segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Paraná em Trovas

Passeio Público de Curitiba (Pintura de Alfredo
Andersen - c. 1925)
Da viagem pouco importa
minhas dores e cansaços,
se ao voltar te encontro à porta
a receber-me nos braços!
Amália Max

Quando o assunto exige pressa,
então redobre o cuidado!
“Viver mais” é o que interessa,
mesmo chegando atrasado.
Ângelo Batista

Dois corpos não podem, dizes,
ocupar o mesmo espaço...
Podem, sim, quando, felizes,
se fundem num terno abraço!
Antônio Augusto de Assis

Não pode ser infeliz
o que trova com amor;
quem faz o outro feliz
deixa de ser sofredor.
(+) Harley Stocchero

A saudade rasga o véu
do tempo e traz do passado
minha mãe, que lá do céu,
sempre tem me abençoado.
Horácio F. Portella

Abrindo meu coração,
aos quatro ventos proclamo:
ergui meu lar no teu chão,
és a cidade que eu amo!
Janske N. Schlenker

Um sorriso, ainda que seja
muito breve, de passagem...
É maneira, benfazeja,
de passar uma mensagem.
Jorge de Oliveira

Nos labores desta lida,
venha sempre o que vier,
curvo minha alma rendida
a Deus, que me fez mulher.
Karla C. Bitencourt

Quem divide os próprios
dias, sem desejo interesseiro,
merece sim, alegrias
e...encontra paz, por inteiro!
Lourdes B. da Porciúncula

Minha mãe já bem velhinha
não controla as emoções
ao soar a campainha
de suas recordações!
Mª Aparecida Pires

Se caem do céu as águas
com tanta beleza e encanto
por que desencanto e mágoas
há nas águas do meu pranto?
Mª da Conceição Fagundes

Escolher rumos amenos,
inovar o dia-a-dia,
errar menos... sempre menos...
também é SABEDORIA.
Mª da Graça Stinglin de Araújo

Num pratinho prateado,
dei-lhe a flor da inspiração.
E você, tão encantado,
deu-me a flor do coração.
(+) Marita Taborda França

Entre o céu, o mar e a terra
habita no Paraná,
a gralha azul que soterra...
o pinhão que brotará!
Mariza S. de Azevedo

Meu amor na mocidade
foi efêmera ilusão;
dele só resta a saudade,
nas cinzas de uma paixão.
Maurício N. Friedrich

Construtor de propriedade,
João-de-Barro, arquiteto
sem cursar a faculdade,
cria e monta o seu projeto.
Nei Garcez

Quem diz que não tem saudade
e se é verdade o que diz,
não teve a felicidade
de já ter sido feliz.
Orlando Woczikosky

Minha noiva não tem dó:
pelo seu regulamento,
me avisou, agora só,
que noivado é casamento!
Ralf Gunter Rotstein

Minhas trovas são abraços.
Mil braços vou abraçar
nos mil infinitos laços
que a trova sabe engendrar.
Roza de Oliveira

O amor quando é verdadeiro
no peito em que faz guarida,
principalmente, o primeiro...
deixa marca em nossa vida!
Sara Furquin

Sinto imensa gratidão
por alguém que nunca vi,
mas que fez a plantação
dos frutos que hoje colhi!
Vanda Fagundes Queiroz

Diz-se que o poeta não
morre, uma assertiva bonita!
Verdade que não ocorre,
mas é mentira bendita!
Vidal Idony Stockler

Não busque a felicidade
pelas trilhas da utopia,
busque-a dentro da verdade
e à luz da Sabedoria.
Walneide F.S. Guedes

A trova é mais que um recado
escrito por nossa mão,
é um lindo cartão timbrado
pela voz do coração.
Wandira F. Queiroz

A Trova, chispa divina,
bem igualzinha ao amor:
É sublime, é bela, fina...
nos lábios do Trovador!
Wellesley Nascimento

No grande jogo da vida
sorvi belo amor, profundo!
Viver vida bem vivida
é o melhor bingo do mundo.
Yaramara de Castro A.Fiecker
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Fonte:
Colaboração de Antonio A. De Assis com o Informe: Os Trovadores. Ano 18. N.57. Julho 2009. UBT/ Curitiba,PR.

Euclides da Cunha (Os Sertões)


Mas, afinal, de que assunto trata o livro Os Sertões?

Pergunta simples, resposta complexa. Podemos encaminhá-la lembrando que, em 1897, ocorreu no sertão da Bahia episódio que ficou conhecido como a Guerra de Canudos. Chefiados por Antônio Conselheiro, sertanejos reuniram-se numa cidadela - chamada Canudos - situada nas margens do rio Vaza-Barris. O crescimento da nova comunidade e as características de seu líder e adeptos incomodou fazendeiros da região pela redução da mão-de-obra disponível nas fazendas; acrescendo-se a isso o não pagamento de impostos e práticas consideradas incompatíveis com a religião, gerou-se situação considerada de exceção pelo governo estadual e, logo depois, pelo governo federal.

A tentativa de dissuadir os conselheiristas a abandonarem o local através de intervenção da Igreja - dois capuchinos visitaram Canudos para este fim - resultou inútil. A partir daí, pequenos incidentes precipitaram ações progressivamente maiores dos governos estadual e federal. Foram realizadas quatro expedições militares contra Canudos. O fracasso da terceira expedição, formada por 1300 homens, transformou Canudos num problema nacional: atribuiu-se à cidadela a condição de foco monarquista, isso numa época em que o regime republicano estava por se firmar e temia-se o retorno da monarquia.

A quarta expedição, comandada pelo general Artur Oscar, enfrentou grande resistência dos canudenses e prolongou-se por tempo além do previsto. Ante o iminente fracasso de mais uma expedição o Ministro da Guerra, marechal Carlos Machado Bittencourt, foi enviado ao palco das operações. É nesse momento que se inicia a participação de Euclides da Cunha no conflito. Em março de 1897 Euclides havia escrito dois artigos sobre Canudos no jornal O Estado de São Paulo sob o título de A Nossa Vendéia. No primeiro desses artigos traduzia a impressão de que o movimento de Canudos visava a restauração da monarquia. Entretanto, para o articulista, o simples desejo de restauração seria insuficiente para explicar tão grande sublevação. Havia, portanto, em Canudos um mistério a se desvendar. Além disso, adiantava-se Euclides ao tom dos artigos escritos na época, alertando para as condições geográficas do sertão, estas talvez o maior inimigo das forças republicanas.

Convidado por O Estado, Euclides da Cunha licenciou-se de suas atividades e tornou-se repórter daquele jornal. Tempos depois, embarcou em direção a Salvador viajando no mesmo navio que levava Machado Bittencourt. O desembarque na cidade aconteceu em 7 de agosto sendo que ali ficaram até 30 de agosto, data do início da viagem ao sertão. Dos dias em que Euclides esteve em Salvador e de todo o período de viagem a Canudos resultaram vários artigos enviados por ele e publicados pelo jornal. Toda essa correspondência de guerra foi mais tarde reunida num livro de reportagens intitulado Diário de uma Expedição.

Chama atenção nessas reportagens a progressiva mudança das opiniões de Euclides: o contato com a realidade do sertão e a extraordinária capacidade do escritor para observar e analisar detalhes ignorados por outros rapidamente o convenceram de que a guerra que supunha-se rápida não estava por terminar; que Canudos de modo algum seria foco de resistência monarquista com intenções restauradoras. Canudos era, sim, uma sociedade velha gerida pela autoridade do Conselheiro e ininteligível aos brasileiros do litoral.

Canudos finalmente caiu nos primeiros dias de outubro de 1897. População dizimada e arraial destruído, a vitória foi comemorada com grandes manifestações na capital federal. A espantosa resistência dos jagunços resultou em mais de cinco mil mortes nas tropas do Exército - considerando-se as quatro expedições.

Terminada a Guerra Euclides da Cunha retornou às suas atividades de engenheiro junto à Superintendência de Obras do Estado de São Paulo. Entretanto, já trabalhava em seu livro que só viria a ser publicado em 1902.

Em Os Sertões Euclides da Cunha não se limita a narrar os episódios da sangrenta Guerra de Canudos a qual denunciou como crime. Para explicar os fatos ocorridos no sertão da Bahia o escritor serve-se de todos os meios que, na época, estão ao seu alcance. Exaltando a influência do meio e da raça no comportamento coletivo, Euclides recorre à geografia, à sociologia, às características climáticas, raciais e biológicas, às biografias, ao linguajar dos caboclos, aos depoimentos que ouviu e todo o conteúdo do que pode observar no sertão. Só munido de tais ferramentas pode estabelecer as diferenças entre o brasileiros das regiões litorâneas e as incultas gentes dos sertões, submetidas às mais precárias condições de vida, ao ambiente geográfico e climático completamente desfavorável. Foi desse modo, analisando profundamente os móveis que permitiram o surgimento da coletividade canudense que Euclides, aos poucos deixando de lado suas convicções científicas moldadas segundo o determinismo vigente na época, pode ver no jagunço outra sorte de brasileiros cuja defesa procedeu através das páginas de seu livro vingador. Sobre isso nos diz Silvio Rabelo, um dos biógrafos de Euclides: " Ele viu na resistência heróica dos jagunços do Conselheiro mais que uma possível ameaça às instituições e à ordem estabelecida. Ele viu o direito de sobrevivência de uma população que estacionara por não ter tido condições favoráveis à assimilação dos valores culturais do litoral, em bases econômicas mais sólidas e sob influência de idéias mais avançadas. Os Sertões são, deste modo, um brado e brado quase inútil, contra o crime de um governo que abandonara a sua gente a uma natureza nem sempre propícia à vida e a uma organização social nem sempre compatível com a dignidade humana; e, mais do que isto, exterminara-a sem nenhuma condescendência."

É a variedade de recursos utilizados por Euclides na confecção de seu livro - história, geografia, etnologia, sociologia, etc - que torna inúteis as tentativas de classificar Os Sertões dentro de gêneros literários estanques. Livro de história, sociologia, literatura ou simples ficção? Impossível responder a não ser para dizer que Os Sertões são a um só tempo um pouco disso tudo e, mais que isso, obra genial de um genial escritor.

Há na prosa de Euclides muito de poesia conforme atestaram alguns estudiosos. A linguagem é rica e profunda sugerindo estar o escritor a esculpir suas palavras, metodicamente. É muito dele o uso de palavras incomuns e mesmo a busca de termos arcaicos quando não encontra no vocabulário de sua época algo que sirva para traduzir com fidelidade a imagem que empresta ao leitor. Precisão de relojoeiro, de alguém atento ao ritmo e às sonoridades, alguém que tem o gosto por paradoxos e que abusa de contrastes para deles extrair a força máxima de palavras e imagens. Assim, a riqueza verbal de Os Sertões é estonteante, obra de quem força a língua aos seus limites para dela extrair o máximo.

O grande livro que é Os Sertões paga tributos aos conhecimentos científicos vigentes á época em que foi escrito. Entretanto, Euclides da Cunha rompe com a camisa-de-força dos princípios então disponíveis para descobrir nos sertanejos a grande força que os conduz ao extermínio, embora sem jamais render-se. "O sertanejo é, antes de tudo, um forte" e "Canudos não se rendeu" estão entre as máximas imorredouras da obra de Euclides da Cunha e traduzem com fidelidade a natureza do trabalho a que ele se dedicou.

