terça-feira, 7 de abril de 2009

Nilto maciel (Artur Eduardo Benevides e os Mistérios do Conto)


Tido como um dos maiores poetas cearenses de seu tempo, Artur Eduardo Benevides pratica o conto também desde longas datas. Braga Montenegro, o mais completo estudioso da história curta no Ceará, no ensaio “Evolução e natureza do conto cearense”, publicado pela primeira em 1952, na revista Clã, lembra do poeta “um conto muito bom, premiado num concurso, demonstrando ali acentuadas inclinações para o gênero, sobretudo a facilidade de realçar a justa gradação trágica, contudo numa forma nem de todo isenta do transbordamento vocabular”.

Lembra também o livro Caminho Sem Horizonte, de 1958, “em que reúne nove estórias, todas acomodadas numa estreita faixa de temas, sem maior esforço experimentalista e sem penetração no espaço da literatura, isto é, no espaço dos mitos e dos símbolos poéticos”. Com a publicação do volume A Revolta do Computador e Outros Contos de Mistério, em 2001, Artur demonstrou ser contista não somente inclinado para o gênero, mas capaz de compor um conjunto de peças insólitas em dialeto irrepreensível e, ao mesmo tempo, de agradável leitura. A coleção abarca 17 narrativas curtas, em linguagem concisa, enxuta, límpida e livre de transbordamentos vocabulares.

Há, pelo menos, três tipos de história no livro: os realistas, os neogóticos, como quer Révia Herculano, e os de ficção científica. Nos dramas vividos pelos personagens do dos dois primeiros grupos a realidade cede lugar à fantasia, ao mistério, ao inusitado, ao extraordinário, ao inesperado. Podem ser vistos como realistas aqueles em que pouco de mistério se pode vislumbrar em suas tramas, embora nos desfechos se encontrem laivos de obscuridade dos fatos. Em “O Grito Final”, o narrador Nimrod, domador de serpentes, fala para gravador portátil, momentos antes de sua morte. Picado pela serpente Peralta, ao se distrair com a presença de Moya, sua “pequena” de anos atrás, espera a morte. Em “A Sede”, o narrador é “doido varrido”, em cidade pequena, fustigado por alucinações e, ao mesmo tempo, alucinado por mulheres.

Estranhamente, essas mulheres vão morrendo, sem que se saiba se ele as matou ou não. Primeiro a tia Ana, encontrada no chão sem vida, “depois de uma trovoada sem fim”. Depois Lindalva, que trabalhou em sua casa algumas semanas. Logo em seguida, Tiana. “E outras mais”. História realista, mas ao mesmo tempo de cunho misterioso. De feitio semelhante a este é “Pesadelo”. O narrador conta episódios de sua infância nas matas de Marajó. Como em outras narrativas, a selva amazônica é o palco desta trama. O protagonista tem pesadelos e em sua mente se embaralham as figuras do avô, do pai desconhecido, da mãe prisioneira em casa, de índio xapacura que guardava a mãe do narrador e um dia o empurrou e pôs o pé enorme no seu peito, da professora morta e, finalmente, da filha manca, Aglaê. A selva é misteriosa, a vida na selva é misteriosa, o narrador é misterioso e mais misterioso é o desfecho, no qual pode ser entrevisto relacionamento incestuoso: “Chamo-a docemente, (...) Ela vem devagar e sinto suas pisadas como se fossem o pé enorme do xapacura sobre o meu peito, nas noites de longos pesadelos e relâmpagos clareando o pantanal (...)”.

Em “A Serpente Enciumada”, uma das mais belas peças da coleção, outra cobra é fundamental no enredo. O narrador é herdeiro de fortuna deixada por tio exótico, colecionador de “cousas e bichos”. Diferente do morto, o homem se livra, aos poucos, de quase todas as coleções, menos de uma serpente, Dafne. Em dado momento planta no leitor uma dúvida: “Não sei se Dafne é mulher. Para mim, é apenas uma serpente”. Ora, no imaginário popular (em lendas e mitologias) a mulher é serpente. “Tia Heliodora ou o Clarão da Súbita Bondade” (título inadequado para a beleza da peça) é tipicamente realista. Narrado por menino, os personagens principais são a solteirona Heliodora e um leproso. A trama se desenrola num tempo em que os hansenianos eram recolhidos em asilos e, quando saíam às ruas, tocavam sineta, para avisar os cidadãos de sua presença. O pânico se instalava nas pessoas, que corriam e se trancavam nas casas. No final, a mulher abre a porta e dá água ao doente, em gesto considerado imperdoável pelos demais cidadãos.

A presença de cobras nas narrativas de Artur é relevante. Nuns, como ente simbólico; noutro, “O Encantado”, como ser lendário. O protagonista é o homem encantado pela serpente que vive nas águas amazônicas. O drama se inicia quando se perde na selva e “senti qualquer coisa extraordinária à minha volta”. Socorrido por bolivianos, é avisado de que “está encantado”. E conduzido para o seringal: “Aqui, nas proximidades, deve haver uma grande jibóia, com olhos na sua nuca”. Passa a ter pesadelos. Certa vez sonha com imensa cobra e acorda “com o corpo moído, como se algo incomum me houvesse apertado durante a noite”.

Em “Trevas”, o protagonista sem nome explícito (como muitos outros) fala ou pensa (monólogo ou solilóquio), enquanto assiste sozinho a filmes na televisão. E ora se comunica, pela visão e pela audição, com os personagens dos filmes (Conde Drácula, Tom Mix, Flash Gordon) e até com a atriz Catherine Deneuve, como se também fizesse parte da história; ora com os próprios fantasmas, como a sua irmã paralítica já morta, o menino morto na lagoa, aranhas gigantescas. Na realidade, está só, mas “percebe” que há outra pessoa na sala, “invisível e presente”. O tema da narrativa é a solidão: “Sou um lobo solitário. Um homem sozinho. Com medo”. Em “O Último Rosto” também o realismo cede lugar ao mistério. O narrador, ex-funcionário da Sinfônica Municipal, vê desaparecem um a um os rostos de seus companheiros da foto do grupo de sete pessoas, à medida que iam morrendo.

Em mais de uma obra, protagonistas vêem e se comunicam com pessoas mortas. Um deles, o de “Trevas”, chega a falar em mediunidade ou hipersensibilidade. Outro, em “A Boa Velhinha”, imagina-se louco, após ter estado com uma senhora, em visita oficial aos moradores de rua cujas casas seriam demolidas para dar lugar à “grande maternidade municipal”. Dias depois, volta ao local e é informado de que a tal mulher “morreu há uns vinte anos” e “nessa casa não mora ninguém desde então...” O mesmo fenômeno se verifica em “O Retrato Pendurado no Tempo”. O narrador é cavaleiro de sociedade hípica. Na primeira cena, nas proximidades do Convento do Carmo, se depara com dois anõezinhos malucos que “estavam a rasgar, aos gritos, as roupas do frade”. Indignado, expulsa a chicotadas os agressores. Dias depois, visita o convento e procura Frei Vitalino, o personagem do primeiro momento da trama. Surpreende-se ao ouvir do zelador a frase: “Frei Vitalino não existe, meu caro. É uma lenda”. Mais adiante o funcionário avisa: “Cuidado! Por aqui aparece visagem. É mal-assombrado. Aqui e na sala dos retratos”. E no final a confirmação de que havia estado com um morto: em placa de prata abaixo do retrato do frade viam-se duas datas: 1820-1896. Em “A Senhora de Azul, com Cabelos Grisalhos”, o narrador conhece estranha personagem, “jovem senhora, vestida de azul”, cuja presença é garantia de tragédia ou acontecimento funesto. Seria a própria morte, ser fictício simbólico.

Os contos de fundo científico (science-fiction) de Artur envolvem seres humanos, extraterrestres e máquinas, alguns destes alcançando a posição de protagonistas. O mistério neles é de outra natureza, menos psicológica e mais ontológica. Em “Depoimento Sigiloso” o narrador é homem afeiçoado aos objetos voadores não identificados que nega conhecer os estranhos acontecimentos relacionados a Ovnis. Aliás, toda a narrativa é composta de negativas. A história que dá título ao volume se enquadra perfeitamente subgênero ficção científica. Narrado também por ser humano, o protagonista é, no entanto, um computador superinteligente, de nome Stanley, um semideus, no ano de 2106. Em “Zyw” o ser fictício principal é alienígena, vindo de satélite de Júpiter, “um garotão de quase três metros de altura”, criado em fazenda experimental no Araguaia. O narrador é também extraterrestre, nascido em Tritão.

O poeta está presente nas narrações e descrições de quase todas as peças. “A Sede” é obra poética, sem deixar de ser narrativa. Há frases em que a poesia se mostra em sua plenitude: “Estava a chover nos telhados da infância” (p. 61). A última peça, “As Carruagens do Sem-Fim” é composição de fino lavor, talvez o mais misterioso dos contos do livro. É poesia pura. Os personagens, que não são poucos, vêm dos confins das lendas e dos mitos e viajam na grande nave interestelar, até que o círculo se feche. E Artur Eduardo Benevides fecha o seu livro com chave de ouro, como só os narradores criativos, os poetas, os iluminados sabem e podem fazê-lo: envolto em mistérios.

Fontes:
http://www.cronopios.com.br/

Artur Eduardo Benevides (1923)



Artur Eduardo Benevides (Pacatuba, Ceará, 1923) é poeta, ensaísta e contista brasileiro, com mais de quarenta livros publicados.

Foi eleito, em 1985, o Príncipe dos Poetas Cearenses, título já detido pelo Padre Antônio Tomás, por Cruz Filho e por Jáder de Carvalho. Bacharel em Direito e em Letras, foi professor titular da Universidade Federal do Ceará.

É membro da Academia Cearense de Letras, tendo sido seu presidente entre 1995 e 2005; da Academia Cearense de Língua Portuguesa e da Academia Fortalezense de Letras, integrante, também, do Grupo Clã. Em 2000 foi derrotado em eleição para a Academia Brasileira de Letras pelo escritor Ivan Junqueira.

Artur Eduardo Benevides é vencedor de mais de trinta prêmios literários, destacando-se a Bienal Nestlé de Literatura, em 1988.

