quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Trova 103 - José Tavares de Lima (Juiz de Fora/MG)

Trova montada sobre desenho de Pedro Emmanuel

Pedro Lessa (A História antes de Buckle)



Na Grécia e em Roma, consistia a missão do historiador em narrar os acontecimentos memoráveis. Obra de arte, e não de ciência, a história se escrevia geralmente para perpetuar, encarecendo, os feitos militares, ou políticos; e seu principal merecimento estava em reproduzir tradições e crônicas, muitas vezes infiéis, sob os primores literários do estilo descritivo. Dionísio de Halicarnasso nota uma certa semelhança entre a forma animada e pitoresca da História de Heródoto e a dos poemas de Homero. A profunda concisão de Tucídides e a perfeição ática de Xenofonte fizeram da História da guerra do Peloponeso e da Retirada dos dez mil, inimitáveis modelos de narração. Salústio, de quem dizia o poeta Marcial primus romana Crispus in historia, exige do historiador, como primeira condição de sucesso, "uma linguagem à altura dos acontecimentos".

Sem embargo das suas qualidades de homem de ação, dos seus dotes de incomparável cabo de guerra, César foi exímio na gramática e na retórica; e tão rigoroso era o seu classicismo, que aconselhava a evitar as expressões novas ou incorretas, com a mesma solicitude com que o marinheiro deve fugir das penedias. É por isso que Cícero, segundo o testemunho do Suetônio, admirava o estilo puro dos Commentarios, ao ponto de recomendar que ninguém "bordasse sobre essa talagarça". Tito Lívio é a eloqüência romana: tendo vindo já muito tarde quando a liberdade era apenas uma tradição para exercitar os seus talentos oratórios, e achando interdita a tribuna das arengas forenses, transportou o rosto para as Decadas, e, no dizer de Taine, "il fut historien pour rester orateur". Quinto Cúrcio, um simples teórico, a nenhum escritor cede na descrição das batalhas. A energia, a profundeza e o brilho do estilo de Tácito, que "a poesia, o ódio e o estudo inflamaram e sombrearam", só se encontram uma vez na história.

Mas, sob as formas atraentes, ou empolgantes, dessa consumada arte de descrever, não se procure, pois freqüentemente seria vão esforço, apurar a fidelidade das informações, inquirir a verdade dos fatos. Não se observavam, porque se ainda não conheciam, os cânones da heurística, da diplomática e da crítica de interpretação, sem os quais ninguém hoje se aventura à árdua tarefa da historiografia. Raros historiadores, ao reconstruírem os fatos políticos e militares da vida de um personagem, de uma família ilustre, ou de um povo, em determinado período (e cifrava-se nisso a história), procediam a um escrupuloso exame das provas, ou se davam ao ímprobo labor de cirandar meticulosamente os documentos. Quão poucos poderiam repetir, convencidos, as palavras de Tucídides: "No que toca à verdade dos fatos, diz o autor da História da guerra do Peloponeso, não dei crédito às primeiras pessoas que encontrei, nem às minhas impressões pessoais; narrei somente os acontecimentos de que fui espectador, ou sobre os quais adquiri informações precisas e de certeza absoluta."

Na Anabase, Xenofonte descreve fatos de que foi testemunha, porquanto fez parte da expedição de Ciro, o moço, a qual comandou depois da morte de Clearco, e por isso a sua narrativa se aceita como verdadeira; mas, na Ciropedia, tanto desdenhou a verdade, que é hoje opinião unânime não passar a História de Ciro de um romance moral. Em verdade, aquele jovem príncipe, dotado pela natureza de todos os encantos imagináveis do espírito e do corpo, educado no seio de um povo singular, que a tudo antepunha a utilidade pública, e de tal arte formava o coração de seus filhos, que estes não cometiam jamais atos censuráveis, nem tinham nunca motivo para corar; aqueles bárbaros, tão zelosos cultores da justiça, que nas escolas só ensinavam as normas do direito, tão imbuídos dos preceitos da mais pura ética, que escrupulosamente praticavam todas as virtudes mais tarde preconizadas pelo cristianismo; aquele perfeito e elevadíssimo estoicismo, que nos faz antever em cada persa, sectário da religião mazdeísta, o mais bem acabado protótipo do místico medieval; tudo isso por certo pode constituir o ornato e o ensinamento moral de um livro destinado à educação da juventude, mas destoa profundamente da severidade do historiador.

Se, para escrever a Retirada dos dez mil, Xenofonte fez de Tucídies o seu modelo, quanto à fidelidade da exposição, na Ciropedia imitou o pai da história, o qual com fábulas e lendas, entretecidas nos fatos, compôs os seus nove livros, consagrados às nove musas, e que mais se assemelham aos cantos de uma epopéia do que aos capítulos de uma história.

Não obstante o manifesto desdém de Quintiliano, ao aludir às histórias gregas, os historiadores romanos não foram menos descaroáveis para com a verdade. Dificilmente compreendemos hoje o modo como Tito Lívio se preparou para escrever a história, a sua absoluta ausência de curiosidade quanto aos documentos e testemunhos com que devia cimentar as suas narrativas.

Era-lhe fácil ir ao tesouro público e ao templo das Ninfas, para ler sobre as tábuas de bronze as leis régias e tribunícias, os antigos tratados celebrados com as nações vencidas pelo povo romano, os decretos do senado e os plebiscitos; cumpria-lhe, ao menos, recorrer aos anais preparados pelos pontífices, que minuciosamente foram anotando todos os acontecimentos merecedores de transcrição na história romana; mas Tito Lívio teve por indigno de si proceder a essas pesquisas, aliás tão fáceis a um cidadão romano; nem sequer visitou os lugares onde se passaram muitos dos feitos militares, por ele descritos. Daí os equívocos, os erros, as falsidades, que abundam nas Decadas. Salústio escreveu somente para revelar a admirável perfeição do seu estilo, e por isso "explorou a história, como se fora a sua província de África, como egoísta e artista de gênio", tratando apenas dos fatos susceptíveis de descrições brilhantes pela forma.

A história, para os gregos e romanos, é um gênero literário. A amplificação oratória, as ficções, o maravilhoso épico, içam as narrativas, desfigurando os fatos, e subtraindo-os à justa apreciação dos mais claros e seguros entendimentos. O que constitui a sedução da história na antigüidade é a língua, o estilo, a arte da composição, a movimentação dramática, fonte inesgotável de emoções e de prazer, a nos mostrar, em quadros animados da mais vívida eloqüência, as grandes e fortes virtudes do heroísmo e do patriotismo.

Alguns historiadores desse período alimentavam a pretensão de fazer da história um vasto repositório de lições políticas e morais, a "mestra da vida". Políbio e Plutarco foram insignes no gênero. Já Xenofonte tinha sido um iniciador, e Salústio fez preceder a cada uma de suas obras (Catilina, seu bellum catilinarium, e Jugurtha, seu bellum jugurthinum) um discurso da mais enaltecida moral, tão destoante da vida de quem foi expulso do senado por suas escandalosas imoralidades.

A antiguidade clássica não fez da história uma ciência. Nem quanto a essa doutrina que, muitos séculos depois, se chamou a filosofia da história, conseguiu mais do que rudimentar e grosseiro esboço. Apenas o gênio profundo de Tucídides teve uma percepção fugaz das leis a que estão sujeitos os fenômenos sociais: acreditava o autor da História da Guerra do Peloponeso que seu estudo seria útil a todos que quisessem, partindo do conhecimento dos fatos passados, compreender os fatos futuros, que, "segundo as leis humanas serão semelhantes, ou análogos". Mas, lançadas acidentalmente essa e outras observações de admirável justeza, o historiador grego prossegue em sua narrativa, sem induções, sem sistematizar os fatos, explicando, quando muito, os acontecimentos como um político, pela natureza das instituições, pelo papel desempenhado pelos partidos, pelo conflito dos interesses, pelo jogo das paixões, pela eloqüência dos homens de Estado e pela tática dos homens de guerra.

Ainda é a personalidade humana, a vontade individual ou coletiva, que ocupa a cena da história, como em Heródoto. Não se nota mais a sensibilidade ingênua, a imaginação juvenil de Heródoto, para quem a queda de um raio sobre os bárbaros reunidos junto aos muros do templo de Minerva Pronéia, e o despenharem-se com fracasso dois rochedos do cume do monte Parnaso, são os maiores prodígios, os mais portentosos acontecimentos que pode narrar um historiador. O autor da História da guerra do Peloponeso não se eleva às causas naturais dos fatos, nem nos dá as leis a que aludiu no começo de sua crônica, em um rasgo assombroso do gênio. Continuador do método histórico de Tucídides é Políbio, que procura explicar a superioridade política e militar de Roma, comparando-lhe as instituições com as dos outros povos. Mas, toda a filosofia de Políbio está condensada nesta fórmula: "Cumpre estudar a constituição de um Estado, como a causa primordial dos bons e maus sucessos em tudo. É dessa constituição, como de uma fonte, que derivam as empresas e seus efeitos."

Salústio, Tito Lívio, Tácito, todos os historiadores romanos, nos dão uma única explicação da grandeza e da decadência de Roma: a cidade cresceu, elevou-se, dominou, em conseqüência de suas virtudes e por uma predestinação divina; decaiu, perdeu a liberdade e o império do mundo, em conseqüência da dissolução dos costumes, produzida pelo luxo. Não passa dessa rudimentar consideração a filosofia da história em Roma.

Não se pretenda tampouco descobrir, nos historiadores gregos e romanos, a coordenação metódica dos fatos, a sistematização científica dos elementos preparados pelo historiador, para as generalizações das ciências sociais. Taine caracterizou bem a história, tal como foi compreendida pela antiguidade clássica, dizendo que ela nos oferece unicamente uma sucessão de acontecimentos, e não classes de fatos. Preocupados com os feitos bélicos e as ações dos políticos, os historiadores do período greco-romano poucas ou nenhumas informações nos ministram sobre a indústria, o comércio, os costumes domésticos, a religião, a ciência, as letras, as artes liberais e mecânicas, sobre todos aqueles fatos estudados hoje pelos historiadores, como o conteúdo principal da história. [...]

(É a história uma ciência?, 1900.)

Fonte:
Academia Brasileira de Letras

Pedro Lessa (1859 – 1921)


Pedro Augusto Carneiro Lessa, jurista, magistrado, político e professor, nasceu em Serro, MG, em 25 de setembro de 1859, e faleceu, no Rio de Janeiro, RJ, em 25 de julho de 1921.

Era filho do coronel José Pedro Lessa e de Francisca Amélia Carneiro Lessa e sobrinho do poeta Aureliano Lessa, colega de turma e amigo de Álvares de Azevedo e Bernardo Guimarães, com os quais planejou publicar, quando estudantes em São Paulo, um livro de colaboração, que se intitularia Três liras, e que jamais foi escrito. Fez os estudos primários e secundários em sua província. Em 1876 partiu para São Paulo, onde se matriculou na Faculdade de Direito. Formou-se em 1883, tendo pertencido a uma turma de nomes brilhantes, na qual se destacavam os de David Campista, Bueno de Paiva, Martim Francisco Sobrinho e Júlio de Mesquita.

Em 1885, iniciou a sua vida pública, com a nomeação para o cargo de secretário da Relação de São Paulo. Dois anos depois, em 1887, inscreveu-se em concurso na Faculdade de Direito de São Paulo, tendo obtido o primeiro lugar. Não conseguiu, porém, a nomeação. Em 1888, prestou outro concurso, em que também obteve a melhor classificação, sendo nomeado, logo a seguir, como professor catedrático.

Em 1891, foi nomeado chefe de polícia do Estado de São Paulo e eleito deputado à Assembléia Constituinte de São Paulo, tomando parte dos trabalhos de elaboração da Constituição estadual. Em breve se retirava da ação pública, dedicando-se exclusivamente ao magistério e à advocacia. Em outubro de 1907 foi nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal, na aposentadoria de Lúcio de Mendonça.

