sexta-feira, 5 de março de 2010

Lançamento do Livro Tesouros de Minh'Alma


CONVITE

Prefeitura Municipal de São Gonçalo do Rio Abaixo Através da Secretaria Municipal de Cultura e de Educação em Parceria com O Projeto Poesia Viva: a poesia bate à sua porta, com o Jornal Aldrava Cultural, com o INBRASCI-MG e com a Academia De Letras Do Brasil-Mariana Convidam:

Todos os Educadores da Rede Municipal e Estadual de Ensino receberão o livro VENTRE DE MINAS - dos poetas do Jornal Aldrava Cultural.

Participem!! Os Membros do InBrasCI-MG e da ALB-Mariana estão convidados para esse evento cultural e literário histórico.

É NESSE SÁBADO!!
Fonte:
Jornal Aldrava

Lançamento do livro “ESTAÇÃO CATARINA: o trem passou por aqui”


CONVITE ESPECIAL

Você é convidado especial para uma viagem pela história do trem em Santa Catarina.

A obra ESTAÇÃO CATARINA: o trem passou por aqui terá seu lançamento oficial em Florianópolis na Fundação Cultural BADESC (convite anexo), num evento que trará a nostalgia e a magia do tema trem através da companhia de seus coautores.

Projeto aprovado pelo Fundo Municipal de Apoio à Cultura de Blumenau, em 2009, tem a organização da escritora Fátima Venutti, também coautora, que já presenteou os leitores com o mesmo tema em Terceiro Apito (Ed. Nova Letra, 2007). Em Blumenau, a obra foi apresentada ao público em evento especial do SESC- Blumenau e agora, chega a vez de Florianópolis se emocionar com o livro.

SINOPSE da obra

O livro ESTAÇÃO CATARINA – o trem passou por aqui objetiva registrar em contos e crônicas a existência da Estrada de Ferro de Santa Catarina (EFSC), através do resgate de memória de vários escritores e jornalistas da região do Vale do Itajaí.

Destaca ainda a relevância de um período histórico-econômico em Santa Catarina através de uma obra histórica literária, de maneira inédita na reunião e no tema. Ao escreverem suas experiências, quer seja como fatos reais ou fictícios, como viajante, usuário ou ainda observador da EFSC (Estrada de Ferro de Santa Catarina), os autores estão contribuindo para ampliar o registro de memória sócio-cultural da cidade, do Vale do Itajaí e do estado.

A obra ainda presta uma homenagem aos profissionais que fizeram da EFSC, dos trens e sua importância histórica, durante décadas, a base do desenvolvimento industrial e social do país, porém hoje, em algumas regiões como Blumenau e Vale do Itajaí, foi desativada.

AGENDA:
Dia 10/03 – BADESC , em Florianópolis
Dia 12/03 – Balneário Camboriú – Fundação Cultural
Dia 17/03 – Fundação Cultural de Indaial – FIMI
Dia 22/03 – Fundação Cultural de Blumenau
Dia 23/03 – Casa do Poeta Lindolf Bell – timbó
Dia 31/03 – Itapema.

Fonte:
Poetas del Mundo

quinta-feira, 4 de março de 2010

Aparecido Raimundo de Souza (O Homem Só)


Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!

Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos conforta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!

Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
- Velho caixão a carregar destroços -

Levando apenas na tumbal carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!
(Augusto dos Anjos)
–––––––––––-
O homem
anda,
procura, procura,
indaga...

E ninguém sabe dizer onde encontrar a mulher dos seus sonhos. Todos negam com a cabeça. Uns nem respondem. Outros viram-lhe o rosto em sinal de pouco caso. Alguns posicionam-se indiferentes e alheios à sua presença. Na verdade, a multidão o trata como se o pobre não existisse. A maioria daquela escumalha o considera um estróina, a julgar por seus modos estranhos, pelo seu vestir e até pelo falar.

E o coitado, o infeliz, parece mesmo apalermado, furioso, louco. E como um doidivanas,

Portanto,
segue adiante...
persegue
imagens distantes, figuras indistintas que nada têm a ver com a amada. Perdido e só, esse caminhante não vive. Vegeta um tempo obumbrado, esquecido no espaço irrecuperável do compasso inconseqüente dos dias que passam um após outro, como se para o mundo todas as coisas tivessem morrido ha séculos. É o destino imprecativo que manipula seus desejos e ansiedades como melhor agrada. A esperança, aquela esperança ambígua de outrora retirou-se, às pressas, de seu peito, tal como quem foge de algo ruim e prestes a acontecer. Tudo isso, porém, tem uma causa: sua outra metade que busca incansavelmente. O efeito, sente agora, abraçado à ausência da saudade que domina toda a mente, transformando o pensamento num redemoinho de idéias confusas. Afinal, onde está, por Deus, onde está a figura que coloriu seus devaneios? Sem ela e seus aconchegos é um homem vazio de vida, de cores, e de esperanças. A partida da jovem doeu-lhe muito. Feriu de tal forma que até o coração bate descompassado, numa atitude convulsiva de sofrimentos embaraçosos. Em seu peito uma ferida imensa abriu feio à flor da pele, e desde então não cicatriza.

Enquanto anda e procura, indaga e persegue, recorda o passado...

Lembra a vida à dois; os verdes anos de prosperidade e fortuna como dádivas caídas do firmamento. Que belos e maravilhosos momentos de ternura e enlevo desfrutaram!...

No entanto, o copo do destino transbordou o licor amargo. O céu tingiu-se de nuvens negras e um vendaval inesperado fez-se forte, muito poderoso e intransponível. Suas idéias e ideais, a partir daí, entraram em parafuso, como um avião desgovernado e tudo o que era bom voltou-se, de repente, para o nada. Toda aquela plebe ao seu redor deve estar com razão. Ele é mesmo, sem sombra de dúvidas, um alienado mental. Sente que as pernas bambeiam a carcaça. Em derredor de si, coisas, pessoas, casas...giram, e a medida que entram nesse movimento rotatório, as vistas turvam-se por completo e quedam-se, em seguida, em pesadas brumas de solidão.

Está, pois, tolhido,
indefeso,
vencido...vencido e
sem forças para soerguer o nariz, levantar a moral, dar a volta por cima e berrar. Na verdade, quer gritar que está vivo, carente, dependente do amor dessa deusa que enfeitiçou sua alma e, no final das contas, o abandonou ao grotesco mais iracundo do ridículo.

- Te amo, te amo – grita o pobre infeliz olhando para um pequeno retrato três por quatro. - Te amo, porque tu te escondestes de mim?

Seria esse homem um louco?

Como louco? Se o mísero só quer saber onde está a autora dos seus sonhos?


Fonte:
Para Ler e Pensar.

Lilinha Fernandes (100 Trovas)