Fonte:
http://www.tarrafaliteraria.com.br/homenagem.aspx

Euclides da Cunha (1866 – 1909)



Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em Cantagalo (RJ), no dia 20 de janeiro de 1866. Foi escritor, professor, sociólogo, repórter jornalístico e engenheiro, tendo se tornado famoso internacionalmente por sua obra-prima, "Os Sertões", que retrata a Guerra dos Canudos.

Cronologia:

1866 - Nasce no dia 20 de janeiro, na Fazenda Saudade, em Cantagalo, região serrana no vale do rio Paraíba do Sul, na província do Rio de Janeiro, onde vive até os três anos, quando falece sua mãe. O autor e sua irmã, Adélia, passam a viver, em 1869, com seus tios maternos, Rosinda e Urbano, em Teresópolis (RJ).

1871 - Com a morte da tia, Rosinda, vão morar com os tios maternos, Laura e Cândido, em São Fidélis (RJ).

1874 - Inicia os estudos no Instituto Colegial Fidelense.

1875 - Seu pai, Manuel Rodrigues Pimenta da Cunha, tem o poema "À morte de Castro Alves" publicado na segunda edição de "Espumas flutuantes", do poeta baiano, prematuramente falecido.

1877 - Estuda no Colégio Bahia, em Salvador (BA), durante um breve período em que morou naquela cidade, na casa de sua avó paterna.

1879 - Muda-se para a cidade do Rio de Janeiro (RJ), e estuda no Colégio Anglo-Americano.

1883 - Estuda no Colégio Aquino, e escreve seus primeiros poemas em um caderno, ao qual dá o título de "Ondas".

1884 - Publica em "O Democrata", jornal dos alunos do Colégio Aquino, seu primeiro artigo.

1885 - Ingressa na Escola Politécnica para cursar Engenharia. Freqüenta somente por um ano, pois é obrigado a desistir por motivos financeiros.

1886 - Matricula-se na Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, no curso de Estado-maior e Engenharia Militar da Escola Militar, medida adotada porque a Escola pagava soldo e fornecia alojamento e comida. Tinha, entre seus colegas, Cândido Rondon, Lauro Müller, Alberto Rangel e Tasso Fragoso.

1887 - Passa, por três vezes, pela enfermaria da escola. Pede licença de dois meses para tratar da saúde.

1888 - Sua matrícula na Escola Militar da Praia Vermelha é trancada, face ao ato de protesto durante uma visita do Ministro da Guerra, conselheiro Tomas Coelho, do último gabinete conservador da monarquia. É desligado do Exército sob o pretexto de incapacidade física. Convidado, passa a escrever no jornal "A Província de São Paulo", hoje "O Estado de São Paulo", jornal engajado na campanha republicana. O artigo "A pátria e a dinastia, publicado no dia 20/12/1888, marca sua estréia.

1889 - Retorna à Escola Militar da Praia Vermelha, graças ao apoio de seu futuro sogro , o major Sólon Ribeiro e de seus colegas da Escola, que pedem sua reintegração.

1890 - Casa-se com Ana Emília Ribeiro.

1891 - Tira um mês de licença para tratamento de saúde. Viaja com a esposa para a Fazenda Trindade, de seu pai, localizada em Nossa Senhora do Belém do Descalvado (atual Descalvado), no interior de São Paulo. Morre sua filha Eudóxia, recém-nascida.

1892 - Conclui o curso na Escola Superior de Guerra e é promovido a tenente, seu último posto na carreira. Cumpre estágio na Estrada de Ferro Central do Brasil - trecho paulista da ferrovia, entre a capital e a cidade de Caçapava, por designação do marechal Floriano Peixoto. É nomeado auxiliar de ensino teórico na Escola Militar do Rio. Nasce seu filho Solon Ribeiro da Cunha.

1893 - Escreve artigo com críticas ao governo do marechal Floriano, cuja publicação foi negada pelo jornal "O Estado de São Paulo". Acometido de forte pneumonia, interrompe sua colaboração com o jornal. Volta a trabalhar como engenheiro praticante na Estrada de Ferro Central do Brasil. Com a Revolta da Armada, que teve início em 06/09, seu sogro é preso. Sua mulher, Ana, refugia-se, com o filho Solon, na fazenda do sogro, em Descalvado (SP). O escritor é designado para servir na Diretoria de Obras Militares.

1894 - É punido com transferência para a cidade de Campanha (MG), por ter protestado, em cartas á "Gazeta de Notícias", do Rio, contra a execução sumária dos prisioneiros políticos, pedida pelo senador florianista João Cordeiro, do Ceará. Nasce seu filho Euclides Ribeiro da Cunha Filho, o Quidinho.

1895 - Obtém licença do Exército, por ser considerado incapaz para o serviço militar devido à tuberculose. Vai para a fazenda do pai e se dedica às atividades agrícolas. Cansado, poucos meses após tornar-se lavrador, vai trabalhar como engenheiro-ajudante na Superintendência de Obras Públicas em São Paulo.

1896 - Mesmo desaconselhado pelo sogro, o autor desliga-se do Exército, sendo reformado no posto de tenente.

1897 - Volta a colaborar no jornal "O Estado de São Paulo". Cobre a 4ª Expedição contra Canudos, como correspondente daquele jornal. Em seus artigos, afirma sua certeza na vitória do governo sobre os conselheristas. O presidente Prudente de Morais o nomeia adido do estado-maior do ministro da Guerra, marechal Carlos Machado de Bittencourt. Torna-se sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Acompanha, de perto, toda a movimentação de tropas e faz pesquisas sobre Canudos e o Conselheiro. Em Monte Santo, em companhia do jornalista Alfredo Silva, faz incursão nos arredores da cidade, observa as plantas e minerais da região. Nas cercanias de Canudos, no dia 19/09, escreve sua primeira reportagem da frente de batalha. Antonio Conselheiro morre de disenteria em 22/09. O autor passeia pela cidade, anotando em sua caderneta de bolso, expressões populares e regionais, mudanças climáticas, desenhos da cidade e das serras da região e copia diários dos combatentes. Transcreve poemas populares e profecias apocalípticas, depois citados em "Os Sertões". Com acessos de febre, retira-se do local, confessando, em seu último artigo para o jornal, o profundo desapontamento provocado pela visão das centenas de feridos que gemiam amontoados no chão. Retorna a Salvador (BA), em 13/10, e escreve, no dia seguinte, no álbum da médica Francisca Praguer Fróes, o poema "Página vazia", aqui publicado. Volta ao Rio de Janeiro e, de lá, a São Paulo (SP). Após quatro meses de licença para cuidar de sua doença, viaja para Descalvado onde, começa a escrever "Os sertões".

1898 - Reassume seu cargo na Superintendência de Obras Públicas de São Paulo. Publica, em "O Estado", o "Excerto de um livro inédito", trechos de "Os sertões", em que defende a tese de que o sertanejo é um forte, cuja energia contrasta com a debilidade dos "mestiços" do litoral. A ponte recém-inaugurada, construída em São José do Rio Pardo (SP), em parte sob a fiscalização do escritor, desaba, levando o biografado àquela cidade para acompanhar o desmonte. A demora nos trabalhos faz com que o escritor mude-se para aquela cidade, onde fica até 1901. Profere palestra no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, sobre a "Climatologia dos sertões da Bahia", e propõe a construção de açudes para resolver o problema das secas no Nordeste. Grande parte de "Os sertões" é escrita em São José, com a colaboração do prefeito da cidade, Francisco Escobar, que se tornara amigo do escritor.

1900 - Falece, em Belém, o General Solon Ribeiro, sogro do biografado. Finaliza, em maio, a primeira versão de "Os sertões".

1901 - É nomeado chefe do 5º Distrito de Obras Públicas, com sede em São Carlos do Pinhal (SP), onde conclui "Os sertões". Nasce seu filho, Manuel Afonso Ribeiro da Cunha. Assina contrato com a editora Laemmert, do Rio, a publicação de 1.200 exemplares de "Os sertões", assumindo o compromisso de pagar a metade dos custos de edição, 1conto e quinhentos mil réis, quase o dobro de seu salário de engenheiro.

1902 - Após um trabalho insano de revisão, "Os sertões (Campanha de Canudos)" chega às livrarias em dezembro, sendo recebido com aplausos e restrições pela crítica.

1903 - A primeira edição do livro se esgota em pouco mais de dois meses. Começa a tomar notas para a "História da revolta", livro sobre a rebelião da Marinha, que combateu no Rio, como oficial do Exército, de 1893 a 1894. Elege-se para a cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono é Castro Alves, e como sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Face à possibilidade de participar de expedição ao Purus, suspende a redação do livro. Vende os direitos das segunda tiragem de "Os sertões" para o editor Massow. Demite-se da Superintendência de Obras Públicas.

1904 - Participa, através de artigos publicados em jornais, do debate sobre os conflitos de fronteira. Condena o envio de tropas brasileiras para o Alto Purus e defende uma solução diplomática que permita incorporar o território do Acre. Propõe uma "guerra dos cem anos" contra as secas do Nordeste, que inclua a exploração científica da região, a construção de açudes, poços e estradas de ferro e o desvio das águas do rio São Francisco para as regiões afetadas pela estiagem. Após trabalhar alguns meses na Comissão de Saneamento de Santos, desentende-se com a diretoria e pede demissão. Sem emprego, volta a escrever no jornal "O Estado de São Paulo" e, também, em "O País", do Rio. Dificuldades financeiras fazem-no transferir, por uma bagatela, os direitos de "Os sertões" para a editora Laemmert. É nomeado, pelo barão do Rio Branco, chefe da Comissão Mista Brasileiro-Peruana de Reconhecimento do Alto Purus, na fronteira do Brasil com o Peru. Parte rumo a Manaus (AM) no dia 13/12.

1905 - Realiza viagem heróica pelo Rio Purus, na Amazônia, chefiando missão oficial do Ministério das Relações Exteriores. Percorre cerca de 6.400 quilômetros de navegação, alguns trechos inclusive a pé. A comissão chega à foz do rio Purus em 09/04. De volta, redige, com o comissário peruano, o relatório da expedição. Embarca para o Rio no dia 18/12. Durante sua ausência, a editora Laemmert publica a terceira edição de "Os sertões".

1906 - Com a saúde debilitada pela malária, ao chegar encontra Ana, sua esposa, grávida do cadete Dilermando de Assis. Trabalha como adido do barão do Rio Branco. Trabalha no preparo de documentação necessária à construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré. A Imprensa Nacional publica "Notas complementares do comissário brasileiro" sobre a história e a geografia do Purus, incluído no "Relatório da comissão mista Brasileiro-Peruana de reconhecimento do Alto Purus". Recusa indicação para fiscalizar a construção da ferrovia Madeira-Mamoré. Ana dá à luz Mauro, que falece de debilidade congênita uma semana após seu nascimento. Tempos depois, afirmará ter tomado remédios abortivos tentando interromper a gravidez e que fora também impedida pelo marido a amamentar a criança, filha de Dilermando. O "Jornal do Commércio" publica "Peru versus Bolívia". Começa a escrever "Um paraíso perdido", livro sobre a Amazônia, que não é terminado face à morte do autor. Os originais se perderam. Toma posse, finalmente, na Academia Brasileira de Letras.