O livro Do Poder Judiciário (1915) é um clássico na matéria e publicou também várias outras obras: Estudos de Filosofia do Direito (1912), Dissertações e Polêmicas – Estudos jurídicos (1909), Discursos e Conferências (1916) e É a História uma Ciência? - Introdução à História da Civilização de Buckle.

Pedro Lessa foi um modelo de juiz, no tribunal em que teve assento, e o foi pelo saber profundo, pela coragem das atitudes e pela determinação. Na atuação destacada que teve no Supremo Tribunal Federal foi responsável pela ampliação no Instituto Hábeas-Corpus a outros casos não previstos na Constituição. No magistério, na advocacia e na magistratura, norteou sua atividade pelo amor ao Brasil. Foi também esse amor que o levou a ser um dos elementos de maior assiduidade e trabalho na Liga da Defesa Nacional. Pertenceu a várias instituições culturais, entre as quais o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Segundo ocupante da Cadeira 11, da Academia Brasileira de Letras, eleito em 7 de maio de 1910, na sucessão a Lúcio de Mendonça e recebido pelo Acadêmico Clóvis Beviláqua em 6 de setembro de 1910. recebeu o Acadêmico Alfredo Pujol.

Obras: Interpretação dos Arts. 23, 34, 63 e 65 da Constituição Federal (1899); É a história uma ciência?, ensaio (1900); Dissertações e polêmicas - Estudos jurídicos (1909); Estudos de filosofia do direito (1912); O determinismo psíquico e a imputabilidade e responsabilidade criminais (1915); Do Poder Judiciário (1915); Discursos e conferências (1916).

Fontes:
Academia Brasileira de Letras
wikipedia

Moacyr Scliar (Na Noite do Ventre, o diamante)


Na pequena aldeia judaica no sul da Rússia, a cada sexta-feira, na festa do Shabat, a cena se repetia na casa de Itzik Nussembaum. Esther, sua mulher, apresentava ao marido e aos dois filhos o dedo anular – segundo ela, apenas um dedo feio e maltratado em mãos feias e matratadas – e, num gesto reverente, solene, orgulhoso, coloca nele o velho anel da família. Que tem um belíssimo diamante engastado.

É este diamante o centro de uma história fascinante que começa em 1662 numa vila escondida de Minas Gerais, onde é encontrado. Do século XVII, o diamante é levado do Arraial da Cabra Branca por um cristão-novo que foge da Inquisição para a Holanda. Na Europa, a pedra é lapidada por um discípulo do Spinoza - numa das mais belas passagens do livro, em que se associam as idéias geniais do filósofo ao valor de mercadorias e ao sentido da própria vida.

Roubada por outro discípulo de Spinoza, o diamante chega à Rússia, onde se torna herança de família e passar a ser usado por Esther Nussembaum. Quando esta família decide fugir da Rússia, já no começo do século XX, para tentar vida nova no Brasil, se dão conta de que a única coisa valiosa que possuem é o diamante. Com medo dos bandidos na fronteira, fazem com que um dos filhos engula o aro do anel e, o outro, a pedra preciosa. Este último, Gregório, fica com o diamante preso no intestino, o que gera terríveis dramas familiares.

Numa narrativa engenhosa, Moacyr Scliar traz à cena figuras como o padre Antonio Vieira e o filósofo Spinoza, tornando o leitor cúmplice de um saboroso jogo entre realidade e ficção e conduzindo-o a um final absolutamente inesperado.

Há muitos anos Scliar tinha em mente a história de um diamante viajando no tempo e no mundo. O convite para que assinasse o livro inspirado no dedo anular caiu, literal e metaforicamente, como luva - e assim Na Noite do Ventre, o diamante encerra de forma brilhante a coleção Cinco Dedos de Prosa.

Moacyr Scliar é também médico, membro da Academia Brasileira de Letras, autor de 73 livros, bem como professor na área de saúde pública no Rio Grande do Sul, seu estado natal.

Fonte:
Editora Objetiva

Poesia Concreta


Ao trabalhar de forma integrada o som, a visualidade e o sentido das palavras, a poesia concreta propõe novos modos de fazer poesia, visando a uma ‘arte geral da palavra’. A expressão joyceana verbivocovisual sintetiza essa proposta que, desde os anos 1950, foi colocada em prática pelos poetas Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos, José Lino Grünewald e Ronaldo Azeredo, desdobrando-se até hoje, ao longo de mais de cinco décadas de produção em suportes e meios técnicos diversos – livro, revista, jornal, cartaz, objeto, lp, cd, videotexto, holografia, vídeo, internet.

Concebida no calor do empreendimento mais geral de construção de um Brasil moderno, como um projeto em desenvolvimento, esta poesia coloca em jogo formas renovadas de sensibilidade e de experiência. Alarga, ao mesmo tempo, os parâmetros de discussão de poesia, ultrapassando o âmbito literário.

Os poetas concretos estabeleceram, desde o início, ligações entre a sua produção, a música contemporânea, as artes visuais e o design de linhagem construtivista. Reprocessaram elementos dessas artes em seus poemas e mantiveram extensa colaboração com artistas e designers, compositores e intérpretes, seja na esfera da música erudita, seja na da música popular, sem falar de outros poetas e críticos, tanto do Brasil quanto do exterior.

Além de sua própria produção e da atividade teórica, empenharam-se ainda na constituição de um amplo repertório de formas poéticas, por meio da revisão crítica de autores e da tradução de uma grande variedade de obras de outros idiomas para o português, sob o parâmetro da invenção estética.

Características

A poesia concreta surgiu com o Concretismo, fase literária voltada para a valorização e incorporação dos aspectos geométricos à arte (música, poesia, artes pláticas).

Em 1952, a poesia concreta tem seu marco inicial através da publicação da revista “Noigrandes”, fundada por três poetas: Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos.

Contudo, é em 1956, com a Exposição Nacional de Arte Concreta em São Paulo, que a poesia concreta se consolida como uma nova e inusitada vertente da literatura brasileira.

O poema do Concretismo tem como característica primordial o uso das disponibilidades gráficas que as palavras possuem sem preocupações com a estética tradicional de começo, meio e fim e, por este motivo, é chamado de poema-objeto.

Outros atributos que podemos apontar deste tipo de poesia são:

- a eliminação do verso;
- o aproveitamento do espaço em branco da página para disposição das palavras;
- a exploração dos aspectos sonoros, visuais e semânticos dos vocábulos;
- o uso de neologismos e termos estrangeiros;
- decomposição das palavras;
- possibilidades de múltiplas leituras.

A comunicação através do visual era a forma de expressão de todas as poesias concretas. No entanto, houve particularidades que diferenciavam os poemas deste período em tipos de poesias. Vejamos:

● Poesia-Práxis: movimento liderado por Mário Chamie, que a partir de 1961 começou a adotar a palavra como organismo vivo gerador de novos organismos vivos, ou seja, de novas palavras.

● Poesia social: movimento de reação contra os formalismos da poesia concreta, os quais eram considerados exagerados por um grupo de artistas. Estes lutavam para o retorno e a inclusão de uma linguagem simples e de temas direcionados à realidade social. Artistas como Ferreira Gullar e Thiago de Mello foram adeptos dessa visão.

● Tropicalismo: movimento advindo do universo musical dos anos 67 e 68, que retomava as propostas de Oswald de Andrade com o Manifesto Antropófago e adotou o pensamento de aproveitar qualquer cultura, independente de onde viesse.

● Poesia Marginal: surgiu na década de 70 e é chamada de “marginal” porque não possuía vínculos com editoras ou distribuidoras para edição e/ou publicação, ou seja, era produção independente.

Fontes:
http://www.mundoeducacao.com.br/literatura/poesia-concreta.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_concreta
http://www.poesiaconcreta.com.br/

Augusto de Campos (Poesia Concreta: um manifesto)



- a poesia concreta começa por assumir uma responsabilidade total perante a linguagem: aceitando o pressuposto do idioma histórico como núcleo indispensável de comunicação, recusa-se a absorver as palavras com meros veículos indiferentes, sem vida sem personalidade sem história - túmulos-tabu com que a convenção insiste em sepultar a idéia.

- o poeta concreto não volta a face às palavras, não lhes lança olhares oblíquos: vai direto ao seu centro, para viver e vivificar a sua facticidade.

- o poeta concreto vê a palavra em si mesma - campo magnético de possibilidades - como um objeto dinâmico, uma célula viva, um organismo completo, com propriedades psicofisicoquímicas tacto antenas circulação coraação: viva.

- longe de procurar evadir-se da realidade ou iludí-la, pretende a poesia concreta, contra a introspecção autodebilitante e contra o realismo simplista e simplório, situar-se de frente para as coisas, aberta, em posição de realismo absoluto.

- o velho alicerce formal e silogístico-discursivo, fortemente abalado no começo do século, voltou a servir de escora às ruínas de uma poética comprometida, híbrido anacrônico de coração atômico e couraça medieval.

- contra a organização sintática perspectivista, onde as palavras vêm sentar-se como "cadáveres em banquete", a poesia concreta opõe um novo sentido de estrutura, capaz de, no momento histórico, captar, sem desgaste ou regressão, o cerne da experiência humana poetizável.

- mallarmé (un coup de dés-1897), joyce (finnegans wake), pound (cantos-ideograma), cummings e, num segundo plano, apollinaire (calligrammes) e as tentativas experimentais futuristasdadaistas estão na raíz do novo procedimento poético, que tende a imporse à organização convencional cuja unidade formal é o verso (livre inclusive).

- o poema concreto ou ideograma passa a ser um campo relacional de funções.
o núcleo poético é posto em evidencia não mais pelo encadeamento sucessivo e linear de versos, mas por um sistema de relações e equilíbrios entre quaisquer parses do poema.

- funções-relações gráfico-fonéticas ("fatores de proximidade e semelhança") e o uso substantivo do espaço como elemento de composição entretêm uma dialética simultânea de olho e fôlego, que, aliada à síntese ideogrâmica do significado, cria uma totalidade sensível "verbivocovisual", de modo a justapor palavras e experiência num estreito colamento fenomenológico, antes impossível.

- POESIA-CONCRETA: TENSÃO DE PALAVRAS-COISAS NO ESPAÇO-TEMPO.

Fonte:
Revista A&D - Arquitetura e Decoração, n.20. São Paulo, novembro/dezembro de 1956

Augusto de Campos (Poemas)


Ferida

fer
ida
sem
ferida
tudo
começa
de novo
a cor
cora
a flor
o ir
vai
o rir
rói
o amor
mói
o céu
cai
a dor
dói
–––––––––––––––––––––––



TENSÃO

Este poema é, como afirma Charles Perrone, “uma teia de elos sonoros e semânticos meticulosamente construída” (*)”Ten-são” é o tema que se expande. “Tem” em forma de cruz para cima (“tem”), para um lado (“tem”), para o outro (“tam”) e para baixo (“tom”). “São” o faz em diagonal “som” e “sem som” . Os elementos que sobram formam um triângulo: “con”, ”com” e “can”- e uma diagonal: “bem”, “bem”. Todos estão a uma mesma distância do centro que é um nó em tensão. Segundo os princípios das palavras, há quatro grupos (“t”, “s”, “k” e “b”, mas há somente um se considerarmos as letras finais (todas estão enlaçadas pela nasalização). Assim como Augusto de Campos extrai quantidade de possibilidades do visual das palavras, também aproveita sua sonoridade, indo do “com som” ao “sem som” e extraindo valor onomatopaico das sílabas. Ao fazer um percurso clássico do olhar – da direita à esquerda -, vê-se que o poema é a tensão entre o silêncio: do “com som” ao “sem som”.

O texto original explica que o poema foi composto por Augusto de Campos em sua fase “matemática” em que há o uso intencional das leis gestálticas, “segundo o modelo regular que dispõe os signos em uma quadrícula”.