Para comemorar os 80 anos do poeta, em 2003, o escritor José Luís Lira escreveu o livro "O Poeta do Ceará - Artur Eduardo Benevides", com sua biografia e trechos principais de sua obra. O livro saiu com o selo da Academia Fortalezense de Letras, da qual José Lira é fundador juntamente com Matusahila Santiago e Artur Eduardo Benevides o Presidente de Honra.

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Falecimento de Flávio Rubens

O pai (Ary Barroso) e Flávio
Flávio Rubens faleceu nesta manhã de seis de abril de 2009.
O poeta está foi velado na capela nº 7, do Cemitério São João Batista, Botafogo, Rio de Janeiro; com o sepultamento às 16h.

Flávio Rubens - jornalista, romancista, contista, poeta co-fundador da APPERJ. Filho do compositor Ary Barroso. Prêmios nacionais e internacionais. Membro da UBE. Publicou em inúmeras coletâneas, vários livros solos. Seu mais recente sucesso, o livro de romance: O Perneta, (OFICINA Editores, 2007) lançado na XIII Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro.

Fonte:
APPERJ Oficina Editores

José Feldman (Homenagem a Flávio Rubens)



Flávio Rubens possuía dentro dele uma águia, e assim como ela, tem uma história que nunca deve ser esquecida.

Uma águia é livre, e não pode ficar presa, pois precisa de grandes espaços para seus vôos rasantes.

Presa, canta, mas seu canto é o desejo de liberdade.

De que valem as asas, se não há céu para voar e paisagens para sobrevoar.

E assim como a Águia, Flávio, fez seu ninho em um horizonte de estrelas e alimentou-se de suas luzes.

Hoje, ele é esta Águia que voa cada vez mais alto, altiva, imponente, em direção a um novo horizonte desaparecendo na escuridão da madrugada, ressurgindo a cada nova aurora, aquecendo as nossas almas.

Fonte:
Imagem = http://www.xamanismo.com.br

Flávio Rubens e a Feijoada Poética

A Feijoada Poética promovida anualmente por Flávio Rubens em sua residência era um encontro com amigos, com boas poesias e som da autêntica MPB. Em agosto, durante uma agradável tarde, reuniu amigos de infância – da época em que morava no Leme – e membros da Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro (Apperj). Histórias de meninice, de seu saudoso pai, Ary Barroso, e recital de poesias foram o acompanhamento do delicioso encontro. Para Flávio, a reunião Encontro de Poetas e Amigos Antigos do Leme é uma oportunidade de rever aqueles que sempre fizeram parte de sua vida.

A cultura e os fiéis amigos devem ser sempre lembrados. Aqui estão amizades que já duram cerca de 80 anos – diz o poeta.

Jovens senhores que viveram na época do Rio Antigo relembraram saudosamente o tempo em que viveram no bairro do Leme: – Futebol na praia, piquenique, cinema e festas faziam parte do nosso cotidiano, em uma época em que podíamos andar tranqüilamente na cidade – lembra Paulo Duarte Martins, chamado carinhosamente de “vovô da turma”.

Hugo Fernandes de Oliveira conta sobre os festejos promovidos na casa de Flávio e Mariusa, como os que aconteceram para Carmem Miranda, na última vez em que ela veio ao Brasil: – Aquilo era uma festa open door. As festas de Ary Barroso não eram dele e sim do Leme, já que o bairro inteiro marcava presença – lembra.

Mas na vida dessa turma também havia responsabilidade e estudo. A irônica história lembrada por Antonio Carlos Telles, ex-ministro do Superior Tribunal Militar (1981 a 1998), conta como Flávio Rubens tirou zero em uma prova: – A genialidade de Flávio para a poesia já existia desde quando ele era menino; pena que no colégio não perceberam esse dom. Lembro que, em uma prova de história, ele narrou a Batalha do Riachuelo toda em gíria. Resultado: tirou dez em história e zero em português – recorda.

Para todos os que ali estavam reunidos, é uma eterna gratidão poder participar das reuniões promovidas por Flávio Rubens:

Todo ano nos reunimos e vemos que até hoje a verdadeira amizade prevalece em um mundo que atualmente domina outros tipos de valores – observa Renato Novall, diretor do Flamengo na época em que o time foi campeão mundial.

O recital Apperj Abre a Boca foi o ponto alto do evento. A performance poética dos membros da Apperj alegrou a tarde. As poesias citadas eram todas ligadas ao tema alimentação e os autores mostraram a genialidade ao escreveram com humor, com ironia, com melancolia e até em duplo sentido, incentivando a imaginação daqueles que estavam presentes.

Em determinado momento, Fátima Parente fez um tributo a Flávio Rubens, recitando um lindo fado. Em resposta à homenagem, nosso poeta, acompanhado por violão e piano, cantou Pra machucar meu coração, de autoria de seu pai, Ary Barroso. Ao término, foi aplaudidíssimo pelos presentes.

Fonte:
http://www.tipocarioca.com.br/flavio-rubens-9-06.html

Flávio Rubens – Dez Poemas Escolhidos

A poesia, ao contrário do que pensam muitos desavisados, e outros tantos que acreditam poder ostentar impunemente o título de poeta, a poesia não é fácil, nem admite facilidades. E, como diz Kaváfis, cidadão da Cidade dos Poetas não constitui pouca nem pequena glória, mas muito poucos são admitidos em sua ágora. E nem lhe importam a fama adjetiva, a premiação bajuladora, ou a constituição de bandos literários, que visam, o mais das vezes, a mera promoção pessoal. Com esses, a Arte Poética é implacável . Com o tempo, percebem que quanto mais caminharam mais se distanciaram do tanto que desejavam. E Vênus sequer se digna conceder-lhes saber de suas presenças.

Este, e é bom que se diga, não é absolutamente o caso de Flávio Rubens. Sua poesia é feita do mesmo aço nobre que forjou as espadas dos guerreiros romanescos, sua palavra possui a exatidão dos dardos de Diana, seus temas alcançam profundidades inexploradas. E que prazer, então, na sua leitura!

O poeta é substantivo e viril, sem deixar perder os sons da lira órfica, sem descuidar a dupla face apolínea e dionisíaca. Enganam-se os maniqueistas apressados quando opõem Apolo a Dionísio, o que é tão comum hoje em dia, que se renega o pensamento em prol de uma ação cada vez mais particularizada e tecnicista. Os gregos nunca levaram tal distinção a sério. Pois há o prazer solar , tanto quanto o sol do prazer, sem contar as noites de hécate, outra face apolínea. E isto é Flávio Rubens. Em A carne e o Aval, por exemplo. Poema corajoso no tema. preciso no verso, implacável na definição do tipo, sensível e humano, até solidário, perante a grandeza poética de sua personagem. Assim é Flávio Rubens.

A quem muito ainda se poderia louvar.

Fonte:
Artigo de Paulo Bauler. In http://www.geocities.com/livronline/flaviorubens/

Flávio Rubens (Poesias Avulsas)


ESPANTO

O gato não estava em cima da mesa
na lã que a senhora, em sonho, enrolava.
sonho não estava em cima da mesa
na lã que a senhora o gato embalava.
A lã não estava em cima da mesa
no sonho de gato que a senhora sonhava.
Em cima da mesa a toalha bordada.
Velha senhora de rugas marcadas
que a lã desfibrada
em gato tornou.
Um gato de malha
de sonho moldado
tão novo
que o velho
da velha senhora
ressuscitou.
¨¨¨¨¨¨¨¨
PEREGRINO

Desperta! Desperta e vem ouvir
o hálito da manhã que se anuncia
Desperta! Desperta e vem receber, o sol
ombreando as matas, tingindo de dourado as esperanças
Desperta! Desperta e vem acalentar, a fuga da insentida noite
e observar a testemunha nua, calando abrigo no manto matinal
Desperta! Desperta e vem musicar, o teclado das alvíssaras do dia
onde a pauta das nuvens braços estendidos são, ao teu redor

Arruma tuas tralhas, e olha a vida que começa hoje

Sim. É por ali que nós vamos
Deixa estar aí nosso passado
ainda que tarde a fonte prateada

Não. Não pede nada
mataremos nossa sede
pela estrada

Coloca aqui e ali tuas lembranças
e escuta em tempo novo a prata do teu pranto
Vem!

Dá-me as mãos surgidas do descanso
e ergue o olhar à fria claridade

Vem! Ignora os fatos do passado
Pois passo a passo, ontem para hoje
em busca da Amanhã

Ao longe, a borboleta arpeja um ritmo gostoso
São sílabas, sinônimos, palavras
da natureza infinda
que ao compasso da aurora
delineiam serenatas
de uma noite linda

Bem perto, o colibri desvenda o mistério morto
inerente à tessitura simples do néctar das flores
derramando a madrugada em líquidos de amores

E ambos, em missões esquivas, apresentam a Deus
a terra promissora

Sim.
É por ali que nós vamos

É cinza a caminhada
e azul o nosso rumo

Apaga a voz do tempo
e ouve a eternidade

Pirilampos, lampejos
lantejoulas
Cálidos cálices de argamassas toscas nos esperam
na linha do horizonte

São presságios
de mormaços certos
São colóquios de venturas, redescobertos
Preciosismos tolo, de sonoridade múltipla
Que tornam a caminhada insinuante e crua

Desperta, então!
Sim, É por ali que nós vamos
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
QUEM SABE?

Quero terminar a ronda do destino sem fazer rodeios
sem construir frases

Quero terminar a ronda do destino sem mostrar protestos
sem deixar saudades

Quero terminar a ronda do destino entre coisas sem piedade

No mar

Onde o silêncio medita e há profundidade
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

SONETO PARA JOGAR FORA

Quando souberes que em tempo algum te amei
dirás, a quantos perguntarem, o impossível
sem saberes que satisfaço os meus desejos
além, muito além do que é possível

Não me importa saber se tenho ou curto
por alguém, alguma espécie de sentimento,
pois não consigo dominar, e nem quero,
deixar de completar o que sinto no momento

Uso teses, invoco Deus, e o Diabo em paralelo
nas palavras antropofágicas e, sem fracos argumentos,
prendo o corpo de forma mais abjeta, amando

O amor que uso são figuras falsas e bonitas
que me saem à mente promíscua e talentosa
como se fosse rosa o que falei babando
¨¨¨¨¨¨¨¨
UMA CANÇÃO DO OUTRO MUNDO

Quando a noite descer sobre teu leito, estarei
no parapeito, humilde
da janela

Quando a estrela aprender, dirá, sobre teu leito
o despeito orgulhoso que tem
da tua janela

Quando a tua janela se fechar, a noite e a estrela se confundirão
na mediocridade, álacre, da mediunidade

Estou, também, como os astros
e a passagem do sol, debruçado
em tua janela
para vê-la nua
Como se fosse lua, como se fosse espaço

domingo, 5 de abril de 2009

Maria Antônia Canavezi Scarpa (Insatisfeita)


É assim que me sinto...faminta
verdadeiramente ávida de você,
como se sua pele me cobrisse,
seu suor me alimentasse em conta-gotas,
e a cada contração do seu coração,
bombeasse sua seiva, para dentro do meu.

