quinta-feira, 1 de abril de 2010

100 Trovas Populares


A árvore do amor se planta
no centro do coração;
só a pode derrubar
o golpe da ingratidão.

A cantar ganhei dinheiro,
a cantar se me acabou.
O dinheiro mal ganhado
água deu água levou.

A desgraça do pau verde
é ter o seco encostado:
chega o fogo, queima o seco,
fica o verde sapecado ...

A dor por maior que seja
se comprime, se contrai.
Eu nunca vi dor no mundo
que não coubesse num ai.

Alegria dos meus olhos
é ver a quem quero bem:
quando não vejo quem quero
não quero ver mais ninguém.

Alma no corpo não tenho;
minha existência é fingida;
sou como o tronco quebrado,
que dá sombra sem ter vida.

Amar e saber amar
são dois pontos delicados:
os que amam, são sem conta:
os que sabem, são contados.

Amar e não ter ciúmes,
isso não é querer bem;
quem não zela o bem que ama,
muito pouco amor lhe tem,

A menina que eu namoro
e que me quer muito bem,
tem um sorriso que encanta
e vinte contos também.

Amigo, não voltes nunca
aos tens amores passados,
os mortos por mais queridos
devem ficar enterrados.

Amor com amor se paga:
nunca vi coisa tão justa;
paga-me contigo mesmo
saberás quanto te custa.

À noite quando me deito
eu rezo à Virgem Maria,
para sonhar toda a noite
com quem penso todo o dia.

Aqui tens a minha mão
ajunta palma com palma;
domina o meu coração,
toma posse de minha alma.

Aqui tens meu coração
e a chave para o abrir;
não tenho mais que te dar
nem tu o que e pedir!

As rosas é que são belas,
são os espinhos que picam,
mas são as rosas que caem,
são os espinhos que ficam ...

Bateram, abri por dó;
em a desgraça que entrou.
Fêz-lhe pena ver-me só
e nunca, mais me deixou.

Carvalho que dás bogalho,
porque não dás coisa boa?
Cada um dá o que tem,
conforme a sua pessoa,

Chamaste-me tua vida,
eu tua alma quem ser:
a vida acaba com a morte,
a alma não pode morrer.

Com pena pego na pena,
coro pena quero escrever,
caiu-me a pena no chão
com pena de te não ver.

Coração que a dois ama,
e que a dois quer agradar,
não ande enganando os outros,
veja com quem quer ficar.

Das lágrimas faço contas
com que rezo às escuras;
oh! morte que tanto tardas!
oh! vida que tanto duras!

Deixa ficar descontente
contigo lá quem quiser,
três coisas nunca se emprestam:
arma, cavalo e mulher. . .

Deus não criou infelizes...
Os infelizes se fazem...
Mas quem pode interromper
o destino que êles trazem?!

Dizem que o pito alivia
as mágoas do coração;
eu pito, pito e repito
e as mágoas nunca se vão.

É, se o sol ficasse preto,
nunca mais que ninguém via.
Mas teus olhos têm mais força:
eles são preto e alumia ...

Eu amante e tu amante,
qual de nós será mais firme?
Eu como o sol a buscar-te,
tu como a sombra a fugir-me?

Esta noite dormi fora,
na porta do meu amor,
deu o vento na roseira
me cobriu todo de flor.

Eu amava-te, ó menina,
se não fora um só senão:
seres pia de água benta
onde todos põem a mão.

Eu casei-me e cativei-me,
inda não me arrependi;
quanto mais vivo contigo,
menos posso estar sem ti.

Eu quero bem à desgraça
que sempre me acompanhou;
tenho ódio à ventura,
que bem cedo me deixou.

Eu quero bem, mas não digo
a quem é que eu quero bem;
quero que saibam que eu quero,
mas que não saibam a quem!

Estudante, deixe os livros,
e volte-se, para mim;
mais vale um dia de amores
que dez anos de latim.

Foste pedir-me a meu pai,
sem saber o querer meu;
em tudo meu pai governa,
mas nisso governo eu.

Fui no livro do destino
minha sorte procurar,
corri folhas encontrei:
eu nasci para te amar.

