domingo, 4 de abril de 2010

Sônia Sobreira (Crônica de um Carnaval Destronado)


Em silêncio, contemplo a multidão agitada. Tento ficar bem perto dos foliões. O brilho das fantasias é deslumbrante! Tudo parece belo e perfeito. Os rodopios dos passistas, a jinga das mulatas lindas, a cadência contagiante do samba, os confetes e serpentinas cortando o espaço e o fascínio dos carros alegóricos.

Observo ainda mais de perto os foliões: Descubro que o olhar deles não combina com o sorriso, mas só quem está bem perto, pode perceber esta realidade: "Um sorriso disfarça uma lágrima."

Carnaval! tradição, folclore, volúpia, império da carne, ou trégua de três dias para suportar a dor, a mágoa, as dívidas e o medo que fatalmente voltarão na quarta-feira de cinzas.

Carnaval, louca ilusão! Quantos sonhos desfeitos, quantos corações partidos e feridos! É belo, muito belo, não se pode negar, mas sua beleza é cruel e enganosa, não poupa aqueles que procuram esquecer os infortúnios, buscando nele, um prazer efêmero e escorregadio. Carnaval! Rei Momo destronado que não cuida dos seus súditos, que rouba a inocência e estufa o seu ventre com as desilusões dos seus escravos. Carnaval! hiena que em gargalhadas, fareja a carne dos que morrem.

Fontes:
Recanto das Letras.
Desenho = http://www.rodrigoloureiro.com.br

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