Morro aos poucos sem a sua verve,
nada mais interessa, se o som
dos seus sussurros foram levados,
ao sabor dos ventos, para onde... não sei,
nem como posso buscá-lo
sem a sua voz, fico ao relento.

Perdi o rumo, quando desfolhei
a rosa-dos-ventos, que me guiava
para o leito dos rios fecundos,
onde debruçam os chorões frondosos
aqueles que nos cobriam quando
fazíamos amor.

Esta saudade arde e me faz delirar
ao gritar perdão, por te magoar
e o ferir tanto; um buquê de desculpas
se desfolham ao longo do caminho,
na esperança de que venham
guiar seus passos... em minha direção.

Aires da Mata Machado Filho (Vissungos)


Vissungo, em etnografia, se refere a música de caráter responsorial praticada por escravos africanos utilizados nas lavras de diamantes e ouro na região compreendida, entre outras, pelas periferias das cidades brasileiras de Diamantina, São João da Chapada e Serro, no estado de Minas Gerais.

Tal música era entoada raramente em português, prevalecendo línguas africanas, principalmente o kimbundo e o Nbundo (chamadas de língua benguela pela população local) e relacionadas a idiomas até hoje falados na atual República Popular de Angola.

Em férias, em 1929, o filólogo viajou para São João da Chapada, onde lhe chamaram a atenção "umas cantigas em língua africana ouvidas outrora nos serviços de mineração", conforme descreveu no livro O Negro e o Garimpo em Minas Gerais, obra publicada em 1943 pela editora José Olympio.

Mata Machado sustenta a importância dos vissungos, sua influência nos começos daquele arraial e mais "os vestígios da língua das cantigas na linguagem corrente, na onomástica e na toponímia" - os vestígios de um um dialeto banto num tempo em que se pensava que a língua dos negros trazidos como escravos para o Brasil resumia-se ao nagô.

Em 1982, a Gravadora Eldorado ousou seu lance mais arriscado, animada pelo sucesso (de crítica) das séries de Marcus Pereira. Editou o disco O Canto dos Escravos, reunindo canções recolhidas e anotadas pelo historiador mineiro Aires da Mata Machado Filho.


Canto da Tarde

Solo:
Oenda, auê, a a!
Ucumbi oenda, auê, a...
Oenda auê, a a!
Ucumbi oenda, auê, no calunga

Coro 1º:
Ucumbi oenda, ondoró onjó
Ucumbi oenda, ondoró onjó (bis)

Coro 2º:
Iô vou oendá, pu curima auê
Iô vou oendá, pu curima auê (bis)

— O sol está entrando, vamo-nos embora para o rancho.
— O sol entrou, vamos para o rancho — Eu vou entrar é para minha faisqueira.

É admirável a permanência da idéia de mar. Perguntados, todos os informantes traduziram por mar a palavra calunga.
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Ao Nascer do Dia

Purru! Acoêto? — Caveia?

Galo já cantou, rê rê
Cristo nasceu
Dia 'manheceu
Galo já cantou

Galo já cantou, rê rê
Cacariacô
Cristo no céu
Galo já cantou

O cantador mestre, chamando: Purru acoêto? (Olá, companheiros!)

A turma responde: Caveia? (Que é lá?)

Galo já cantou, rê rê
Cristo nasceu
Dia amanheceu
Galo já cantou

Galo já cantou, rê rê
Cacariacô
Cristo no céu
Galo já cantou
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A Jangada Secando Água

Solo:
Aua cu aua cangirê
Aua cu aua cangira auê
Aua cu aua cangirê, aua

Coro:
Ê aua
Tanto aua para que, aua
Tanto aua pra bebê, aua

(Refere-se à "jangada", aparelho de secar água nas catas e que é movido a água. A cantiga diz do processo interessante, de uma água trabalhando para extinguir outra água)

Fontes:
Machado Filho, Aires da Mata. O negro e o garimpo em Minas Gerais. 2. ed. RJ: Civilização Brasileira, 1964).
http://www.jangadabrasil.com.br/
http://afinadiamantina.blogspot.com/

Aires da Mata Machado Filho (Crenças e crendices sobre as almas)



Durante o mês de novembro, que afinal é mesmo delas, vagueiam as almas por toda a parte, pedindo orações, assombrando a gente. O que Pereira da Costa divulgou no seu Folclore pernambucano (Rio de Janeiro, Livraria J. Leite, 1908), encontra réplica nos mais diversos lugares, aqui no Brasil e por este mundo afora.

Quando morremos, o espírito se evola imediatamente, mas não vai para o seu destino, o céu ou o inferno, segundo suas obras praticadas neste mundo; e, enquanto o cadáver não baixa à sepultura, permanece junto ao mesmo. Os nossos, índios, porém, acreditavam que o espírito só se apartava do corpo depois de seu completo estado de decomposição; e enquanto não ia para a lua, lugar destinado à sua morada e descanso eterno, percorria as florestas, assistia as suas conversas, as suas danças, e era testemunha, enfim, de todas as suas ações.

Para outras tribos, apesar de originárias todas de um mesmo tronco, o tupi — a vida remuneradora dos justos era passada em localidades encantadoras, que se afiguravam no reverso das "Montanhas Azuis", a serra geral que percorre a vasta extensão da costa austral do Brasil, e cujas montanhas viam a uma certa distância; mas os espíritos infiéis e pusilânimes eram proscritos dessa mansão, como anatematizados e votados a miséria e privações, erravam por desertos estéreis e se acolhiam aos covis das feras.

Segundo a crendice popular para verificar-se o destino final dos espíritos, é preciso um julgamento prévio.

O espírito, apenas desprendido da matéria, comparece perante o arcanjo São Miguel, e tomando ele a sua balança, coloca em uma concha as obras boas e na outra as obras más, e profere o seu julgamento em face da superioridade do peso de umas sobre as outras.

Quando absolutamente não se nota o concurso de obras más, o espírito vai imediatamente para o céu; quando são elas insignificantes, vai purificar-se no purgatório; e quando não tem em seu favor uma obra sequer, vai irremissivelmente para o inferno, donde só sairá quando se der o julgamento final, no "dia do juízo", seguindo-se então a ressurreição da carne.

A morte dos justos e bons que atravessam a sua passagem por este mundo, sem pecado, assiste um anjo, invisivelmente, empunhando uma espada flamejante para os defender de satanás, que ainda mesmo nesse extremo momento da vida, comparece junto ao leito para arrebatar-lhes a alma: e São Pedro, na sua qualidade de porteiro do céu, espera-os nos seus umbrais para dar-lhe ingresso no Paraíso.

Fontes
Machado Filho, Aires da Mata. Crenças e crendices sobre as almas. Diário de Minas. Belo Horizonte, 10 de novembro de 1964.
Figura = http:// www.espada.eti.br

Aires da Mata Machado Filho (1909 – 1985)



Eminente professor, de estirpe intelectual e moral admirável, sábio representante da nossa nacionalidade na filologia, no jornalismo, no folclore e na escrita. Quem teve o privilégio de privar alguns anos da sua intimidade sabe que, pela altitude cultural, pureza de espírito e pelo caráter sem jaça, Mestre Aires honraria qualquer país do mundo.

Nasceu a 24 de fevereiro de 1909, em São João da Chapada, município de Diamantina, onde fez as primeira letras, tendo realizado o curso secundário no Rio de Janeiro. Na capital mineira, fez cursos especializados no Instituto São Rafael e Direito na Universidade de Minas Gerais, onde posteriormente doutorou-se em Filologia Românica. Não recuava diante de dificuldade ou polêmica e nem tinha medo de viver. Superou a deficiência visual, levando com afinco os estudos lingüísticos, e se fez um dos maiores mestres no terreno da Filologia. Catedrático na Universidade Federal de Minas Gerais e na Universidade Católica de Minas Gerais, ambas em Belo Horizonte, lecionando filologia românica, língua e literaturas portuguesa e brasileira, italiana, espanhola, francesa, inglesa e disciplinas afins. Foi também professor em outros famosos centros de ensino, em todos eles educando gerações e fazendo jus à notória autoridade que lhe é reconhecida quanto à Lingüística e ao ensino de Português. Embora defensor dos altos padrões da linguagem, acatava as inovações sadias, ciente de que a língua é mais um fenômeno psicológico que lógico.

A pujante riqueza do folclore mineiro tornou-se conhecida graças a suas perseverantes pesquisas de nossos usos, costumes e tradições, contribuição poderosa para que se fizesse criar a Comissão Mineira de Folclore, da qual foi presidente. Participou da fundação do Instituto de Cegos São Rafael e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santa Maria, que se incorporou à Universidade Católica de Minas Gerais. Chefiou os serviços de Orientação Técnica de Ensino da Língua Portuguesa, da Secretaria da Educação; e o de Redação do Conselho Administrativo do Estado. Participou de movimentos do apostolado católico, em fidelidade a sua formação religiosa, e, como membro, de bancas examinadoras para concursos de professor catedrático e de livre docente, em várias entidades de outros estados da Federação. Colaborou no jornal O Diário e no Estado de Minas.

Aposentou-se como redator do Minas Gerais, órgão da Imprensa Oficial do Estado, da qual foi também Chefe de Gabinete, cujo prédio em que funciona passou a chamar-se Aires da Mata Machado Filho, de acordo com o Projeto Lei nº 1.754/93, de autoria do Deputado Tarcísio Henriques, aprovado em 12 de setembro de 1994.

Pertenceu às entidades culturais:
Academia Mineira de Letras,
Academia Brasileira de Filologia,
Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais,
Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais,
Comissão Nacional de Folclore,
Academia Carioca de Letras,
Sociedade Brasileira de Antropologia,
Comissão Mineira de Folclore,
Sociedade Brasileira de Folclore,
Conselho Estadual de Cultura
Academia de Letras de Viçosa, como patrono da cadeira nº 8 , ocupada por Edgard de Vasconcelos Barros.