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“sol de maiakovski”, uma “intradução” de Augusto de Campos, termo usado pelo poeta-tradutor para uma criação a partir da tradução... [“A palavra joga com “tradução”, “introdução”, o prefixo “in” (este “in”, que se opõe ao “ex”, é a interioridade do poema, de todos os poemas inventivos ou radicais com os quais os poetas concretos se sentem identificados a partir dos critérios de inovação), e também o termo “intra”, que marca o caráter textual e autonomaizador da operação”. Gonzalo Aguilar, op. cit. p. 282

O poema em questão recoloca o verso na criação do poeta, embora mantenha a idéia da quadrícula, da geometrização do poema. Aguilar informa, acredito que equivocadamente, que “Os versos de Maiakóvski combinam-se aqui com versos de canções de Caetano Veloso (“gente é pra briilhar”) e de Roberto Carlos (“que tudo mais vá pro inferno”). Em verdade, “gente é pra brilhar,/ que tudo mais vá pro inferno” são versos do próprio Maiakóvski, de 1920, do longo e famoso poema “ A Extraordinária Aventura Vivida Por Vladmir Maiakóvski no Verão na Datcha”, em tradução feita pelo próprio Augusto de Campo; não são versos de Caetano e Roberto Carlos, que simplesmente teriam se apropriado dos mesmos, “intertextualmente” em suas famosas canções. De tão difundidas, passaram a ser atribuídas a eles e não ao verdadeiro autor e tradutor...

Vale ainda ressaltar que a palavra “tudo” aparece em realce, no centro da composição. (Antonio Miranda)

Fonte:
http://www.antoniomiranda.com.br/

Augusto de Campos (1931)


Augusto Luís Browne de Campos nasceu em São Paulo, em 1931, poeta, tradutor, ensaísta, crítico de literatura e música.

Em 1951, publicou o seu primeiro livro de poemas, O REI MENOS O REINO. Em 1952, com seu irmão Haroldo de Campos e Décio Pignatari, lançou a revista literária "Noigandres", origem do Grupo Noigandres que iniciou o movimento internacional da Poesia Concreta no Brasil. O segundo número da revista (1955) continha sua série de poemas em cores POETAMENOS, escritos em 1953, considerados os primeiros exemplos consistentes de poesia concreta no Brasil. O verso e a sintaxe convencional eram abandonados e as palavras rearranjadas em estruturas gráfico-espaciais, algumas vezes impressas em até seis cores diferentes, sob inspiração da Klangbarbenmelodie (melodia de timbres) de Webern.



Em 1956 participou da organização da Primeira Exposição Nacional de Arte Concreta (Artes Plásticas e Poesia), no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Sua obra veio a ser incluída, posteriormente, em muitas mostras, bem como em antologias internacionais como as históricas publicações Concrete Poetry: an International Anthology, organizada por Stephen Bann (London, 1967), Concrete Poetry: a World View, por Mary Ellen Solt (University of Bloomington, Indiana, 1968), Anthology of Concrete Poetry, por Emmet Williams (NY, 1968).

A maioria dos seus poemas acha-se reunida em VIVA VAIA, 1979, DESPOESIA (1994) e NÃO (com um CDR de seus Clip-Poemas), (2003). Outras obras importantes são POEMÓBILES (1974 e CAIXA PRETA (1975), coleções de poemas-objetos em colaboração com o artista plástico e designer Julio Plaza.

Como tradutor de poesia, Augusto especializou­se em recriar a obra de autores de vanguarda como Pound (Mauberley, The Cantos), Joyce (Finnegans Wake), Gertrude Stein e Cummings, ou os russos Maiakóvski e Khliébnikov, Traduziu também alguns dos grandes "inventores" do passado: Arnaut Daniel e os trovadores provençais, Donne e os "poetas metafíscos", Mallarmé e os Simbolistas franceses.

Uma primeira antologia de sua obra tradutória, expandida depois em diversas monografias, é VERSO REVERSO CONTROVERSO (1978). Algumas de suas últimas publicações nesse campo: RIMBAUD LIVRE (1992), HOPKINS: A BELEZA DIFÍCIL (1997) e COISAS E ANJOS DE RILKE (2001).

Como ensaísta é co­autor de TEORIA DA POESIA CONCRETA, com Haroldo de Campos e Decio Pignatari, 1965, and autor de outros livros tratando de poesia de vanguarda e de invenção, como POESIA ANTIPOESIA ANTROPOFAGIA, 1978, O ANTICRÍTICO, 1986, LINGUAVIAGEM, 1987, À MARGEM DA MARGEM, 1989. Com Haroldo e Pignatari lutou pela revalorização da obra de Oswald de Andrade, e também redescobriu a obra olvidada do poeta maranhense Sousândrade (1832-1902), um precursor da poesia moderna com seu "Inferno de Wall Street" (1877) em RE­VISÃO DE SOUSANDRADE,1964).

BALANÇO DA BOSSA (E OUTRAS BOSSAS), 1968-1974, reuniu seus estudos pioneiros sobre o Tropicalismo e a MPB assim como as suas intervenções no campo da música contemporânea tratando de Charles Ives, Webern, Schoenberg e os compositores brasileiros do grupo "Musica Nova". Ensaios posteriores enfocando a música e a poesia de Cage e as obra radicais de Varèse, Antheil, Cowell, Nancarrow, Scelsi, Nono, Ustvólskaia, entre outros, foram recolhidos no livro MÚSICA DE INVENÇÃO (1998).

A partir de 1980, intensificou os experimentos com as novas mídias, apresentando seus poemas em luminosos, videotextos, neon, hologramas e laser, animações computadorizadas e eventos multimídia, abrangendo som e música, como a leitura plurivocal de CIDADECITYCITÉ (com Cid Campos),1987/ 1991. Seus poemas holográficos (em cooperação com Moyses Baumstein) foram incluídos nas exposições TRILUZ (1986) e IDEHOLOGIA (1987).

Um videoclip do poema PULSAR, com música de Caetano Veloso, foi produzido por ele em 1984, numa estação Intergraph, com a colaboração do grupo Olhar Eletrônico. POEMA BOMBA e SOS, com música de seu filho, Cid Campos, foram animados numa estação computadorizada Silicon Graphics da Universidade de São Paulo, 1992-3. Sua cooperação com Cid, iniciada em 1987, ficou registrada em POESIA É RISCO (CD editado em 1995 pela PolyGram) e se desenvolveu no espetáculo de mesmo nome, uma performance "verbivocovisual" de poesia/música/imagem com edição de vídeo de Walter Silveira, apresentada em diversas cidades do Brasil e no exterior. Suas animações digitais - os CLIP­POEMAS - foram exibidas em 1997 numa instalação que fez parte da exposição Arte Suporte Computador, na Casa das Rosas, em São Paulo.

Fonte
http://www2.uol.com.br/augustodecampos/biografia.htm

Augusto de Campos em Xeque


Augusto de Campos é poeta, tradutor e ensaísta. Foi um dos criadores, junto com Haroldo de Campos e Décio Pignatari, do movimento de poesia concreta brasileira. Traduziu poetas como Cummings, Pound, Maiakóvsky, Mallarmé, Blake, Rimbaud, Valéry, Keats, Hopkins, dentre outros. Traduziu, com Haroldo de Campos, trechos do livro Finnegans Wake, do escritor irlandês James Joyce. Publicou um livro onde reúne ensaios sobre a música erudita contemporânea e lançou o CD Poesia é risco. Os dados acima são apenas um pequeno resumo de uma vida dedicada à poesia, cujo início data do final dos anos 40.

Em todas as atividades que exerce (poesia, tradução e ensaio) Augusto é um exemplo do criador e pensador extremamente apaixonado pelo que faz. Amante da poesia e da música inovadora, não se espanta com a radicalidade dos criadores que ousam experimentar para além do já criado. Ao contrário, comunga em sua poesia e em suas reflexões com esse universo. É ele também alguém que busca a inovação constante.

De Paul Valéry adota a máxima que diz que o trabalho de um escritor deve ser mensurado pelo rigor de suas recusas. Por isso, trabalha pacientemente cada poema e cada tradução; como um joalheiro, busca a perfeição e o brilho que surgem da forma bem acabada. Esse trabalho é notável para aqueles que mergulham nos seus livros. Como uma criança que, descontente com os universos estabelecidos, constrói, desconstrói e reconstrói o mundo a cada nova brincadeira, o poeta Augusto não envelhece nunca: suas invenções estão aí para provar.

Na entrevista que o poeta gentilmente nos concedeu por e-mail, comenta os rumos da nova poesia brasileira, alguns aspectos de antigas polêmicas contra o Concretismo, fala de seu trabalho como tradutor e sobre o seqüestro que a música erudita contemporânea sofre em nossos meios culturais.

1 - Do Concretismo ao Neoconcretismo e ao Poema-Processo a teoria era uma das bases sobre a qual se assentava a poesia que se praticava. O Sr. poderia falar de alguns conceitos que acha importantes para a prática da poesia atualmente? Dentro desta mesma questão, por que os novos poetas não teorizam mais sobre a poesia que fazem?

AUGUSTO DE CAMPOS: Manifestos não são decretos. São projetos. A teoria surge em determinados momentos, como decorrência de um projeto coletivo de grandes transformações. Nasce da prática e vai sendo alterada por ela. Quanto aos conceitos que acho importantes para a poesia, hoje, penso que, entre outros, são relevantes os temas da autonomia da linguagem poética, da liberdade e simultaneamente do rigor de construção poética, da curiosidade formal, da experimentação permanente e da consciência contextual da modernidade e das novas tecnologias, que repotencializaram as propostas das vanguardas do século XX. Mas não é necessário teorizar para fazer poesia. Se os jovens não teorizam é porque não têm o que teorizar. Por outro lado, há uma grande indefinição nesta época de desencantos utópicos, no vácuo do "pós-tudo". Estamos, talvez, numa fase de transição.

2 - O Sr. acredita na possibilidade da criação de uma obra de arte totalmente abstrata, que se constitua como uma linguagem fora da história (esse "pesadelo" joyceano)? A poesia concreta (e a poesia que o Sr. pratica hoje) tentou alcançar, em sua base e em suas buscas, esse abandono à referência histórica?

AUGUSTO DE CAMPOS: Sim, é possível criar uma obra totalmente abstrata. Khrutchônikh, Iliazd e os adeptos do "zaum" (linguagem transmental) da vanguarda russa o fizeram, em maior ou menor grau, com palavras inventadas, assim como Kurt Schwitters, com a sua "ur-sonate" (sonata pré-silábica), ou ainda Gertrude Stein com a linguagem "não-referencial" (empregando palavras comuns dessemantizadas pelo contexto) dos seus "Tender Buttons" (Botões Suaves), De um modo mais geral, a poesia se situa mesmo "fora da história". "É uma viagem ao desconhecido", como escreveu Maiakóvski, poeta mais do que engajado. "O poeta é um fingidor", de Pessoa, poderia ser escrito por qualquer poeta de qualquer tempo ou lugar. Essa é a natureza intrínseca da poesia, que acima de tudo fala do homem e ao homem de todos os tempos e de todas as latitudes. Isso não quer dizer que a poesia não possa abranger a história ou ser referenciada a ela, caso dos CANTOS de Pound, em nossa época. A poesia concreta, embora tendo a autonomia da linguagem poética como um dos seus postulados, e a sua independência do fato histórico como um corolário, não foi infensa aos eventos significativos do seu tempo e do seu país. A produção dos anos 60 é particularmente rica de exemplos de poemas referenciados ao momento histórico.

3 - Segundo Ferreira Gullar, "João Cabral é um poeta que se refugiou na linguagem, mas reinicia a cada momento a tarefa de reaver o mundo perdido; já os concretistas se refugiaram na palavra, mas a tomaram como a 'verdadeira realidade', como fetiche." (In: "Indagações de Hoje". p. 180). O Sr. concorda com essa observação que o Gullar faz do Concretismo?