1
Do pomar da poesia,
os frutos que você trouxe,
coube à trova a primazia
por ser menor e mais doce.
2
Desejei fogo atear
ao mundo por onde trilho,
vendo uma cega indagar
como era o rosto do filho.
3
Tua ironia maldosa,
do amor não me, apaga o lume:
Procura esmagar a rosa,
vê se não fica o perfume.
4
Feliz nunca fui! Sem crença,
procuro a felicidade,
Como o cego de nascença
que quer ver a claridade.
5
"Que levas tu na mochila?"
Diz ao corcunda um peralta.
E o corcunda: - "A alma tranqüila
e a educação que te falta."
6
Quando tu passas na estrada,
dentro de casa adivinho:
é teu passo uma toada
musicando teu caminho.
7
São meus ouvidos dois ninhos
onde guardo, ao meu sabor,
um bando de passarinhos!
- Tuas mentiras de amor.
8
Na velha igreja te ouço
sino alegre ... Estás dizendo
que há muito coração moço
em peito velho batendo.
9
Eu não bebia... te juro!
Beijei-te, então, podes crer:
foi teu beijo, vinho impuro,
que me ensinou a beber.
10
Se ouvisse o homem da terra,
de Deus o conselho amigo,
em vez de campos de guerra
faria campos de trigo.
11
Velho em trajes de rapaz
dá a impressão, diz o povo,
de um livro antigo demais
encadernado de novo.
12
Que o mundo acabe, no fundo,
não me causa dissabor,
pois vivo fora do mundo,
no meu mundo de amor.
13
Amanhece... Vibra a terra!
O sol que em ouro reluz,
sai da garganta da serra
como uma trova de luz.
14
Vejo teu rosto, formosa,
e o corpo - graça profana -
como se visse lima rosa
num jarro de porcelana.
15
Chorei na infância insofrida
para na roda ir cantar.
Hoje, na roda da vida,
eu canto pra não chorar.
16
No trabalho em que me escudo,
lutando para viver,
tenho tempo para tudo,
menos para te esquecer.
17
O mar que geme e palpita
no seu tormento profundo,
é uma lágrima infinita
que Deus chorou sobre o mundo.
18
Minha netinha embalando,
da alegria sigo os passos.
Julgo-me o Inverno cantando
com a Primavera nos braços.
19
A modéstia não se ostenta,
se esconde e é pressentida:
a presunção se apresenta
e passa despercebida.
20
Dei-te amor sem falsidade.
- Uma floresta de amor!
E tu, só por crueldade,
te fizeste lenhador.
21
Sofres no céu, Mãe querida,
sentindo, ao ver minha sorte,
que me pudeste dar vida
e não me podes dar morte!
22
Minhas netas, sempre rindo,
são meu alegre evangelho.
Musgo verde revestindo
de esperança, um muro velho.
23
A Inveja dorme na rede
da Injustiça, sua amiga;
do Mal se alimenta, e a sede
mata na fonte da Intriga.
24
Sempre a tristeza se espanta
e se amenizam cansaços,
tendo trovas na garganta
e uma viola nos braços.
25
Quem não tem ouro disperso,
nem prata velha na mão,
paga com o níquel do verso
as contas do coração.
26
Partiste ... Ficou-me n'alma
tua voz suave e pura...
- Ave a cantar sobre a calma
da mais triste sepultura.
27
A aurora corou de pejo
naquele claro arrebol,
sentindo na face o beijo
da boca rubra do Sol.
28
Num vôo de pomba mansa,
quisera ir ao céu saber
qual o crime da criança
que é condenada a nascer.
29
Ao amor fiel, que não minta,
a palavra injuriosa
é como um borrão de tinta
manchando tela famosa.
30
É assim a boca do mundo
que vigia nossas portas:
esconde nossos triunfos,
propala nossas derrotas.
31
Se te vais, que dor imensa!
Mas s e vens, meu grande amor,
ante a tua indiferença
cresce mais a minha dor.
32
Que eu tive felicidade,
minha saudade vos diz,
pois só pode ter saudade
quem já foi multo feliz!
33
O tempo passa voando ...
Mentira, posso jurar.
Se estou meu bem esperando,
como ele custa a passar!
34
Amei e não fui amada...
Minha alma encheu-se de dor.
E fui tão desventurada
que não morri desse amor.
35
Como é um facho de luz,
fosse de madeira a trova,
eu mesma faria a cruz
que irá marcar minha cova.
36
A um cego alguém perguntou
vendo-o só: - Que é de teu guia?
E ele sorrindo mostrou
a cruz que ao peito trazia.
37
Abelha que o favo, prova
é o trovador - velho ou novo
fabricando o mel da trova
que adoça a boca do povo.
38
Pra que acender a candeia
da minha choça? Pra quê?
Basta a luz que me incendeia
que há nos olhos de você.
39
A cordilheira hoje à tarde,
de um verde claro e bonito,
era um colar de esmeraldas
no pescoço do infinito.
40
Sua cruz que eu sei pesada,
minha mãe leva sozinha.
Mesmo assim, velha e cansada,
me ajuda a levar a minha.
41
Minhas trovas sem beleza,
se as dizes, são divinais!
Só por isso, com certeza,
elas serão imortais.
42
Que bom quando todos deixam
na casa o silencio agir,
e os dedos do sono fecham
meus olhos, para eu dormir.
43
Por te amar de alma inditosa,
não quero paga nenhuma:
o vento desfolha a rosa,
mesmo assim ela o perfuma
44
Morreu o abade. O terror
do pecado, o clero invade:
era uma trova de amor
o escapulário do abade.
45
Minha casa pobre, é rica!
Mesmo no escuro tem brilhos;
porque o amor a santifica,
porque a iluminam meus filhos.
46
Num beijo fez imortal
o nosso amor sem ressábios:
um romance original
escrito por quatro lábios.
47
A trova é a alma da gente
desventurada ou feliz.
Em quatro versos somente,
quanta coisa a gente diz!
48
Vida e morte vão andando
no mesmo campo a lutar.
A primeira semeando,
para a segunda ceifar.
49
Pra que eu te esqueça, não tenhas
confiança em teu desdém:
quanto mais de mim desdenhas,
quanto mais te quero bem.
50
De idéias velhas ou novas,
eu faço trovas também.
Quem gosta de fazer trovas,
nunca faz mal a ninguém.
51
Não me odeias nem me queres...
Meu Deus! Que tortura imensa!
Mais do que o ódio, as mulheres
detestam a indiferença.
52
Da morta felicidade
guarda a saudade dorida,
pois quem tem uma saudade
tem muita coisa na vida.
53
Não peço um prazer sequer
à vida que à dor se iguala.
Já faz muito se me der
coragem pra suportá-la.
54
Eu canto quando a saudade
me fere com seu desdém.
O canto é a modalidade
mais bela que o pranto tem.
55
A definição exata
do remorso, está patente:
fino punhal que não mata
mas tira a vida da gente.
56
Para rimar com teu nome,
que é do céu a obra-prima,
mãe, não existe um vocábulo!
Nem mesmo Deus achou rima.
57
Saudade é assim como fado
lembrando quem vive ausente:
é um suspiro do passado
na garganta do presente.
58
Meu amor foi acabando ...
Mas a saudade chegou:
chuva boa refrescando
o chão que o sol causticou
59
És de beleza um portento,
no perfil, nas formas puras.
Mas beleza sem talento
é um palácio às escuras.
60
No meu viver triste e escuro,
na minha sede de amar,
és aquele que eu procuro
e não me quer encontrar.
61
Meus filhos! ... Minha alegria!
Dentro da minha pobreza,
nunca pensei ter um dia
tão opulenta riqueza!
62.
Pensei fazer um feitiço
para esquecer-te, mas vi
que de tanto pensar nisso
é que penso mais em ti.
63
Nunca maldigas teu fado.
Confia em Deus, firmemente.
O arvoredo mais copado
já foi humilde semente.
64
Mãe: nem um tálamo nobre
esquecerei, sem mentir,
aquele bercinho pobre
que embalavas pra eu dormir,
65
Todo amante, em sua lida,
o espinho chama de flor,
porque a verdade da vida
é a mentira do amor.
66
Mãe: por mais que um filho aprenda,
sempre esquece que sois vós
a única fonte de renda
que paga imposto por nós.
67
Quem é do dever escravo
e não faz coisas a esmo,
pode dizer que é um bravo
e o próprio rei de si mesmo.
68
Embora em própria defesa,
é réu quem vidas destrói.
Mas na guerra, que tristeza!
quem mata se chama herói.
69
Na tua fronte bendita
dei um beijo, mãe querida!
Foi a trova mais bonita
que já fiz em minha vida.
70
Do nosso amor acabado
não pode esquecer a gente,
porque a saudade é o passado
que nunca sai do presente.
71
Quem vive em casa ou nas ruas,
chagas alheias curando,
nem se apercebe que as suas
foram sozinhas fechando.
72
Felicidade... Sonhá-la
é um mal de fundas raízes.
O desejo de encontrá-la
é que nos faz infelizes.
73
Manhã. O Sol é um botão
de fina prata dourada,
abotoando o roupão
todo azul da madrugada.
74
Esperança, és bandoleira,
mas és também sol doirado,
de luz a única esteira
na cela de um condenado.
75
Há muita gente cativa
neste mundo, como eu,
que vive porque está viva,
no entanto, nunca viveu.
76
Quem - seja nobre ou plebeu -
no Bem sua vida encerra,
sem estar dentro do céu,
está acima da terra.
77
De vergonha não se peja
quem em sua última viagem,
o ódio, o Remorso e a Inveja
não leva em sua bagagem.
78
Cantas! Minha alma te aprova
e eu choro - que coisa louca!
querendo ser uma trova
para andar em tua boca.
79
Lua e Saudade - rendeiras
da dor que com a ausência vem,
se vós não sois brasileiras,
pátria não tendes também.
80
Pra quem é mãe não existe
bem de mais funda raiz,
que o de viver sempre triste,
mas ver seu filho feliz.
81
"A traição é a própria vida."
É a violeta que assim fala,
porque se esconde e é traída
pelo perfume que exala.
82
Chamas-me louca e eu não chamo
infamante a tua boca.
Quem ama como eu te amo
é muito mais do que louca.
83
Para ingratos trabalhando,
de santo prazer me inundo,
pois, perdendo vou ganhando
a maior glória do mundo.
84
O vento que atro zunia,
queria a noite açoitar;
e a noite, calma, dormia
no regaço do luar.
85
O amor que brinca com a sorte,
que é sempre chama incendida,
é o que vai além da morte!
- Não há dois em toda a vida!
86
Procurar-te, eu? que loucura!
Olha, eu te vou confessar:
de mim mesma ando à procura
e não consigo me achar.
87
De Cornélia, as jóias caras,
vêm ao pensamento meu
quando vejo outras mais raras;
as netas que Deus me deu.
88
Esses teus olhos rasgados,
muito azuis, muito leais,
são miosótis deitados
em vasos originais.
89
Podem subir os felizes!
Agarro-me ao solo, em festa.
- Se não fossem as raízes,
que seria da floresta?
90
Do orgulho, conforme vês,
tenho opinião formada:
é a senhora estupidez
com presunção de educada.
91
Pela saudade ferida,
minha musa se renova!
E eu abro o livro da vida
e escrevo nele uma trova.
92
Se o bem não podes fazer,
o mal não faças também,
que o bem já faz sem saber,
quem não faz mal a ninguém.,
93
É a trova, em seu natural,
mordaz, alegre ou dolente,
lindo trecho musical
de quatro notas somente.
94
Do violão o seg redo
de imitar os passarinhos,
é já ter sido arvoredo
e abrigo de muitos ninhos.
95
Dizem que o amor é feitiço,
é mágoa, alegria e dor.
- Mas se amor não fosse isso,
que graça teria o amor?
96
Sem ti, que treva cerrada
pelos caminhos que trilho!
Sou como a Lua apagada
que, sem o Sol, não tem brilho.
97
Morre o poeta. Em oração
se escutam vozes bizarras.
- É a missa que as cigarras
celebram por seu irmão.
98
Se a trova faz suicidas,
não sou eu quem a reprova.
- Vale uma trova mil vidas!
Não vale a vida uma trova!
99
Noel exclamou pesaroso
vendo a cidade: - Jesus!
Quanto cartaz luminoso
e quanto teto sem luz!
100
Quisera, de idéia nova
de teu amor presa aos laços,
fazendo a última trova,
morrer feliz em teus braços.
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Fonte:
Luiz Otávio e J.G. de Araujo Jorge . 100 Trovas de Lilinha Fernandes. vol. 2.RJ: Ed. Vecchi, 1959. Coleção Trovadores Brasileiros

Cunha e Silva Filho (Reflexões sobre a Notícia de um Poeta Morto)


Morreste, poeta! Tinhas valor, deixaste obras, traduziste autores célebres. Até escreveste uma obra com título que, aglutinados nos seus elementos léxicos, forma o nome de tua pequena terra natal no interior do Paraná. Uma cidade com pouco mais de cem anos. Cidade acolhedora, muito fria e, às vezes, muito quente.