Possui mais de cinqüenta títulos, traduziu obras de referência na área de Educação, História e Lingüística e publicou aproximadamente 25 destes.

Aires da Mata Machado teve sua vida ceifada no mesmo dia em que também o tiveram a esposa Maria Solange e a filha Cecília, vítimas de acidente ocorrido na BR-040, a 23 de agosto de 1985, nas proximidades de Ribeirão das Neves, sendo poupada a neta Joana Mata Machado. Seu corpo foi levado à sepultura, no dia seguinte, no Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte.

Obra
Linguística, gramática e filologia
Em Busca do Termo Próprio (1947)
A Correção na Frase (1953)
Português Fora das Gramáticas (1964)
Aventuras de um Caçador de Palavras (1965)
Português & Literatura (1950)
Crítica de Estilos (1956)
Pequena História da Lìngua Portuguesa (1961)
Dicionário Didático e Popular da Língua Portuguesa (1965)
Lingüística e Humanismo (1974)
Coleção Escrever Certo, em 6 volumes
História
Arraial do Tijuco, Cidade Diamantina (1945).
Tiradentes, Herói Humano (1948).
Folclore
Curso de Folclore (1951).
Etnografia
O Negro e o Garimpo em Minas Gerais (1943).

Fontes:
Academia de Letras de Viçosa. http://www.alv.org.br/
http://pt.wikipedia.org/

Academia Mineira de Letras


Fundada na cidade de Juiz de Fora, em 25/12/1909, por um grupo de pioneiros ligados à literatura e a cultura, onde pontificavam jornalistas, escritores, profissionais liberais, homens públicos e conceituados militantes da cátedra e dos tribunais.

Juiz de Fora, à época denominada Manchester Mineira, respirava um ar de progresso e de vanguarda na indústria e na inovação tecnológica, convivendo com fervilhante atividade literária, em que se misturavam empreendedores pioneiros, poetas e contistas de formação diversa, com a presença na cidade de tradicionais educandários e austeros educadores.

A imprensa rivalizava com a do Rio de Janeiro e articulistas de renome nacional assinavam artigos e colunas nos diários e periódicos de Juiz de Fora. A primeira indústria têxtil de Minas Gerais e a primeira hidrelétrica do País se instalaram na progressista cidade.
O grupo fundador da Academia Mineira Letras, de imediato incorporando o adjetivo mineiro, ao invés da denominação municipalista, dava a dimensão ambiciosa e ao mesmo tempo magnânima dos seus altos objetivos: o culto, a defesa e a sustentação da pureza da língua e a produção intelectual na sua plenitude e variedade.

Inicialmente, os doze idealizadores capitaneados por Machado Sobrinho e integrados por intelectuais do naipe de Belmiro Braga, Dilermando Cruz, Amanajós de Araújo e outros expoentes das letras, elegeram mais dezoito intelectuais espalhados por todo o Estado e representativos do que de melhor existia entre a elite acadêmica de Minas Gerais.

Dentre os dezoito, destacavam-se Nelson de Senna, Alphonsus de Guimaraens e Carlos Goes, além de outras influentes personalidades.

Em 1915, acordaram os membros da Academia Mineira de Letras a transferência da sede da Academia para a Capital do Estado, em gesto de despreendimento e de visão, descortinando maior dimensão e "status" à mesma, próxima dos centros do Poder e de convergência de atividades e interesses de toda natureza.

Em 1943, com o apoio do então Prefeito de Belo Horizonte, Otacílio Negrão de Lima, viria a Academia receber sua sede própria, instalada no sexto andar do edifício sito à rua dos Carijós, aonde permaneceria até 1987, quando Vivaldi Moreira, após 12 anos de determinada articulação junto aos poderes públicos, conseguiria o comodato do palacete Borges da Costa, atual sede da Academia e cogominado Casa de Alphonsus de Guimaraens, com o apoio de sucessivos homens públicos como os Presidentes José Sarney e Itamar Franco, e os Governadores Hélio Garcia e Newton Cardoso, cada qual emprestando parcela de apoio visando a doação do imóvel e a restauração do Palacete e construindo-se em seguida o Auditório ao lado, conforme notável projeto do arquiteto Gustavo Penna.

O contraste do clássico - verdadeiro relicário - e o moderno arrojado e funcional - Palacete e Auditório - deu à Academia o realce e a beleza externa que o seu rico conteúdo interno - homens e livros - abriga doravante.

A casa passou a ser integrada por 40 membros a exemplo da Academia Brasileira e a Francesa, eleitos por um colégio eleitoral inter paris em processo aberto a todo cidadão brasileiro, com qualificações para postular o acesso ao sodalício.

Assim caminha a Academia, no suceder das gerações e na voragem dos tempos, cumprindo o lema que acalenta sua existência: Scribendi Nullus Fines e alçando seus Confrades e suas obrasà glória que fica, eleva, honra e consola, nos magistrais dizeres de Machado de Assis.

CADEIRAS

CADEIRA 01
Patrono: Visconde de Araxá (1812-1881)
Fundador: Albino Esteves ( 1884-1943)
1° Sucessor: Cyro dos Anjos (1906-1994)
2° Sucessor: Danilo Gomes (1932)

Cadeira 02
Patrono: Arthur França ( 1881-1902)
Fundador: Aldo Delphino ( 1872-1945)
1° Sucessor: José Oswaldo (1887- 1975)
2° Sucessor: Oswaldo Soares Da Cunha ( 1921)

Cadeira 03
Patrono: Aureliano Lessa ( 1828-1861)
Fundador: Alphonsus de Guimaraens (1870-1921)
1° Sucessor: Moacyr Chagas (Renunciou Antes Da Posse)
2° Sucessor: Agripa Vaasconcelos (1896-1969)
3° Sucessor: Oscar Corrêa (1921)
4° Sucessor: Angelo Oswaldo de Araújo Santos

Cadeira 04
Patrono: Frei Velloso ( 1742-1811)
Fundador: Alvaro da Silveira (1867-1945)
1° Sucessor: Alphonsus de Guimaraens Filho (1918)
2° Sucessor: Vaga

Cadeira 05
Patrono: Azevedo Junior (1865-1909)
Fundador: Amanajós de Araujo (1880-1938)
1° Sucessor: Zoroastro Passos (1887-1945)
2° Sucessor: Christiano Martins (1912-1981)
3° Sucessor: Francisco Magalhães Gomes (1906-1990)
4° Sucessor: Miguel Augusto Gonçalves de Souza (1926)

Cadeira 06
Patrono: Bernardo de Vasconcellos ( 1795-1850)
Fundador: Arduino Bolivar (1873-1952)
1° Sucessor: Salomão de Vasconcelos (1877-1965)
2° Sucessor: Mello Cançado (1912-1981)
3° Sucessor: José Caarlos Lisboa ( 1902-1994)
4° Sucessor: Alaide Lisboa
5° Sucessor: Yeda Prates Bernis

Cadeira 07
Patrono: Luiz Cassiano ( 1868-1903)
Fundador: Avelino Foscolo ( 1864-1944)
1° Sucessor: Eduardo Frieiro ( 1889-1982)
2° Sucessor: Austen Amaro (1901-1991)
3° Sucessor: Wilson Bastos (1915)
4° Sucessor: João Bosco Murta Lages
5° Sucessor: Ricardo Arnaldo Malheiros Fiúza

Cadeira 08
Patrono: Baptista Martins (1868-1906)
Fundador: Belmiro Braga (1872-1937)
1° Sucessor: Wellington Brandão (1894-1965)
2° Sucessor: Edison Moreira ( 1919-1989)
3° Sucessor: Milton Reis (1929)

Cadeira 09
Patrono: Josaphat Bello (1870- 1907)
Fundador: Bento Ernesto ( 1866-1943)
1° Sucessor: João Alphonsus (1901 -1944)
2° Sucessor: Djalma Andrade (1891-1975)
3° Sucessor: Ildeu Brandão (1913-1994)
4° Sucessor: Márcio Garcia Vilela (1939)

Cadeira 10
Patrono: Claudio Manoel da Costa (1729-1789)
Fundador: Brant Horta (1876-1959)
1° Sucessor: João Etienne Filho (1918-1997)
2° Sucessor: Fábio Proença Doyle

Cadeira 11
Patrono: Santa Rita Durão ( 1722-1784)
Fundador: Carlos Góes (1881-1934)
1° Sucessor: Lúcio dos Santos (1875-1944)
2° Sucessor: Bueno de Sequeira (1895-1979)
3° Sucessor: D. João Resende Costa (1910)
4° Sucessor: D. Walmor Oliveira de Azevedo

Cadeira 12
Patrono: Alvarenga Peixoto (1744-1793)
Fundador: Carlindo Lellis (1879-1945)
1° Sucessor: João Dornas Filho (1902-1962)
2° Sucessor: Alberto Deodato (1896-1978)
3° Sucessor: Tancredo Neves (1910-1985)
4° Sucessor: Olavo Drumond (1925)
5° Sucessor: Cônego José Geraldo Vidigal De Carvalho

Cadeira 13
Patrono: Xavier da Veiga (1846-1900)
Fundador: Carmo Gama (1860-1937)
1° Sucessor: Godofredo Rangel (1884-1951)
2° Sucessor: Antõnio Moraes (1904-1984)
3° Sucessor: João Franzen de Lima (1897-1994)
4° Sucessor: Paulo Tarso Flecha de Lima ( 1933)

Cadeira 14
Patrono: José Senna (1847-1901)
Fundador: Costa Senna (1852- 1919)
1° Sucessor: Almeida Magalhães (1893-1982)
2° Sucessor: João Valle Maurício ( 1922)
3° Sucessor: Antenor Pimenta Madeira

Cadeira 15
Patrono: Bernardo Guimarães (1827-1884)
Fundador: Dilermando Cruz (1879-1935)
1° Sucessor: Moacyr Andrade (1897-1935)
2° Sucessor: Odair de Oliveira (1917-1982)
3° Sucessor: Armond Werneck ( 1916-1991)
4° Sucessor: Bonifácio José Tamm Andrada (1930)

