segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Poesias Gauchescas II



Antônio Pereira Mello
QUERÊNCIAS

Gauchada rio-grandense
Sou um gaúcho mui sério
Tenho alma de gaudério
Um dia tomei consciência
Piquei o pingo na espora
E saí estrada afora
Pra conhecer outras querências.

Um dia subi a serra
Saí de casa cedinho
Meu destino - sobradinho -
Queria conhecer tudo
Naquela serra bacana
Arroio do Tigre, Ibirama,
E a cidade de Agudo.

Depois fui pra fronteira
Eu vos digo agora aqui
Que lá no velho Itaqui
Tem muita prenda aragana
Eu lembro a todo momento
De Sant'ana do Livramento
E também de Uruguaiana.

Querências do meu Rio Grande
Umas conheço, outras não
Nesse imenso rincão
Que é o nosso pampa gaúcho
Onde tem prendas decentes
E a gauchada valente
Que agüenta qualquer repucho.

Rio Grande, terra querida
Querência que eu amo tanto
Uma coisa eu te garanto
Eu sou um índio sem luxo
Meu orgulho é ser gaúcho
Filho desse pago santo.
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Apparício Silva Rillo
GAÚCHO VELHO

Gaúcho velho que foste menino
nos entreveros de noventa e três!
Brigaste a vida toda com o destino
e o destino apanhou mais de uma vez!

Está na hora de largar o flete
para a invernada das melhores águas,
e pra lembrança, pelo mesmo brete,
teu passado de risos e de mágoas!

Quanta geada no cabelo escasso
do tapejara que caiu no laço
que a mão do tempo lhe atirou por trás!

Culatra de uma tropa caborteira
que deixou fama e rastro na poeira
pra tropa nova que vem vindo atrás…
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Autor Desconhecido
ARROZ DE CARRETEIRO

Prato simples que sustenta,
O arroz de carreteiro
É rude manjar campeiro
Com sabor tradicional.
Esta iguaria bagual,
Dos tempos de antigamente,
Ganhou fama e, de repente,
É prato tradicional.

Arroz gaúcho, amarelo.
Charque gordinho, cebola
Daquela roxa, crioula
E o verde é salsa picada.
Panela preta areada,
Água quente na cambona,
Colher de pau, Mangerona,
Parece não faltar nada.

Charque picado a capricho
Tem que ser bem escaldado,
Escorrido e colocado
Na panela novamente.
Quando corar, simplesmente
Bote a cebola picada,
Quando esta ficar dourada
Ponha um pouco de água quente.

Baixe o fogo e bote a tampa
Enquanto o charque cozinha.
De vez em quando, uma agüinha
Pra que não fique queimado.
Aí o arroz é lavado
E a Mangerona tem vez,
Mais uma agüinha, talvez,
Garantindo o cozinhado.

Estando o charque macio,
Bote o arroz pra que se aquente.
Revive continuamente
Com calma e muita paciência.
Baixe o fogo, por prudência.
Bote água na cambona,
Prove o sal e a Mangerona
Que são, do gosto, a essência.

Quando o arroz ficar cozido
E ainda estiver molhado,
Tire a panela de lado,
Ponha a salsa e deixe estar.
Chame a turma pra almoçar
E sirva até o bem do fundo
Pra contentar todo mundo
Com delicioso manjar.
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Autor Desconhecido
CHIMARRÃO


Oh! filtro misterioso e ardente
De solilóquios companheiro.
Teu convívio tão prazenteiro
Transforma-te em meu confidente.

Ao sorver-te alegre ou triste,
Alio aos meus sentimentos
alegrias, desalentos,
tudo que em minh'alma existe.

Na eloqüência do teu mutismo
colho a censura com humildade,
recebendo o aplauso sem vaidade,
teus conselhos com altruísmo.

Velha herança guarani!
Oh! meu mate-chimarrão!
Agridoce infusão que resuma até:
amizade, amor, fé.
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Autor Desconhecido
RIO GRANDE

Ser gaúcha não precisa
ter nascido aqui no sul
basta amar o céu azul
e gostar do mate-amargo
do sopro do minuano
que vem nos fazer afago
Este ventinho nativo
que faz parte deste pago.

Ser gaúcha meus senhores
é trazer dentro do peito
com todo amor e respeito
a gloriosa tradição
usar vestido de chita
dançar xote e chimarrita
nos fandangos de galpão.

É trazer no coração
um Rio Grande assim pequeno
molhado pelo sereno
no frescor da madrugada
é gostar da gauchada
é amar o joão-barreiro
e ter a simplicidade
deste povo hospitaleiro!

Amar o cheiro da terra
misto de agreste e selvagem
é o gado na pastagem
pra enfeitar as campinas
são as águas cristalinas
numa incansável viagem
indo ao encontro do mar
levando doce mensagem

E o grito do quero-quero
autêntico sentinela
é o barulho da cancela
do peão voltando pra estância
é ter no peito esta ânsia
de vida paz e esplendor
é cantar todo encanto
Rio Grande feito de amor!
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Autor Desconhecido
PRECE DO CAVALO


Ouve, atende tu que és meu dono,
quando te imploro:

Dá-me que comer e dá-me que beber,
trata-me com carinho ao terminar o
trabalho diário que me exiges;
proporciona-me um bom alojamento,
cama limpa e seca, baia larga e espaçosa,
para que eu possa me deitar com comodidade.

Fala comigo.
Tua voz me indicará melhor
o que devo fazer, do que
o teu chicote ou as tuas esporas.

Acaricia-me às vezes senão muitas,
que desse jeito te servirei
com mais alegria e muito mais saberei te amar.

Não puxes inutilmente pelas rédeas,
não me castigues ao subir uma ladeira,
não me obrigue a sofrer
pesos superiores às minhas forças.

Não me castigues jamais quando
te não tenha compreendido;
procura sempre fazer-me
compreender o que de mim queres.

Olha-me com atenção todas as vezes
que eu deixar de fazer o que me ordenas;
vê se há alguma cousa que não me convenha
ou me ofenda nos arreios ou nas minhas patas.

Quando vires que evito comer
ou resisto ao bom governo,
examina os meus dentes e as minhas barras,
talvez seja um dente dolorido
ou a existência de ferimentos nas barras.

Não tenhas presa a minha cabeça em posição forçada,
de modo que me prive de deitar,
nem me prives da minha defesa
contra as moscas e mosquitos
aparando-me exageradamente a cauda
e os pêlos dos esporões e das quartelas.

Enfim, peço-te me livres do mormo e das esponjas.

Quando se esgotarem as minhas forças
para o serviço não me separes de ti
para que eu não morra de fome ou de frio;
não me vendas a um dono cruel
que me vá torturar pela fome
e pelo trabalho que eu não posso mais dar.

Tira-me antes a vida
por meios mais brandos e menos dolorosos.

O teu Deus há de recompensar-te
pela caridade com que tratas
um ser inferior que também
nasceu numa estrebaria.
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