segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Projeto 4 em 1) numero 4


Antonio Manoel Abreu Sardenberg
São Fidélis "Cidade Poema"
MIRAGEM

Fiz da vida tábua rasa
E do raso meu perau,
Do carvão eu fiz a brasa
Do pau-a-pique fiz casa,
Mato a cobra, mostro o pau!

Do tronco fiz a canoa,
Da vara talhei o remo,
Do papel, pipa que voa
Tudo isso é coisa à - toa,
Do nada fiz o extremo!
Com a embira fecho o saco
Do milho faço fubá,
Acredito no meu taco,
Eu dou força para o fraco,
Torço pro forte apanhar.

Da quadra fiz poesia,
Canto a beleza da rosa,
Gosto de vê-la bem prosa
Nem que seja por um dia.

Adoro ver foguetório,
Banda, retreta, folia...
Para mim bom repertório
Tem que ter todo acessório:
Verso...rima...melodia!

Da fé eu fiz a esperança,
O desejo de viver...
Da saudade, a lembrança,
Dos meus tempos de criança
Que não me deixa crescer!

Do pensamento, desejo,
A volúpia de amar,
E depois, num só lampejo,
Fabriquei milhões de beijos
Todinhos para te dar!

Vanda Dias da Cruz
Rio de Janeiro
TEMPO PARA AMAR.

Estou ficando sem tempo para encontrar meu amor
Passam todas as estações e ele não quer chegar
Por que o tempo não para? Eu fico a me perguntar...
Para que eu possa ter tempo e continuar a buscar
Quando o dia amanhece meu primeiro pensamento
É pensar que o lindo dia vai fazer eu te encontrar
Anoitece... eu fico triste...
Olhando o céu estrelado volto a ter a ilusão
Que o tempo me dará tempo para que eu possa amar
Caminhando pela praia até o cansaço chegar
Sento na areia macia para um pouco repousar
Renovando minhas forças volto a ter esperança
Que o tempo vai deixar que o meu amor apareça
De onde eu menos esperar.
E assim vai passando o tempo...
O entardecer da vida chegando..
E como um milagre recebido tu entras em minha vida
No encontro de nosso olhar a busca não foi perdida.

Fernando Pessoa (1888 - 1935) Portugal
SÚBITA MÃO DE UM FANTASMA OCULTO

Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.

Mas um terror antigo, que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto.

E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão nocturna que me guia.

Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra,
E em nada existo como a treva fria.

Antônio Correia de Oliveira
TROVA

Sino, coração da aldeia;
coração, sino da gente:
um a sentir, quando bate;
outra a bater, quando sente!

Fonte:
A. M. A. Sardenberg

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