Cadeira 16
Patrono: Paula Cândido (1805-1864)
Fundador: Diogo Vasconcellos ( 1843-1927)
1° Sucessor: Mário Mattos (1899-1966)
2° Sucessor: Waldemar dos Anjos (1901-1980)
3° Sucessor: Flávio Neves (1908-1984)
4° Sucessor: Wilson Castello Branco (1918-1986)
5° Sucessor: José Afrânio Moreira Duarte (1931)
6° Sucessor: Ronaldo Costa Couto

Cadeira 17
Patrono: Conde De Prados ( Dr.Camilo Armond) (1815-1882)
Fundador: Eduardo de Menezes (1857-1923)
1° Sucessor: José Antônio Nogueira (1892-1947)
2° Sucessor: Abgar Renault (1901-1995)
3° Sucessor: Aluísio Pimenta (1923)

Cadeira 18
Patrono: Silva Alvarenga (1749-1814)
Fundador: Estevam Oliveira (1853-1926)
1° Sucessor: Abílio Barreto (1883-1959)
2° Sucessor: Arthur Versiani Velloso (1906-1986)
3° Sucessor: José Henrique Santos (1934)

Cadeira 19
Patrono: Corrêa de Almeida (1820-1905)
Fundador: Francisco Lins (1866-1933)
1° Sucessor: Mário Mendes Campos (1894-1989)
2° Sucessor: Pe. José Carlos Brandi Aleixo (1932)

Cadeira 20
Patrono: Arthur Lobo (1879-1901)
Fundador: Franklin de Almeida Magalhães (1902-1971)
1° Sucessor: Emílio Guimarães de Moura (1902-1971)
2° Sucessor: Wilson De Mello da Silva (1911-1994)
3° Sucessor: Ariosvaldo de Campos Pires (1934-2004)
4° Sucessor: Hindemburgo Chateaubriand Pereira Diniz (1932)

Cadeira 21
Patrono: Fernando De Alencar (1857-1910)
Fundador: Gilberto De Alencar (1887-1961)
1° Sucessor: Nelson De Faria (1902-1968)
2° Sucessor: Oscar Negrão de Lima (1895-1971)
3° Sucessor: Hilton Rocha (1911-1993)
4° Sucessor: Caio Mário (1913)
5° Sucessor: Elizabeth Fernandes Rennó de Castro

Cadeira 22
Patrono: Júlio Ribeiro (1845-1890)
Fundador: Heitor Guimarães (1868-1937)
1° Sucessor: Paulo Rehfeld (1902-1960)
2° Sucessor: Fábio Lucas (1931)

Cadeira 23
Patrono: Joaquim Felício ( 1828-1895)
Fundador: Joaquim Silverio (1859-1933)
1° Sucessor: Martins de Oliveira (1896-1975)
2° Sucessor: Victor Nunes Leal (1914-1985)
3° Sucessor: Raul Horta (1923)
4° Sucessor: Monoel Hygino dos Santos

Cadeira 24
Patrono: Bárbara Eliodora ( 1758-1819)
Fundador: João Lúcio (1875- 1948)
1° Sucessor: Cláudio Brandão ( 1894-1965)
2° Sucessor: Henrique de Resende ( 1899-1973)
3° Sucessor: Sylvio Miraglia (1900-1994)
4° Sucessor: Eduardo Almeida Reis (1937)

Cadeira 25
Patrono: Augusta Franco (1877-1909)
Fundador: João Massena (1865-1957)
1° Sucessor: Paulo Pinheiro Chagas ( 1906-1983)
2° Sucessor: Aureliano Chaves (1929)
3° Sucessor: Francelino Pereira dos Santos

Cadeira 26
Patrono: Evaristo da Veiga (1799-1837)
Fundador: José Eduardo da Fonseca (1883-1934)
1° Sucessor: Mário Casasanta (1898-1963)
2° Sucessor: Henriqueta Lisboa ( 1904-1986)
3° Sucessor: Lacyr Annaziata Schettino
4° Sucessor: Pe. João Batista Megale
5° Sucessor: Vaga

Cadeira 27
Patrono: Corrêa de Azevedo (1856-1904)
Fundador: José Paixão (1868-1949)
1° Sucessor: Augusto de Lima Junior (1889-1970)
2° Sucessor: Cardeal Vasconcelos Motta (1890-1982)
3° Sucessor: Dom Oscar de Oliveira (1912-1997)
4° Sucessor: Pe. Paschoal Rangel (1922)

Cadeira 28
Patrono: Américo Lobo (1893-1903)
Fundador: José Rangel (1868-1940)
1° Sucessor: Guilhermino César (1908-1993)
2° Sucessor: José Bento Teixeira de Salles (1922)

Cadeira 29
Patrono: Aureliano Pimentel (1830-1908)
Fundador: Lindolpho Gomes (1875-1953)
1° Sucessor: Milton Campos (1900-1972)
2° Sucessor: Pedro Aleixo (1901-1975)
3° Sucessor: Gustavo Capanema (1900-1985)
4° Sucessor: Murilo Paulino Badaró (1931)

Cadeira 30
Patrono: Oscar da Gama (1870-1900)
Fundador: Luiz de Oliveira (1874-1960)
1° Sucessor: Oiliam José (1921)

Cadeira 31
Patrono: Lucindo Filho (1847-1896)
Fundador: Machado Sobrinho (1872-1938)
1° Sucessor: Salles Oliveira (1900-1968)
2° Sucessor: Manoel Casasanta (1902-1973)
3° Sucessor: Waldemar Pequeno (1892-1988)
4° Sucessor: Luís Carlos de Portilho (1910)

Cadeira 32
Patrono: Marquês de Sapucaí (1793-1875)
Fundador: Mário Lima (1886-1936)
1° Sucessor: Heli Menegale (1903-1893)
2° Sucessor: Almir de Oliveira (1916)

Cadeira 33
Patrono: Edgar Matta (1878-1907)
Fundador: Mário Magalhães (1885-1937)
1° Sucessor: Aires da Mata Machado Filho (1909-1985)
2° Sucessor: Nansen Araújo ( 1901-1996)
3° Sucessor: José Crux Rodrigues Vieira (1920)

Cadeira 34
Patrono: Thomaz Gonzaga (1744-1810)
Fundador: Mendes de Oliveira (1879-1918)
1° Sucessor: Noraldino Lima ( 1885-1951)
2° Sucessor: Nilo Aparecida (1914-1974)
3° Sucessor: Juselino Kubistschek (1902-1976)
4° Sucessor: Affonso Arinos (1905-1990)
5° Sucessor: Orlando Vaz Filho

Cadeira 35
Patrono: João Pinheiro (1860-1908)
Fundador: Navantino Santos (1885-1946)
1° Sucessor: Eugênio Rubião (1884-1949)
2° Sucessor: Silva Guimarães (1876-1955)
3° Sucessor: Orlando Carvalho (1910)
4° Sucessor: Carlos Mário da Silva Velloso

Cadeira 36
Patrono: Eloy Ottoni (1764-1851)
Fundador: Nelson Senna (1876-1952)
1° Sucessor: Oscar Mendes (1902-1983)
2° Sucessor: Wilton Cardoso (1916)
3° Sucessor: Aloísio Teixeira Garcia

Cadeira 37
Patrono: Manoel Basílio da Gama (1826-1903)
Fundador: Olympio Rodrigues de Araújo (1860-1923)
1° Sucessor: Aníbal Mattos (1886-1969)
2° Sucessor: Edgard de Vasconcellos Barros (1914-2004)
3° Sucessor: Olavo Celso Romano (1938)

Cadeira 38
Patrono: Beatriz Brandão (1779-1868)
Fundador: Paulo Brandão (1883-1928)
1° Sucessor: Honório Aarmando (1891-1958)
2° Sucessor: Vivaldi Moreira (1912-2001)
3° Sucessor: Pedro Rogério Couto Moreira

Cadeira 39
Patrono: Basílio da Gama (1740-1795)
Fundador: Plínio Motta (1876-1953)
1° Sucessor: João Camillo (1915-1973)
2° Sucessor: Edgar Mata Machado (1914-1995)
3° Sucessor: Patrus Ananias de Souza (1952)

Cadeira 40
Patrono: Visconde de Caeté (1766-1838)
Fundador: Pinto de Moura ( 1865-1924)
1° Sucessor: Affonso Penna Junior (1879-1968)
2° Sucessor: Maria José de Queiroz (1936)
--------------------------
Academia Mineira de Letras
Rua da Bahia, 1466, Lourdes - Belo Horizonte, MG - Cep: 30160-011
Telefone: (31) 3222-5764

Fonte:
Academia Mineira de Letras. http://www.academiamineiradeletras.org.br/

Comunicado


Comunico que, com um júbilo incontido, após haver obtido no ano passado o título de membro da Ordem Nacional dos Escritores (ONE), vim a receber a notícia de que meu nome foi indicado pelo presidente, Dr. Mário Carabajal, para assumir uma Cadeira Vitalícia na Academia de Letras do Brasil.

Agradeço a todos que colaboraram e me apoiaram, direta ou indiretamente para que obtivesse esta honraria.

Fraternalmente

José Feldman

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Biblioteca Comunitária Barca dos Livros (Florianópolis/SC)


A Barca dos Livros é uma biblioteca comunitária, mantida pela SOCIEDADE AMANTES DA LEITURA, com sede na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, que defende a importância da leitura para o desenvolvimento comunitário e individual.

Inaugurada em 02 de fevereiro de 2007, a Biblioteca possui um acervo de mais de 7.500 livros já catalogados e 3.000 em fase de catalogação. Nesses dois anos de atividade, a Biblioteca é referência na área do livro e da leitura, e presença constante na mídia local e nacional.

A Barca dos Livros foi finalista do Prêmio Vivaleitura 2007 (Minc/MEC e OEIAE e Grupo Santillana), recebeu em 2006 o 2° lugar no 11° Concurso FNLIJ/Petrobrás – Melhores Programas de Incentivo à Leitura junto a Crianças e Jovens de todo o Brasil. Em 2008 foi reconhecida como “ação destaque” no II Fórum do Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL/MinC) e I Encontro Internacional de Bibliotecas Comunitárias em São Paulo.

Em 2006 o Projeto foi aprovado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura /Minc (Lei Rouanet – Artigo 18) e contou com importantes incentivos da Eletrobrás, Eletrosul, Tractebel, BRDE e BADESC, o que permitiu equipar o espaço, contratar profissionais qualificados, atendendo às necessidades de funcionamento da sede/porto. O objetivo principal sempre foi o de facilitar o acesso ao livro e à leitura e a formação do leitor, através do atendimento diário e gratuito à comunidade e do programa mensal de incentivo à leitura, com a qualidade de um acervo de livros escolhidos.