AUGUSTO DE CAMPOS: É evidente que não concordo. A observação não faz justiça sequer à poesia de João Cabral, que nem se refugiou na linguagem nem perdeu mundo algum, mas simplesmente compreendeu a natureza da linguagem poética e a desvelou em poemas metalinguísticos como "Anti-Ode", a par de enfocar temas sociais, amorosos ou outros em outras obras, sempre com alta densidade vocabular e notável rigor compositivo. Ao contrário de Gullar, ele entendeu perfeitamente os propósitos da poesia concreta, que sempre valorizou, chegando a colocá-la acima até da poesia do Modernismo, em vários depoimentos, de conhecimento público. Ora, qualquer um pode ver que uma das características diferenciais da poesia concreta, relativamente a outros movimentos poéticos de vanguarda, é o fato de ela não renunciar à dimensão semântica. VERBIVOCOVISUAL, ela se afirmou desde o início, com isso significando a ênfase simultânea no verbal, no sonoro e no visual, em pé de igualdade, e não apenas nos dois últimos níveis ou só no primeiro. Não fora assim, como explicar poemas como TERRA, BEBA COCA COLA, SERVIDÃO DE PASSAGEM, ESTELA CUBANA, PORTÕES ABREM, LUXO, os "popcretos", para só citar alguns dos mais ostensivamente referenciais e ideológicos? Mesmo poemas de semântica mais abstrata, como TENSÃO, polarizando som e silêncio, não deixam de configurar arquétipos vivenciais. Outros ainda, de natureza metalinguística, perscrutam a linguagem poética e tratam de expandi-la em novas articulações, até o limite. Mas sempre mantendo o significado. De linhagem poundiana ("precise definition"), a poesia concreta nunca foi "não-referencial". O que propusemos, a par de reivindicar a autonomia da linguagem poética em relação à linguagem contratual, foi uma nova abordagem da poesia, uma sintaxe tempo-espacial, não-discursiva, mais consentânea com os desenvolvimentos da ciência e da tecnologia do nosso tempo, e uma nova configuração formal, ao mesmo tempo rigorosa e livre, capaz de projetá-la em dimensões interdisciplinares além-verso e além- livro. O que recusamos sempre, como João Cabral, foi a demagogia sentimental e a retórica panfletária em busca de aplauso fácil. Nosso lema foi o maiakovskiano "não há poesia revolucionária sem forma revolucionária." Como eu digo no meu poema NÃO: "humano autêntico sincero mas ainda não é poesia". O resto é ressentimento.

4 - Embora já incorporado aos livros didáticos de literatura brasileira, não existe movimento literário no Brasil que conheça tanta crítica quanto o concretismo. O modernismo de 22, embora atacado no seu surgimento, ao contrário, é agora muito bem aceito (e assimilado) pela cultura brasileira. Que razões o Sr. atribui a essa rejeição e, mesmo, perseguição, ao Concretismo?

AUGUSTO DE CAMPOS: A poesia concreta foi o mais radical dos movimentos poéticos brasileiros, tornou mais difícil escrever poesia, pôs em circulação um repertório sem precedente de linguagens poéticas não visitadas entre nós, traduzidas criativamente do original, da antiga poesia hebraica, chinesa e japonesa às vanguardas - trovadores provençais, Dante e Guido Cavalcanti, poetas "metafísicos" ingleses, Mallarmé, Corbière, Hopkins, Pound, Joyce, Cummings, Gertrude Stein, August Stramm e Kurt Schwitters, Kkliébnikov, Maiakóvski e a nova poética russa, entre outros. Nunca se fez isso antes entre nós. Revimos o percurso literário brasileiro, desmontando preconceitos e promovendo os marginalizados pelas histórias e "formações da literatura" oficiais, como Gregório de Matos, Sousândrade, Qorpo Santo, Kilkerry, Ernani Rosas, Oswald, Luis Aranha, Pagu. E a poesia concreta já está nos livros didáticos, como você mesmo acentua. Quer dizer, até as crianças começam a entender. Ainda há pouco minhas netas, de 9 e 15 anos, vieram me mostrar, em seus livros de estudo, os poemas LUXO e PÓS-TUDO, precisamente os que a crítica universitária sociologóide tentou denegrir há quase 20 anos atrás. Relato isso não pare me vangloriar, mas para pôr em evidência o abismo que separa grande parte da crítica do trabalho criativo. É claro que tudo isso provocou e ainda provoca muita inveja, irritação e medo. A renitente perseguição de alguns poetas sem "fair play", de certa parte da crônica jornalística e dos redutos mais conservadores universitários é lamentável, mas é compreensível e é sinal de vitalidade da poesia concreta. Que continua a provocar e a despertar reações apaixonadas, pró e contra.

5 - O que leva o Sr. a traduzir mais do que a escrever e publicar sua própria poesia?

AUGUSTO DE CAMPOS: O que me interessa acima de tudo não é a "minha" poesia, mas a poesia, "tout court". Gosto do convívio com os outros poetas, os poetas que admiro, e traduzi-los, converter os seus poemas originais, de outros idiomas, em poemas de língua portuguesa, é uma forma de dialogar e aprender, celularmente, com eles. A minha própria poesia passa por um crivo muito severo de auto-crítica e não sinto nem compulsão para criá-la nem pressa em publicá-la. Entre VIVA VAIA (1979) e DESPOESIA (1994) passaram-se 15 anos, e agora mesmo, quando preparo o meu novo livro, vejo que já transcorreram 9 anos. Acho inútil contribuir para inflacionar o mundo dos livros, acreditando com Fernando Pessoa, que "cada homem tem pouquíssimo que exprimir e a soma de toda uma vida de sentimento e pensamento pode, por vezes, inserir-se no total de um poema de oito linhas." Contento-me com a elaboração de alguns poucos poemas por ano. Não forço a barra. Sou muito exigente. E mesmo assim, a minha produção, talvez porque eu tenha atingido idade avançada, já ultrapassa quantitativamente, de muito, a de maravilhosos poetas como Arnaut Daniel, Mallarmé, Rimbaud, Cesário Verde, Sá-Carneiro e tantos outros, mestres e inventores, cujo pequeno acervo de obras poéticas vale mais do que centenas de grossos tomos de poesia.

6 - O Sr. tem um grande apreço pela música erudita contemporânea (da Escola de Viena até compositores recentes como Berio e John Cage, dentre outros). De que forma a frequentação a essa música interfere no seu fazer poético ou na sua reflexão sobre a poesia?

AUGUSTO DE CAMPOS: É evidente que a música, e a música erudita contemporânea em particular, exercem grande influência sobre a minha poesia. POETAMENOS não teria existido, como tal, sem a minha paixão pela música de Webern, para mim o maior compositor de todos os tempos. As aventuras exploratórias dessa produção musical, de grande teor inventivo - marginalizada pelos meios de comunicação - estimulam a minha curiosidade e me instigam às vezes tanto ou mais do que a própria poesia.

7- Existe hoje nas salas de concerto brasileiras o que se poderia chamar de sequestro da música erudita do século XX. Não existe um projeto de tornar pública (ou visível) essa música. Continuamos anos a fio ouvindo o mesmo repertório musical. Por que o Sr. acha que essa música ainda não é executada sistematicamente como, por exemplo, o repertório dos séculos XVIII e XIX?

AUGUSTO DE CAMPOS: A culpa é em grande parte dos meios de comunicação, que não cumprem, como seria desejável, o seu papel de mediação e de informação. Dão um destaque desproporcional à moda ou a música popular de consumo, mas não noticiam e não apresentam com destaque e com glamour as propostas da música do nosso tempo. Também os patrocínios culturais continuam a privilegiar a música de consumo, justamente a que não necessita de apoio financeiro para sobreviver. Dessensibiliza-se e desestimula-se a curiosidade do ouvinte. Acuados diante do distanciamento do público, produtores culturais, orquestras, maestros e concertistas se apavoram e atuam com uma timidez excessiva, autolimitando-se ao repertório mais surrado dos séculos XVIII e XIX, na expectativa de satisfazerem a platéia fugidia e os financiadores gananciosos. Uma triste história de desinformação e acovardamento, que colocou lamentavelmente entre parênteses e entre paredes a música contemporânea - afinal, a do nosso tempo - assim como a de outros tempos, como a grande música de Machaut, dos polifonistas da Renascença ou dos madrigalistas dos séculos XVI e XVII.

8 - Antes da tradução de trechos de Finnegans Wake feita pelo Sr. e por Haroldo de Campos não havia outra versão desta obra de Joyce. O que o Sr. está achando da nova tradução que está sendo por feita por Donaldo Schüler? Qual a importância do aparecimento desta tradução para as letras brasileiras?

AUGUSTO DE CAMPOS: Acho louvável e meritório o empreendimento de Donaldo Schüler. Certamente há de contribuir muito para o entendimento e a divulgação da obra de Joyce entre nós. Trata-se, porém, a meu ver, de uma tradução extensiva, menos exigente ou mais informal do ponto de vista estético, um projeto diferente do nosso, que é mais seletivo -tradução intensiva, onde alguns dos fragmentos mais belos do FINNEGANS WAKE são burilados microesteticamente em termos de ritmo, achados verbais e equilíbrio sonoro, de modo a produzir equivalentes criativos da linguagem joyceana em língua portuguesa, com máximo grau de poeticidade.

9 - A publicação de poesia no Brasil parece ter aumentado e uma nova geração de poetas tem surgido. O sr. acompanha essa produção? Percebe alguma característica marcante nesses poetas?

AUGUSTO DE CAMPOS: Sempre foi grande a publicação de poesia entre nós, ainda que em pequenas tiragens e por pequenas editoras, muitas vezes financiada pelos próprios poetas. Não tenho como acompanhar em detalhe toda essa produção. Mas, no meio de muitas tentativas menos felizes, surge sempre alguma coisa interessante. Deixando de lado, por desprezíveis, alguns xiítas do verso, que querem voltar a poéticas conservadoras, prémodernistas, com pés quebrados e insultos dobrados, o que vejo é uma produção majoritária, mais conformista ou conformada, que tenta encontrar uma pós-voz sob os parâmetros da dicção drummond-cabralina, e uma corrente minoritária, mais experimentalista, que vai dos poetas pós-concretos, de linha verbal, "logopaicos" - como diria Pound -, aos poucos, "melo" e "fanopaicos", que começam a desbravar a terra semi-incógnita da linguagem digital. Tenho naturalmente simpatia especial pelos mais inquietos, aqueles que experimentam novos caminhos, dando continuidade à "revolução permanante" das vanguardas, os que se aventuram por criações interdisciplinares e os que tentam responder, no livro ou fora dele, à provocação das novas tecnologias. Mas longe de mim querer ditar normas. Que cada um faça a sua mágica. Com os meus melhores votos.

Fonte:
Entrevista realizada em 24/3/2003 por Jardel Dias Cavalcanti. Disponível em http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=993

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Trova 102 - Antonio Augusto de Assis (Maringá/PR)

Florbela Espanca (Sinfonia de Poesias)



CANTIGAS LEVA-AS O VENTO...

A lembrança dos teus beijos
Inda na minh’alma existe,
Como um perfume perdido,
Nas folhas dum livro triste.

Perfume tão esquisito
E de tal suavidade,
Que mesmo desaparecido
Revive numa saudade!
================

SONHOS...

Sonhei que era tua amante querida,
A tua amante feliz e invejada;
Sonhei que tinha uma casita branca
À beira dum regato edificada...

Tu vinhas ver-me, misteriosamente,
A horas mortas quando a terra é monge
Que reza. Eu sentia, doidamente,
Bater o coração quando de longe

Te ouvia os passos. E anelante,
Estava nos teus braços num instante,
Fitando com amor os olhos teus!

E, vê tu, meu encanto, a doce mágoa:
Acordei com os olhos rasos d’água,
Ouvindo a tua voz num longo adeus!
=====================

O TEU OLHAR

Quando fito o teu olhar,
Duma tristeza fatal,
Dum tão intimo sonhar,
Penso logo no luar
Bendito de Portugal!