1907 - Publica "Contrastes e confrontos", pela editora Livraria Chardron, do Porto (Portugal). Nasce Luís Ribeiro da Cunha, registrado como seu filho, mas que irá adotar, já adulto, o sobrenome Assis, de seu pai biológico Dilermando. Profere, com grande sucesso, no Centro Acadêmico 11 de Agosto, da Faculdade de Direito de São Paulo, a conferência "Castro Alves e seu tempo".

1908 - Escreve o prefácio do livro "Poemas e canções", de Vicente de Carvalho. Em "Antes dos versos", expõe sua concepção da poesia moderna. Publica no "Jornal do Commércio", a crônica "A última visita", sobre a inesperada homenagem de um anônimo estudante a Machado de Assis em seu leito de morte. O biografado ocupa, por breve período, com o falecimento de Machado, a presidência da Academia Brasileira de Letras. Passa o cargo para Rui Barbosa. Inscreve-se no concurso para a cadeira de lógica no Ginásio Nacional (Colégio Pedro II), no Rio.

1909 - Obtém a segunda colocação no concurso. Graças à interferência junto ao presidente da República, Nilo Peçanha, do barão do Rio Branco e do escritor e deputado Coelho Neto, é nomeado para a vaga. Entrega aos editores, Lello & Irmão, as provas de "À margem da História".

Morre no dia 15 de agosto de 1909, depois de uma troca de tiros com o aspirante Dinorá e seu irmão, o cadete Dilermando de Assis. Em 1916, o segundo-tenente Dilermando de Assis, que havia sido absolvido da morte do biografado (legítima defesa), mata em um cartório de órfãos no centro do Rio, o aspirante naval Euclides da Cunha Filho, o Quidinho, que tentou vingar a morte do pai. Dilermando é novamente absolvido, pelo mesmo veredicto.

Bibliografia:

1902 - Os Sertões
1907 - Contrastes e Confrontos
1907 - Peru versos Bolívia
1909 - À margem da história (póstumo)
1939 - Canudos (diário de uma expedição) (póstumo) - Reeditado em 1967, sob o título Canudos e inéditos.
1960 - O rio Purus (póstumo)
1966 - Obra completa (póstumo)
1975 - Caderneta de campo (póstumo)
1976 - Um paraíso perdido (póstumo)
1992 - Canudos e outros temas (póstumo)
1997 - Correspondência de Euclides da Cunha (póstumo)
2000 - Diário de uma expedição (póstumo)

Fonte:
http://www.tarrafaliteraria.com.br/

Homenagem ao poeta Castro Alves na Faculdade de Direito da USP



Mais de 700 exemplares do livro que poderá viabilizar uma homenagem ao poeta Castro Alves foram vendidos. A obra levantará fundos para a construção de uma herma (coluna de mármore com o busto do poeta) na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. A pré-venda foi prorrogada até a próxima sexta-feira (4/9). A obra trará em livro a conferência sobre Castro Alves proferida por Euclides da Cunha, em 1907, no Centro Acadêmico do Largo São Francisco. O projeto foi idealizado pelo historiador Cassio Schubsky.

Sabendo da importância da homenagem a um dos poetas mais importantes da literatura brasileira, personalidades de variadas atuações no âmbito nacional estão contribuindo com a compra do livro. O ex-ministro das Relações Exteriores e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), Celso Lafer, foi uma delas.

Para ele, é a oportunidade de continuar algo que começou cem anos atrás. “Nesse sentido, nossa Associação de Antigos Alunos é muita ativa em manter a memória da Faculdade de Direito sempre em evidência, reverenciando aqueles que são os grandes poetas do nosso país”. Parafraseando uma passagem de um livro do escritor Alberto da Costa e Silva, Lafer diz que “Castro Alves foi o grande pop star literário do Brasil de sua época”. O ex-ministro afirmou que alguém com desenvoltura social como o poeta abolicionista merece tantas honras quanto puderem ser feitas.

Lafer finalizou reafirmando a importância do respeito a grandes poetas e a lembrança de acontecimentos históricos ao mesmo tempo. “Você engloba Euclides da Cunha e o centenário de sua morte, o poeta Castro Alves e um uma grande conferência que aconteceu em 1907, com o empenho de homenagear três grandes poetas”. Lafer refere-se aos poetas Álvares de Azevedo, que já teve um busto construído em sua homenagem; Castro Alves; e Fagundes Varela, que também será homenageado com a uma herma na Faculdade de Direito. “Sem dúvida nenhuma, esses três poetas são figuras que moldaram a literatura brasileira”, completou.

Além de Celso Lafer, aderiram ao projeto personalidades como a escritora Lygia Fagundes Telles, o advogado e ex-ministro do Trabalho, Almino Affonso, e o historiador José Murilo de Carvalho, dentre outros.

A obra nasce de uma parceria entre a Editora Lettera.doc e a Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito e será lançada em 28 de setembro, mas está em fase de pré-venda até sexta-feira (4/9). Todos que comprarem antecipadamente a obra terão o nome publicado no próprio livro, mostrando o apoio ao projeto. O lançamento do livro comemorará também o centenário de morte de Euclides da Cunha, completados em 15 de agosto.

A publicação editada pela Lettera.doc terá ainda textos dos dois poetas, cronologias, cartas e curiosidades históricas que permearam o evento de 1907, com texto mais acessível se comparado as demais obras de Euclides da Cunha.

Hermas
Em 1907, a diretoria do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da USP, lançou uma campanha para a construção das hermas de três grandes poetas românticos brasileiros: Álvares de Azevedo, Castro Alves e Fagundes Varela. No mesmo ano, o escritor Euclides da Cunha foi convidado pelos alunos para fazer uma exposição sobre Castro Alves e com a oportunidade de falar sobre o colega, ele decidiu transformar o evento em um esforço para a construção da herma. Ingressos foram cobrados para a conferência, mas o dinheiro não foi suficiente. Até hoje, apenas o busto de Álvares de Avezedo foi feito.

Em 2007, ao comemorar o centenário do evento, o historiador Cassio Schubsky teve a ideia de publicar a conferência proferida por Euclides da Cunha. “Toda a imprensa dedicou espaço e tempo à visita do escritor que era ilustre na época”, conta, revelando a importância do acontecimento na cidade de São Paulo. A conferência aconteceu cinco anos depois da publicação do clássico Os Sertões.

Fontes:
Artigo de Flávio Rodrigues in Consultor Jurídico. http://www.conjur.com.br
Douglas Lara. http://www.sorocaba.com.br/acontece

Vicência Jaguaribe (Por entre brumas )

Acabou-se o combate.
Para ela já não haverá lágrimas,
nem prantos, nem sobressaltos.
(Ignácio Larrañaga)

O marido entra no quarto e abre a cortina. Ela puxa o lençol e cobre a cabeça.

- Como amanheceu, querida? Dormiu bem?

Ela olha para o homem, posicionado contra o sol, que entra pela janela. O que vê são raios luminosos projetando-se de uma figura que ela não sabe o que é, e sente medo. A figura desloca-se e aproxima-se da cama. Ela percebe que é um homem, mas não sabe quem é. Faz uma cara de susto e recua na cama.

- Sou eu, Júlia, o Hugo. Trouxe o seu mingau.

Ela toma todo o mingau que ele lhe dá a colheradas. De vez em quando, olha para o homem com o olhar meio temeroso e, quando ingere a última colherada do alimento, encolhe-se e cobre-se da cabeça aos pés. O homem olha aquela trouxinha branca em cima da cama, ensaia um carinho, mas desiste. E sai do quarto deixando a porta aberta. Há muito renunciara às tentativas de trazer a mulher à realidade. Às vezes, tinha a impressão de que ela o reconhecia, queria falar-lhe, mas era uma impressão de minutos ou até de segundos. Logo ela se recolhia ao seu mundo especial, ao qual ninguém tinha acesso.

Mal o marido deixa o aposento, ela tira o lençol do rosto. Em sua cabeça, os fatos e as pessoas se misturam, e ela não consegue situar-se nem em relação a eles nem a ela mesma. Aquele homem que acabara de sair, por exemplo, não sabe quem é. Às vezes, tinha a impressão de que o conhecia; outras vezes, tinha medo dele. Mas ele estava sempre ali, com ela. Aquelas mãos que lhe davam comida, que a banhavam, que a penteavam... ela as reconhecia. De repente, uma imagem clara aparece em sua mente – aquelas mesmas mãos, só um pouco mais novas, seguravam uma de suas mãos e lhe punham um anel. Ela sorria, feliz. Mas ao seu lado aparecia a imagem de outro homem! E ela tem medo, e as imagens tornam a embaralhar-se, e ela volta a encolher-se em cima da cama.

O marido termina de vesti-la e penteia-lhe os cabelos molhados. Enche-a daquela colônia suave, sua preferida, e tenta conversar. Ela não faz a cara de medo que tanto o entristece, mas também não diz nada. Ele precisa sair, e a nora ficará de plantão. Dá-lhe um beijo na testa, encosta uma cadeira na porta. Faz-lhe um aceno.

Um outro clarão em sua mente... o outro homem a tomava nos braços e a beijava. Como era o nome dele? De repente ela o via de braços dados com uma outra mulher, segurando a mão de uma criança. Aquela mulher... aquela mulher... sim, era irmã do outro, aquele que lhe dera uma aliança. E ela tem medo, e encolhe-se na cama. Mas, desta vez, as imagens não voltam a embaralhar-se. E a mente teima em enviar-lhe outras imagens que ela parece entender – ela, feliz, na cama com o homem estranho. Não! Não! Por que essas lembranças agora!

Deve ter gritado, porque a nora sobe as escadas correndo.

- O que foi, dona Júlia? Está sentindo alguma coisa?

A resposta vem em forma de um esgar, seguido de um gesto com os braços, como se quisesse impedir a nora de se aproximar.

Quando fica novamente sozinha, um outro clarão – a porta do quarto onde ela se encontrava com o homem se abriu, e a mulher que estava de braços com ele entrou. E aí, na sua cabeça, as imagens e os fatos se clarificam: a mulher era irmã de seu marido e esposa do homem que... O medo vem forte, e as lembranças se vão, deixando-a novamente naquele vazio, que talvez seja para ela uma bênção.

O marido veste-lhe uma camisola limpa, muda os lençóis e arruma-a para dormir, depois de lhe dar o sonífero. Afaga-lhe os cabelos, desliga a luz principal do quarto e deixa acesa apenas a pequena lâmpada do abajur. Retira-se para o seu quarto, que tem com o da mulher uma porta de correspondência. Aquele olhar que ela, às vezes, como há instantes, lança-lhe – olhar de dor, de súplica... chegava até a pensar... de pedido de perdão – leva-o ao passado, a fatos nunca explicados, a suspeitas nunca confirmadas. Basta! Que adianta desenterrar defunto? Ele já morreu, e ela está praticamente morta!