Te desenraizaste do teu berço natal. Mudaste para a cidade grande, grande e maravilhosa, embora vítima da mais cruel violência de que já se teve notícia ultimamente. Cidade também acolhedora, cálida, de tantos imigrantes que nela se fixaram em definitivo. Quem bebe das suas águas e respira os seus ares, dificilmente regressa ao berço natal. Faz como os saudosistas da poesia galega. Na cidade grande viveste. Pouca gente talvez te conheça – quem, porém, conhece hoje em dia os poetas? -, mas estás citado nas melhores histórias da literatura brasileira. Pela crítica especializada, eras considerado grande poeta.

Na tua terrinha natal, pessoas com certo conhecimento da cidadezinha, do seu povo, da sua história e da sua cultura, te conheciam, mencionavam com respeito teu nome. No ano passado, nesta coluna, fiz uma crônica, na qual mencionei, de passagem, um texto teu que um amigo, já falecido, me presenteara. O texto se encontra numa revista da tua cidadezinha, e fala teoricamente sobre poesia. Texto instigante, onde revelas conhecimento profundo da arte poética e de literatura.

Texto primoroso. Poeta foste por vocação e por conhecimento de causa. Te preparaste e te atualizaste para fazeres poesia.

Como outros grandes poetas brasileiros, não entraste para a Academia Brasileira de Letras. Será que desejavas nela entrar? Não sei, nem me interessa sabe-lo. Não quero me meter nessa seara.
Poeta morto, foste para a morada dos mortos e deixas a “morada do ser” em forma de poesia e de cuidados com a palavra e a cultura literária.

Hoje, no JB, Idéias & Livros, na seção Informe Ideias, sob a rubrica “lágrima”, da coluna do editor Álvaro Costa e Silva, há um breve registro do teu falecimento, mencionando algumas de tuas obras e traduções que realizaste

Conheci tua terra natal. Até lá morei por uns poucos dias. Comprei lá uma casinha que, pouco tempo depois, vendi. Como o teu, o meu destino é a cidade grande.

Que posso fazer por ti? Ora, que pergunta tola me faço agora! A única coisa que posso fazer por ti é ler teus livros, conhecer-te mais pela lado magnífico da Arte Poética. Só esta aproxima os sensíveis, os não-pragmáticos, os que pouco dão importância às glórias fátuas e efêmeras do hedonismo contemporâneo e pressuroso.

Nunca nos vimos nem nos falamos. Oh, cidade grade das distâncias interpessoais! De ti nem conheço a obra toda deixada. Só ti vi numa foto antiga, com alguns traços particulares como um bigodinho, um rosto meio cheio, cabelos lisos penteados para trás.

Li, no entanto, alguns poemas teus, Têm valor. Soube que trabalhaste no comércio, que não te formaste, que também ganhaste, em 1958, o Prêmio Olavo Bilac. Além deste prêmio, ganhaste outros prêmios graças ao valor da tua poesia

Escreveste alguns livros de poesia: Melodias de estio (1952); Iniciação ao sonho (19550; O poder da palavra (1959); Ir a ti (1969); O andarilho e a aurora (1971); Sons de ferraria (1989) Publicaste ainda Pedra de transmutação (1984). Traduziste A feiticiera, de Michelet; O livro dos demônios, de Sinistrati de Ameno, Bucólicas, de Virgílio e Arte de amar, de Ovídio. Na pesquisa sobre a tua produção poética, anotei algumas discrepâncias entre historiadores quanto a datas de publicação das tuas obras.

O nome do poeta, a quem venho me dirigindo até aqui, é Foed Castro Chamma. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 12 de janeiro de 2010. Nessa cidade morava desde 1941. Nasceu em Irati, Paraná, em 1927. Aos leitores meu convite ao conhecimento da sua poesia.

Fonte:
Entretextos. http://www.portalentretextos.com.br/ 17 de janeiro de 2010.

Foed Castro Chamma (Cristais Poéticos)


SEM TÍTULO

Áries investe para a minha face
mas domino-o com três pedras de sorte,
derramo-lhe nos olhos o rubim
e um signo mais propício me renasce.
Desfaço o que me habita — o secundário ­—
e caminho empunhando o belo facho
de luz que me revela sempre março
aberto para todo itinerário.
Meu é o silêncio, minha a madrugada
e as vozes que se acordam nestes versos
vou tangendo inspirado no precário:
Escutai-me, ó feridos da beleza,
­para salvar-vos tanjo o louro pássaro,
invento em minha boca este canário.

XXV

Exata como o número
a sombra é a medida
a sombra no rigor
do corpo no rigor
da sua geometria.

Solitária à figura,
se estende toda e vai
atrás dos próprios pés
como a correr parada.

É a medida do lápis
na folha do papel,
o fogo liberado
do carvão quando escreve.

Ela é o vácuo e se move ­
no chão, com a constância
de serva presa às pernas
sonâmbulas do amo.

É a réplica ao visível,
claro contra o escuro,
o abismo aberto ao corpo
levantado do muro.

Seu tecido é maleável
e foge à tentativa
de reter-se nos dedos
como a água fugitiva.

A sombra é o silêncio
das coisas transformadas
audíveis é o vazio
na cor manifestado.

Como encadear o ar?
Como encadear o fogo?
Como encadear a água?
Como encadear a sombra?

Os animais se curvam
ao domínio do rei,
assim como as paixões
são as forças sem lei.

Ela é o peso da inércia
disposta em movimento,
a cor negra do abismo,
o retrato do vento.

VESTÍGIOS DE MAGIA

I

Leia os traços cruzados neste rosto
cercado de silêncio: pedra viva
em movimento. A boca cresce esquiva
e ri branca e despida para dentro
no rumo dos seus lábios. São os dentes
a cerca protegida, são a vida
as sombras de cabelo derramadas
pelo corpo calado. Leia os traços
da fala - a mão repele, vibra, grita
no barbante seu nó para outra boca
acesa em pensamento: porta aberta
às grades do sorriso, cerca estreita
ao alcance da reta ameaçada
e o rumor pelo susto sacudido.

II

Este vôo de cor vôo caído,
pano guardado no ar preso por mãos
perdidas de sua forma: vôo ruído,
que traços traz, que letras, que mistura
que nem chega a compor-se nos sentidos?
Atrás desse tremor coloco o ouvido,
atrás do ouvido as mãos, busco a figura
do súcubo no escuro. Qual seu dom?
de assaltar-me e fugir, de ser perdido
acúmulo de sombra, assombração?

Vejo os dedos; agulhas distribuídas,
multiplicam-se quietas, trazem linha
nas unhas - aparecem resguardadas
no enleio derramado dos sorrisos.

III

De que curva das trevas, de que ponta
o negro vôo treme e o ar trespassa
e bate nos sentidos suas asas
para acordar o canto, vil presságio
de sujo enigma, este susto e espanto?
Uma treva sem trégua, uma perdida
face escondida se desprende e foge
atrás de si para encontrar-se ao lado
de quem renega e aceita. Ser sem nome,
cujo dom é nutrir-se de seus passos
como o corvo se nutre com seu vôo
da solidão que o habita, sem receio,
rompe com o bico a negridão e surge
nas páginas abertas deste espaço.

IV

Não é do sono que nasce
nem de obscuras palavras
mas da luz que me ilumina
os braços, olhos e face.

Nasce de estranhos presságios
submersos nos meus sentidos
esta encantação de pássaros
que voam da minha fala.

Nasce talvez dos meus gestos
de recônditos segredos
e são as minhas secretas
alegrias e meus medos.

São meus transes, meus instantes
que me possuem com a beleza
de extrair corpos e plumas
das tábuas da minha mesa.

São minhas múltiplas horas
de alucinados prazeres
em que me assistem transidos
o anoitecer e as auroras.

Ah dom de inventar-me alado
e voar com os meus vocábulos
sem espaços que limitem
meus pés no chão repousados.