O mesmo tom de tristeza,
O mesmo vago sonhar,
Que me traz a alma presa
Às festas da Natureza
E à doce luz desse olhar!

Se algum dia, por meu mal,
A doce luz me faltar
Desse teu olhar ideal,
Não se esqueça Portugal
De dizer ao seu luar

Que à noite, me vá depor
Na campa em que eu dormitar,
Essa tristeza, essa dor,
Essa amargura, esse amor,
Que eu lia no teu olhar!
====================

FANATISMO

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdia.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!
===========

Carlos Leite Ribeiro (O Relógio, um conto real)


Naquele Fim de Ano, a minha sogra avisou-nos que, ao contrário do habitual, não o passaria conosco, pois tinha recebido um convite de uma amiga do Algarve.

Simpaticamente, não se esqueceu de mandar uns presentinhos ao neto (ainda era só um), à filha e ao seu “querido genro” (que era eu).

Quando minha esposa me disse que a mãe (dela) ia mandar-me um presente, confesso que tive um “toque no coração” e logo interroguei-me: “ Que se passará com aquela querida sogrinha que me vai mandar uma lembrança?”.

Quando os presentes chegaram, naturalmente as embalagens foram logo abertas. O meu presente tinha uma linda embalagem e um lindo relógio de mostrador azul lá dentro. Eu nem queria acreditar em tal sorte. Tirei o dito cujo dentro da embalagem e, como naquele tempo os relógios trabalhavam a corda, comecei a rodar a respectiva carrapeta, mas, por mais que o rodasse, o relógio não trabalhava. Resolvi telefonar para o Algarve para lhe perguntar em que ourivesaria tinha ela comprado o relógio para eu poder pedir a sua reparação ou substituição. Ai que o ela me respondeu, depois de dar sonora gargalhada:

- Meu querido genro, eu não comprei o relógio em nenhuma ourivesaria, mas sim a uns ciganos, na Praça da Figueira (Lisboa). Se quiser, vá à procura dos ciganos e faça a reclamação …

Ai o que eu tive vontade de lhe responder, mas vá lá, só pensei…

No regresso ao jornal logo no Novo Ano, prendi esse tal relógio no pulso direito (o normal é no esquerdo). Para realçar mais o tal relógio, até arregacei a manga da camisa.

- Olhem malta, o Carlos tem um relógio novo! – Chamou a atenção um colega.

Quase todos se levantaram das respectivas cadeira para virem admirar a prenda da minha sogra. Um deles reparou que a máquina não trabalhava, o que eu logo respondi:

- Meus amigos, este relógio é só para vocês o admirarem a sua beleza. Se quiserem saber as horas, tenho aqui este no pulso esquerdo!

A risada foi geral.

Ao saber do sucedido, uma colega telefonista disse-me:

- Olha Carlos, os ciganos estavam a vender esses relógios de fantasia, na Estação do Rossio (comboios – trens) a 15 escudos…

Anos depois, minha esposa chamou-me a atenção que meu filho mais velho tinha ficado triste por Papai Noel não lhe ter dado um relógio. Quando lhe entreguei, a então criança chorou, deu pulos e gritos, mas a certa altura parou com o seu contentamento e encarou-me de frente, perguntando-me:

- Papá, por acaso não compraste este relógio aos ciganos, pois não?...

- Não meu filho, comprei-o numa ourivesaria e tem garantia. Mas qual a origem dessa tua pergunta?...

- É que tenho ouvido umas histórias de um relógio que a avó tem deu …

Fonte:
Colaboração do Autor

Projeto de Trovas para uma Vida Melhor (2ª Etapa – 5º Concurso)


Tema: No Lar = Devotamento

Resultado Final

GRUPO 01 NACIONAL

1º LUGAR

Se no pão faltar fermento
ele jamais crescerá,
um lar sem devotamento
facilmente ruirá...
Leda Coletti (Piracicaba – SP)

2º LUGAR

Traz a palha com carinho
e, depois, traz alimento;
é assim que o passarinho
mostra seu devotamento.
Olympio da Cruz Simões Coutinho (Belo Horizonte – MG)

3º LUGAR

– Retirada por falha nossa.

MENÇÃO HONROSA

1. Bendito o devotamento
do herói que seja capaz
de, neste mundo briguento,
ser instrumento da paz!
Antonio Augusto de Assis (Maringá – PR)

2. Faz da fé, teu alimento,
e a Deus, a vida consagre...
Pelo seu devotamento,
alcançarás o milagre!...
Francisco Neves de Macedo (Natal – RN)

3. Devotamento é virtude
de todo o bom professor,
que conquista a Juventude,
usando as armas do amor!
Delcy Canalles (Porto Alegre – RS)

4. Devotamento - em verdade,
no lar, é como se fosse
prece que afasta a maldade
da vida serena e doce!
Prof. Garcia (Caicó – RN)

5. No momento dos conflitos,
devotamento não falha:
no silêncio dos contritos,
na fibra de quem batalha!
José Valdez de Castro Moura (Pindamonhangaba – SP)

MENÇÃO ESPECIAL

1. O grande devotamento
de pais e filhos no lar,
dá o tom de encantamento
de uma cena familiar!
Gislaine Canales (Camboriu – SC)

2. Devotamento é capaz
de um santo sonho gerar:
Família tranquila, em paz,
se no Natal se espelhar!
Angela Togeiro (Belo Horizonte – MG)

3. Devotamento é magia
quando alguém se faz presente
para cuidar - noite e dia -
de um irmão muito doente.
Milton Souza (Porto Alegre – RS)

4. Com devotamento ao lar,
onde o amor finca raízes,
a noite é para sonhar
e os dias são mais felizes.
José Lucas de Barros (Rio Grande do Norte)

5. No nosso devotamento
referente à honestidade,
sentimos é sofrimento
quando se falta à verdade!...
Geraldo Lyra (Recife - PE)

+++++++++++++++++++++++++++

GRUPO 02 NACIONAL

1º LUGAR

Aquele devotamento
que no lar é esperado,
é fruto do entendimento
de um amor entrelaçado.
MIFORI (Mogi das Cruzes – SP)

2º LUGAR

Este teu devotamento
é de encantar, meu amor!
Não ouço em nenhum momento
um ai de cansaço ou dor.
Gilson Faustino Maia (Petrópolis – RJ)

3º LUGAR

Devotamento no lar
prova a presença do amor,
dando exemplo singular
de família de valor.
Ruth Farah Nacif Lutterback (Cantagalo – RJ)


MENÇÃO HONROSA

1. Devotamento, confesso:
meu lar, meu mundo, afinal,
é meu trabalho onde expresso,
todo amor universal!
Dilva Moraes (Nova Friburgo – RJ)

2. Principalmente no amor
deve haver devotamento,
sem o qual pode haver dor
e até mesmo esquecimento.
Raymundo de Salles Brasil (Salvador – Bahia)

3. Este meu devotamento
pelo lar que é meu jardim,
resultou do ensinamento
que meus pais legaram a mim.
Tarcísio José Fernandes Lopes (Brasília – DF)

4. O real devotamento
acontece em nossa vida
a todo e qualquer momento
numa oração bem vivida.
Célia Aparecida Marques da Silva (Taubaté - SP)

5. No lar, o devotamento,
traz a calma e a harmonia,
e promove o crescimento,
para todos na alegria.
Maria Diva Fontes Ricco (São José dos Campos – SP)

MENÇÃO ESPECIAL

1. O devotamento é luz
que clareia nosso lar,
nos conforta e reproduz
um enorme bem-estar.
Jair Pereira da Silva (Pilar do Sul – SP)

2. Preste a Deus devotamento
dando ao lar um bom sentido;
desfazendo o céu cinzento,
pinte o ar em colorido.
Cristina Leite Goetten (Paranavaí - Paraná)

3. O integral devotamento
à paz, alegria e amor,
não nos causa sofrimento
faz sorrir o Criador!
Ilze Soares (Catanduva – SP)

4. Haverá devotamento,
se reinar amor no lar;
e, seu desenvolvimento,
fortes laços vão criar.
Barão de Jambeiro (Jambeiro – SP)

5. Com amor, dedicação,
devotamento no lar,
ela mostrou afeição,
a família soube amar...
Edina Prado

+++++++++++++++++++++++++++++++++

GRUPO 03 NACIONAL - ALUNOS DE PARAIBUNA/SP

1º LUGAR

Eu sinto devotamento,
por meus pais e meus irmãos,
pois, não há merecimento
se não nos dermos as mãos.
Aline de Oliveira das Neves (E.E. “Dr. Cerqueira César" )

2º LUGAR
Minha vovó tem carinho
e muito devotamento,
reza sempre bem baixinho,
com fé e conhecimento.
André Luiz Santos – 8ª C – (E.E. “Dr. Cerqueira César" )

3º LUGAR
Um devotamento santo
nos fará ganhar o céu,
Deus nos cobre com seu manto
ou apenas com um véu.
Margarete Aparecida dos Santos – (E.E. “Dr. Cerqueira César" )

MENÇÃO HONROSA

1. Ao meu Santo poderoso
todo o meu devotamento;
no retorno generoso,
é proteção e acalento.
Larissa Andréa da Silva (EE “Cel. Eduardo José de Camargo”)

2. Eu vejo devotamento
nos meus pais e seu amor;
eles nos dão o sustento,
e também nos dão valor.
Marcos Fernandes do Prado (E.E. “Dr. Cerqueira César" )

3. Quem tem o devotamento,
não precisa da certeza
de que vem a si o alento,
pois, sabe agir com nobreza.
Caroline G. dos Santos (EE “Cel. Eduardo José de Camargo”)

4. Eu sinto devotamento
pelo meu querido amor
que chegando como um vento,
curou toda minha dor.
Júlia Gabriela Jerônymo (EE “Cel. Eduardo José de Camargo”)

5. Vivo com devotamento,
amo minha mãe e meu lar.
Ela nos dá o provento
e nos ensina a amar.
Arthur Rodrigues Bitencourt Moura (E.E. “Dr. Cerqueira César" )

MENÇÃO ESPECIAL

1. Quem sente devotamento,
quem tem amor nesta vida,
passa muito sofrimento
quando não é atendida.
Darjana Aieska Bitencourt S. Santos (E.E. “Dr. Cerqueira César" )

2. Com muito devotamento
eu creio no meu Senhor,
porém, em todo o momento,
fico sofrendo de amor.
Emerson A (E. E. “Cel. Eduardo José de Camargo“)

3. Meu devotamento vem
das alturas, com os ventos...
Gosto de todos também
que desenvolvem talentos.
Carlos Felipe Almeida Moraes Santos (EE “Cel. Eduardo José de Camargo”)

4. Se todo devotamento
faz a pessoa feliz,
quero ter esse talento;
hoje sou um aprendiz.
Letícia M. M. Sakamoto (E.E. “Dr. Cerqueira César" )

5. Vivo com devotamento,
amo minha mãe e meu lar.
Ela nos dá o provento
e nos ensina a amar.
Arthur Rodrigues Bitencourt Moura (E.E. “Dr. Cerqueira César" )

+++++++++++++++++++++++++++

GRUPO INTERNACIONAL

1º LUGAR

Viveu tal devotamento
Ao lar, filhos e marido
Que fez do seu casamento
Mais do que foi prometido.
Domingos Freire Cardoso (Ílhavo - Portugal)

2º LUGAR

Quem tiver devotamento
à família e ao seu lar
tem na Terra encantamento
e no Céu o seu lugar.
Gisela Alves Sinfrónio (Portugal)

3º LUGAR

Devotamento no lar,
é ter paz, amor profundo
e a família consagrar
Ao criador deste mundo.
Jorge A G Vicente (Suiça)

MENÇÃO HONROSA

1. Amor é devotamento
à família em que se vive,
é carinho, é sentimento,
dos entes com quem convive...
António Boavida Pinheiro (Lisboa – Portugal)

2. Devotamente é o amor
elevado em alto grau;
é a devoção e o fervor
subindo mais um degrau!
Maima (Toulon – França)

3. Lembro o nosso casamento
contigo, bem junta a mim,
com todo o devotamento,
eu disse ao padre que "sim".
António José Barradas Barroso (Parede – Portugal)

MENÇÃO ESPECIAL

1. Fazer do lar sacramento
e leva-lo aos apogeus
dum grande devotamento,
abrem-se as portas a Deus!
Clarisse Barata Sanches (Góis - Portugal)

2. Sagrado devotamento
que na fé consumarei.
Essência do sentimento
que por ti tudo darei.
Maria Cristina Fervier (Salto Grande – Santa Fe – Argentina)

3. Em Nazaré fora visto
devotamento ao luar,
e os olhos de Jesus Cristo
a iluminarem o lar!
Judite Raquel Neves Fernandes (Góis - Portugal)

4. Devotamento depura
a família a todo o norte,
para que seja mais pura
e amorosa até à morte.
Isaura Martins (Lameiras - Tábua - Portugal)
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Próximo Concurso

6 - Tema: na rua - GENTILEZA;
de 05/01/2010 a 15/02/2010 -
resultado até 15/03/2010

(abril/maio/junho .............. - 2010 - publicações: de cirandas e Livros virtuais)

Fonte:
Colaboração de Maria Inez “Mifori”

Dyonélio Machado (1895 – 1985)


Dyonélio Tubino Machado nasceu em Quarai, RS, em 21/08/1895, na fronteira com o Uruguai, filho de Sylvio Rodrigues Machado e de Elvira Tubino Machado. Político, médico escritor, jornalista e poeta, foi um dos expoentes da segunda geração do Modernismo no Brasil.