A mulher fecha os olhos e tenta dormir... os clarões na mente, no entanto, reaparecem. Ela comprime os olhos fechados, enrola a cabeça. Em vão! As lembranças chegam, claras, em forma de relâmpagos e impõem-se sem lhe dar nenhuma chance de apagá-las. O olhar reprovador das cunhadas, que ela recebia com um sorriso de ironia! Os cuidados da sogra, para que o filho não desconfiasse, a que ela respondia com gargalhadas! A dor e o desespero controlado da cunhada traída, que ela devolvia com demonstrações de alegria! E o marido, apaixonado desde o primeiro dia, na sua santa ignorância, ou no oportuno faz de conta que não sei! E os relâmpagos se sucedem vertiginosamente, até que ela não suporta mais e grita.

O marido, na porta do apartamento, ouve o diagnóstico: enfarto no miocárdio; é questão de horas. Fecha a porta e senta-se na cadeira ao lado da cama. Pega a mão da mulher e, entre triste e aliviado, espera.
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Vicência Maria Freitas Jaguaribe, natural de Jaguaruana-Ce.
Professora de Literatura e Estilística da Universidade Estadual do Ceará.
Mestra em Literatura pela UFC.
Trabalhos publicados nas áreas de Literatura, Estilística e Lingüística do Texto.

Fonte:
http://www.conexaomaringa.com/

Camila Vardarac (Radar Murnau)


Dois seres pálidos apagam suas sombras ao abandonarem as réstias de luz, seguem fracos e rastejantes como moribundos esperançosos na direção da escuridão plena, porque só no mais puro breu nasce a semente vital que alimenta os seus espíritos, semente que abre as cortinas da alma, fechadas durante a temporada do sol.

Dos habitantes diurnos só querem o sangue contaminado que corre pelos corpos debilitados, aliás, esses seres obscuros valorizam muito mais o sangue por não possuí-lo naturalmente, é preciso consegui-lo a partir dos homicídios (nem sempre premeditados), assaltos a hospitais ou contribuições dos suicidas, que estão cada vez mais raras visto que esses kamikazes de hoje só querem mesmo morrer sem dor, uma morte calada num cômodo de apartamento impenetrável.

Antigamente, corria nas veias um sangue mais limpo, regido ainda por algumas ordens naturais, sem tanta química corrosiva. Antigamente, sangue era néctar e quem quisesse morrer o fazia com honra e tiro e foice, às vezes corda e o desespero avisava aos seres da noite que o banquete estava servido, agora morre-se por pílulas, analgésicos e calmantes em excesso e nenhum alarme soa aos ouvidos dos sedentos noturnos... o fim também está próximo para eles, por mais que saiam das tocas lacradas assim que o sol se põe, na cansativa busca pela vida carregada de contagem regressiva.

O fim se aproxima e o dia é apenas o prelúdio.
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Camila Vardarac nasceu no Rio de Janeiro, em 1987.
Observadora por natureza, escritora por impulsão – pela necessidade (recorrente) de expressar-se em prosa e poesia.
Voyeur da realidade e de suas representações, encontrou no cinema um meio de materializar suas idéias no continuum do espaço-tempo, desconstruindo-se em impressões.

Fonte:
http://www.conexaomaringa.com/

Estante de Livros



Nora Roberts (Pecados Sagrados)

Nos indolentes dias de verão, uma impiedosa onda de calor é o principal assunto na capital norte-americana. Mas a condição climática logo deixa de ser matéria das primeiras páginas quando uma jovem é encontrada morta por estrangulamento. Um bilhete foi deixado - Seus pecados lhe são perdoados. Logo surgem duas outras vítimas, e, de repente, as manchetes passam a ser dedicadas ao assassino que a imprensa apelidou de 'Padre'.

Quando a polícia pede à Dra. Tess Court, uma psiquiatra renomada, que auxilie na investigação, ela apresenta o retrato de uma alma perturbada. O detetive Ben Paris não dá a mínima para a psique do assassino. No entanto, o que ele não consegue descartar com facilidade é a sensual Tess.

Moreno, alto e bonitão, Ben tem uma reputação lendária com as mulheres, mas a fria e elegante Tess não reage como as outras que ele conheceu e o detetive acha o desafio sedutor. Agora, enquanto os dois estão juntos numa perigosa missão para deter um serial killer, irrompe a chama de uma paixão incandescente. Mas há alguém que também está de olho na linda médica loura, e só resta a Ben rezar para que, se o assassino atacar, ele consiga detê-lo antes que seja tarde demais.
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Françoise Bourdin (Mensagem no Jardim)

Em 'Mensagem no jardim', Françoise Bourdin apresenta a história de Pascale Fontanel, uma médica esgotada após seu recente divórcio e cansada de sua vida sem graça em Paris, que decide voltar à sua pacata cidade natal, Peyrolles, no sudoeste da França. Seu pai, contudo, por querer vender a propriedade da família, opõe-se totalmente à decisão da filha. Seria a morte brutal de sua primeira mulher num incêndio e a depressão da mãe de Pascale razões para esta reação tão ferina quanto inesperada?

Mesmo com a resistência do pai, Pascale retorna e instala-se na antiga casa com a determinação de ali reconstruir sua vida. Contudo, ocorrem episódios que vão perturbar as suas lembranças. O jardineiro, um homem de comportamento estranho, recusa-se a deixar a propriedade. Os vizinhos, por sua vez, contam histórias assustadoras ligadas à família Fontanel. E o mais intrigante - a antiga caderneta da família achada no sótão por Pascale.

O que realmente terá acontecido em Peyrolles? Que outros mistérios a casa esconde? Pascale não descansará até descobrir toda a verdade.
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Fonte:
Livraria Cultura

Santos sedia Encontro Internacional de Escritores


A celebração da Literatura quase sempre ocorre num contato silencioso do livro com o seu leitor. Neste momento, pode até parecer que o escritor está ausente, e que a sua presença é menos sentida do que a dos próprios personagens. Este ano, Santos aproxima as pessoas e as histórias, e ganha a sua celebração da leitura. Desta vez, os protagonistas são os autores e você.

Esta rede de histórias, autores e leitores é a Tarrafa Literária, acontece em Santos de 3 a 7 de setembro de 2009 no tradicional teatro Guarany, restaurado e majestoso, no centro histórico de Santos.

Uma Festa Literária, e não uma feira de livros: trata-se de uma grande reunião de leitores e escritores, em quatro dias para dar voz ao pensamento e conversar sobre literatura, jornalismo, filosofia, história, futebol e o que mais vier à mente dos convidados. Não é um ambiente acadêmico, mas de entretenimento e cultura; não é uma ocasião informal, mas a ocasião é despojada e o lugar acolhedor.

Estarão com grandes nomes da literatura nacional e internacional, apresentando temas dos mais interessantes na atualidade, bem próximos de São Paulo capital. Considerando os atrativos do porto e das praias, as partidas de futebol e a praticidade do Sistema Anchieta-Imigrantes para o acesso à região, o período é bem favorável para quem vem de fora, seja para um programa diferenciado de um dia, seja para aproveitar as vésperas do feriado da Independência do Brasil.

PROGRAMAÇÃO

quinta-feira, 3 de setembro de 2009
20:00 - Solenidade de abertura

Intervenção Artísticas com entrega de pergaminhos com trechos da obra de Euclides da Cunha.
Local: Praça dos Andradas

sexta-feira, 4 de setembro de 2009
16:00 - Os livros dentro dos livros 1
Ruy Castro e Heloisa Seixas - Mediador: Ricardo Kotscho
Tarrafinha

16:00 - Retalhos Poéticos, Livros de pano
Local: Foyer - 1º piso do Teatro Guarany

17:45 - Autógrafo com autores
Local: Lobby de entrada do Teatro Guarany

19:00 - Os livros dentro dos livros
Hélio de Almeida e Estela dos Santos Abreu - Mediadora: Patrícia Andrik

Tarrafinha

19:00 - Contação de histórias
Livro: O sapo vira rei vira sapo
Local: Foyer - 1º piso do Teatro Guarany

21:00 - Autógrafo com autores
Local: Lobby de entrada do teatro Guarany

sábado, 5 de setembro de 2009
16:00 - Ficção, a Mentira sem culpas.
Milton Hatoun e André Laurentino.
Mediador: José Roberto Torero.

Tarrafinha
16:00 - Cortina de Histórias
Livro: O Pequeno Rei e o Parque Real
Local: Foyer - 1º piso do Teatro Guarany

17:45 - Autógrafo com autores
Local: Lobby de entrada do teatro Guarany

19:00 Mentiras, culpa da ficção.
Lourenço Mutarelli e Marcelo Mirisola.
Mediação: José Luiz Tahan.

Tarrafinha

19:00 - Contação de histórias
Livro: O Diário de Lelê
Local: Foyer - 1º piso do Teatro Guarany

21:00 - Autógrafo com autores
Local: Lobby de entrada teatro Guarany

domingo, 6 de setembro de 2009
16:00 - JORNALISTAS ALÉM MUROS
Jorge Caldeira e Laurentino Gomes
Mediação: Zuenir Ventura

Tarrafinha

16:00 - Contação de histórias
Livro: As Letras, de Laura Beatriz

19:00 - Cortina de histórias
Local: Foyer - 1º piso do Teatro Guarany

19:00 - FILÓSOFOS ALÉM MUROS
Theo Ross (Alemanha) e Márcia Tiburi
Mediadora: Mona Dorf

21:00 - Autógrafo com autores
Local: lobby de entrada Teatro Guarany

segunda-feira, 7 de setembro de 2009
11:00 - Jogo de Futebol
Local: Santos Futebol Clube
Estádio Urbano Caldeira, Vila Belmiro

16:00 - FUTEBOL E LITERATURA, PAIXÃO NACIONAL
Matthew Shirts e Xico Sá
Mediador: Vladir Lemos

Tarrafinha

16:00 - Confecção de livros, Poeta dos mares
Local: Foyer, 1º piso do Teatro Guarany

19: 00 - Construção de livros de brinquedo
Local: Foyer, 1º piso do Teatro Guarany

19:00 - LIVROS QUE MOLHAM
Amyr Klink e Tim Winton (Austrália)
Mediador: Arthur Dapieve

21:00 - Autógrafo com autores
Local: Lobby de entrada teatro Guarany

21:15 - Intervenção Artística
Local: Praça dos Andradas

Fontes:
Douglas Lara.
http://www.sorocaba.com.br/acontece

domingo, 6 de setembro de 2009

Antonio Augusto de Assis (Notas de Viagens)


1
Nobre Porto Alegre.
Em cada rua Quintana
passarinha ainda.

2
Érico sulíssimo.
Olhai os lírios dos pampas,
um deles Veríssimo.