O PODER DA PALAVRA

Articular o verbo até medir-lhe o som,
a extensão de suas cordas, suas arestas,
as potências contidas no ritmo
interior
o colorido
seu poder de fuga
e apreensão, seu fogo
e ouro, sua hora
inflamada,
as vibrações diluídas nos dentes,
sua fluida aparência
de poliedro disfarçado,
sua aritmética de pedra
e explosão,
seu trânsito na escala rarefeita
da audiência à voz que o emite,
condensando-o em cargas — símbolos
lançados — dardo

O VERBO

ar ao touro
não a flor para sua fúria
barbante atando os gestos
barro entre pedreiro e muro

liberto
como um risco
no corpo, como um risco
de faca, como um risco
de bala, como um risco
de espelho, como um risco

de ouro
que se queima nas folhas
rubras do fogo
se consome nas dobras
sujas da mente, não crepita
nem freme, sim
acende o grito
da fome

FOGO E OURO

corcel violento com jatos
de cor
sua meta, a linha
do ar
seu pasto

EXERCÍCIO

Despir-se do olhar
como quem se despe
de uma realidade.

Despir-se da fala
como quem se despe
de seus pensamentos.

Despir-se dos gestos
como quem se despe
de sua própria essência.

Ser dentro do vácuo
raro como o íntimo
de qualquer distância.

Como a água despida,
ser raso no leito,
longe como o sono,

Como corpo ou tempo,
formar-se por dentro
de seu próprio espaço.

Tempo ou movimento,
durar existindo
fora de seu trânsito.

Ser imperceptível,
a sombra invadida
pela loura luz

o avesso dos trajes
largos, a medida
exata da ausência,

Tão leve na estrada,
caminhar no rumo
deserto dos passos.

Fio dágua ou linha
agulha molhada
que em si caminha:

Vácuo e plenitude,
ser flecha e ferida
o servo e senhor.

ÁRVORE QUEBRADA

Vinha do tempo o brilho
traçando com seu lastro
rota insuspeitada
da hora, acesa aurora
de pedra, pedra e astro.

Vinha da linha reta
e presa pelos ângulos
era a árvore quadrada
nos limites do triângulo:

ou árvore despida
ou musa, musa oclusa,
era ela com sua boca
exata, séria era
a flor, o vinho, a terra.

Vinha de si nos passos
dobrada — para achar-se
trazia só a face
a senha, era o dia
o guia que a trazia.

AS SOMBRAS CORREM

As sombras correm soltas pela noite
à cata de suas formas apagadas,
tecendo solidões que são abismos,
sinais que são multiplicadas máscaras

de uma face movida pela luz
que desata do feixe o movimento
e se dispersa em fugas para atar-se
à unidade que flui do próprio tempo.

Os cabelos transformam-se em ramagens,
as árvores caminham. As florestas
combatem. Exercita a quadratura
do circulo o artesão moldando a pedra,

polindo arestas, desenhando a fórmula
da sombra em sua ordenação geométrica
como um todo partido que se reúne
pelo esforço que move o vento, a terra.

As águas correm negras, desatadas
das formas, com seus silvos de serpentes
nervosas sobre o leito das estradas,
luzindo a cor sinistra das correntes.

(...)

Sobre a boca formosa adormecida
tímidas aves, asas assustadas
sobrevoavam ligeiras com os bicos
famintos, a procura do arrozal

perdido na quietude da calada
planície verde agora adormecida
pela brisa da morte tal um mar
de pedra a desafiar a clara vida.

O rosto transformara-se em metal
e recusava dar-se ao movimento
dos círculos em vôo a procura
da cantora partida: apenas vinha

com a quietude amarga o frio som
de prata antiga da serena chuva
a derramar-se em finas linhas de água
nas figuras sonâmbulas da rua.

Eu a vi por detrás da clara máscara
armada para a vida com bandeiras
desfraldadas no corpo. A face dura
denunciava a cantora, ave guerreira.

Vi pedrarias na corrente verde
da fala, o brilho de esmeralda ardia
e inundava de líquidas vogais
a sala prisioneira da poesia.

(...)

Eu vi a palavra fora de sua boca
desenrolar o manto da poesia.
O som criava pássaros alegres
que voavam e desapareciam.

O encanto era tal que se perdia
a imagem verdadeira, e vi a palavra
transformar-se de nítido metal
em labareda, em fogo, em sombra alada,

com as asas abertas sobre nós:
o rumor da poesia urdia a voz
e o pássaro incendiava-se na luz
que sua fala espargia (negro sol).
______________________

Fontes:
CHAMMA, Foed Castro. O Poder da Palavra. Rio de Janeiro: Jornal de Poesia, 1959
Jornal de Poesia.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Trova 121 - Sérgio Bernardo (Nova Friburgo/RJ)

Trova sobre imagem obtida em http://www.imagensdahora.com.br

Lilinha Fernandes (A Rainha da Trova Brasileira)



Maria das Dores Fernandes Ribeiro da Silva - mais conhecida por LILINHA FERNANDES - nasceu no Cachambi (Meyer), Rio de Janeiro, num dia 24 de agosto. Foram seus pais: José Loureço Guimarães Fernandes (português) e Francisca Julieta Guimarães Fernandes (brasileira). Ele foi poeta, cantava e compunha; ela foi pianista. Lilinha Fernandes passou a infância no Meyer, onde fez o curso primário em Escola Pública. Completou seus estudos com o professor Oscar Senachal, de Gofredo. Estudou música e piano com sua mão. Aprendeu sozinha violão e bandorrino - instrumento de invenção de seu marido - Heitor Ribeiro da Silva. Compôs várias canções, valsas, choros, etc., para piano e bandorrino. Foi afamada a canção de Leonel de Azevedo e J. Cascata, com letra de sua autoria: "Escravo do Amor", gravada pelo cantor Orlando Silva. Mais antiga ainda é: "Beijo Fatal", sua primeira canção com música popular do Norte. Muita gente ainda há de recordar-se: "Aquele beijo apaixonado, prolongado, / que tu me deste ao luar." / Foi a sua primeira letra. E a canção correu pelo Brasil e chegou até Portugal.

Lilinha Fernandes começou a fazer trovas antes dos oito anos. E as compõe até hoje com brilho e inspiração. Quando bem moça, escreveu muitas poesias infantis que foram publicadas durante anos em "O Tico-Tico".

Colaborou assiduamente, entre outros, nos seguintes jornais e revistas: "O Malho", "Revista Souza Cruz", "Beira-Mar", "Jornal das Moças", "Vida Capichaba", "A Gazeta', (de Vitória), etc.

Apesar de possuir inspiração fértil, conservou os seus livros inéditos por muitos anos. Somente em 1952, com filhos e netos, é que publicou o primeiro: "Flores Agrestes", composto de sonetos. No ano a seguir apareceu o volume de trovas "Contas Perdidas" e em 1954 "Appoggiaturas" (sonetilhos).

Seus livros tiveram excelente acolhida pela crítica, poetas e leitores. Assim, o poeta Jorge de Lima escreveu: "Parabéns, primorosa poetisa que, com seu fino estro, fez um buquê de "Flores Agrestes". O grande trovador Adelmar Tavares assim se manifestou: "... tendo em muitas delas de repetir a leitura para que meu ouvido bebesse todo o encantamento. Você é uma trovadora. Parabéns" E Agripino Grieco escreveu: " ... suas trovas, ilustre patrícia, são das melhores que se escreveram no Brasil nos últimos tempos." E assim dezenas de poetas e escritores ilustres tiveram palavras de louvor para a sua Poesia.

Conheci Lilinha Fernandes em circunstâncias curiosas. Aí por volta de 1950, quando estava organizando o livro "Meus Irmãos, os Trovadores", comecei a ler algumas de suas trovas na Imprensa. Por não conhecê-la, nem alguém que me desse informações suas, comecei a desconfiar que fosse trovadora portuguesa. Essa suspeita aumentou quando, em 1951, o programa radiofônico do poeta Álvaro Moreira, "Conversa em Família" pela Rádio Globo, convidou-me para uma visita, a fim de palestrar sobre trovas e trovadores. O "tio Álvaro" tinha como sobrinhos Helena Ferraz (Álvaro Armando), Raul Brunini, Rubens Amaral e Sérgio de Oliveira. Constituíam uma família alegre e hospitaleira! Depois de duas visitas minhas, acompanhado de outros trovadores como Albano Lopes de Almeida, Ciro Vieira da Cunha, João Felício dos Santos, Eva Reis, Petrarca Maranhão, recebi da Rádio Globo um telefonema em que me comunicava ter recebido certo embrulho que um ouvinte havia encontrado na rua e como era constituído de páginas com trovas manuscritas, queria entregar-me o volume. No meio de uma porção de quadras portuguesas de Antônio Correia de Oliveira, Silva Tavares, Augusto Gil, João Grave, estavam muitas de Lilinha Fernandes. Daí ter concluído falsamente que deveria ser mesmo trovadora portuguesa. Resolvi escrever para "A Gazeta" e "Vida Capichaba" de Vitória, onde continuava a ler com freqüência bonitas trovas de Lilinha. E, na mesma ocasião, a "Conversa em Família" começou a irradiar trabalhos dessa autora. Fiz um pedido ao "tio Álvaro" que divulgasse pelo Rádio o meu interesse em saber o endereço daquela poetisa. E assim, pela Imprensa de Vitória e pela Rádio Globo, do Rio, vim a saber que Lilinha Fernandes não era portuguesa mas, sim, brasileira e quase minha vizinha...