Um acontecimento marcante na sua vida foi o assassinato do pai, que aconteceu quando ele era ainda um menino.

Em 1903, como a família, que era constituída pela mãe e pelo irmão Severino, ficou pobre, aos oito anos, ele já vendia bilhetes de loteria para ajudar no sustento da casa . Nunca mais esqueceu uma cena terrível que lhe aconteceu: um dia, na rua, encontrou o assassino do pai. O homem queria comprar um bilhete. Esse encontro é narrado pelo próprio escritor: "Não queiram passar pelo momento que passei: negociar com quem me fizera órfão era renegar uma adoração que nada abalaria. Mas trocar por dinheiro os poucos bilhetes de loteria que eu carregava, era obter meio quilo de carne. Cedi. Nossa transação se fez sem palavras. Sabia também o que me esperava em casa: era minha mãe chorando".

Embora pobre, continuou os estudos. Matriculou-se e ao irmão menor na recém-aberta Escola de Aurélio Porto. Para pagar a escola para os dois, ele dava aulas para os meninos das classes mais atrasadas. Com 12 anos, começou a trabalhar como servente no semanário O Quaraí, o que lhe permitiu conhecer os intelectuais locais. Foi também balconista na livraria de um parente, João Antônio Dias.

Em 1911, em Quaraí mesmo, ele fundou, o jornal 0 Martelo.

Em 1912, foi morar em Porto Alegre, onde permaneceu até estourar a Primeira Guerra Mundial, quando voltou para a terra natal.

A partir de 1915, começou a colaborar com a Gazeta do Alegrete, o Correio do Povo, o Diário de Notícias e o Diário Carioca.

Em 1921, casou com dona Adalgisa Martins, professora de piano, com a qual teve dois filhos, Cecília e Paulo. Também, no mesmo ano, participou, em Porto Alegre, da criação do jornal A Informação.

Em 1923, publicou um livro de ensaios políticos, Política Contemporânea.

Em 1924, entrou para a Faculdade de Medicina, na qual foi um ótimo aluno.

Em 1927, publicou um livro de contos chamado Um Pobre Homem.

Em 1928, fez concurso público para funcionário do Hospital São Pedro, classificando-se em primeiro lugar. Trabalhou lá durante trinta anos, chegando a ser diretor da instituição.

Em 1929, formou-se em Medicina.

Em 1930 e 1931, especializou-se em Psiquiatria no Rio de Janeiro, de onde regressou em 1932. Uma curiosidade sobre este romancista é que, embora fosse médico, não gostava de médicos nem de remédios. Quando adoecia só admitia tomar Melhoral, mas era adepto incondicional de chás e chimarrão.

Em 1934, envolveu-se na greve dos gráficos da Livraria do Globo, por isso, foi preso num quartel militar, na Praia de Belas. Como era homem de esquerda, tornou-se membro dedicado do Partido Comunista Brasileiro -PCB. Após ser solto, foi para o interior ajudar um familiar doente.

Em 1935, por ocasião da Intentona Comunista, foi preso novamente. Enviado para o Rio de Janeiro, conheceu Graciliano Ramos no cárcere. Enquanto estava preso, soube que seu primeiro romance, Os Ratos, recebeu o Prêmio Machado de Assis, sendo publicado naquele mesmo ano, tornando-o conhecido em todo o País. Essa obra foi muito bem aceita pela crítica. O assunto deste livro é aparentemente banal, fala sobre criaturas medíocres às voltas com um pequeno problema. Ele foi inspirado num pesadelo que sua mãe lhe contou.

Em 1937, regressou a Porto Alegre, por coincidência no dia em que aconteceu o golpe do Estado Novo. Para não ser preso mais uma vez, fugiu para Santa Catarina pelo litoral, com identidade falsa. Conta-se que, anos depois, ele reconheu, no Hospital São Pedro, o motorista de caminhão que o ajudara naquela viagem. Fez o que pôde para retribuir o auxílio despretensioso que recebera em tempo difícil, mas não revelou a identidade do doente.

Em 1942, saiu O Louco do Cati.

Em 1944, veio a público Desolação.

Em 1946, Passos Perdidos. Neste mesmo ano, fundou, com o camarada Décio Freitas, o jornal Tribuna Gaúcha, porta-voz do Partido Comunista Brasileiro.

Em 1947, com o PCB na legalidade, Dyonélio elegeu-se deputado estadual pelo velho "partidão" e tornou-se líder da sua bancada na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.

Em 1948, foi cassado, em janeiro, quando o PCB caiu na clandestinidade.

Em 1966, lançou Deuses Econômicos.

Em 1977, aos 82 anos, teve o primeiro infarto do miocárdio. Ele sofria também de insônia crônica. Neste ano, recebeu o Prêmio Especial de Crítica de São Paulo e foi empossado na Academia Rio-Grandense de Letras, na cadeira de Eduardo Guimarães.

Em 1980, saíram os livros Prodígios e Endiabrados, Sol Subterrâneo e Nuanças.

Em 1981, foi a vez de Fada e Ele Vem do Fundão.

No dia 19 de junho de 1985, Dyonélio Machado faleceu no Hospital de Clínicas, em Porto Alegre.

Dyonélio foi ainda um dos fundadores da Associação Rio-Grandense de Imprensa – ARI. Escritor com fama de difícil, pessimista, por vezes impenetrável ao leitor mais apressado, a crítica e o público não receberam suas demais obras do mesmo modo como Os Ratos.

Segundo escreve o seu biógrafo Rodrigues Till, ele foi "um médico eminentemente humanitário, sem jamais pretender fazer da profissão um balcão de negócios. Gratuitamente atendia a todos os que o procuravam, desprovidos de quaisquer recursos materiais. E, como decorrência lógica, não seria nunca um amealhador de riqueza pecuniária, daí ter morrido com a consciência tranqüila por ter sabido cumprir, por inteiro, os mandamentos de Hipócrates." Artur Madruga resumiu assim a sua vida: "Foi na medicina que teve seu sustento; na política, seu tormento e na literatura, seu alimento".

O "Lobo Solitário" da literatura gaúcha, como o chamou Érico Veríssimo, deixou-nos uma obra composta de 12 romances, um livro de contos, um volume de memórias e vários ensaios.

Sua obra foi apenas reconhecida tardiamente, tendo recebido destaque nos meios acadêmicos apenas a partir da década de 1990. O psicológico está bastante enraigado em sua obra, como deixam transparecer O louco do Cati e Os ratos.

Características de Sua Obra

Dyonélio Machado possibilitou a compreensão da unidade de sua obra graças à sua perspectiva social e à reiteração dos temas abordados: pequena burguesia e operariado urbano. Narra a trajetória de uma personagem, associando-as sempre a um deslocamento no espaço, que tem um alvo a atingir, podendo o resultado desse esforço ser menos ou mais precário, jamais significando, porém, uma realização pessoal. A narrativa, portanto, assemelha-se a uma história de aventuras, apesar de a personagem estar plenamente integrada ao contemporâneo e ao nacional.

Nas novelas de Dyonélio Machado, o deslocamento no espaço, impedindo o descanso e a tranqüilidade dos heróis, acaba por confundir busca e fuga, exemplificando a situação de precariedade e insegurança das camadas menos favorecidas da sociedade urbana e subdesenvolvida, submetida a um regime de força

Fontes:
http://www.al.rs.gov.br/plen/SessoesPlenarias/49/1995/950830.htm
http://memoria.simers.org.br/
www.tirodeletra.com.br/biografia/DyonelioMachado.htm
http://vestibular.setanet.com.br/resumos/modernismo.htm
http://www.geocities.com/slprometheus/html/dyonelio.htm
– CASTILHOS, Patrícia. Roteiro de uma Literatura Singular: Análise da historiografia literária sul-rio-grandense.

Genolino Amado (O Ponto Fatal)


Certa ocasião quase aderi à desavença do velho Campos. Foi naquele dia em que o maldoso Colombo me atrapalhou na Escola e até fez perigar a salvação de um inocente.

O inocente pertencia a um grupo de assustados guarda-livros sem diploma profissional. Assustados porque lei ou decreto, que finalmente se cumpria, lhes impôs a escolha cruel: ou provas de habilitação ou perder o meio de vida. Porque mantinha curso oficial de comércio, ficou a Amaro com a incumbência dos exames. E que exames! Além de escrituração mercantil e segredos contábeis, incluíam matérias ginasiais.

Assim, ao sobradinho das meninas foram comparecendo, bem nervosos, examinandos grisalhos, de pouco saber e muitas rugas. Alguns, gorduchões, se espremeriam nas carteiras das pequenas. Carteiras iguais às das suas filhas, ou talvez das netas, noutra escola qualquer.

Veio a designação dos examinadores. Dois em cada banca. Eu, com o Professor Balbino de companheiro na de História e Geografia. Afinal, uma reunião dos mestres indicados. E parecendo exprimir a idéia de todos, o bom Professor Milton:

– Precisamos facilitar de qualquer forma os coitados. Na fisionomia deles a gente vê a angústia. Tem anos e anos de serviço, com os empregadores satisfeitos. É o que atesta de sobra a sua competência e dedicação. Melhor do que um diploma de guarda-livros. Nas provas do Amaro, exigir muito, mesmo pouco, seria demais. Assim penso. E vocês, colegas?

Vozes e vozes de apoio. Só Balbino é que não piou: Mas quem cala consente concluí, confiante. E a confiança cresceu porque alguém:

– Que tal reduzirmos o número de pontos? Bastariam dez... Que acham?

– De acordo – falou Balbino, iniciando as adesões.

Ufa! Tirei um peso da consciência. Se Balbino, o rigor em pessoa, concordava, a coisa ia bem. Peguei o pião na unha:

– Perfeito, colega. Em nosso caso, cinco pontos de Geografia e cinco de História.

– Não, não! Pelo que entendi, têm de ser dez por matéria.

Milton socorreu-me.

– Entendeu mal, Balbino. Dez por banca. É uma só a de História e Geografia. Seu companheiro está certo.

Um bom sofisma... que não pegou. Argumenta daqui, argumenta dali, afinal conciliação à maneira getuliana: dez de Geografia balbínica, cinco de História genolínica. E História a começar dos tempos modernos. O homem aceitou de cara feia. Foi então que um dos facilitadores:

– Vocês discutiram à toa. Que importam dez ou cinco pontos? Ninguém será reprovado...