Há uma espécie de plantas
que vingam sem ter raízes...
Assim são certos sorrisos
nos lábio, dos infelizes.

Inda que meu pai me mate,
minha mãe me tire a vida,
minha palavra está dada,
minha alma está prometida.

Infeliz me considero
em todos os meus intentos:
quando penso achar venturas
não acho senão tormentos.

Já fui alegre e contente,
hoje não sou mais ninguém.
Já fui consolo dos tristes,
hoje seu triste também.

Já não posso ser contente,
tenho a esperança perdida;
ando perdido entre a gente,
nem morro nem tenho vida.

Lá vai uma ave voando
com as penas que Deus lhe deu,
contando pena por pena,
mais penas padeço eu.

Meu amor, vá pelo mundo:
ir pelo mundo é um bem,
o mundo também é regra
para aquêles que a não têm.

Meu pai julga que me tem
fechadinha na varanda.
Coitadinho de meu pai
que bem enganado anda ...

Minha mãe, case-me cedo,
enquanto sou rapariga,
que o milho sachado tarde
não dá palha, nem espiga.

Menina dos olhos verdes,
dá-me água pra beber;
não é sede, nao é nada,
é vontade de te ver.

Muito vence quem se vence,
muito diz quem não diz tudo
porque ao discreto pertence
a tempo fazer-se mudo.

Não me tentes com fortuna
para contigo casar:
eu prefiro mais quem tenha
coração para me dar...

Naquela noite saudosa
quando de ti me apartei,
cem passos não eram dados
quando sem alma fiquei,

Ninguém deve, neste mundo,
de alheias desgraças rir.
Quando o céu troveja, o raio
não faz ponto onde cair. ...

Ninguém descubra o seu peito
por maior que seja a dor;
quem o seu peito descobre
é de si mesmo traidor...

Ninguém se julgue feliz
por ter tudo em bom estado,
pois vem a tirana sorte,
faz dum feliz desgraçado...

No coração da mulher,
por muito frio que faça,
há sempre calor bastante
para aquecer a desgraça.

No ventre da Virgem Mãe
encarnou divina graça;
entrou e saiu por ela,
como o sol pela vidraça.

Ó alegria do mundo
por onde é que tens andado?
Tenho corrido mil terras,
e não te tenho encontrado ...

O anel que tu me deste
era de vidro e quebrou;
o amor que tu me tinhas
era pouco e acabou.

O coração e os olhos
são dois amantes leais,
quando o coração tem penas
logo os olhos dão sinal.

Ó cipreste verde, triste,
cópia da minha figura,
verde qual minha esperança,
triste qual minha ventura.

Olhos pretos matadores,
cara cheia de alegria,
um beijo na tua boca
me sustenta todo o dia,

O meu amor me disse ontem
que eu andava coradinha;
os anjos do Céu me levem
se esta cor não é minha!

Ó morte, ó tirana morte,
contra ti tenho mil queixas:
quem hás-de levar não levas,
quem deves deixar, não deixas!

O pouco que Deus nos deu
cabe numa mão fechada;
o pouco com Deus é muito,
o muito sem Deus é nada.

Os males que me circundam
são como as ondas do mar:
atrás de uma vêm outras,
sem nunca poder cessar.

Os olhos de meu benzinho
são jóias que não se vendem,
são balas que me feriram,
são correntes que me prendem.

Os teus olhos, pretos, pretos,
são como a noite cerrada.
Mesmo pretos, como são,
sem eles, não vejo nada.

O teu pé decerto cabe
num sapatinho chinês,
mas a vaidade não cabe
em toda a China, talvez!

Passarinhos, meus amigos,
eu também sou vosso irmão:
vós tendes penas nas asas,
eu tenho-as no coração.

Pobre louco apaixonado,
ai de mim! que não mais via,
que seu amor, pouco a pouco,
esfriava dia a dia.

Por te amar perdi a Deus
por teu amor me perdi,
agora vejo-me só,
sem Deus, sem amor, sem ti...

Privar-me de que eu te veja
isso, meu bem, pode ser;
mas privar-me de que te ame,
só Deus tem esse poder.