3
Lagoa, Floripa.
De repente um cisne negro:
Cruz e Sousa passa.

4
Curitiba, a chique.
Na lenda da Kolody,
a luz de Leminski.

5
Maringá, Joubert.
Canção que virou cidade
que virou buquê.

6
Vida, luz, ação.
Intrépida Pauliceia
de Mário de Andrade.

7
Guilherme, Campinas.
Haicai que rimando sai
das chuvinhas finas.

8
Ah, Bauru, que bom.
Ah se houvesse mais Helvécios
e Nempuku Satos.

9
Entre aviões e carros,
nos campos de São José,
Cassiano Ricardo.

10
Taubaté tal sítio
do picapau amarelo.
No portão, Lobato.

11
Rio de Janeiro
e de Machado de Assis.
De lambuja, o mar.

12
Niterói se gaba.
Luiz Antônio Pimentel,
o guru da taba.

13
Estação Friburgo.
Luiz Otávio e Jota Gê
regando os florais.

14
Campos, sempre doce.
Tal qual Antônio Roberto
gorjeando trovas.

15
São Fidélis, o eco
das rimas de padre Augusto.
Poeta de Deus.

16
Velho Cachoeiro
de Roberto e Rubem Braga.
Do Itapemerim.

17
A bênção, Fabiano.
Dizei-me qual mais amais:
Belzonte ou Beraba?

18
Mariana, Alphonsus.
Os sinos e os cinamomos
recontando histórias.

19
Um só coração:
Pouso Alegre e o casarão
do poeta Meyer.

20
Ouço Juiz de Fora,
escuto Belmiro Braga.
E haverá quem não?

21
Cordisburgo, a rosa
do Rosa das rosas ledas.
Dos sertões: veredas.

22
Cora Coralina.
Coração do coração
do Brasil, Goiás.

23
De todos os santos.
Bahia de Castro Alves,
da praça do povo.

24
Maceió, Fulô.
Ora se deu que chegou
o Jorge de Lima.

25
Sol da Paraíba,
licença que eu quero ouvir
Augusto dos Anjos.

26
Recife, Recife,
de Bandeira e de Adelmar.
Com engenho e frevo.

27
Natal dos três reis:
Reinaldo, Luís Cascudo
e Luís Rabelo.

28
De Acari partiu,
o coqueiral deu-lhe adeus.
Aparício, o bom.

29
Fortaleza, o mar
de Alencar e de Iracema.
Poeta e poema.

30
Maranhão, Gullar.
As aves ali gorjeiam
com Gonçalves Dias.
-----
Fonte:
Colaboração do autor

Aristóteles Guilliod de Miranda (Caldeirão Literário do Pará)



RUÍDOS

Traduzo meu risco de ser
buscando-te no desvão do eco
da palavra espanto
plantada no olfato de gestos
deste chão que planejo
assim como a natureza
da morte revisitada
em cada ausência.
–––––––––––––––-

PORTA-RETRATOS

A vida parada num sorriso
que desafia o tempo
e que se destrói
quando alguém
troca a foto
– que já não toca.
–––––––––––––––-

XXII

O cinzeiro mede a hora
e a alma
O tapete acalma os pés
inquietos
com seu carinho sintético
A lâmpada e seu olho quente
observam a
natureza morta do homem

Só o relógio, impunemente,
enterra o tempo
entre os ponteiros
–––––––––––––––––––

1964

Então, foi decretado o escuro.
Eu, que nem iniciara
o aprendizado da luz,
fiquei sem sol.

––––––––––––––-
MACACO

Do espelho ancestral me olhas
em caretas e curiosidade
como a perguntar pelas eras
em que eras eu

Semi-ereto, teu caminho
encontra meu destino recurvo

Em guinchos saúdas a razão
em seu caminho milenar
até a voz

Teus riscos no chão inauguram
as palavras com que te celebraria
mais tarde.
––––––––––––––––––

ANIMA/IS

em penas
em pêlos
em pele
– plenos de si

cantos e escamas
cascos, carapaça e casulo
caudas

seda envoltos
vital invólucro
vôo & passo
uivos

patas irmãs das minhas mãos
em asas e nadadeiras

quebra-cabeças da natureza
misteriosa mistura
de cheiros e gritos e textura
universo inverso
de mim
––––––––––––––––––

PARA SEMPRE

Remeter ao vértice
ao pubiano vórtice incendiado
em alegóricas auroras
entranhadas na hora amortecida
Entre pêlos
..................sábios
.............................lábios
aludir segredos
diluir delírios
Sucumbir em vagas
em estridentes vagas ressoadas
como um bote
––––––––––––––––

Aristóteles Guilliod de Miranda (1954)



Aristóteles Guilliod de Miranda, nasceu em Belém do Pará em 1954.

Médico desde 1977, em atividade. Arrisca-se na poesia desde a adolescência. Mais tarde reavalia a “produção” tendo sobrado poucos poemas desta fase.

Leituras de Pessoa, Vinícius e Bandeira, principalmente, vão ajudando na determinação de continuar. “Edita” de forma artesanal Viagem Íntima (1984), trinta poemas para comemorar seus 30 anos.

Ainda na década de 80 participa de antologias poéticas.

Licenciatura em Letras (1989) e Mestrado em Teoria Literária (1991). Nesse período colabora com regularidade, por quase dois anos, para o jornal O Liberal com artigos. Três prêmios em poesia e um em ensaio pela Academia Paraense de Letras.

Publica Travessia do Ser, poesia, em 1999. Incluído na Poesia do Grão-Pará (2001), antologia organizada por Olga Savary. Em 2006 lança um novo livro de poemas: Para Além dos Alísios.

Fonte:
http://www.culturapara.art.br/

Cleuza Sarzêdas (O Sapo Sonhador)



Na beira de um pequeno lago em um terreno baldio, um sapo vivia. Ele era diferente de todos os outros: sua pele lisa tinha um prateado claro, com listras marrons. No alto da cabeça, um desenho dourado semelhante a uma coroa. Seus olhos eram da cor do céu. Sonhava ser rei daquele lugar, comandar com muito amor seus irmãos e irmãs e protege-los dos animais malvados e dos humanos que ali chegavam para caçar as rãs. Irresponsáveis, muitos nem sabiam a diferença entre uma rã e um sapo, matando-os até descobrirem o que queriam. Seria um paraíso! Cada morador teria o próprio nome, e iria à escola para aprender a ler e saber a razão de ter nascido e qual a participação de cada um no mundo. Teria casa, trabalho e família. Os adultos trabalhariam para os menores e todos seriam respeitados.

Ele, como rei, casaria com sua namorada, uma linda sapinha de grandes olhos negros, que seria a rainha. Teriam muitos filhos e formariam uma grande família abençoada por Deus.

Naquele momento, uma claridade cobriu o lago e o sapo sonhador viu-se sentado num trono com enorme coroa sobre a cabeça. O terreno e o lago eram o seu reino e a sapinha de olhos negros transformara-se em sua esposa. A população, composta de anfíbios e répteis, era muito feliz, vivia cantando. Ali morava a felicidade! Mas os súditos percebiam uma tristeza no rei e comentavam que a rainha não queria filhos, pois alegava darem muito trabalho e ela dizia não ter tempo para cuidar deles.

O rei, tranqüilo e paciente, tentava convencê-la de que os filhos são o futuro da nação e que onde não há pequeninos falta alegria. O sapo argumentava: “Quando formos bem velhos, o que faremos se não tivermos netos para contar histórias de sapos? E o reinado ficará nas mãos de quem quando Deus nos chamar para junto dele? Fomos criados para aprender muitas coisas e para procriar, dando oportunidade a outros sapos de viverem o que nos vivemos. Eles serão o que nós fomos e muito mais, farão mais do que fizemos. Tudo é uma questão de evolução.”

Mas a rainha, orgulhosa e vaidosa, não queria ouvir o que o marido dizia e continuava teimosamente não querendo filhos. Decepcionado, o rei foi chorar à beira do lago quando, súbito, teve a atenção despertada para algo que se movimentava muito rapidamente de um lado a outro até que finalmente parou: era um girino.

Girino é filho de sapa com sapo, nasce de um ovo dentro d’água, respira por brânquias, ou seja, guelras, é semelhante a uma bolinha preta com um rabinho. Esse rabinho cai quando ele se torna um sapo adulto e vai morar em terra firme. O pequenino colocou a cabecinha fora d’água e falou:

“Senhor rei, vivo triste neste lago porque não tenho ninguém. Meus pais na terra foram morar e eu aqui fiquei. Nem irmão tenho para brincar. O senhor não quer ser meu pai? Juro ser obediente, estudar bastante, me alimentar o suficiente para crescer e ser bem sadio e nutrido. E, quando adulto, fazer de você um vovô bastante feliz. Palavra de girino.”

O rei sorriu comovido e se encantou com aquele ser tão inteligente. “Vou adotar você. A partir de hoje será meu filho querido e se chamará Girinino. Sempre que puder virei conversar com você, até tornar-se adulto e ao meu lado governar. Quando eu me for, você será o novo rei.”

Feliz, o girino balançava eufórico o minúsculo rabinho e cantava: “Agora tenho um pai... agora tenho um pai... nunca mais ficarei só...”

A partir daquele dia, o rei, alegre, passou a ser visto junto do lago a conversar com o filho amado. Os dois brincavam e se divertiam por horas e horas.

Mas a rainha, enciumada com medo de perder o reinado, mandou pescar o girino e o colocou no mato, dentro de uma concha somente com água, na intenção de matá-lo de fome. Agindo daquela maneira, achava que iria livrar-se do que pensava ser uma ameaça para ela. Preocupado com o sumiço de Girinino, o rei chamou a guarda e ordenou:

“Vasculhem todo o lago e encontrem meu filho.” Inútil a procura. Não o encontraram. Mas, na esperança de achar seu querido pequenino, o rei voltava ao lago todos os dias e punha-se a chamar: “Cadê você, filho adorado? Apareça!”

Os dias passaram e o rei voltou a ficar triste. Ele contornava o lago por várias e várias vezes à procura de Girinino. A saudade apertou tanto que ele adoeceu e foi chorar junto a um matagal próximo. Lá, já sem esperanças, debruçou-se sobre uma pequena concha como se fosse uma mesinha e, de repente, ouviu uma voz bem fraquinha.

“Paizinho, vem me buscar”. O rei olhou em volta, assustado, mas nada viu. Procurou entre as folhas, revirou tudo e nada achou. Decidiu voltar para casa, mais triste ainda. No entanto, no momento em que se afastava, novamente ouviu a voz, quase sumindo: “Paizinho, vem me buscar”.

Teve, então, certeza de que era seu filho. Ele estava preso ali, em algum lugar. Desesperado, o rei recomeçou a busca e encontrou a conchinha. Abriu-a e deparou-se com o pobre girino quase morto de fome. Levou-o rapidamente para o lago e conseguiu salvá-lo.

Chamou sua guarda pessoal e ordenou que não o deixassem só nunca mais. Em seguida, decidiu punir o malvado e perguntou a Girinino quem lhe fizera aquilo.

Mas o sapinho tinha bons sentimentos e não acusava ninguém, pois sabia do amor que o rei sentia pela rainha. Mentiu para que seu paizinho querido não sofresse: “Um sapo malvado me enganou dizendo-me que o Rei me chamava. Fui atrás dele e o bandido me trancou naquela concha. Para não morrer de fome comi os mosquitos que entravam pela abertura, pois tinha certeza que você me encontraria.” “Agora, filho, ficaremos juntos para sempre. Ninguém nunca mais tocará em você.” Abraçaram-se fortemente.