Isso provocou muito sim e um não. O da Geografia:

– Que exagero! Facilitar, admito. Aprovar de qualquer modo, tenham paciência. . . Não é do meu feitio.

– Mas, Balbino! ponderou Mílton. É um pessoal velho, cansado, receoso de perder o emprego. Não são meninas que decoram sem esforço, que aprendem com facilidade. Alguns já têm a cabeça branca. E têm família...

Reconheço que é duro. Sofrerei, se tiver de reprovar. Sabendo um pouquinho que seja, passa. Não sabendo coisa nenhuma, reprovo. Questão de princípio. Sou assim e não mudarei.

– Veja bem, colega, tornou Milton. Iremos examinar um velhote com dezoito anos de guarda-livros na Rua do Acre. Esse velhote me confessou que já lhe fugiu da cabeça tudo quanto aprendeu no tempo de moço. E reaprender, não consegue. Por que exigir que ele responda certinho quem proclamou. a República ou se o rio Sena é francês, não inglês? O velho faz bem a escrituração de cebola e bacalhau no empório de secos e molhados.

– Serei benevolente, mas só até certo ponto. Não prometo aprovação além do razoável.
Inseguro no andar, claudicando um pouco, Balbino era seguríssimo nas convicções. Admirável professor pelo saber e devotamento ao magistério, via mais o ensino do que a vida.

Mestre por acaso, via eu, principalmente, a sorte dos examinandos. E via com aflição aquele grupo de aflitos. O mais temeroso me pareceu o da rua do Acre. Assim, na véspera do primeiro exame, o de Geografia, fiz-lhe a pergunta:

– Então? Preparou-se?

– Acredito que passarei, Professor. É que minha paixão sempre foi viajar. Não podendo, acostumei-me a ver os mapas. Boa mania, porque espero que me ajude no exame. Na História é que estou fraquinho demais...

Realmente, os mapas o socorreram. Fez boa escrita, não foi muito ruim a oral. Na Geografia, outro é que me custou salvar. Um alagoano quarentão, de testa estreita e bigodinho espinhento, quase não escreveu. E o que escreveu, Nossa Senhora! Atribuí 7, Balbino 2. Antes da oral, chamei-o à parte e:

– Se não souber, fique em silêncio e espere minha ajuda. Não responda sem saber, que é pior. Veja lá, hein? Não se precipite. E o alagoano precipitava-se. Feita qualquer pergunta, dizia sem vacilações a tolice que lhe viesse à mente.

– A cidade principia por um B, ouviu? A capital da Suíça é...

– Bruxelas, Professor.

Ainda bem que Balbino examinava outro. Engoli, fui adiante:

– O rio São Francisco tem a sua nascente...

No Paraná veio em cima da bucha, na mais sadia e descuidosa ignorância. Meu companheiro, que acabara de argüir outro sofredor:

– Que tal este seu 7? – indagou num sussurro.

– Saiu-se bem? Dei 8. O colega quer examiná-lo ou acompanha a nota?

Balbino confiou, acompanhou. Salvou-se uma alma do purgatório naquele dia. Mas, na manhã seguinte, manhã fatal, o problema dos problemas o velho que se confessou fraquinho, fraquinho, no exame de História. Os mapas não o ajudariam. Sorteio, ponto l: Descobrimento da América. O melhor de todos, tão bom que me parecia tirado pelo deus protetor dos guarda-livros. Respirei. Vi, porém, na carteirinha de garota, o velho com os olhos no ar, a caneta inútil na mão trêmula; em branco a folha de papel. E Balbino ali, observador.

Eis que surge um mensageiro do céu, o servente Oséias:

– Professor Balbino, telefone. É o Professor Milton.

– Pode atender, colega. Fiscalizo pelos dois.

Lá se foi o companheiro. Corri ao examinando, soprei a data, o navegador, duas das naus que saíram da Espanha, suprimi a terceira para não dar na vista, uma referenciazinha veloz aos Reis Católicos. O telefonema do Milton, que nem sei se foi intencional ou coisa do destino, mas sei que foi longo, me tornou profundamente grato a Graham Bell. A prova do velho completou-se no minuto em que Balbino reapareceu, a resmungar:

– Esse Mílton é um conversador como nunca vi!

De tarde, seria a oral. Dividi com o companheiro as provas escritas, oito apenas. O resto da manhã aproveitaríamos na leitura. A do velho, passei a Balbino. E depois de apreciá-la, o bom professor:

– Boazinha. E vocês a se alarmarem com o homem! Mostrou conhecimento. Darei nove.
Não é muito? Deixe-me ver: Fingi que lia. Dou oito. Chega.

E depois o rigoroso sou eu. Qual!

Senti uma dor na consciência. Que o deus dos guarda-livros intercedesse por mim ao deus dos professores.

Hora da oral. Começou com o alagoano de bigode espinhoso. Ponto 3: Napoleão. Já experimentado, fiel ao conselho que lhe dei, foi prudente. Na pergunta de Waterloo, teve a cautela de silenciar. Vitória ou derrota napoleônica? Viu que apontei para baixo e triunfou, derrotando Napoleão.

Após três outros, que se saíram razoavelmente, sem me dar susto, o velho da Rua do Acre. Enfiou a mão na caixinha. Reapareceu o ponto 1, o mesmo da escrita. E foram dois os descobrimentos o do nauta e o do Balbina. Esse, na maior das canduras:

– Muito bem! O senhor teve sorte. Sabe a matéria. Só vou perguntar porque é de praxe.

– O nosso continente foi descoberto por quem?

O examinando mudo. E o professor:

– Por que não diz? Pois, se escreveu... Quem foi?

Nada. Silêncio, o velho nervoso. Balbino já nervosinho.

– Por que não me diz que foi Cristóvão Colombo?

– Ah, é verdade, Professor. Colombo, sim. Parece que o almoço me atrapalhou a cabeça.

– É possível. Mas... a data? Pense e responda.

Mudez ainda. O examinador:

– Ora, santo Deus! Diga ao menos a ano. Ou melhor, basta o século. Se sabia, não posso acreditar que tenha esquecido tudo em poucas horas. E então?

Velho desmemoriado! Copiou o que ditei e esqueceu-se completamente. Balbino resmungou:

– Hum! Saí da sala, fui ao telefone...

– É insinuação, colega?

– Bem, dou o dito por não dito. E o examinando pode retirar-se. Lamento, mas vai receber um zero.

– Dei l. Com o meu 8 e o 9 de Balbino na escrita, aprovação raspando com a média quatro-e-meio.

Deixei a Escola em companhia do Professor Milton, que também teve oral nessa tarde. No cafezinho da esquina, desabafei:

– Seu Milton, creio que fiz o que não devia. Um professor fornecendo cola a um examinando...

Relatei o caso todo. Mílton sorria.

– Pensa que é o primeiro a proceder assim? Pois saiba que agi como você na Escola Mauá. O aluno colando por minha determinação. Minha e do próprio diretor.

– Que me diz? Quer contar como foi?

– No momento, não, porque estou com pressa e preciso tomar aquele bonde que vem ali. Amanhã contarei a história. É a de dois andares.

Dois andares? fiquei a pensar, quando Milton se foi. Era um engenheiro de muitas construções, além de professor. Coisa estranha!

Que relação haveria entre a cola de um aluno e um edifício de altos e baixos?

(O reino perdido, 1971.)

Fonte:
Academia Brasileira de Letras

Genolino Amado (1902 – 1989)


Genolino Amado, jornalista, professor, cronista, ensaísta e teatrólogo, nasceu em Itaporanga, SE, em 3 de agosto de 1902, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 4 de março de 1989. Eleito em 9 de agosto de 1973 para a Cadeira n. 32, da Academia Brasileira de Letras, sucedendo a Joracy Camargo, foi recebido em 14 de novembro de 1973, pelo acadêmico Hermes Lima.

Iniciou sua educação na província natal e fez humanidades no Colégio Carneiro, em Salvador. Aos 17 anos, ingressou na Faculdade de Direito da Bahia, integrando a turma de calouros que iria dar ao país vários escritores e mestres do Direito, tais como Hermes Lima, Pedro Calmon, Nestor Duarte e Adalício Nogueira. Completou o curso jurídico no Rio de Janeiro, onde se diplomou em 1924.

Pouco depois da formatura foi para São Paulo, com o propósito de fazer carreira na advocacia. Contudo, sua autêntica vocação levou-o ao Correio Paulistano, onde figurou entre os seus principais redatores, tendo sido indicado por Menotti del Picchia para substituí-lo na crônica diária daquele prestigioso matutino. Surgiram, assim, as primeiras páginas de um novo autor, que se assinava Geno, as quais mereceram um entusiástico artigo de Agripino Grieco, o que causou surpresa, pela índole demolidora do crítico.

Essa atividade na imprensa foi interrompida com a sua nomeação para Chefe da Censura Teatral e Cinematográfica de São Paulo, em começo de 1928. Genolino Amado não se afastou, porém, das rodas intelectuais da Paulicéia, convivendo com os modernistas de maior relevo, sobretudo Oswald de Andrade, Menotti, Cassiano Ricardo e Cândido Motta Filho. Foi também nessa fase que se ligou intimamente a Galeão Coutinho, Brito Broca, e, logo depois, Orígenes Lessa. Perdido o cargo com a revolução de 1930, retornou imediatamente ao jornalismo, com posição de destaque nos Associados, dirigindo o Suplemento Literário do Diário de São Paulo e publicando cotidianamente crônicas no Diário da Noite. Ao mesmo tempo iniciou a sua colaboração na emissora Record, atendendo a convite de César Ladeira, seu jovem colega de redação, que se transformara repentinamente em locutor popularíssimo e que, depois, no Rio, tanto contribuiu para o êxito singular de Genolino Amado como cronista radiofônico.

Voltando para o Rio em 1933, tornou-se redator-editorialista de O Jornal; foi nomeado professor de curso secundário da então Prefeitura do Distrito Federal, na grande reforma da instrução pública realizada por Anísio Teixeira; e escrevia para a Rádio Mayrink Veiga, na interpretação de César Ladeira, as Crônicas da Cidade Maravilhosa, cujo sucesso sugeriu a André Filho a composição da famosa marcha que se tornaria o hino da Guanabara. Na mesma emissora, apresentou por longo tempo a Biblioteca no Ar, que por duas vezes obteve prêmio como o melhor programa cultural do rádio brasileiro. Posteriormente, obteve êxito na Rádio Nacional, com a Crônica da Cidade, com extraordinária audiência.

Absorvendo-se na imprensa e no rádio, só em 1937 Genolino Amado publicou o seu primeiro livro, Vozes do mundo, em que estuda grandes figuras das letras estrangeiras. O êxito da estréia levou o autor a reunir outros ensaios, lançados em suplementos dominicais, no volume Um olhar sobre a vida, em 1939. Seguiram-se Os inocentes do Leblon (1946) e O pássaro ferido (1948), coletâneas de crônicas publicadas na imprensa. Ao mesmo tempo, traduziu romances e peças de teatro. Estreou ele próprio como autor, em 1946, com Avatar, comédia representada não só no Brasil como no estrangeiro e adotada na Academia Militar de West Point como livro de leitura para os cadetes americanos. A segunda peça, Dona do mundo, foi apresentada em 1948 e laureada com a Medalha de Ouro da Associação Brasileira de Críticos Teatrais.

A carreira de magistério estendeu-se ao nível superior, como um dos mestres que iniciaram o Curso de Jornalismo na Faculdade Nacional de Filosofia e Letras.

Afastou-se das atividades literárias quando passou a exercer, no último governo de Getúlio Vargas, em 1954, o cargo de Diretor da Agência Nacional. Nomeado a seguir Procurador do Estado da Guanabara, por longo tempo se concentrou nas letras jurídicas, exarando inúmeros pareceres, muitos dos quais selecionados para publicação da Revista da Procuradoria Geral. Em todo esse período, só apareceu como um dos tradutores de A minha vida, de Charles Chaplin. Retornou à literatura em 1971, com O reino perdido, em que evoca a sua vivência como professor.