Vivendo para o Lar, seus filhos e netos, Lilinha Fernandes compunha muitas trovas, mas as divulgava relativamente, pouco. Depois de conhecê-la pessoalmente, tomei melhor contato com sua obra ainda inédita, tornando-me um sincero admirador de seus dons extraordinários de trovadora. Procurei incentivá-la, escrevendo sobre a autora e divulgando as suas trovas pelo Brasil e Portugal. Certa ocasião, escrevi de maneira um tanto humorística, mas com uma base profundamente verdadeira: "Lilinha Fernandes é o Adelmar Tavares de saias.. . " frase em que a poetisa achou muita graça, mas que guardou ternamente em seu coração. Em outra oportunidade, declarei: "É a expressão máxima, feminina, da trova brasileira." Devida a estas e outras manifestações carinhosas às suas trovas, disse-me modestamente certo dia: "Nunca pensei que elas valessem alguma coisa..."

Digam os leitores se valem ... Leiam as cem trovas destas páginas e dêem a resposta. Que eu por mim há muito já respondi...

Mas não são apenas as cem encontradas neste livrinho que valem alguma coisa... Vejam esta de fundo cristão:

"Eu comparo o arrependido
que o perdão vê numa cruz,
ao viandante perdido
que avista, ao longe uma luz."

E esta, conceituosa, com uma imagem tão sugestiva:

"Da tua vida a viagem
se é triste o pintor imita,
que da mais tosca paisagem
faz a tela mais bonita!"

O lirismo de Lilinha Fernandes é contagioso e encantador. Muitas de suas quadras são amorosas, delicadas. Esta, por exemplo:

"Era outro o teu caminho...
Quiseste, por gosto, errar.
Por que entraste em meu cantinho,
se não podias ficar?"

Seu amor à trova originou esta concepção carinhosa:

"A trova sorri e chora.
Possui encanto divino.
Criou-a Nossa Senhora
pra embalar o Deus-menino."

Esta outra tem um cunho brejeiro, mordaz:

"Ventura, é coisa sabida,
seja muita ou seja escassa,
se não for interrompida
perde a metade da graça."

Vejam, finalmente, o quanto vale a espontaneidade, a harmonia, o lirismo, a feminilidade destas duas trovas:

"Um pelo outro, passamos,
com os olhos fitos no chão...
Mas, com que ardor nos olhamos
com os olhos do coração!"

"Zangaste. Fiquei zangada.
E eu que fui a ofendida,
que chorei, sem dizer nada
é que estou arrependida."

Tenho a certeza de que aqueles que já conheciam as trovas de Lilinha Fernandes aplaudirão a escolha que fizemos de seu nome para abrir a Coleção "TROVADORES BRASILEIROS"; e os que ainda não a conheciam, ficarão satisfeitos com a oportunidade que tiveram de entrar em contato com estas trovas inspiradas e bem feitas, melodiosas e singelas, que hão de colocar a autora entre os mais destacados trovadores da língua portuguesa.
=================
continua… As 100 Trovas de Lilinha Fernandes
=================
Fonte:
Luiz Otávio e J.G. de Araujo Jorge . 100 Trovas de Lilinha Fernandes. vol. 2. Prefácio do Livro por Luiz Otávio. RJ: Ed. Vecchi, 1959. Coleção Trovadores Brasileiros.

Bárbara Lia (Teia de Poesias)


CIGARRAS NO APOCALIPSE

Quando o poema emerge
Estridente
Emudece o verão
Escurece a primavera
Incendeia o outono

Poetas são cigarras
No apocalipse
Sempiterno som
Canto que incomoda
Sacode as esfinges
As filosofias vãs

Canto ecoa em muralhas pagãs
Invade corredores
Cola ao som o aroma hortelã
Das festas de antes
Arranca lágrima cinza
No silêncio laranja de Guantánamo

O som ardido trinca o sol
Escorre gema zelosa
Nas chagas das crianças
Da África inteira
Canta a primavera afogada
Da vida ceifada.

A cigarra segue
No apocalipse sem volta
Anoitece areias de Fallujah
Todas as ruas da Faixa de Gaza

Cigarras no apocalipse
São poetas em desalinho
Gestados no ventre escuro
Ninfas subterrâneas
Emergem em canto e vôo
Ao som da trombeta
De um anjo sem olhos.

SEAN CONNERY E EU

Sean dança comigo
Na casa suspensa
De janelas andantes
Cercada de sóis

Sean sorri girassóis
Liberta todos os bemóis
Da orquestra das estrelas

Gestos dele – Iluminura –
Rei Arthur em sua armadura
Cavalga o silêncio
Atravessa pontes de aço

Sean Connery depois da batalha
Esquenta seus pés gelados nos meus
E me cobre com estrelas e nuvens
Enquanto me rasga dentro a mostrar
O quanto dói - em delícia – amar!
E amar Sean Connery dói bem mais.

CHÁ PARA AS BORBOLETAS

Janela - espelho meu.
Fragrância de almíscar selvagem
me violenta.

Menino com aura violeta.
Jovem com juba desgrenhada.
Velocidade lenta.

Garganta do poço este túnel
cinza, onde trafego dias.

Penso na infância, sombra
dos eucaliptos, recanto secreto

onde eu servia chá às borboletas.

SUICIDA

Abismo nô. Correnteza nômade.
Sinistro vento. Lágrima.
Estou sentado na ponte de pedra.

Sopros do antigo resgatam frases.
Tela ilusória refletindo imagens.
Continuo sentado na ponte de pedra.

Domingo. Ponte vazia.
Peixe azul me acena
feito uma nereida - venha!

Ouço a respiração do
caracol.
Me despeço do sol.

E me atiro da ponte de pedra.

O CENTAURO NO JARDIM

Sou uma esfinge
leoa-mulher
e amo
um centauro em um jardim.
Morreria por ele.
De herança:
minha pata-leoa.
minha mão escritora.
A mesma que tocou os cabelos
do mitológico ser
e o amou
um amor enjaulado
um amor siderado.
Dói amar um ser
que cavalga em poesia
que grita belezas no silêncio...

A esfinge se cala
e entrega
de mão beijada
o centauro amado
a quem jamais
o amou assim.

(Leitura poética do livro O centauro no jardim, de Moacyr Scliar)

ANCORANDO ESTRELAS

Sonhei com Dian Fossey
aquela que vivia entre orangotangos.
Comprarei um peixe dourado

e sorrirei para ele
no café da manhã.
Poetas são marinheiros,

a diferença é que seus portos são estrelas
e nunca ancoram
no meu coração - cais.

Aparição sonhada:
Teus olhos negros na soleira.
Seremos dois a sorrir para o peixe dourado.

TRANSPARÊNCIA

No instante do milagre
segredos descem penhascos,
espelhos, memórias, casas.

Trechos da vida à beira da ruína
todos guardam para si.

Ninguém é transparente feito água Ouro Fino.

LEQUE DE NUVENS PARA O DEUS DAS ONDAS

O leque de nuvens se reflete
na areia de mármore.
Alento de tarde pagã.

Distante, a carranca do deus das ondas
escureceu o mar.

O coqueiro se eriça.
Cais sobre mim

feito neve nos Alpes.
E a tarde abraça o nosso abraço.

À MARGEM DO SOL

Cuido que nosso amor não seja astro morto.
Rego a lua, aro estrelas, fumaça ao redor.
Camisola de pérolas, pés descalços,
Pergaminhos perfumados
recebem a escritura de anjos invisíveis:
"A poeta ara estrelas com mãos aladas,
rega a lua com brisa perfumada.
Cuida que a lua seja girassol
estrelas floresçam em rosas azuis.
Colore vulcões extintos - vasos de luz.
Prepara frutos para o banquete à margem do sol.
Nua, solar, à espera da tarde antiga
(dois poetas, o poente, rosas azuis).

DEUS NO ORVALHO
(para Jorge Luis Borges)

Jardim perfumado de Istambul.
Sol intolerável beija a rosa azul
no vaso branco, dois cães cor da lua
ao redor.
Teus olhos se perdem na rosa nua.
Olhos da cor do Mar Cáspio na aurora.
Gota de orvalho baila na pétala.
Cristal.
Ponto no espaço - Aleph
descortina o universo.
Sonhos enxertados de sóis, desertos,
aromas, fauna, primaveras, borrascas.
Todo universo na gota clara
que cobre a rosa. A lágrima desce solar ao
lábio carmesim, e o peito arde de amor e luz.

CATEDRAL DE VIDRO

Avesso e direito, tudo é mesma coisa.
Assim dizendo quero dizer
Que és dentro e fora
Sol e superfície.

Um espelho refletindo dos dois lados.
Uma catedral de vidro.

Anjos azuis exilados do eterno
Vieram a ti e se colaram.
À tua face, à tua voz.
Ao teu terreno coração, que eu amo.

CAMINHO

Havia a aurora boreal no livro de vovô,
a lenda chinesa, as badaladas sinistras
do relógio de madeira, arco-íris, chuvas,
enxurradas, vovó recitando Alan Poe.

Havia o cheiro de canela, bolinhos,
a lenha ardendo vermelho-vivo,
o canto doce das cigarras,
o primeiro amor, ecos de Woodstock.

Uma menina nua correndo da guerra,
uma cascata, canções de Assis.
Olhos claros que eram oceano e céu.

Havia na alma a torrente da vida,
escrevi a primeira sílaba,
a segunda - até hoje escrevo - quantas mil?

LENDO CLARICE LISPECTOR

Mulheres
Sofrem meio às rosas
Espinhos escondidos
Em seus cabelos.
Seios nus
Beijados pelo amado.
Lençóis ao vento.
Vela de um barco
Onde o timão balança
Entre a neve
E a primavera.

