , nascido em 1888, naturalizado cidadão britânico e morto em 1965 e, seguramente, a mais potente influência moderna dos domínios da crítica da poesia e talvez o mais discutido e comentado poeta da modernidade.

T. S. Eliot trouxe ao espírito a idéia de Henry James, procurando na Inglaterra uma tradição que não encontrou na América, a preferência pela ilha. Tal tradição, que ele iria investigar nos clássicos greco-latinos e nos pilares da literatura inglesa; desde Chaucer e Milton, Dryden e Coleridge, ele trouxe para a sua própria poesia, toda ela eminentemente alusiva. Por outro lado, criou a idéia da “poesia dos poetas” chegando a certas obscuridades - como as que se encontram em The Waste Land (A Terra abandonada), o poema mais influente do século.

A elite cultural freqüentemente considera a possibilidade de que seus versos resistirão mais ao tempo que os de Ezra Pound, também criptógrafo de sua poesia. É que perpassa pela poesia de Eliot um sopro às vezes mais liberto e espontâneo que a atmosfera freqüentemente irrespirável do Pound dos Cantos.

Os ensaios de Eliot são verdadeiros clássicos da modernidade, deles derivando inúmeras expressões e conceitos que balizaram grande parte da crítica e da teoria literárias desde então. Eliot também tentou também um revival do drama em verso.

O pequeno trecho do poema A Canção de Amor de J. L. Prufrock que aqui transcrevemos foi aquele com que se lançou na poesia - já estribado em uma epígrafe de um poeta que marcaria muito os seus passos - Dante (Referimo-nos aqui ao poeta italiano Dante Alighieri, pelo qual Eliot tinha grande admiração e que terminou por influenciar todo seu pensamento poético) - o que desde já reflete um recurso freqüente na técnica eliotiana, ou seja, a mesclagem do coloquial e do elevado, que tanto o caracterizou :

Vamos, pois, você e eu,
quando o entardecer se expande contra o céu
como um paciente anestesiado na mesa;
vamos por certas ruas quase sem passantes,
os refúgios murmurantes
de inquietas noites nos hotéis baratos de uma só dormida
E restaurantes cheios de serragem
que as conchas de ostra vai unida :
ruas que seguem como debates tediosos
com objetivos insidiosos
de levá-lo a uma pergunta esmagadora . . .
Oh, não diga “qual, essa questão esquisita ?”
Continuemos, façamos nossa visita.

Seu poema A Terra Devastada, enigmático e dividido em cinco partes, reflete a experiência fragmentada do homem urbano do século XX . A obra tornou-se um marco do modernismo e fez de Eliot um porta-voz de uma geração secularizada e desiludida. A partir de 1925, reuniu um grupo de poetas, inclusive Auden, Spencer e Pound, que representou a principal corrente do moderno movimento poético.

Eliot exerceu grande influência como crítico e poeta. Entre seus vários livros de crítica está O Bosque Sagrado: Ensaios sobre Poesia e Crítica (1920). Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1948. Entre os grandes mestres da literatura universal e mais influentes na língua portuguesa destacamos Fernando Antonio Nogueira Pessoa. Filho de família burguesa, foi criado na África do Sul, fazendo do inglês sua segunda língua. De volta a Lisboa, abandonou os estudos universitários para tornar-se autodidata. Ganhava a vida como correspondente de casas comerciais, até que em 1912 publicou os primeiros ensaios de crítica da moderna poesia portuguesa, na revista A Águia.

O ano de 1914 foi decisivo para a evolução literária de Fernando Pessoa; nesta data nasceram os três principais heterônimos, personalidades distintas a quem o poeta atribuiu a autoria de suas poesias, em estilos bastante diferentes, mas que apresentam a unidade no que diz respeito à natureza psicológica enigmática de cada um. São eles : Alberto Caeiro , observador irônico, autor dos ciclos O Guardador de Rebanhos e Poemas Inconjuntos ;Álvaro de Campos, influenciado por Walt Whitman (Poeta norte-americano do século passado que exerceu grande influência na poesia de seu país liberando seus seguidores das convenções formais), canta a cidade moderna e a técnica em Tabacaria, Ode Triunfal e Ode Marítima ; Ricardo Reis compõe odes bucólicas e elegíacas. As poesias assinadas com o próprio nome são mais simples e cheias de emoção, como O Último Sortilégio e Autopsicografia. Seus poemas apareceram nas revistas Orfeu, Portugal Futurista e Presença, das quais participava com o círculo de amigos.