Após a publicação dessa obra, candidatou-se à Academia Brasileira de Letras, atendendo a apelo de vários membros da instituição. Após três meses de labor, em 1977, publicou Um menino sergipano, seu segundo livro de memórias, limitado aos anos transcorridos em Itaporanga, sua cidade natal, tão poeticamente evocada, também, em História da minha infância, por Gilberto Amado.

Obras: Vozes do mundo, ensaios (1937); Um olhar sobre a vida, ensaios (1937); Os inocentes do Leblon, crônicas (1946); O pássaro ferido, crônicas (1948); O reino perdido, memórias (1971); Um menino sergipano, memórias (1977);Teatro: Avatar, comédia (1948); Dona do mundo, comédia (1948).

Fontes:
http://www.wagnerlemos.com.br/
Academia Brasileira de Letras

Academia Sergipana de Letras



A Academia Sergipana de Letras é a instituição literária sergipana que tem por finalidade o cultivo e o desenvolvimento das letras em geral e colaborar na elevação das artes e da cultura do Brasil e, de modo particular em Sergipe.

Foi criada segundo o modelo da Academia Brasileira de Letras, por iniciativa do poeta Antônio Garcia Rosa e de outros intelectuais sergipanos, destacando-se, entre eles, José de Magalhães Carneiro, Cleomenes Campos, José Augusto da Rocha Lima, Rubens Figueiredo, Monsenhor Carlos Costa, Clodomir Silva e Manuelito Campos.

A Academia tem uma história toda especial, pois sucedeu à Hora Literária, instituição recreativa, fundada em 1º de abril de 1919, depois transformada em sociedade literária de caráter acadêmico autônoma, por decisão da Assembléia Geral de 17 de julho de 1927.

A Hora Literária tinha como objetivos a promoção do estudo; o envolvimento intelectual do cidadão e a difusão do pensamento.

Cumpria, a Hora Literária, as suas metas, quando o movimento em prol da fundação da Academia consolidou-se, principalmente a partir de 13 de abril de 1929, quando deliberou-se que para a composição do quadro acadêmico, ficariam mantidos os acadêmicos que pertenciam à Hora Literária.

Assim, a 1º de junho de 1929, a Hora Literária convertia-se na Academia Sergipana de Letras, dando grande brilho às letras sergipanas. Seu primitivo estatuto criou 16 cadeiras para os seus sócios acadêmicos, todas patrocinadas por sergipanos ilustres, já, falecidos, na seguinte ordem: Tobias Barreto, Silvio Romero, Fausto Cardoso, Bitencourt Sampaio, Ivo do Prado, Gumercindo Bessa, Curvelo de Mendonça, Felisbelo Freire, Maximino Maciel, Lapa Pinto, Maria Perdigão, Severiano Cardoso, Frei Luiz de Santa Cecilia, Horácio Hora, Armindo Guaraná e Pedro de Calazans.

Segundo o mesmo estatuto, para ocupá-las foram considerados sócios acadêmicos, com posse de todos os direitos inerentes à dignidade do cargo e das funções, os poetas Antônio Garcia Rosa, Cleomenes Campos, Etelvina Siqueira e Hermes Fontes; escritores José de Magalhães Carneiro, Ranulfo Prata, Manuelito Campos, Rubens de Figueiredo, Clodomir Silva e Gilberto Amado; filológo e orador José Augusto da Rocha Lima; oradores D. Antônio Cabral e Monsenhor Carlos Costa; pedagogos Manuel Santos Melo e Helvécio Andrade.

Posteriormente, foram integrados os 24 membros restantes, a exemplo da Academia Brasileira de Letras, constituindo, dessa maneira, o corpo dos 40 imortais. A Academia passou a adotar, como logomarca, uma coroa de louros, formada de dois ramos, presos por um laço de fita, tendo ao centro o mapa de Sergipe, dentro do qual consta a divisa: "Dare lumina terris" (Dar luz a terra), - tudo encimado por uma estrela pentagonal.

Em 1931, o Sodalício estava composto de 40 membros efetivos e de 20 correspondentes. Como patronos das cadeiras criadas, estabeleceu-se a seguinte ordem: Tobias Barreto, Silvio Romero, Fausto Cardoso, Bitencourt Sampaio, Ivo do Prado, Gumercindo Bessa, Curvelo de Mendonça, Felisbelo Freire, Maximino Maciel, Lapa Pinto, Lima Junior, Severiano Cardoso, Frei Santa Cecília, Horácio Hora, Armindo Guaraná, Ascendino Reis, Pedro de Calazans, Vigário Barroso, Pereira Barreto, Coelho e Campos, Caldas Júnior, Martinho Garcez, Ciro Azevedo, Pedro Moreira, Dias de Barros, Monsenhor Fernandes da Silveira, Manuel Luiz, Conselheiro Orlando, Jackson Figueiredo, José Jorge de Siqueira, José Maria Gomes de Souza, Oliveira Ribeiro, Guilherme Rebelo, Joaquim Fontes, Conselheiro Aranha Dantas, Baltazar Gois e Brício Cardoso.

Nos anais do Cenáculo, figuram como primeiros ocupantes das cadeiras, renomados homens de letras, a começar por Antônio Garcia Rosa, Magalhães Carneiro, Cleómenes Campos, José Augusto da Rocha Lima, D. Antônio Cabral, Gilberto Amado, Ranulfo Prata, Manuelito Campos, Rubens Figueiredo, Artur Fortes, Costa Filho, Monsenhor Carlos Costa, Clodomir Silva, Santos Melo, Helvécio de Andrade, Hermes Fontes, Oliveira Teles, D. Mário Vilas Boas, Pìres Wynne, Alfeu Rosas, Maurício Cardoso, João Passos Cabral, Prado Sampaio, Julio Albuquerque, Carvalho Neto, Florentino Menezes, Nobre de Lacerda, Gervâsio Prata, Abelardo Cardoso, Enock Santiago, João Esteves da Silveira, Edson Ribeiro, Humberto Dantas, Olegário e Silva, Josué Silva, Augusto Leite, Hunaldo Santaflor Cardoso, Pedro Machado, Marcos Ferreira de Jesus, Zózimo Lima, Epifânio Dória.

Passaram, também, pelos assentos da Academia, expressões culturais do porte de José da Silva Ribeiro Filho, Freire Ribeiro, Garcia Moreno, Exúpero Monteiro, Abelardo Romero, Jorge Neto, Gonçalo Rolemberg Leite, Sebrão Sobrinho, Clodoaldo de Alencar, Felte Bezerra, Severino Pessoa Uchôa, Renato Mazze Lucas, Urbano Neto, Monsenhor Domingos Fonseca, José Olino de Lima Neto, Orlardo Vieira Dantas, José Augusto Garcêz, Benedito Cardoso, João Fernandes de Britto, José Maria Rodrigues Santos, Antônio Garcia Filho, Núbia Nascimento marques e D. José Brandão de Castro.

As reuniões da Academia, a partir de 1932, aconteceram na Sala da Ordem dos Advogados do Brasìl, Seccional de Sergipe, localizada no antigo Palácio da Justiça, à Praça Olympio Campos, onde atualmente funciona a Procuradoria Geral do Estado; mudou-se, depois para o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, à rua Itabaianiriha, já que, praticamente todos acadêmicos eram, também, sócios dessa modelar instituição cultural.

No início da década de 70, as reuniões da Academia foram mais uma vez transferidas. Desta feita, graças aos trabalhos desenvolvidos pelos acadêmicos Severino Uchôa, então Presidente, e Emmanuel Franco, as tertúlias acadêmicàs passaram a ter lugar no vasto salão do primeiro andar da antiga iblioteca Pública, hoje Arquivo Público do Estado, à Praça Fausto Cardoso. E aí viveu ela por alguns anos, até que foi desalojada e transferida para o sobrado em que funcionou, antigamente, o Colégio Tobias Barreto, localizado na rua Pacatuba, 288, o qual, aliás, é um dos últimos exemplares da arquitetura civil do início do século, em nossa cidade. Como se vê, não foram fáceis esses longos anos de existência da Academia, já que para começar, não possuía casa. Ultimamente, porém, o tratamento melhorou e o Governo do Estado vem mantendo, com a instituição cultural, um pacto de uso do prédio público, numa total parceria, uma vez que ambos estão comprometidos com as ações de promoção, difusão e intercâmbio das atividades culturais e artísticas de Sergipe.

A Academia no curso dos seus 71 anos de existência tem sido reconhecida pela sociedade sergipana como a entidade cultural responsável pelo estímulo do movimento intelectual do Estado e, como tal, tem merecido do Poder Público e da iniciativa privada, as melhores atenções, sempre voltadas para a consecuçáo dos seus objetivos, na incessante busca do desenvolvimento cultural e social do povo sergipano.

A Academia Sergipana de Letras é reconhecida, também, como a mals democrática das Academias do País, pois, em seu quadro, abriga não só literatos, como homens de artes, humanistas e cientistas, dando, assim, uma ênfase especial à cultura em geral, cumprindo, destarte, as suas finalidades estatutárias.

Com efeito, na atualidade, as cadeiras acadêmicas estão ocupadas de figuras de todos os segmentos culturais do Estado. Entre os poetas, figuram: Santo Souza, Hunald de Alencar, Wagner Ribeiro, José Abud, Eunaldo Costa, Carlos Britto e Carmelita Fontes; cientistas: Emmanuel Franco, Walter Cardoso e Eduardo Garcia; escritores: José Amado Nascimento, Clodoaldo de Alencar Filho, Mário Cabral, D. Luciano Cabral Duarte, José Bonifácio Fortes Neto, Luiz Antonio Barreto, Manoel Cabral Machado, Acrísio Torres de Araújo, Francisco Guimarães Rollemberg, João Alves Filho e Maria Lígia Madureira Pina; historiográfos: Maria Thetis Nunes, Ariosvaldo Figueiredo, José Silvério Leite Fontes e Luiz Fernando Ribeiro Soutelo; juristas: José Anderson Nascimento, Luiz Pereira de Melo, Luiz Garcia, Luiz Rabelo Leite, Artur Oscar de Oliveira Déda, Luiz Carlos Fontes de Alencar e Acelino Pedro Guimarães; filólogos Ofenísia Soares Freire e João Evangelista Cajueiro; orador e escritor: João de Seixas Dória e artista plástico e escritor João Gilvan Rocha.

Numa ação de grande incentivo, o saudoso ex-Presidente Antônio Garcia Filho, criou a 25 de agosto de 1984, o Movimento de Apoio Cultural da Academia Sergipana de Letras, centro de reunião de intelectuais sergipanos que, dia a dia, aprimoram os seus conhecimentos. O MAC tem prestado relevantes serviços à Academia e à vida cultural do Estado, valendo destacar o incessante trabalho desenvolvido pelo seu coordenador, jornalista José Ferreira Lima, secundado por Lauro Rocha de Lima, Cléa Maria Brandão Mendes, Sergival Silva, Malba Maria Eng de Almeida, Araripe Coutinho, Luzia Maria da Costa Nascimento e Maria Luiza Martins Caldas Prado. A importância desse Movimento Cultural, no cenário acadêmico, foi confirmada, de forma unânime, com a eleição e posse de dois dos seus integrantes, para cadeiras acadêmicas: Acelino Pedro Guimarães e Maria Lígia Madureira Pina e a recente eleição de José Lima de Santana.

Entre as atividades da Academia figuram palestras, cursos, concursos literários, seminários, além da publicação da Revista e de livros de autores sergipanos. Promove, ainda, a preservação e a divulgação da Literatura e de outras manifestações culturais, mantendo intercâmbios com entidades culturais brasileiras e estrangeiras, para o desenvolvimento cultural do povo sergipano.

(José Anderson Nascimento - Presidente)

Fontes:
http://www.wagnerlemos.com.br/
http://www.asl-se.org.br