Todos sofrem:
A gota prata
Do orvalho na rosa
É lágrima fêmea
Que brilha
Enquanto sofre.

ETERNO GRAAL

Homens, esses homens que são nada.
Nada de sonhos, nada de poesia.
São nada a buscar a fonte seca
dos segredos, nunca desvendados.

Nunca a resposta. Nunca será dada.
A sua sede, nunca saciada.
Sempre noite infinda e vazia:
Desvendar astros e no peito aragem fria.

Do passado falam de bibliotecas,
pergaminhos, hereges queimados por magia.
A lição de que a fé não deve governar.

No presente, o eterno é pura pedra.
No centro de tudo pulsa e sangra a Vida.
A eterna taça perdida.

SEGUNDA MORTE

O pelotão avança, cascata de passos
Em adágio, botas resvalando relva.

Coração acelera. O homem calvo cobre
Meus olhos. Aguardo o fim.

Lembro negro olhar em chamas, encanto.
Fatal certeza... Morrer? Já morri por ti.

MISANTROPO

Tempestade à vista, vento abissal.
Recolher as roupas do varal.

Penetrar a gruta de cristal
Onde a voz de Deus ecoa.

Incenso, cantata de Bach.
Equilíbrio = solidão total.

LUZES DE MARFIM

Agora a poesia segue
é só que me segue, afinal.
Sentidos de sol.
Primaveras de cerejas.

A tarde tocando teus cabelos,
brisa ao redor. Teu lábio.
Aquele beijo paterno
na testa da menina.

Vôos meus que seguiam borboletas.
As belas horas tatuadas no espírito
liberto do grito inútil.

Fixado no etéreo, os sonhos
flanando quimeras de asas de seda,
o infinito aplaudindo em luzes de marfim.

HO CHI MIN

O homem se inicia na pele nua.
A pele nua cobre a máquina perfeita
e a alma perfeita em Ho.

Amo a oriental certeza
de que a beleza mora dentro
da pele tecida
curtida de sole neve.

Foi assim - Ho Chi Min.
Tecido rústico, túnica leve.
Sandálias de borracha percorrendo trilhas.
Doze tigres guardados no itinerário único
de seus passos altruístas.

Foi assim, simples como a rota de um pássaro,
que, Ho Chi Min, vestido de arrozais serenos,
descortinado de coragem, força, sabedoria,
reinventou a vitória do espírito forte,
contra frios fuzis e helicópteros ianques.
==============================

Academia Paranaense da Poesia (Eventos Poéticos de Março)



(Antiga Sala do Poeta fundada em 07/04/73 por Pompília Lopes dos Santos)

EVENTOS POÉTICOS DO MÊS DE MARÇO DE 2010

OFICINA PERMANENTE DE POESIA – PROJETO; Academia Paranaense da Poesia e Biblioteca Pública do Paraná – 5ªs – feiras das 18_às 19h- aula; das 19 às 19:50h Declamação de Poemas pelos participantes – Rua Cândido Lopes 133 (Aulas Gratuitas - Voluntariado da Poesia)

04/03- A POESIA DE GLAUCO FLORES DA SÁ BRITO – Janske N. Schlenker

11/03- TRIBUNA LIVRE – Declamação de Poemas no Hall de Entrada Comemorando o Dia da Poesia (14 de Março) homenageando Cora Coralina

18/03 - UBT Curitiba – A TROVA – Maria da Graça S. de Araújo (Presidente)

25/03 – A POESIA DE JANSKE SCHLENKER – Lília Souza.

13/03 – SÁBADO DA SERESTA ( sempre no Segundo Sábado, com Música e Declamação de Poemas) das 17:30 às 21 horas no Restaurante San Domingos, (ex-Conf.Iguaçu) R. Vol. da Pátria, 368 1ºand. (Café Colonial: R$10,00 por pessoa)

16/03 – das 17 às 18:30h - TARDE DE MÚSICA E POESIA NO CENTRO DE LETRAS DO PARANÁ – Rua Fernando Moreira 370

- O quadro 5 minutos com o meu Patrono será apresentado pelo Poeta Mamed Zauith

- Declamações: - temas: Dia da Mulher – Dia da Poesia e Temas Livres

27/03 – (Último Sábado) ALMOÇANDO COM MÚSICA E POESIA- 12:30 h no Restaurante Delícias Naturais - Rua José Loureiro 133 (sobre-loja da INFOHOUSE) (Buffet livre a R$ 8,00 por pessoa).

Para os Associados da Academia a Anuidade referente ao ano de 2010 será de R$80,00 (40.00 por Semestre).
Tesoureira Janske Schlenker.

BLOG: http://academiaparanaensedapoesia.blogspot.com

Sua Presença e sua Alegria fazem a Festa da Poesia
Roza de Oliveira - Presidente

Fonte:
Colaboração da Academia Paranaense de Poesia

Verão de Poesia Realizado em Belo Horizonte



VAC – Verão Arte Contemporânea - origem e edições

Em outubro de 2006 o G.O.M apresentou uma proposta de ocupação para o Teatro Francisco Nunes que gerasse a possibilidade de ampliar o enfoque de uma apresentação de espetáculo que não se encerrasse em si mesmo. Quería fazer ressoar o trabalho de criação, expandindo-o para outras propostas criativas e instalar um olhar de reflexão e análise sobre a arte nos dias de hoje, suas causas e conseqüências. Nesta mesma época, se depararam com artistas da área da dança (Rui Moreira e Keyla Monadjemi, produtora da Mercado Moderno) que se propunham também a criar um novo formato para a área cultural no período das férias em Belo Horizonte. A partir deste encontro resolveram juntar forças e formatar e realizar um projeto piloto que, uma vez confirmada a sua importância, pudesse abrir espaço para a criação de um possível Festival de Verão que ocuparia os teatros públicos e espaços alternativos nos meses de janeiro e fevereiro dos próximos anos. O Verão Arte Contemporânea se definiu então pela quebra de fronteiras entre linguagens artísticas e abriga novos formatos de criação, integrou propostas de reflexão política e de investimento na busca de raízes, apostando na liberdade de uma linguagem estética comprometida com a complexidade do mundo atual. O objetivo do evento é compreender o nosso tempo através de um recorte cultural que respeite as diversidades expressivas abrindo novos formatos na criação artística atendendo a uma demanda de novas produções artísticas em Belo Horizonte, envolvendo Teatro, Dança, Música e Artes Visuais.

O Verão Arte Contemporânea 2007 comprovou sua excelência respondendo integralmente às nossas perspectivas iniciais.

Em 2008, repetiu e aprimorou a segunda edição, ampliando o número de espaços e de grupos envolvidos com o projeto e confirmando a resposta positiva do público e da mídia local.

Em 2009, elaborou um projeto que reforçaria os princípios norteadores do evento promovendo melhoras e corrigindo falhas, mas mantendo a coerência com o risco e a inclusão de novas propostas. Ao propor a continuidade deste evento para o ano de 2010, estavam confirmando a credibilidade num evento que a cada edição, vem não só resgatando culturalmente a própria função da arte na comunidade, como também, abrindo espaço para um futuro intercâmbio entre criadores de todo estado e do país. Acreditamos que o VAC cumpre também a função de incentivar a criação de eventos similares em outras cidades do nosso Estado, como vem ocorrendo com os diversos Festivais de Inverno de Minas Gerais.

O Verão Arte Contemporânea 2007 em sua primeira edição reuniu teatro, dança, música e artes visuais. O festival, idealizado por Ione de Medeiros (Oficcina Multimédia), Keyla Monadjemi (Mercado Moderno) e Rui Moreira com a realização do Grupo Oficcina Multimédia e co-realização da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, contou com uma vasta programação em diferentes espaços da cidade. O festival, que foca a quebra de fronteiras entre linguagens artísticas e abriga novos formatos de criação, integrou propostas de reflexão política e de investimento na busca de raízes, apostando na liberdade de uma linguagem estética comprometida com a complexidade do mundo atual. O objetivo do evento foi compreender o nosso tempo através de um recorte cultural que respeitasse as diversidades expressivas abrindo novos formatos na criação artística atendendo a uma demanda de novas produções artísticas em Belo Horizonte, envolvendo Teatro, Dança, Música e Artes Visuais.

VERÃO POESIA
Verão poesia: a poesia brasileira de minas gerais: invenção: experiências e linguagens: unidade: contrastes: performances: diálogos: a morte das vanguardas: poéticas experimentais de agora: a língua em estado de poesia:
intervenção viva: poetas: poemas ao vivo: eu outro.

- ABERTURA: Ione de Medeiros e Wilmar Silva.
- VIVERÃO POESIA - Homenagem ao jornalista e poeta Alécio Cunha.
- Lançamento da Plaquete:
Memória de Mim, org. Mário Alex Rosa.
- Leituras de poemas dos participantes.

PROGRAMA AO VIVO rádio educativa UFMG 104,5
- Tropofonia – uma experiência de linguagem: Oliverio Girondo e Djami Sezostre.
c/ Sebastián Moreno (Argentina), Laia Ferrari (Argentina), Francesco Napoli, Cristina Borges, Wilmar Silva e Rafael Muñoz Zayas (Espanha).
- Lançamento revistacd Tropofonia.

- PROVOCAÇÃO Poesia: Existência, Linguagem, Conceito, Processo, Arte.
MEDULAS DE DIÁLOGO: Heidegger, Yves Klein, Al Berto, Roberto Piva.
c/ Wagner Rocha, Luís Serguilha (Portugal), Luiz Edmundo Alves.
Provocador Ronaldo Werneck.