Nesses dois anos de atividades, a Barca dos Livros atingiu uma média de 1.800 visitantes/mês (beneficiando escolares de todas as idades e público em geral da comunidade da Lagoa da Conceição e região, Florianópolis, Grande Florianópolis e também do interior do Estado).
–––––––––––––––––-
O Barco – Biblioteca Itinerante

A implantação do barco-biblioteca (biblioteca itinerante), concretizará na totalidade os objetivos do projeto Barca dos Livros. Montada a bordo de um barco especialmente adaptado, respeitando as condições geográficas, o meio-ambiente e as tradições culturais da população da Lagoa da Conceição, a biblioteca-itinerante cumprirá um roteiro de visitas, quando emprestará livros, receberá devoluções e servirá de base para atividades de estímulo à leitura diretamente nos núcleos das comunidades ribeirinhas da Lagoa da Conceição. Contadores de histórias, autores e oficinas de formação do leitor e mediadores de leitura complementarão e marcarão sua passagem.

Nas margens e proximidades da Lagoa da Conceição, vivem cerca de 40 mil habitantes espalhados em vários núcleos, com cerca de 20 mil crianças, adolescentes e jovens matriculados desde creches até o ensino médio e universitário. Linhas regulares de barcas servem a algumas comunidades ribeirinhas, como a Costa da Lagoa, cujo único acesso é a via aquática. É um microcosmo construído em torno da Lagoa, onde o barco é meio de transporte cotidiano e os 23 trapiches públicos são pontos de contato incorporados aos usos e costumes. Com o Barco - Biblioteca em funcionamento, ampliará em 50% o número de pessoas (adultos e crianças) que serão beneficiadas com as atividades de incentivo à leitura e acesso à Biblioteca.

O Projeto Barca dos Livros - Fase II - consta da circulação do barco-biblioteca e a realização das atividades de incentivo à leitura diretamente nas comunidades. Estamos trabalhando na captação de recursos para a compra e implantação do Barco-biblioteca, ainda em 2009. Enquanto isso, foram realizadas, desde a abertura da Biblioteca, a atividade mensal de incentivo à leitura chamada “Histórias na Barca dos Livros” – três passeios à bordo de um barco na Lagoa da Conceição, com livros, narração de histórias e música numa viagem encantadora.

Rua Senador Ivo d'Aquino, 103
Lagoa da Conceição, frente ao trapiche
(048) 3879-3208
Horário de funcionamento
De 3ª a 6ª das 10h às 20h
Sábados e domingos das 14h às 20h

Fonte:
http://www.amantesdaleitura.org/

Lançamento da Coletânea XXI Poetas de Hoje em Dia(nte)

Clique sobre a imagem para melhor visualização

Fonte:

Emílio de Meneses (Caldeirão Literário do Paraná)


L.M.

De uma magreza de evitar chuvisco,
Tem a altura fatal de um pára-raio.
Tão alto que, se o aspecto lhe rabisco,
Na vertigem da altura até desmaio.

Hoje é o senhor do cobiçado aprisco
De tenros diplomatas em ensaio;
Astuto, na rijeza de obelisco,
Não nos encara, espia de soslaio.

De alma arguta e sagaz, nada quimérica,
Feita de tino e de sabedoria,
Tudo a seu ver é uma função numérica.

Mas de andar e viajar, tem a mania.
Cometa diplomático da América,
Judeu errante da diplomacia.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

P.C.

Tão pequenino e trêfego parece,
Com seu passinho petulante e vivo,
A quem o olha, assim, com interesse,
Que é a quinta-essência do diminutivo.

Figura de leiloeiro de quermesse,
Meloso e parecendo inofensivo,
Tem de. despeitos a mais farta messe,
E do orgulho é o humílimo cativo.

Não há talento que ele não degrade,
Não há ciência e saber que ele, à porfia,
Não ache aquém da sua majestade.

Dele um colega, há tempos, me dizia:
É o Hachette ilustrado da vaidade,
É o Larousse da megalomania!
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

C.M.

Lá na terra dos pampas tem o nome
De chimarrita, diz o Leal de Souza,
E este apelido afirmam que o consome
E é o que o há de levar à fria lousa.

Se lho repetem briga e já não come,
Não pára, não descansa, não repousa,
Agüenta a sede, suportando a fome,
Dando o estrilo feroz por qualquer cousa.

Entretanto, não tem os dotes falhos;
Do talento gaúcho é um belo adorno
E tem brilhantes feitos e trabalhos.

Rapadurescamente espalha em tomo,
Uma impressão de cheiro a vinha-d'alhos,
De um leitãozinho mal tostado ao fomo.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

R.A.

Era ministro então. O Olavo e o Guima
Diziam que ele era o Morfeu da pasta,
E o dorminhoco andava em metro e rima
Na pilhéria que a tanta gente agasta.

Mas galgando o Catete, escada acima,
Num despertar febril, Morfeu arrasta
Todas as forças que a vontade anima,
Nos vastos planos de uma idéia vasta.

Tudo revive! A atividade é infrene.
São mutações de sonho! É o Eldorado,
É o Dinheiro na Estética e na Higiene!

Hoje, glorioso e um tanto fatigado
Não se deixa ficar calmo e solene
A dormir sobre os louros do passado.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

R.

Pedra preciosa de um tamanho imenso.
(Pois que o nome é um rubi deste tamanho
Que à sorte e à fortuna traz apenso),
Eis mais ou menos o seu vulto estranho.

Escravo cauteloso do bom senso
Fugidio ao espírito tacanho,
Quando entra em luta diz: Ou morro ou venço!
E é difícil que alguém lhe tome o ganho.

Desdobrado em trabalho multiforme,
Em finança e política não dorme,
E numa ou noutra. nunca perde a audácia.

Sendo do Bananal, não é um banana:
Tocou rumo a S. Paulo a caravana,
E ei-Io Rubião, em honra da rubiácea.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

J.DE M.

Com este agora a musa não contava!
Nem a musa mordaz, nem a brejeira,
Em certo dia o vejo a deitar lava,
Aproximo-me e encontro uma geleira.

Quando a aparência é fria, a alma está brava.
Se aquela é tormentosa, esta é fagueira.
E assim, da vida. o rumo, a sós, desbrava,
E, a sós, colima o termo da carreira.

Por muito que o humorismo o prenda e engrade.
Ele não esbraveja nem se irrita,
Mas se lhe escapa com facilidade.

A golpes de talento o laço evita
E ao ridículo opõe a habilidade.
Eis, mal pintado, o Júlio de Mesquita.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

W. L.

E um bandeirante novo, sem as botas
De andar em carrascais, ou serras brutas,
De penetrar nas mais profundas grotas
Ou se internar nas mais soturnas grutas.

É o bandeirante urbano nas devotas
Ânsias de ver em formas resolutas,
O esplendor das metrópoles remotas
Em plintos, colunatas e volutas.

Ele antevê. nas cores mais exatas
Da Paulicéia as graças infinitas,
No áureo fulgor de mágicas palhetas.

Porém, depois dos bons tempos de pratas,
Ele que é homem que detesta as fitas,
Sente a falta do arame nas gavetas.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

A. A.

Dizem que às vezes, quer se achar bonito,
Mas, nem sendo Amadeu e sendo amado,
Mas muito amado mesmo, eu não hesito:
Se não é feio é bem desengraçado.

Entretanto se o vejo (isto é esquisito)
Através de um soneto burilado,
É mais que belo, afirmo em alto grito,
É o próprio Apoio que lhe fica ao lado.

Mais comprido que a universal história,
Este Leconte com seu ar caipira,
Me deixa uma impressão nada ilusória.

Quando ele ao alto, a inspiração atira,
Com a cabeça a topar no céu da glória,
É um guindaste a guindar a própria lira.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

V. DE C.

Fraco e doente, se solta algum gemido,
Ou sai um verso ou brota uma sentença.
Se como Juiz sempre é acatado e ouvido,
Como poeta não sei de alguém que o vença.

Se nas Ordenações presta sentido,
Tem, nas regras de Horácio, parte imensa.
Não se lhe sabe o culto preferido:
Se na Arte ou no Direito, tem mais crença.

Tendo defeito, nunca teve alcunha.
Quando aparece, num reencontro à liça,
O que nos antagonistas acabrunha,

É ver que, sem fraqueza nem preguiça,
Numa só mão, com o mesmo gesto empunha,
A áurea lira e a balança da Justiça!. ..
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

F. G.

Este é por certo o verdadeiro espelho
Das maiores derrotas e conquistas
Que o regime vem tendo, e o seu conselho,
Tem sempre o cunho das mais largas vistas.

Foi das molas mais rijas do aparelho
Que deu cabo das hostes monarquistas.
Foi o Moisés do novo Mar Vermelho,
A égua madrinha dos propagandistas.

Calmo, risonho, perspicaz, cordato,
Todos sentem no Ilustre veterano,
Do político arguto o fino tato.

Mas o Matusalém republicano,
Tem orgulho infantil de ser, de fato,
O bisavô dos netos do Herculano!
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

L. DE F.

O rosto escuro em pontos mil furado,
Se lhe move da boca em derredor.
Não consegue um segundo estar calado
E é de S. Paulo o tagarela-mor.

Traz, de nascença. o todo avelhantado
De um macróbio infantil e, - coisa pior, -
Dá idéia de que já nasceu usado
Ou de que foi comprado no belchior.

Tudo nele é exagero, até a atitude
De saudar elevando o diapasão:
"Nobre amigo! Mui fuerte e de salude?"

No mais é um excelente amigalhão.
Mas que voz! É o falsete áspero e rude .
De um gramofone de segunda mão.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

L. G.

Este vale, em toicinho, a inteira Minas;
Derretê-lo, seria um desencargo
Para a atual crise das gorduras suÍnas.
(O Monteirinho a isso põe embargo).

Arrota francos, marcos, esterlinas,
Mas uma alcunha o faz azedo e amargo:
Senador tonelada. Usa botina
Cinqüenta e quatro, à sombra, bico largo.

Tem uma proverbial sobrecasaca,
Cujo pano daria, em cor cinzenta,
Para o Circo Spinelli uma barraca.