Apenas com a publicação das Obras Completas, em 1943, teve início a sua influência sobre as novas gerações de poetas, inclusive no Brasil. Fernando Pessoa é tido como o maior poeta português desde Camões. Duílio Colombini foi um dos maiores especialistas brasileiros em Fernando Pessoa e, durante vinte anos, lecionou em diversas faculdades e universidades, entre elas a USP, divulgando a obra e vida de poeta.

A seguir transcrevemos um pequeno poema minimalista de Pessoa, inserido na compilação de sua obra pelo estudioso e de grande profundidade :

Ah, tudo é símbolo e analogia !
O vento que passa, a noite que esfria,
São outra coisa que a noite e o vento -
Sombras de vida e de pensamento.
Tudo o que vemos é outra coisa.
A maré vasta, a maré ansiosa,
É o eco de outra maré que está
Onde é real o mundo que há.
Tudo o que temos é esquecimento.
A noite fria, o passar do vento,
São sombras de mãos, cujos gestos são
A realidade desta ilusão.


Outros poetas de nome internacional deveriam ser citados nesta monografia pela sua importância no mundo da poesia, mas não podemos encerrar este capítulo sem mencionar alguns poetas brasileiros que hoje gozam de todas as glórias do mundo da literatura, grandes pela coragem exercida no seu tempo, grande pelas mensagens perpetuadas nos poemas.

No Brasil, Gregório de Matos Guerra, O Boca do Inferno, é com certeza um dos autores mais controversos do período colonial e da literatura em seus primórdios. Nascido na Bahia a 20 de dezembro de 1623 (A data não é precisa, alguns historiadores datam o nascimento no ano de 1636), filho de família abastada, estudou no colégio dos Jesuítas de Salvador. Em 1650 viajou para Lisboa com o objetivo de dar continuidade à sua formação intelectual, onde se matriculou na Universidade de Coimbra, tornando-se Bacharel.

Seu prestígio literário sempre sofreu apreciáveis oscilações, e ainda hoje o consenso crítico sobre sua obra e importância no processo global da nossa formação literária não foi estabelecido. As reações em torno da sua produção variam, ao longo do tempo, e em função de vários fatores, da apologia e adesão gritante, à críticas insubstanciais, passando por avaliações insustentáveis. Gregório de Matos foi, sem dúvida, um dos maiores representantes da literatura barroca nacional. A parte mais significativa de sua obra é lírica, de caráter sacro, porém ficou mais conhecido pela sátira à nobreza e ao clero, o que lhe valeu um sem-número de desafetos.

Hoje, porém, há quase um consenso de que foi ele o iniciador da literatura brasileira, apesar do caráter esparso de sua obra, escrita na Bahia, em Coimbra, em Angola e no Recife, lugares onde estudou e ocupou cargos públicos de destaque. Gregório de Matos se constitui num problema literário de amplas proporções, e as diversas formulações em torno de sua obra e de sua validade estética e cultural trazem embutidas matrizes e paradigmas de compreensão e avaliação da tradição e da cultura brasileira.

Para muitos é o nosso primeiro grande autor propriamente nacional, aquele que começou estabelecer o diálogo permanente - do qual se alimenta a cultura brasileira - entre o dado local e as matrizes externas; para outros não passa deu poeta de relevo e importância relativas. Independente dessas divergências conceituais e críticas é inegável que ele está incorporado de uma forma ou de outra à cultura letrada brasileira, e continua despertando interesse pelos mais variados motivos.

Como se sabe sua obra poética é basicamente dividida em dois eixos principais : a produção lírica e a satírica. A primeira foi nitidamente marcada pela temática amorosa, ou pela temática religiosa, em meio as quais repontam sempre temáticas seiscentistas por excelência.

Já a segunda oscila entre a sátira social e a sátira política, de maior ou menor abrangência, indo do geral ao particular, do dado individual às estruturas coletivas.

Seu conjunto de poemas dá bem a dimensão da produção poética e do comportamento intelectual, e mesmo pessoal, que lhe valeu o qualificativo de Boca do Inferno. Neles é possível apreciar diversas facetas do autor, e avaliar um conjunto de comportamentos e valores culturais particulares ao século XVII que gravitam em torno da questão da sexualidade, e que ainda têm razoável circulação no nosso imaginário.