Ainda com os bracinhos apertando o próprio peito, o sapo ouviu a voz da sua amada, a sapinha dos grandes olhos negros, de dentro do lago: “Vetusto! Acorda, seus filhos nasceram. Veja! são muitos.” Sonolento e sob a ação do sonho, o sapo abriu os olhos devagar e viu muitos girinos nadando rapidamente de um lado a outro. Feliz, jogou-se ao lago entre os tantos filhos e cantou.

“Agora sim, sou um verdadeiro rei...”.

Fonte:
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/

Ana Maria Machado (1941)


Ana Maria Machado (Rio de Janeiro, 24 de dezembro de 1941) é uma jornalista, professora, pintora e escritora brasileira.

Na vida da escritora Ana Maria Machado, os números são sempre generosos. São 33 anos de carreira, mais de 100 livros publicados no Brasil e em mais de 17 países somando mais de dezoito milhões de exemplares vendidos. Os prêmios conquistados ao longo da carreira de escritora também são muitos, tantos que ela já perdeu a conta. Tudo impressiona na vida dessa carioca nascida em Santa Tereza, em pleno dia 24 de dezembro.

Ana Maria Machado nasceu em Santa Teresa, Rio de Janeiro, a 24 de dezembro de 1941. É casada com o músico Lourenço Baeta, do quarteto Boca Livre, tendo o casal uma filha. Do casamento anterior com o médico Álvaro Machado, Ana Maria teve dois filhos.

Estudou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no MoMa de Nova York, tendo participado de salões e exposições individuais e coletivas no país e no exterior, enquanto fazia o curso de Letras (depois de desistir do curso de Geografia). O objetivo era ser pintora mesmo, mas depois de doze anos às voltas com tintas e telas, resolveu que era hora de parar. Optou por privilegiar as palavras, apesar de continuar pintando até hoje.

Formou-se em Letras Neolatinas, em 1964, na então Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, e fez estudos de pós-graduação na UFRJ.

Deu aulas na Faculdade de Letras na UFRJ (Literatura Brasileira e Teoria Literária) e na Escola de Comunicação da UFRJ, bem como na PUC-Rio (Literatura Brasileira). Além de ensinar nos colégios Santo Inácio e Princesa Isabel, no Rio, e no Curso Alfa de preparação para o Instituto Rio Branco, também lecionou em Paris, na Sorbonne (Língua Portuguesa) e na Universidade de Berkeley, Califórnia – onde já havia sido escritora residente. Escreveu artigos para a revista Realidade e traduziu textos.

No final de 1969, depois de ser presa pelo governo militar e ter diversos amigos também detidos, deixou o Brasil e partiu para o exílio. Na bagagem para a Europa, levava cópias de algumas histórias infantis que estava escrevendo, a convite da revista Recreio. Lutando para sobreviver com seu filho Rodrigo ainda pequeno, trabalhou como jornalista na revista Elle em Paris e no Serviço Brasileiro da BBC de Londres, além de se tornar professora de Língua Portuguesa na Sorbonne. Nesse período, participou de um seleto grupo de estudantes na École Pratique des Hautes Études cujo mestre era Roland Barthes, e terminou sua tese de doutorado em Lingüística e Semiologia sob a sua orientação, em Paris, onde nasceu seu filho Pedro. A tese resultou no livro Recado do Nome, sobre a obra de Guimarães Rosa.

Como jornalista, trabalhou no Correio da Manhã, no Jornal do Brasil, no O Globo, e colaborou com as revistas Realidade, IstoÉ e Veja e com os semanários O Pasquim, Opinião e Movimento. Durante sete anos, chefiou o jornalismo do Sistema Jornal do Brasil de Rádio. Criou e dirigiu por 18 anos, com duas sócias, a primeira livraria do país especializada em livros infantis, a Malasartes. Também foi editora, uma das sócias da Quinteto Editorial. Há 25 anos vem exercendo intensa atividade na promoção da leitura e fomento do livro, tendo dado consultorias, seminários da UNESCO em diferentes países e sido vice-presidente do IBBY (International Board on Books for Young People).

Escondida por um pseudônimo, ganhou o prêmio João de Barro pelo livro História Meio ao Contrário, em 1977. Abandonou o jornalismo em 1980, para a partir de então se dedicar ao que mais gosta: escrever seus livros, tantos os voltados para adultos como os infantis. Sua filha Luísa nasceu em 1983. Em 1993 a acadêmica se tornou hors concours dos prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

Recebeu vários prêmios no país e no exterior, entre eles o Casa de Las Americas (Cuba, 1980), o Hans Christian Andersen, internacional, pelo conjunto de sua obra infantil (2000), o Machado de Assis, pelo conjunto da obra, da Academia Brasileira de Letras (2001), o Machado de Assis da Biblioteca Nacional para romance. Foi também agraciada, em alguns casos mais de uma vez, com prêmios como: Jabuti, Prêmio Bienal de SP, João de Barro, APCA, Cecília Meireles, O Melhor para o Jovem, O Melhor para a Criança, Otávio de Faria, Adolfo Aizen, e menções no APPLE (Association Pour la Promotion du Livre pour Enfants, Instituto Jean Piaget, Génève), no FÉE (Fondation Espace Enfants, Suíça) e Americas Award (Estados Unidos).

Em 2003, após quatro meses de uma campanha trabalhosa, Ana Maria teve a imensa honra de ser eleita para ocupar a cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras, substituindo o Dr. Evandro Lins e Silva. Pela primeira vez, um autor com uma obra significativa para o público infantil havia sido escolhido para a Academia. A posse aconteceu no dia 29 de agosto de 2003, quando Ana foi recebida pelo acadêmico Tarcísio Padilha e fez uma linda e afetuosa homenagem ao seu antecessor.

É membro do PEN Clube do Brasil e do Seminário de Literatura da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Recebeu a Ordem do Mérito Cultural, no grau de Grão-Mestre, a Medalha Tiradentes e a Grande Ordem Cultural da Colômbia.

Bibliografia

Ensaio
- Recado do Nome. 1976
- Esta Força Estranha. 1996.
- Contracorrente. 1997.
Texturas. 2001.
- Como e Por que Ler os Clássicos Universais desde Cedo. 2002.
- Ilhas no Tempo. 2004.

Romance
- Alice e Ulisses. 1983.
- Tropical Sol da Liberdade. 1988.
- Canteiros de Saturno. 1991
- Aos Quatro Ventos. 1993.
- O Mar nunca Transborda. 1995.
- A Audácia Desta Mulher. 1999.
- Para Sempre. 2001.
- Palavra de Honra. 2005.

Literatura infanto-juvenil

- Bento-que-bento-é-o-frade. 1977.
- Camilão, o Comilão 1977.
- Currupaco Papaco. 1977.
- Severino Faz Chover. Reunião de quatro contos, reeditados em separado a partir de 1993.
- História Meio ao Contrário. 1979.
- O Menino Pedro e Seu Boi Voador. 1979
- Raul da Ferrugem Azul. 1979.
- A Grande Aventura da Maria Fumaça. 1980.
- Balas, Bombons, Caramelos. 1980
- O Elefantinho Malcriado. 1980
- Bem do Seu Tamanho. 1980
- Do Outro Lado Tem Segredos. 1980
- Era uma Vez, Três. 1980.
- O Gato do Mato e o Cachorro do Morro. 1980
- O Natal de Manuel. 1980.
- Série Conte Outra Vez (O Domador de Monstros; Uma Boa Cantoria; Ah, Cambaxirra, Se Eu Pudesse...; O Barbeiro e o Coronel; Pimenta no cocuruto). 1980-81.
- De Olho nas Penas. 1981.
- Palavras, Palavrinhas, Palavrões. 1981.
- História de Jaboti Sabido com Macaco Metido. 1981.
- Bisa Bia, Bisa Bel. 1982.
- Era uma Vez um Tirano. 1982.
- O Elfo e a Sereia. 1982.
- Um Avião, uma Viola. 1982.
- Hoje Tem Espetáculo. 1983.
- Série Mico Maneco (Cabe na Mala; Mico Maneco; Tatu Bobo; Menino Poti; Uma Gota de Mágica; Pena de Pato e de Tico-tico; Fome Danada; Boladas e Amigos; O Tesouro da Raposa; O Barraco do Carrapato: O Rato Roeu a Roupa: Uma Arara e Sete Papagaios; A Zabumba do Quati; Banho sem Chuva; O Palhaço Espalhafato; No Imenso Mar Azul; Um Dragão no Piquenique; Troca-troca; Surpresa na Sombra; Com Prazer e Alegria). 1983-88.
- Passarinho Me Contou. 1983.
- Praga de Unicórnio. 1983.
- Alguns Medos e Seus Segredos. 1984.
- Gente, Bicho, Planta: o Mundo Me Encanta. 1984.
- Mandingas da Ilha Quilomba (O Mistério da Ilha). 1984.
- O Menino Que Espiava pra Dentro. 1984.
- A Jararaca, a Perereca e a Tiririca. 1985.
- O Pavão do Abre-e-Fecha. 1985.
- Quem Perde Ganha. 1985.
- A Velhinha Maluquete. 1986.
- Menina Bonita do Laço de Fita. 1986.
- O Canto da Praça. 1986.
- Peleja. 1986.
- Série Filhote (Lugar Nenhum; Brincadeira de Sombra; Eu Era um Dragão; Maré Alta, Maré Baixa). 1987.
- Coleção Barquinho de Papel (A Galinha Que Criava um Ratinho; Besouro e Prata; A Arara e o Guaraná; Avental Que o Vento Leva; Ai, Quem Me Dera...; Maria Sapeba; Um Dia Desses). 1987.
- Uma Vontade Louca. 1990.
- Mistérios do Mar Oceano. 1992.
- Na Praia e no Luar, Tartaruga Quer o Mar. 1992.
- Vira-vira. 1992.
- Série Adivinhe Só (O Que É?; Manos Malucos I e II; Piadinhas Infames). 1993.
- Dedo Mindinho. 1993.
- Um Natal Que não Termina. 1993.
- Um Herói Fanfarrão e Sua Mãe Bem Valente. 1994.
- O Gato Massamê e Aquilo Que Ele Vê. 1994.
- Exploration into Latin America. 1994.
- Isso Ninguém Me Tira. 1994.
- O Touro da Língua de Ouro. 1995.
- Uma Noite sem Igual. 1995.
- Gente como a Gente. 1996.
- Beijos Mágicos. 1996.
- Os Dois Gêmeos. 1996.
- De Fora da Arca. 1996.
- Série Lê pra Mim (Cachinhos de Ouro; Dona Baratinha; A Festa no Céu; Os Três Porquinhos; O Veado e a Onça; João Bobo). 1996-1997.
- Amigos Secretos. 1997.
- Tudo ao Mesmo Tempo Agora. 1997.
- Ponto a Ponto. 1998.
- Os Anjos Pintores. 1998.
- O Segredo da Oncinha. 1998.
- Melusina, a Dama dos Mil Prodígios. 1998.
- Amigo é Comigo. 1999.
- Fiz Voar o Meu Chapéu. 1999.
- Mas Que Festa!. 1999.
- A Maravilhosa Ponte do Meu Irmão. 2000.
- O Menino Que Virou Escritor. 2001.
- Do Outro Mundo. 2002.
- De Carta em Carta. 2002.
- Histórias à Brasileira. 2002.
- Portinholas. 2003.
- Abrindo Caminho. 2003.
- Palmas para João Cristiano. 2004.
- O Cavaleiro dos Sonhos. 2005.
- Procura-se Lobo. 2005.
- Coleção Gato Escondido (Onde Está Meu Travesseiro?, Que Lambança!, Vamos Brincar de Escola?, e Delícias e Gostosuras). 2004-2006..