Lançamentos:
- Livro Heidegger e a poética do ser: interseções entre filosofia e poesia, Wagner Rocha.
- Livro Korso, Luís Serguilha.
- Livro Uvas Verdes, Luiz Edmundo Alves.

VERÃO POETAS: ILIMITES AO LÉU
C/ Adriana Versiani, Nícollas Ranieri, Regina Mello, Reynaldo Bessa.
Provocador Wilmar Silva.
Lançamentos:
- Livro Cinquenta, Regina Mello.
- Livro Outros barulhos e cd Com os dentes..., Reynaldo Bessa.

Maresia: hiperleitura poemas de António Ramos Rosa.
C/ João Ventura e Gilberto Mauro: voz, piano e eletrônicos.

Musicacha: instalação sonora poemas de Wilmar Silva.
C/ Gilberto Mauro.
Lançamentos:
- Cd Musicacha, Gilberto Mauro e Wilmar Silva.
- Revista Atlântica de cultura ibero-americana, João Ventura (Portugal).

VERÃO POETAS: ILIMITES AO LÉU
C/ Adriano Menezes, Daniel Bilac, Júlia Zuza, Milton César Pontes, Rafael Muñoz Zayas (Espanha).
Provocador Kaio Carmona.
Lançamentos:
- Jornal A Parada, Daniel Bilac e Valquíria Rabelo.
- Livro Sones di dicha, Rafael Muñoz Zayas.
- Livro SILVAREDO poética não completa, Wilmar Silva

Poéticas Experimentais Século XX: Vida e Morte das Vanguardas.
MEDULAS DE DIÁLOGO Sol Lewitt, Ezra Pound, Arthur Rimbaud, Poesia Concreta.
C/ Antonio Miranda, Eduardo Jorge, Rogério Barbosa
Provocador Wagner Moreira.
Lançamentos:
- Livro Memórias Infames, poemas de Antonio Miranda.
- Coleção “Nome a Nombre”, livros de Tania Alice e Javier Galarza (Argentina).

PERFORMANCE POESIA BIOSONORA NEONÃO
C/ Francesco Napoli e Wilmar Silva

Poéticas em Minas Gerais: Contrastes, Diferenças, Rupturas, Tradição, Invenção.
MEDULAS DE DIÁLOGO Poesia de Belo Horizonte 1980 a 2000.
C/ Fabrício Marques, Mário Alex Rosa, Kaio Carmona.
Provocador Rogério Barbosa.

VERÃO POETAS: ILIMITES AO LÉU
C/ Dioli, Diovvanni Mendonça, Fabrício Marques, Leonardo de Magalhaens, Luiz Edmundo Alves.
Provocador Marcos Fabrício.
Lançamentos:
- Jornal Barkaça.
- Projeto Pão e Poesia, 1º lugar prêmio pontos de mídia livre (minc).
- Jornal Suplemento Literário de Minas Gerais.

Portuguesia contraantologia: Minas entre os povos da mesma língua, antropologia de uma poética.
MEDULAS DE DIÁLOGO Poéticas de Minas Gerais, Portugal, Guiné-Bissau e Cabo Verde.
C/ Luís Serguilha, Wagner Moreira e Wilmar Silva.
Provocador João Ventura.
Lançamentos:
- Livro/Dvd Portuguesia, org. Wilmar Silva.

VERÃO POETAS: ILIMITES AO LÉU
C/ Jovino Machado, Kiko Ferreira, Ronaldo Werneck, Wagner Moreira.
Provocador Mário Alex Rosa.
Lançamentos:
- Livro Há Controvérsias, Ronaldo Werneck.
- Livro Cor de Cadáver, Jovino Machado.
- Livro Musikaligrafia, Kiko Ferreira.

VERÃO PROESIASHOW
OUTROS BARULHOS: COM OS DENTES...
C/ Reynaldo Bessa.

Fonte:
http://www.veraoarte.com.br

terça-feira, 2 de março de 2010

Trova 120 - Rodoplho Abbud (Nova Friburgo/RJ)

Adelmar Tavares (100 Trovas)