Ao mesmo tempo documento histórico e obras literárias autônomas, independentemente da perspectiva pela qual forem avaliadas, os poemas têm um valor cultural e antropológico indiscutível 1, motivo pelo qual não deixamos de transcrever um trecho da sua preciosidade, enviado a umas freiras que mandaram perguntar por ociosidade, ao poeta, a definição de príapo, e ele mandou a definição em décimas :

Ei-lo, vai desenfreado,
que quebrou na briga o freio,
todo vai de sangue cheio,
todo vai ensangüentado.
Meteu-se na briga armado,
como quem nada receia
foi dar um golpe na veia,
deu outro também em si,
bem merece estar assi
quem se mete em casa alheia.

Em 1969, James Amado publicou todos os escritos que se atribuem ao poeta, em sete volumes e muito do que escreveu chegou fragmentado aos dias de hoje, mas, sem dúvida, Gregório de Matos não será ignorado jamais. Para não alongarmos demais a monografia, optamos pela inclusão da vida e obra de Gregório de Matos Guerra e, sem menosprezar os demais importantes poetas (principalmente os da fase romântica, como Gonçalves Dias, Castro Alves, Casimiro de Abreu e Gonçalves de Magalhães entre outros).

Incluímos também aquele que, talvez pela maior proximidade com ele neste século, vêm provocando ao longo de cinqüenta anos um gosto maior pela poesia e literatura nacional, digno das mais tresloucadas críticas e também dos mais sinceros e honestos elogios : Carlos Drummond de Andrade, mineiro de Itabira. Drummond, como ficou conhecido no mundo todo, teve seus poemas traduzidos para mais de 25 países. Poeta e prosador, em 1930, junto com outros companheiros, fundou A Revista, que teve vida curta mas considerável influência no movimento modernista.

Seus primeiros livros, Alguma Poesia (1931), Brejo das Almas (1934) e Sentimento do Mundo (1940) mostraram o impasse entre o artista e o mundo. Em A Rosa do Povo (1945) apresentou uma poesia de certa forma engajada. A partir de Claro Enigma (1951) registro o vazio da vida humana e o absurdo do mundo, e enriqueceu a pesquisa de novas formas da utilização das palavras. Em 1928, seu poema No Meio do Caminho, publicado em São Paulo na Revista Antropofagia, se transformou no maior escândalo literário da época :

No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho / tinha uma pedra / no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento / na vida de minhas retinas tão fatigadas. / Nunca me esquecerei que no meio do caminho / tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho / no meio do caminho tinha uma pedra.


Drummond foi um dos maiores poetas brasileiros contemporâneos e exerceu grande influência nas gerações que se seguiram. Tem sido traduzido para vários idiomas e consta de inúmeras antologias estrangeiras, principalmente o poema O Mundo é Grande :

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

Depois de estudar todos esses poetas, pergunto a mim mesmo : Quem foi o maior poeta dos últimos tempos ? Quem é o maior de todos ? Todos são maiores ?

Felizmente, pela mais simples e humilde interpretação, não posso julgar esse ou aquele como maior ou melhor de todos. Como já disse anteriormente, cada um teve sua importância em sua respectiva época e minha alegria maior foi saber que todos tiveram foram brilhantes à sua maneira.

A poesia universal não foi generosa com todos os poetas, mas, com toda deficiência, reconheceu tardiamente alguns e outros ainda penam no anonimato. Deixamos de citar vários nomes de grande influência no meio literário e que, certamente, poderíamos discorrer sobre eles com o amplo e farto material que tivemos ao nosso alcance.

Milton, Hartcrane, W.B. Yeats, D.H.Lawrence, Brodski, Pound, Michelangelo, Byron, Petrarca, Burns, Cecília Meireles, Fagundes Varella, Cecília Meireles, Oswald de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Thiago de Mello, a lista parece interminável, mas, em verdade, é limitada, pois são mentes privilegiadas, amadas pelos seus povos e seguidores.

Os alemães continuam amando Heine e Goethe; os ingleses, Shakespeare e Auden; os franceses, Rimbaud e Baudelaire; os norteamericanos, Emerson e Eliot; os portugueses, Camões e Fernando Pessoa; os chilenos amando Neruda e nós, brasileiros, seguiremos amando Castro Alves, Augusto dos Anjos, Drummond, Thiago de Mello . . .

Fonte:
Monografia feita pelo autor em Curitiba / PR , março de 2001

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