Organização de Antologias
- O Tesouro das Virtudes para Crianças. vols. I e II em 1999 e 2000; vol. III em 2002.
- O Tesouro das Cantigas para Crianças. Vol. I em 2001; vol. II em 2002.

Poesia
- Sinais do Mar. 2009.

Fontes:
Academia Brasileira de Letras http://www.academia.org.br/
Site de Ana Maria Machado. http://www.anamariamachado.com/biografia/biografia.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Maria_Machado

Conheça um pouco mais de Ana Maria Machado



1. Quando você era criança, já sonhava em ser escritora?

Não. Sonhava em ser artista de cinema, mas achava que ia mesmo era ser professora. Estudei para isso. E fui professora por um bom tempo. Só depois é que descobri que era escritora. Mas sempre gostei de escrever. Fazia diário, escrevia muitas cartas, fazia parte da equipe do jornalzinho da escola, essas coisas…

2. De onde você tira as idéias para os seus livros?

Da cabeça, como todo mundo. O importante não é isso, é como elas entram na cabeça. Acho que um livro começa muito antes da hora em que a gente senta para escrever. É um jeito de prestar atenção no mundo, em todas as coisas, nas pessoas, e ficar pensando sobre tudo…

3. Quais são os seus temas favoritos?

Os críticos em geral dizem que eu escrevo com uma visão crítica, sobre temas como a rebeldia, o combate ao autoritarismo, a ética, a fome de justiça… Mas do meu ponto de vista não é bem assim: eu acho que cada vez estou querendo contar uma história diferente, acontecida comigo mesma ou com gente que eu conheço, e transformada pelas coisas que eu sonho ou imagino a partir daí.

4. Qual o ponto de partida para o que você escreve?

Do meu ponto de vista, eu escrevo sempre a partir de duas coisas: o que eu lembro e o que eu invento. Memória e imaginação são as duas grandes fontes do que eu faço.

5. Como é que você escolhe seus ilustradores?

Muitas vezes quem escolhe não sou eu, são os editores. Mas alguns aceitam que eu dê palpites. Nesse caso, eu tento escolher aqueles com quem eu tenho mais afinidade, ou cujo trabalho eu admiro, e que sejam bons de trabalhar. Quer dizer, conversem comigo, leiam o livro com atenção, se disponham a trocar idéias e cumprir prazos.

6. Você também é pintora. Por que nunca ilustrou um livro seu?

Porque eu acho que pintura e ilustração são duas coisas completamente diferentes. Uma pintura tem apenas que resolver problemas visuais que ela mesma inventa a cada vez. Uma ilustração, como o nome está dizendo, tem que dar um lustre, um brilho, lançar uma luz sobre algo que está escrito. Tem que ser narrativa também. E o tipo de pintura que eu faço não é narrativo. Acho muito mais difícil ilustrar do que pintar, e eu não tenho capacidade para isso.

7. Que mensagem você gostaria de mandar para seus leitores?

Antigamente eu dizia que quem tem que mandar mensagem é telegrafista. Hoje diria que é a Internet. Um escritor não tem que se preocupar com mensagens. Tem que contar uma boa história, de uma maneira interessante, com surpresas de linguagem, e criar um livro que divirta, faça pensar e fique na lembrança do leitor de alguma maneira, dando vontade de reler ou relembrar de vez em quando.

8. O que a levou a escrever para crianças?

Eu já escrevia para adultos e sabia que "tinha jeito" para escrever. Conhecia muito bem a língua (era professora de português), estava começando a trabalhar numa tese de doutorado sobre Guimarães Rosa. Quer dizer, língua e literatura eram meu elemento. Por que não para crianças também? Não vi nenhum motivo para excluí-las de minha preocupação estética com o uso da linguagem, terreno onde sempre me movi. Então somei, ampliei, e incluí a criança nessas minhas vivências da arte da palavra.

9. Como é a sua rotina de trabalho?

Escrevo o tempo todo, não só quando estou diante do papel ou do computador - esse é só o momento final, em que as palavras saem de mim e tomam forma exterior. A minha criação é assim, um processo meio mágico, que a gente não sabe de onde vêm nem como se desenrola. Procuro merecer, estar pronta, criar condições. Essas condições passam por trabalho e disciplina. Em geral, escrevo todo dia, sempre de manhã, quanto mais cedo melhor. Sem interrupções de fora. E com possibilidade de uma vista agradável, quando levanto os olhos da página.

10. Você foi uma das pioneiras, no Rio de Janeiro, na criação de uma livraria voltada para o público infanto-juvenil. O que aprendeu dessa experiência?

Criei a Malasartes em 1979 e vendi a minha parte em 1996. Durante esse período, descobri que acaba se tornando impossível tentar compatibilizar as duas coisas. Um escritor é um artista, tem que ser livre. Um livreiro é um comerciante, tem que dar sempre razão ao freguês.

11. Qual foi o primeiro livro que você escreveu?

O meu primeiro livro foi para adultos, em 1976 - Recado do Nome. Em 1977, veio o primeiro infantil, Bento-que-bento-é-o-frade, saído quase ao mesmo tempo que os três volumes das "Histórias de Recreio", reunindo alguns dos contos publicados na revista, sob os títulos Camilão, o Comilão, Severino Faz Chover e Currupaco Papaco. Hoje, novamente desmembrados nas doze histórias originais que constituem doze livros, eles estão sendo publicados pela Editora Salamandra, na Coleção Batutinha.

12. Seus livros foram traduzidos em diversos idiomas para vários países. Como ficam os valores e referências mais regionais, explorados por você nos textos, no caso dessas traduções?

Não sei bem. Toda tradução sempre perde muita coisa, por melhor que seja. Mas quando é boa, pode ganhar outras, por ser uma recriação. Alguns dos autores que mais me fascinaram na vida (de Cervantes a Garcia Marques, de Shakespeare a Camus) tinham valores regionais muito fortes, mas nem por isso deixaram de ser universais.

13. Dos livros que você escreveu, qual você gosta mais?

Taí uma coisa que não existe. Acho que livro é que nem filho, a gente gosta de todos igualmente com muita intensidade, mesmo sabendo que cada um tem características diferentes do outro.

14. Tem algum que você gosta menos, ou não gosta?

Já teve muitos, mas eu não publiquei. Para isso existe lata de lixo.

15. Qual o livro mais difícil que você já escreveu? E o mais fácil?

Na verdade não dá para responder objetivamente a essas duas perguntas. Depois que passa o momento de escrever o que fica é só a memória desse momento, que pode não corresponder a verdade. Eu lembro que um dos mais difíceis, entre os infantis, foi "Um Avião e uma Viola", que só tem uma linha por página. Os primeiros da série Mico Maneco também foram muito difíceis, por trabalharem com um repertório de sílabas muito limitado. Entre os de adulto, dois foram especialmente difíceis: "Tropical Sol da Liberdade", por ter me lançado numa profundidade de dor para a qual eu não estava preparada, e "E o Mar nunca Transborda", pelo intenso trabalho de pesquisa e recriação de linguagem que ele exigiu. Fácil, nenhum é.

16. Alguma história que você escreveu já aconteceu de verdade?

Quase todas. Mas sempre muito misturadas com outras que não aconteceram.

17. Qual a sua relação com a escritora Ruth Rocha?

Eu sou a mais velha de onze irmãos e acho que sempre quis ter uma irmã mais velha. Quando casei com o irmão da Ruth, compreendi que tinha ganho essa irmã tão desejada. Até hoje continuamos muito amigas e o fato de termos posteriormente começado a escrever na mesma revista só nos aproximou.

18. Como é a sua relação com seus pequenos ou grandes leitores?

Eu costumo dizer que o maior prêmio de um escritor é um bom leitor. Um leitor que entende, qualquer que seja a sua idade, é um presente. E quando ele entende, não confunde a relação com o livro e a relação com uma pessoa. Para mim, o importante é que meu leitor se aproxime do que eu escrevo, e não de mim. Muitas vezes a pessoa física do escritor pode atrapalhar o contato com a obra. Uma coisa que me preocupa muito nessa esfera é não ser injusta, não privilegiar um leitor em detrimento de outro. Se eu começar a conversar muito com um, como vou fazer para conversar igualmente com todos os outros? Só através do livro, que é justo e democrático. Mas adoro quando o leitor se manifesta.

19. Que tipo de livro você mais gosta de ler?

Qualquer livro bem escrito. Devoro romances e ensaios, leio e releio poesias.

20. Como você escolhe o título dos seus livros?

Quase sempre o título é a última coisa. Com muita freqüência o livro fica pronto e eu não sei como ele vai se chamar. Muitas vezes depois do título escolhido eu percebo que de alguma forma esse título já estava escondido dentro do livro, de tantas referências que havia pelo meio do texto. Mas não é uma coisa que eu tenha facilidade em decidir. Vivo me dizendo que um dia eu vou fazer um livro que tenha como título uma palavra só, mas nunca consegui.

Fonte:
http://www.anamariamachado.com/

sábado, 5 de setembro de 2009

Vidal Idony Stockler (Trovas Avulsas)


Na bateia das poesias
lindas pedras coloridas,
vislumbram em alegrias
e enfeitam as nossas vidas.

Saudade, novo pensar,
um pensar do que passou,
querendo até resgatar
a beleza que ficou!

Eu rememoro a saudade
de minha mãe, as carícias:
serena necessidade
de seu carinho e delícias...

Lembro da mãe a ternura,
inda criança em seus braços;
hoje vivo a desventura,
sem calorosos abraços.

Mãe! A doçura querida,
serena amabilidade,
legou-nos a própria vida
a paz e a felicidade!

Lenço branco desdobrado,
acenando com amor,
em adeus lacrimejado
como os orvalhos da flor!

Numa riqueza sem fim,
nasce a força da bondade,
como as flores do jardim
na sua simplicidade!