Quando eu te vi, logo disse:
lindos olho, para amar,
linda boca para os beijos
se a menina os quiser dar.

Quando o sobreiro der baga
e a cortiça for ao fundo,
só então se hão de acabar
as más línguas deste mundo.

Que cigarro tão cheiroso! ...
Me dê uma fumacinha.
Com a desculpa do cigarro
sua mão pega na minha.

Quem disser que a vida acaba,
digo-lhe eu, que nunca amou;
quem deixou ficar saudades
nunca a vida abandonou.

Quem inventou a partida
não sabia o que era amar;
quem parte, parte sem vida,
quem fica, fica a chorar.

Quem me dera ser a hera
pela parede a subir
para chegar à janela
do teu quarto de dormir.

Quem me dera ser as contas
desse teu lindo colar,
para dormir em teu seio
e nunca mais acordar.

Quem me dera ser a seda,
depois da seda o cetim,
para andar de mão em mão,
as moças pegando em mim!

Quem não nasceu prá sofrer
desafiar pode os fados,
que os próprios deuses respeitam
os entes afortunados.

Quem quiser ter vida longa
fuja sempre que puder
do médico, boticário,
melão, pepino e mulher.

Quem roubou o meu amor
deve ser um meu amigo ...
Levou penas, deixou glórias,
levou trabalhos consigo ...

Quem tem amores não dorme,
nem de noite, nem de dia;
dá tantas voltas na cama,
como o peixe na água fria.

Quem tiver filhas no mundo
não fale das malfadadas;
porque as filhas da desgraça
também nasceram honradas.

Quem tiver filhos pequenos
por força há-de cantar:
quantas vezes as mães cantam
com vontade de chorar.

Rouxinol canta de noite,
de manhã a cotovia;
todos cantam, só eu choro
toda a noite e todo o dia!

Venci! Cheguei a subir!
Nada! Ninguém me ajudou!
Mas, comecei a cair,
toda gente me puxou! ...

Vossos cabelos na testa
é o que vos dá tanta graça;
parecem meadas de ouro
onde o sol se embaraça.

Um suspiro de repente,
um certo mudar de cor,
são infalíveis sinais
de quem sofre o mal de amor.

Ter amor é muito bom
quando há correspondência;
mas amar sem ser amado
faz perder a paciência.

Todo homem diz que sim
depois de ter dito "não".
Primeiro fala o orgulho
depois fala o coração.

Triste daquele a quem falta,
na vida, que se evapora,
uma criança que salta,
que canta, que ri e chora!

Triste durmo, triste acordo,
triste torno a amanhecer.
Para mim tudo é tristeza,
serei triste até morrer.

Triste sou, triste me vejo
sem a tua companhia;
tão triste, que nem me lembra
se alegre fui algum dia.

Tudo o que é triste no mundo
tomara que fosse meu,
para ver se tudo junto
era mais triste do que eu.

Tu te queixas, eu me queixo ...
Qual de nós terá razão?
Tu te queixas do meu zêlo;
eu, da tua ingratidão.

São três coisas neste mundo
que um homem de gosto quer;
uma casinha asseiada,
um "pinho" bom e mulher.

Se esta rua fosse minha
eu mandava ladrilhar,
com pedrinhas de brilhante,
para meu bem passeiar.

Se eu pensara quem tu eras,
quem tu havias de ser,
não dava meu coração
para tão cedo sofrer.

Se mil corações tivesse
com eles eu te amaria;
mil vidas que Deus me desse
em ti as empregaria.

Se onde se mata um homem,
pôr uma cruz é preceito,
tu deves trazer, Maria,
um cemitério no peito.

Se tu fosses pé de pau
eu queria ser cipó:
vivia em ti enroscado
no teu corpo dando nó.

Sonhei contigo esta noite,
mas oh! que sonho atrevido!
Sonhei que estava abraçado
à forma do teu vestido!
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Fonte:
Organização de Luiz Otávio e J.G. de Araujo Jorge. 100 Trovas Populares. Coleção “Trovadores Brasileiros”. Editora Vecchi – 1959

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