Da do Oliveira Lima ela é parenta
Pois só o forro das mangas dá, em alpaca.
Para o novo balão do Ferramenta.
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

M. DE S.

Conhecem, por acaso, o Monteirinho
Que é Antônio, que é Monteiro e que é de Souza?
Pois não é para aí um qualquer cousa
De baixo preço ou de valor mesquinho.

Assim mesmo tostado e mascavinho,
Numa poltrona do Monroe repousa,
Calado e quedo qual funérea lousa,
A apanhar perdigotos do vizinho.

Cabritinho de mama já esgotada,
No tapete não solta as azeitonas
E só espera o momento da marrada.

Dele, a exibir as alentadas lonas,
Diz o Lopes Gonçalves Tonelada :
Ai! cabrito cheiroso do Amazonas !
–––––––––––
Fonte:
MENESES, Emílio de. Mortalhas. em Meneses, Emílio de. Obra reunida. RJ: José Olympio,1980.

Emilio de Meneses (1866 – 1918)


Curitiba, 4 de julho de 1866 — Rio de Janeiro, 6 de junho de 1918

Emílio Nunes Correia de Meneses nasceu em Curitiba, Paraná. Jornalista e poeta, foi eleito para a Academia brasileira de Letras mas faleceu antes de tomar posse. . Escreveu sonetos e poemas satíricos tão mordazes que o comparavam a Gregório de Mattos. Considerado boêmio e excêntrico para os padrões da época.

Era filho de Emílio Nunes Correia de Meneses e de Maria Emília Correia de Meneses, único homem dentre oito irmãs. Seu pai era também um poeta. Faz seus estudos iniciais com João Batista Brandão Proença, e depois no Instituto Paranaense. Sem ser de família abastada, trabalha na farmácia de um cunhado e, ainda com dezoito anos, muda-se para o Rio de Janeiro, deixando em Curitiba a marca de uma conduta já distoante ao formalismo vigente: nas roupas, no falar e nos costumes.

Boêmio, na capital do país encontra solo fértil para destilar sua fértil imaginação, satírica como poucos. A amizade com intelectuais, entretanto, fez com que tivesse seu nome afastado do grupo inicial que fundara a Academia. Torna-se jornalista e, por intercessão do escritor Nestor Vítor, trabalha com o Comendador Coruja, afamado educador. Em 1888 casa-se com uma filha deste, Maria Carlota Coruja, em 1888, com quem tem no ano seguinte seu filho, Plauto Sebastião.

Mas Emílio não estava fadado para a vida doméstica: neste mesmo ano separa-se da esposa, mantendo um romance com Rafaelina de Barros.

Autor de versos mordazes, eivados de críticas das quais não escapavam os políticos da época, mestre dos sonetos, Emílio de Meneses é portador de uma tradição - iniciada com o Brasil, em Gregório de Matos.

Tendo sido nomeado para o recenseamento, como Escriturário do Departamento da Inspetoria Geral de Terras e Colonização, em 1890, Emílio aposta na especulação da falácia econõmica do Encilhamento, criada pelo Ministro da Fazenda Ruy Barbosa: como muitos, fez rápida fortuna, esbanja e, terminada a farsa, como todos os outros investidores, vai à falência. Não muda, entretanto, seus hábitos. Continua o mesmo boêmio de sempre, a povoar os jornais da época com suas percucientes anedotas.

Sobre o poeta

"Os que conheceram Emílio de Meneses ainda estão a vê-lo, com aquela bigodeira a Vercingectorix e aquele amplo chapéu, ora brandindo o bengalão retorcido, a expedir raios sobre a iniquidade dos pigmeus que o irritavam; ora sufocado num riso apopléctico de intenso gozo mental, rematando uma sátira com que, destro, arrasava a empáfia dos potentados e a impertinência dos presunçosos; ora bonacheirão, carinhoso, entalando uma fatia de pão-de-ló na boca de um de seus fiéis cães de raça; ora ainda transfigurado, olímpico, dizendo, com inspiração extraterrena, 'Os Três Olhares de Maria' ou o 'Ibiseus Mutabilis'. (...)" - Mendes Fradique, no Prefácio de "Mortalha - Os deuses em ceroulas".

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

Apesar de preterido pelo silogeu nacional, Emílio veio finalmente a ser eleito (15 de agosto de 1914) segundo ocupante da Cadeira 20, cujo Patrono é Joaquim Manuel de Macedo, e na qual jamais veio a tomar assento, falecendo em 1918. Seria saudado por Luís Murat.

Na versão oficial, disponível no sítio da ABL, Emílio deixara de tomar posse por conta da sua teimosia em manter críticas no discurso de posse:

Emílio compôs um discurso de posse, em que revelava nada compreender de Salvador de Medonça, nem na expressão da atuação política e diplomática, nem na superioridade de sua realização intelectual de poeta, ficcionista e crítico. Além disso, continha trechos argüidos, pela Mesa da Academia, de “aberrantes das praxes acadêmicas”. A Mesa não permitiu a leitura do discurso e o sujeitou a algumas emendas. Emílio protelou o quanto pôde aceitar essas emendas, e quando faleceu, quatro anos depois de ter sido eleito, ainda não havia tomado posse de sua cadeira. (do sítio da Academia).

Sobre o episódio do discurso de Emílio, o Imortal Afrânio Peixoto, que por muitos anos presidiu a Casa, consignou:

Emílio de Meneses quisera descompor a Oliveira Lima, ao que se opôs Medeiros e Albuquerque, que então presidia, ordenando a supressão dos tópicos alusivos e ofensivos: à insistência do neófito, em dizê-los, ameaçou-o com o comutador da luz elétrica, desde aí ao alcance da mão do presidente. Não foi preciso usar deste obscuro meio coercitivo, porque o acadêmico recalcitrante não chegou a ser recebido, e seu discurso apenas tardiamente publicado nos jornais, razão por que não figura na coleção da Academia.

Obras

Emílio escrevia não apenas com o próprio nome: diversos pseudônimos foram por ele utilizados, tais como Neófito, Gaston d’Argy, Gabriel de Anúncio, Cyrano & Cia., Emílio Pronto da Silva.

Trabalhos publicados
Marcha fúnebre - sonetos - 1892
Poemas da morte -1901
Dies irae - A tragédia de Aquidabã - 1906
Poesias - 1909
Últimas rimas - 1917
Mortalha - Os deuses em ceroulas - reunião de artigos, org. Mendes Fradique - 1924
Obras reunidas - 1980

Fontes:
http://pt.wikipedia.org
Foto = Academia Brasileira de Letras

Dicionário de Folclore (Letra H)



HARMÔNICA. Veja FOLE.
HERMILO BORBA FILHO nasceu no dia 2 de junho de 1917, no Engenho Verde, Palmares, PE. Concluiu o curso de bacharel em Ciências Jurídicas e sociais na Universidade Federal de Pernambuco. Homem plural, foi diretor do Departamento de Documentação e Cultura e da Divisão de Extensão Cultural da Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura da Cidade do Recife, chefe do Departamento de Teatro da Universidade Federal de Pernambuco, diretor do Museu de Arte Popular do então Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, secretário-geral da Comissão Pernambucana de Folclore, Diretor de Argumentos da Kino Filmes (São Paulo), presidente da Associação Paulista de Críticos Teatrais, produtor de TV e secretário da revista VISÃO (São Paulo), romancista teatrólogo, contista, folclorista, professor universitário. Na área do Folclore, publicou: Arte popular nordestina (1966), Fisionomia e espírito do mamulengo (1966), Espetáculos populares do Nordeste (1966), Apresentação do bumba-meu-boi (1967), Três espetáculos populares de Pernambuco (1967), Cerâmica popular do Nordeste (1969) e Um problema de cultura popular (1970). Faleceu no dia 2 de junho de 1976, na cidade do Recife, PE.
HIPOCAMPO. O hipocampo é um monstro que é metade cavalo e metade peixe.
HOMEM-DA-MEIA-NOITE (O). Fundado em 1931, na cidade de Olinda, PE, o Homem-da-Meia-Noite começou, inicialmente, como uma troça da qual participava um boneco com três metros de altura. O nome foi tirado de um seriado de muito sucesso, de igual nome, no tempo do cinema mudo. Em 1937 a troça passou a ser bloco.
HOMEM-DOS-PÉS-DE-LOIÇA. É um fantasma que costuma aparecer na Ilha Grande, Mangaratiba, Estado do Rio de Janeiro. Dizem que a assombração é a alma dos pescadores que estão pagando seus pecados; outros acreditam ser o espírito de náufragos. Tem o corpo igual ao dos demais homens, mas os pés são diferentes, são de louça.
HORAS. As horas têm a finalidade de dividir o dia e a noite. As horas abertas são aquelas em que as coisas más podem acontecer. Os demônios e os fantasmas estão livres. É durante a madrugada e o anoitecer que as pessoas morrem. Meio-dia e meia-noite e pelas trindades, são horas misteriosas, horas de aparições e de bruxedos.
HUMULUCU. Veja FEIJÃO AZEITE.

Fontes:
LÓSSIO, Rúbia. Dicionário de Folclore para Estudantes. Ed. Fundação Joaquim Nabuco
Imagem = http://www.terracapixaba.com.br/

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Adelina Lopes Vieira (Contos Infantis em Versos)


Chuva e sol

Junta ao pendor do abismo e suster-se sozinha;
quase a tombar no mal, lutar vencendo o mal,
é difícil, é belo! Eu vi exemplo igual
na ingênua candidez de linda criancinha.

Disse a mamãe, um dia, à loura Georgeana:
— Se até anoitecer, eu não te ouvir chorar,
nem dar gritos, prometo, amor, ir-te comprar
uma nenê gentil, d'olhos de porcelana.

Apenas isto ouviu, a bela pequenita
dança e salta a cantar, com tal sofreguidão,
que entontecendo, cai, ao comprido, no chão.
Esqueceu-lhe a promessa. Ei-la que chora e grita.