Lembranças, ricas lembranças,
volta e meia vêem a mim
dos bons tempos de crianças,
saudade...que não tem fim !
---------
Fontes:
União Brasileira de Trovadores - Balneário Camboriú - SC. Revista Trovamar - Ano 4 - Nº 45 - Setembro - 2008
http://www.clevanepessoa.net/
TABORDA, Vasco José e WOCZIKOSKY, Orlando (orgs.). Antologia de Trovadores do Paraná. Curitiba: O Formigueiro, 1984.
http://ubttremembe.blogspot.com/2007/06/5-concurso-de-trovas-pela-internet.html
http://www.caestamosnos.org/rev_trovamar/Nov_2006.htm

Vidal Idony Stockler (1924)



Vidal Idony Stockler nasceu em Castro/PR em 29.09.1924, filho de Maria Cezarina Martins de Oliveira e Trajano Stockler. Casado com a artista plástica Lígia Virmond Stockler, com quem tem três filhas: Maria Antonieta, Maria Cristina e Lígia Maria

Fez seus estudos primários em escola pública na Vila Rio Branco e no Grupo Escolar Dr. Vicente Machado. Ele é graduado em Medicina Veterinária, na Escola Superior de Agricultura e Veterinária do Paraná, e fez os cursos de formação de Oficial Veterinário do Exército, na Escola de Veterinária do Exército e de Inspeção de Alimentos e Bromatologia, ambos no Rio de Janeiro. Além disso, é bacharel em Administração de Empresa pela Faculdade Católica do Paraná.

No Exército destacou-se como responsável técnico na criação de cavalos de raça na Coudelaria de Tindiquera/PR, e como Chefe do Laboratório Bromatológico do Estabelecimento Regional de Subsistência da 5ª RM em Curitiba/PR.

No meio civil, foi Assessor técnico do Secretário de Agricultura do Paraná; Diretor do Departamento da Produção Animal mesma Secretaria; Diretor Administrativo e Financeiro dos Portos de Paranaguá e Antonina, Executor do acordo de Classificação de Produtos Agropecuários (hoje Claspar); Conselheiro da Fundação Educacional do Paraná – Fundepar; Diretor Administrativo e Financeiro da Rádio e Televisão Iguaçu – canal 4 e da Rádio Guairacá; Presidente do Clube de Xadrez de Curitiba.

Entidades Culturais:
Centro de Letras do Paraná:
Instituto Histórico e Geográfico do Paraná;
Academia de Cultura de Curitiba;
Academia Paranaense da Poesia, onde ocupa a cadeira n. 18;
União Brasileira dos Trovadores – Seções de Curitiba/PR e de Pouso Alegre/MG e
Soberana Ordem do Sapo.
Laureado pelo Rotary Club de Curitiba – Alto da Glória, com a publicação do livro CAMINHADAS...
Títulos de mérito “Fernando Amaro” primeiro poeta do Paraná e de “Castrense que Brilha”, concedidos pelas Câmaras Municipais de Curitiba e de Castro, respectivamente.

Outras obras do autor:
1. Caminhada
2. Instantes
3. Momentos
4. Trovas
5. Fagulhas
6. Memórias
7. Palavras

Fontes:
http://www.jurua.com.br
http://www.camaracastro.pr.gov.br/

Kawabata Yasunari (A Mulher a Caminho do Fogo)


Tradução de Meiko Shimon

O lago brilhava minúsculo ao longe. Sua cor lembrava a fonte de água podre de um jardim abandonado em noite de luar.

Na margem oposta ao lago, o bosque esparso queimava em silêncio. O fogo se alastrava rapidamente. Era um incêndio florestal.

O carro de bombeiro movido a vapor corria na margem, parecendo um brinquedo, nitidamente refletido na água.

Enegrecendo a ladeira, uma multidão vinha subindo incessante.

Quando dei por mim, o ar iluminado ao meu redor se achava sereno e parecia seco.

O bairro situado na parte baixa da ladeira era um mar de fogo.

Passando habilmente entre à multidão, ela descia sozinha a ladeira. Era a única a fazê-lo.

Era um mundo estranhamente sem som.

Vendo-a avançar diretamente ao mar de fogo, eu sentia uma insuportável angústia.

Nesse momento, conversamos, sem palavras, com extrema clareza.

"Por que só tu desces a ladeira? Para morreres no fogo?"

"Eu não quero morrer. Mas, ao oeste está a sua casa. Por isto, eu irei para o leste."

No meu campo de visão cheio de chamas, sua silueta era apenas um ponto negro. Sentindo-o como uma dor encravada nos olhos, despertei.

As lágrimas escorriam dos cantos de meus olhos.

A razão porque ela sentia horror de andar em direção à minha casa, eu já a conhecia. Não importa o que ela estivesse pensando. Eu de minha parte, vinha açoitando minha racionalidade para convencer-me de que, pelo menos aparentemente, o amor dela por mim estava extinto. Porém, independente do que ela realmente sentia, eu desejava acreditar, apenas para satisfazer ao meu amor próprio, que restava em algum canto do seu coração uma gota de amor por mim. Embora eu me zombasse duramente, desejava alimentar secretamente esse pensamento.

No entanto, este sonho não seria uma prova de que eu próprio acreditava em todas as dobras do meu coração, que não lhe restava um mínimo traço de simpatia por mim?

Meus sonhos são meus sentimentos. O sentimento dela no meu sonho é o seu sentimento criado por mim. É o meu sentimento. E, é óbvio que nos sonhos não há falsa exibição de sentimentos ou vaidades.

Pensando assim, senti tristeza e solidão.
(Hi ni yuku kanojo: 1924)
---------------------
Sobre o autor:
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/yasunari-kawabata-1899-1972.html

Livros do autor:
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2008/10/livros-de-yasunari-kawabata.html

Fontes:
http://www.ufrgs.br/

Ryunosuke Akutagawa (Rashômon)



Era o entardecer. Um servo de baixa condição esperava, sob o Rashômon (Portal de entrada sul da antiga capital imperial, Kyoto), que a chuva passasse.

Sob o grande portal não havia mais ninguém. Somente um grilo pousado na enorme coluna circular, que tinha partes descascadas em seu vermelho laqueado. Uma vez que o Rashômon se situava na Avenida Suzaku, era de esperar que houvesse mais pessoas, com seus chapéus cônicos ou alongados, abrigando-se da chuva. Entretanto, além deste homem não havia mais ninguém.

Isso porque, nos últimos dois ou três anos, Kyôto sofrera seguidas calamidades, como terremotos, redemoinhos, incêndios e fome. Assim, era enorme a desolação da capital. Rezam as antigas crônicas que naquele tempo se destruiam estátuas de Buda e objetos de culto budista, que eram empilhados na beira da estrada para se vender como lenha a madeira ainda laqueada ou folheada a ouro e prata. Se até a capital se encontrava nessas condições, da conservação do Rashômon, então, nem sequer se cogitava. Assim, tirando partido do abandono em que este se encontrava , raposas e texugos começaram a se abrigar no portal. E também ladrões. Até que, passado um tempo, vieram também a depor no Rashômon cadáveres não identificados. Ao cair da noite, tal era o pavor que ninguém mais ousava se aproximar.

Corvos começaram então a se juntar em bandos, vindos não se sabia de onde. Durante o dia, inumeráveis, eles descreviam círculos e grasnavam ao redor da alta cumeeria. No crepúsculo, quando o sol se avermelhava sobre o portal, facilmente podiam ser divisados, como grãos de gergelim dispersos no ar. Vinham, obviamente, alimentar-se da carne dos mortos abandonados na galeria... se bem que, naquele dia, não se avistasse nenhum deles, talvez devido ao adiantado da hora. Mas podia-se notar seus excrementos pontilhados de branco sobre os degraus de pedra quase em ruínas, em cujas fendas crescia capim. Acocorado no último dos sete degraus, sobre o pano surrado de sua vestimenta azul-escura, o servo olhava a chuva distraído, sentindo-se incomodado com a enorme espinha que lhe aparecera na face direita.

Escreveu o autor anteriormente: “Um servo de baixa condição esperava a chuva passar”. Mas, mesmo que a chuva passasse, o servo não teria, na verdade, nada a fazer. Normalmente, é claro, deveria retornar à casa de seu senhor. Acontece que fora dispensado havia quatro ou cinco dias. Como também se escreveu antes, a cidade de Kyôto, por essa época, se encontrava em acentuado estado de decadência. E o fato de ter sido dispensado pelo senhor, a quem servia durante longos anos, não passava de uma pequena conseqüência dessa decadência geral. Seria, portanto, mais adequado dizer “um servo de baixa condição, preso pela chuva, estava desnorteado, sem saber para onde ir” do que “um servo de baixa condição esperava a chuva passar”. Além do mais, o tempo chuvoso contribuía sensivelmente para a disposição de espírito desse homem da era Heian. A chuva que começara a cair depois das quatro horas da tarde parecia que não ia mais parar. Assim, havia algum tempo, o servo ouvia, com ar ausente, o barulho da chuva que caía na Avenida Suzaku ruminando pensamentos desconexos, procurando resolver, antes de mais nada, a questão de sua sobrevivência, questão que ele sabia ser insolúvel.

A chuva, envolvendo o portal, trazia a massa do som até das gotas mais longínquas. A escuridão aos poucos fazia abaixar o céu; quem levantasse os olhos veria o telhado do Rashômon, que se projetava em diagonal, sustentando nuvens pesadas e sombrias.

Quando se tenta resolver uma questão insolúvel, não há tempo para escolher os meios. Se demorasse muito na escolha, o servo certamente terminaria morrendo de fome ao pé de um muro de barro ou à beira de uma estrada. E certamente seria trazido até o portal e abandonado como um cão. “Se não escolher...” Seu pensamento, depois de muitos rodeios, finalmente empacou neste ponto. Entretanto, este “se” continuava sendo, afinal de contas, o mesmo “se”. Mesmo admitindo não haver escolha de meios, ele não tinha coragem suficiente para aceitar de forma positiva a resposta inevitável à questão: “A única saída é tornar-me ladrão”.

Depois de um forte espirro, o servo se ergueu preguiçosamente. Em Kyôto, onde as tardes são frias, a temperatura baixara a ponto de fazê-lo desejar um braseiro. Na escuridão, o vento soprava implacável por entre as colunas do portal. Até o grilo pousado na coluna laqueada de vermelho já havia desaparecido.

Encolhendo-se todo e erguendo a gola da vestimenta azul-escura que envergava sobre a roupa amarela, correu os olhos em volta do portal. Procurava um lugar onde pudesse passar a noite tranqüilo, longe de olhares estranhos e ao abrigo do vento e da chuva. Então, por sorte, descobriu uma escada larga, também laqueada de vermelho, que conduzia a uma galeria sobre o Rashômon. Lá em cima, o máximo que ele poderia encontrar seriam cadáveres. O servo, assim, cuidando para que a espada presa à sua cintura não se soltasse da bainha, pousou no primeiro degrau o pé calçado de sandália de palha.

Subiu então, daí a alguns minutos, a meia altura da ampla escada que conduzia à galeria do Rashômon. Um homem, o corpo encolhido como um gato, sustendo a respiração, espreitava o que se passava ali em cima. A luz que vinha da galeria tocava levemente sua face direita. Era uma face com uma espinha vermelha e purulenta em meio a uma barba rala. O servo, desde o início, tinha a certeza de que ali no alto só haveria cadáveres. Todavia, depois de subir dois ou três degraus, pareceu-lhe notar alguém que se movimentava. Logo isto se confirmou, pois uma claridade turva e amarelada se refletia, oscilante, nos vãos do teto cobertos de teias de aranha. Não podia tratar-se de uma pessoa comum quem, numa noite de chuva como aquela, portasse um luzeiro no interior daquela galeria do Rashômon.

Fonte:
Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.