— Prantos? adeus boneca. Ouvindo esta ameaça,
ergue-se Georgeana e diz muito ligeira,
mudando o choro em riso, e com imensa graça.
— Chorei... por brincadeira…
––––––––––––––-

Dom Quixote

Paulo tinha seis anos incompletos;
tinha só quatro o louro e gentil Mário.
Foram à biblioteca, sorrateiros,
e ficaram instantes, mudos, quietos,
a espreitar se alguém vinha; então, ligeiros
como o vento, correram p'ra o armário,
que encerrava os volumes cobiçados:
eram dois grandes livros encarnados,
cheios de formosíssimas gravuras,
mas pesados, meu Deus!
0s pequeninos
porfiavam, cansados, vermelhitos,
por tirá-los da estante. Que torturas!
'Stavam tão apertados, os malditos!
Enfim, venceram não sem ter lutado...
Paulo entalou um dedo, o irmãozinho,
ao desprender os livros, coitadinho!
cambaleou, e foi cair... sentado.
Não choraram: beijaram-se contentes
e Paulo disse a Mário: Que bellote!
vamos ver à vontade o D. Quixote,
sem os ralhos ouvir, impertinentes,
da avó, que adormeceu. Oh! que ventura!
Mário, tu não te mexas, fica atento:
eu vou mostrar-te estampas bem pintadas
com uma condição: cada figura
há de trazer ao nosso pensamento
uma dessas partidas engraçadas,
que eu sei fazer. Serve-te assim?
— 'Stá dito.
Oh! que homenzinho magro! Que esquisito!
Quem é?
— É D. Quixote.
— o barrigudo
é dona Sancha, que a mamãe me disse.
— Dona Sancha é mulher. Oh! que tolice!
O nome que ele tem, bobo, é Pançudo.
— Que está fazendo o padre na cadeira,
a entregar tanto livro à rapariga?
— São livros maus, que vão para a fogueira.
— Quais são os livros maus?
— Não sei, mas penso
que devem ser os que não têm dourados
nem pinturas. Por mais que o papai diga
que o livro é sempre bom, não me convenço.
— Ouves? Chamam por ti, fomos pilhados!
— Meu Deus, como há de ser? Mário, depressa,
vamos arrumar isto; assim.
— Não cessa
De chamar-nos a avó!
— Pronto.
— Inda faltam
três livros.
— Já não cabem.
— Que canseira!
— Têm figuras?
— Não têm.
— Capas bonitas?
— Também não têm.
— Então são maus e saltam
pela janela: atira-os à fogueira.
Eram Sêneca, Eurico e Os jesuítas.
Escaparam do fogo os condenados,
ficando um tanto ou quanto amarrotados.
Salvou-os o papai, mas impiedoso,
fechou a biblioteca, e rigoroso
condenou os dois réus, feroz juiz!
A soletrar... os Contos Infantis
–––––––––––––––––––––––-

Meiguice

Deram à linda Clarisse
uma gatinha mimosa,
tão branca, tão carinhosa,
tão engraçada, tão mansa
que a encantadora criança
por nome lhe pôs — Meiguice.

Tinha bom leite ao almoço
e biscoitos e bolinhos;
dormia em sedas e armarinhos,
e ronronava fagueira
quando sentia a coleira
de fita azul, no pescoço.

Clarisse amava deveras
a bichinha cor de neve
e a gata, nervosa e leve,
adorava a pequenita;
e tinham graça infinita,
estas amigas sinceras!

Veio Raul, o mais louro
e traquinas dos rapazes,
forte e audaz entre os audazes,
fanfarrão e desordeiro;
correu a casa ligeiro
indo encontrar o tesouro,

a doce e branca Meiguice,
deitada comodamente
na cama fofinha e quente
da prima, e gritou: — Que vejo?
um bicho tão malfazejo,
sobre o leito de Clarisse!

E... zás, suspendeu a gata
pela coleira de fita,
atirou a pobrezita,
ao jardim e, satisfeito,
à priminha o heróico feito
foi contar como bravata.

Debatia-se Meiguice,
no lago, fria, transida,
a morrer.
O gaticida
sentiu remorso pungente
ao ver o pranto tremente
no olhar azul de Clarisse.

E... correndo, denodado,
deitou-se ao lago profundo,
(dois palmos d'água); do fundo
tirou Meiguice, e ofegante
disse em tom dilacerante:
— Salvei-a!
— Estou perdoado?
–––––––––––––––––––––-

O ramo verde

Frederico era estouvado,
não aceitava conselhos;
ria e zombava, coitado!
das sábias lições dos velhos.

Sofia, meiga criança,
era o contraste perfeito
do irmão, uma pomba mansa
sem o mais leve defeito.

Dera o papai aos pequenos
dois canteiros bem plantados,
em tudo iguais; mas em menos
de um mês estavam mudados.

O de Sofia, que encantos!
Tinha fartura de rosas,
cravos, baunilha, agapantos,
e violetas perfumosas.

No outro havia mamona,
urzes, trifólios, urtigas
e uns restos de manjerona
já roída das formigas.

Foram à tarde a passeio
no jardim os dois; Sofia
colhia rosas; em meio
disse ao irmão: — que alegria!

Vou dar à mamãe um ramo
das minhas amadas flores!
a sua alcova embalsamo
e alcanço beijos e amores!

— Dás-me esta rosa encarnada,
Sofia, p'ra o seu cabelo?
— Dou, mas não levas mais nada;
corrige o teu desmazelo.

Trabalha, meu preguiçoso!
Ouro é o tempo que se perde
não deves ser ocioso,
nem pôr pé em ramo verde.

Só assim terás emenda!
— Tens graça, linda agoireira;
vais ver, minha doce prenda,
se a sentença é verdadeira.

Disse, e subiu apressado
a verde acácia frondosa,
e lá, de um ramo delgado,
gritou à irmã receosa:

— Não vês o ramo... sensata?
o pisá-lo não me aterra...
Mal acabara a bravata,
partiu-se o ramo, ei-lo em terra.

Na queda quebrou um braço,
Sofia teve um fanico...
Mas deixou de ser madraço
o pequeno Frederico.
----------

Adelina Lopes Vieira (1850 – s.d.)


Adelina Amélia Lopes Vieira, nasceu em Lisboa, Portugal, 1850. Não se conhece a data de falecimento. Formou-se professora pela Escola Normal no Rio de Janeiro, por volta de 1870. Em 1886 ocorreu a publicação de seu livro Contos Infantis, escrito com a irmã Júlia Lopes de Almeida, reunindo 31 contos em verso de sua autoria. Em 1899 atuou como colaboradora de A Mensageira, "revista literária dedicada à mulher brasileira", dirigida por Presciliana Duarte de Almeida. No começo do século XX, escreveu as peças teatrais A Virgem de Murilo, As Duas Dores, Expiação, e traduziu a comédia teatral A Terrina, de Ernesto Hervelly. Adelina Lopes de Almeida escreveu obra pioneira da poesia infantil brasileira; junto a outros intelectuais, como Francisca Júlia e Olavo Bilac, ajudou a criar literatura para crianças genuinamente nacional.

Fontes:
http://pt.wikisource.org/wiki/Autor:Adelina_Lopes_Vieira
Imagem = http://www.antoniomiranda.com.br/

Plágio em Concursos (Dúvidas)



1 - Se numa trova ou numa poesia eu colocar uma das estrofes "o poeta é um fingidor" (que é de conhecimento geral ser do Fernando Pessoa), mas todo o resto for diferente, pode ser considerado como um plágio? Ou perdem seu direito a participar de um concurso?

R= Não tem como implicar com uma trova porque tem um verso igual ao verso de outra. No entanto, em um concurso, os julgadores poderão desconsiderar a mesma, caso este verso seja extremamente conhecido, como o de Fernando Pessoa.

2 - Se as estrofes forem formadas de gente conhecida, mas cada uma de um outro autor. Exemplo: 1ª. Estrofe é do Castro Alves, a 2ª. Do Manuel Bandeira, a 3ª. Do Cláudio Manoel da Costa a 4ª. Do Ouverney, e assim por diante. Isto é considerado plágio?

R= Este caso se aplica ao exemplo anterior. Versos do conhecimento geral não tem como "assumirmos a paternidade" em um concurso.

3 - Se eu participar com uma trova em um concurso e nem me classificar com ela e quiser envia-la para outro, posso ou não é permitido isto, pois de repente os julgadores podem ser deste e lembrar desta trova?

Pode. Em Pouso Alegre, no ano 2000, Waldir Neves foi 1º lugar no tema "Noite:

Cai a noite ... Seu negrume,
mercê de um mistério estranho,
faz de um ínfimo queixume
um lamento sem tamanho ...

Quando eu o parabenizei pela belíssima trova (muito bem elaborada), ele me disse que ela havia sido enviada, anos atrás, para Friburgo e não pegou nada lá. O julgador poderá até lembrar-se dela mas o que vale é não ter sido publicada em lugar nenhum, ser inédita em termos de divulgação.

4 – Se eu haver divulgado uma trova na Internet, posso participar de concurso com ela, ou por estar ao publico perde direito?

R= Se ela está divulgada, deixou de ser inédita. Já vi casos, até recentes (em que o autor arrisca pois, afinal, pouca gente o acessou na Internet. Manda para o concurso e ganha. Eu, particularmente, acho mais grave o autor premiar com uma trova já premiada. O que também ocorre. Veja o exemplo abaixo:
http://www.falandodetrova.com.br/2008/miltonloureiro

5 - Até quanto de uma trova ou poesia é considerado plágio?

Exemplo:
Naqueles tempos de antanho,
De escribas e fariseus,
Conheci um homem tacanho,
Que consertava pneus.

As duas primeiras é do Durval Mendonça (o restante seria: Um homem do meu tamanho/ tinha o tamanho de Deus) e as 2 ultimas muito mal feitas (horrorosas) (só como exemplo), são minhas. É plágio isto?

São dois versos extremamente conhecidos, seriam caracterizados como plágio. Acho que não é bem o tamanho do que se copiou mas é quando se atinge a parte chamada "achado", o diferencial da composição. Conheço trovas que têm até três versos parecidos, mas são tão comuns que todo dia tem alguém escrevendo algo igual, ou quase.

6 – Reforçando, até quanto de uma trova ou poesia é plágio?

R= Acho que foi respondido no item anterior. Nesse caso agora, que deu polêmica, uma trova, premiada em 1992, foi:

Ontem rompemos os laços
e a saudade, por magia,
me faz ouvir os teus passos
por toda a casa vazia!...

E a outra, premiada, em 2006 (autores diferentes) foi:

Ontem rompemos os laços...
Numa utópica magia,
a saudade pôs teus passos
por toda a casa vazia...