1
Para matar as saudades,
fui ver-te em ânsias, correndo ...
- E eu que fui matar saudades,
vim de saudades morrendo.
2
Pouco me dá que se diga
meu verso fora da moda,
meu verso é apenas cantiga
de cirandas, e de roda ...
3
A saudade é uma andorinha,
que ao morrer do sol a chama,
as asas tristes aninha
no coração de quem ama ...
4
Duvido que alguém no mundo,
olhe sem melancolia,
uma vela no horizonte,
lá longe... no fim do dia...
5
Que tens tu, que és tão sombrio,
e hoje a rir, alegre, assim? ...
- Mal sabem que só me rio,
porque riste para mim .
6
Quem dera que minhas trovas
andassem pelos caminhos,
consolando os desgraçados,
dando pão para os ceguinhos ...
7
Ora a Vida! ... Deixa-a andar,
não queiras da vida ter
o que ela não possa dar,
nem tu possas merecer...
8
Eu vi o rio chorando,
quando te foste banhar,
por não poder, te banhando,
dar-te um abraço, e parar. . .
9
Ninguém se queixe da Sorte,
que Deus de ninguém se esquece.
Cristo nasceu para todos,
cada qual, como o merece...
10
Coração, fonte da Vida,
da vida a própria razão.
- E tanta gente eu conheço,
vivendo sem coração...
11
Trovas, trovas da minha alma!
Da vida quando eu me for,
sede o humilde travesseiro,
do sono de um sonhador.
12
Quando eu morrer, levo à cova
dentro do meu coração,
o suspiro de uma trova,
e o gemer de um violão.
13
Meu coração, pobre tonto,
que eu não entendo sequer,
fazes morrer quem te adora,
morres por quem não te quer!
14
Se eu pintasse minha infância,
pintava: num sol de estio,
a sombra de uma ingazeira,
debruçada sobre um rio.
15
Os búzios guardam das águas
do mar, os fundos gemidos.
- Assim fossem minhas mágoas,
guardadas nos teus ouvidos...
16
Por que, pela humanidade,
só o eu, soa e ressoa? ...
- É que há um sapo agachado,
dentro de cada pessoa.
17
Não quero na minha morte,
nem pompa, nem mausoléu.
Quero uma covinha rasa,
que abra os braços para o céu. . .
18
Na janela do teu quarto,
a luz da manhã transborda.
Bem-te-vis estão gritando:
Preguiçosa, acorda, acorda!
19
A inveja tem seu castigo,
Deus mesmo é quem retribui;
enquanto o invejado cresce,
o invejoso diminui…
20
A luz desse olhar tristonho
dos olhos teus, faz lembrar
essa luz feita de sonho
que a lua deita no mar.
21
A imagem de nossas almas
está nas águas profundas,
quanto mais tristes, mais calmas;
quanto mais calmas, mais fundas.
22
Vivo triste, triste, triste,
que mesmo nem sei dizer.
- Desconfio que é saudade,
que é vontade de te ver.
23
Um cego me disse um dia,
que Poesia, inspiração,
era uma lua nascendo,
de dentro do coração.
24
Sou nesta tarde da vida,
cheio de saudades minhas,
como um telhado de igreja,
todo cheio de andorinhas.
25
É nossa alma uma criança,
que nunca sabe o que faz.
Quer tudo que não alcança,
quando alcança, não quer mais
26
Não quero ouvir o teu nome,
nunca mais te quero ver!
- E passo a vida pensando,
a forma de te esquecer.
27
Quando vejo teu sorriso,
tudo se doira e aligeira.
Teu sorriso é na minha alma,
como o sol numa roseira.
28
Neste mundo, a certas vidas,
a morte seria um bem,
mas até a própria morte
se esquece delas também.
29
O laço de fita preta
dos teus cabelos, faceira,
parece uma borboleta
pousada numa roseira...
30
Só peço o dia em que eu morra,
faça uma noite de lua,
todo troveiro descante,
todo violão saia à rua!
31
Dizer adeus nada custa,
alguém me mandou dizer.
Mas quem diz que nada custa,
queira bem e vá dizer.
32
Tu vais passando, orgulhosa!...
Nunca vi soberba assim.
- Ai de ti, por tanto orgulho.
Por tanto amar-te, ai de mim! ...
33
Não se dá regras à trova,
que a trova regras não tem.
A trova é simplicidade,
ela vai, como nos vem...
34
Quem ri do poeta, não sabe,
o consolo que ele tem.
E o dia em que fosse triste,
faria versos também.
35
A morte não é tristeza,
é fim, é destinação.
- Tristeza é ficar vivendo,
depois que os sonhos se vão.
36
As penas em que hoje estou,
disse-as ao Sol, - fez-se triste.
Disse-as à noite - chorou.
Disse-as a ti, e sorriste...
37
Mãe, que meus versos incensam,
quando eu vim do mundo à luz
foi na cruz de tua bênção,
que eu vi a vida uma Cruz.
38
Saudade - doce transporte
da alma adejante e ferida...
- É viver dentro da morte!
- É morrer dentro da vida!
39
Para esquecer-te, outras amo,
mas vejo, por meu castigo,
que qualquer outra que eu ame,
parece sempre contigo.
40
Para definir o Poeta,
só mesmo em verso defino.
- É um homem que fica velho
com o coração de menino
41
Ó meu amor! Ó saudade!
- E eu não sabia que amor
era uma felicidade
disfarçada numa dor.
42
Quanto amor me prometeste!
- Nas tuas cartas, que ardor!
Depois ... tudo isto esqueceste,
- Coisas de cartas de amor...
43
Encerram certos sorrisos
tristeza tão singular,
que, em se vendo tais sorrisos,
dá vontade de chorar...
44
Eu falei da "flor morena"
e entrou a rir quem me ouviu.
- Quem nunca viu flor morena,
foi porque nunca te viu...
45
Quem tiver amor, esconda
faça por muito esconder,
que as coisas da alma da gente,
ninguém carece saber...
46
Todo rio na corrente,
busca um lago, um rio, um mar...
Mas o destino da gente,
quem sabe onde vai parar?
47
Do mundo quando te fores,
mais que outra glória qualquer,
deixa a sombra de tua alma,
num coração de mulher.
48
O perfume do teu lenço
trago comigo na mão.
Mas o cheiro da tua alma,
dentro do meu coração.
49
Grande dia, este meu dia,
dado por Nosso Senhor.
- De manhã, escrevi versos
De noite, vi meu amor.
50
Alguém já disse, e é verdade,
que o sentimento do amor,
ou se faz eternidade,
ou então, não é amor...
51
Proclamas teu amor-próprio,
se alguém te diz minha dor.
- Essa questão de amor-próprio,
é muito imprópria no amor...
52
Amar com ciúme... Quem ama?!...
Quem ama assim, desconfia...
- Mas quem tais coisas proclama,
se amasse, não nas diria.
53
Ó Mundo! Ó Mundo! Ó meu Mestre!
Muito me ensinas viver,
e quanto mais tu me ensinas,
mais eu vejo que aprender!...
54
Tu censuras de minha alma,
este alvoroço, este ardor...
Quem tem amor e tem calma,
tem calma... não tem amor...
55
Onde anda o corpo, é verdade,
vai a sombra pelo chão...
É assim também a saudade,
a sombra do coração.
56
Aos que me foram ingratos,
eu grato lhes hei de ser,
pelo bem que me fizeram
no bem que eu pude fazer.
57
Quando a trova nos transmite
seu feitiço singular,
a gente lê, e repete,
e depois, fica a pensar. .
58
Vou vivendo a minha vida,
como Deus quer e consente.
- Sou como a folha caída
levada pela corrente...
59
Trovas, - cantigas do povo,
alma ingênua dos caminhos
de lavradores. . . cigarras ...
mulheres... e passarinhos ...
60
De amor... Amor é infinito!
Do encanto do seu poder,
tanta coisa se tem dito!...
- E há tanta coisa a dizer...
61
Uma vez que a gente cante
dizendo o que o povo diz,
a trova fica contente,
a trova fica feliz. . .
62
Vi hoje uma árvore velha,
toda coberta de flor...
- E me lembrei de minh'alma,
cheia de sonhos de amor.
63
Que contraste tem a Sorte!
No mundo, que ingrata lida!
- A Vida chorando a Morte
E a Morte rindo da Vida...
64
Não lamento a minha lida,
nem, pobre, choro os meus ais;
- Quem tem um amor na vida,
tem tudo! Para quê mais?
65
Sempre que a felicidade
passa no meu coração,
é como sobre um presídio,
a sombra de um avião.
66
Ardemos na mesma flama,
sofrendo da mesma Dor!...
- E é isso que a gente chama
felicidade de amor...
67
Já lá vai morrendo o dia,
e hoje ainda não te vi.
- O dia em que não te vejo,
é dia que não vivi...
68
Tua mãozinha morena,
se a tomo, tenho a impressão,
de uma rolinha cabocla
dormindo na minha mão
69
Trova que vens novamente
encher o meu coração,
- Sé bendita, luz divina,
amor de consolação.
70
Nem sempre com quatro versos
setissílabos, a gente
consegue fazer a trova;
faz quatro versos somente.
71
Tristeza! Minha tristeza!
Doce amiga dos meus ais.
Só de ti tenho a certeza
que não me abandonarás...
72
A dor que em prantos rebente,
dói, mas pode consolar...
- Mas a dor que a gente sente
de olhos secos, sem chorar?!
73
Minha camisa velhinha,
lavada à flor de melão,
tira-me o peso da vida,
faz-me leve o coração.
74
Há nos teus olhos escuros,
o escuro da Ave-Maria.
Desconfio que teus olhos,
são os de Santa Luzia...
75
Seria a glória das glórias,
se um dia alguém me dissesse,
ter chorado neste mundo,
lendo um verso que eu fizesse.
76
Nunca vi dizer ser pobre
quem come em paz o seu pão,
quem toca sua viola
sem peso no coração
77
Dos meus avós portugueses,
de certo ninguém duvida,
trouxe este amor pela trova,
que hei de trazer toda a vida.
78
O sol é que faz o trigo;
e o trigo, que faz o pão.
Mas se o trigo se faz hóstia,
faz-se sol no coração ...
79
A Ventura que hei buscado
pela Vida, sempre em vão,
que vezes não tem passado
à altura de minha mão! ...
80
Duvido que alguém se deite,
no embalo que a rede tem,
e pegue logo no sono,
sem pensar em quem quer bem...
81
Sou jardineiro imperfeito,
pois no jardim da amizade,
quando planto um amor-perfeito,
nasce sempre uma saudade. . .
82
Depois que, Mãe, te partiste,
como uma Santa em seu véu,
o céu que eu via tão longe,
ficou mais perto, e mais céu...
83
Minha viola, meu cavalo,
a lavoura dando flor,
Maria, dentro de casa ...
- Louvado seja o Senhor!
84
Dos desertos deste mundo,
sei do mais desolador
- Uma alma sem esperança?
- Um coração sem amor...
85
Dizem que há mundos lá fora,
que eu nem sonho... Nunca vi...
- Mas que importa todo o mundo,
se o meu mundo é todo aqui?!
86
Teu cego de caridade,
chora não te conhecer,
e a minha infelicidade
foi ter olhos e te ver...
87
Alguém pede que lhe ensine,
a fazer versos também,
viva e sofra, ame e padeça,
e espere que o verso vem...
88
Mesmo nos jardins da vida,
desde a minha meninice,
nunca alcancei uma rosa,
que o espinho não me ferisse.
89
Essa tua boniteza,
não tem, no mundo, rival.
- Pastora da minha Festa,
- Meu presépio de Natal!
90
Depois de mandar-te embora,
foi que - cego! - percebi,
que eras a felicidade,
que eu tinha em mão, e perdi.
91
Lindo luar no céu flutua...
Ao violão, canto os meus fados,
que Deus fez noites de lua
para os que são namorados.
92
Não sei por que, quando canto
por mais alegre a canção,
tem uma gota de pranto,
que vem do meu coração.
93
Ó lindos olhos magoados,
de tanta melancolia.
- Da tristeza desses olhos,
é que vem minha alegria.
94
Sei que amor é sofrimento,
custa a vida querer bem,
mas custa o dobro da vida,
na vida não ter ninguém.
95
Se Cristo nasceu pra todos,
sua luz a todos vem.
Vive o rico na riqueza,
mas vive o pobre também...
96
Não há riqueza que valha
um coração de mulher...
Que eu por um, vivo os meus dias,
e todos que Deus me der.
97
Ó quaresmeira viuvinha,
toda coberta de flor!
Quando a viuvinha se enfeita
é que pressente outro amor.
98
Sempre que alguém abre os braços
para amparar uma dor,
luz nesses braços abertos
a cruz de Nosso Senhor.
99
Os "anjos da guarda" gostam
da rede dos pobrezinhos,
que dormem a sono solto,
ao Deus dará, nos caminhos
100
Ó linda trova perfeita,
que nos dá tanto prazer,
tão fácil, - depois de feita
tão difícil de fazer.

__________________________
Fonte:
JORGE, J. G. de Araujo e OTAVIO, Luiz. 100 trovas de Adelmar Tavares. vol. 5.

Anísio Lana (O Poeta e a Cotovia)


Poeta, por que tua arma não possui balas? Nem sei se arma tens. Por que então falas? Às vezes suave, outras rude desse tal de amor. Que abastece os humanos como os jardins de flor.

Ora cotovia, minha arma é o amor. Com ela posso provocar dor. Fazer aquele lago, seco, se encher. Basta o coração de uma donzela amar. Que logo o lago se enche. Das lágrimas que lá vão repousar. Poderosa essa tua arma, poeta. Pois nem mata, nem machuca, mas faz amar. Poderias a tudo dominar. Largar essa vida de mendigo. Deixando de repartir meus frutos comigo. Podendo ter um palácio, onde todo verão, iria, eu, fazer meu ninho.

Mas o que adiantaria ter um palácio, cotovia, e tu o teu ninho? Se eu faria do amor um escravo. Ordenando para habitar naquele peito. Enquanto o outro que meus olhos ambiciosos não enxergarão ficará chorando. Culpando a lua e as estrelas. Para que ser rei e possuir trono, prata, ouro? Prefiro deitar-me a está árvore e adormecer. Acordar com seu lindo canto. Sabendo que o amor irá viver.

Falas tanto em amor, poeta. Mas toda manhã quando acordo para contemplar a vida, vejo-te ainda dormindo. A teu lado, tua sombra. Estás sempre sozinho. E toda noite quando volto a repousar em meu confortável ninho, penso em ti, meu amigo. Não pela chuva que te molha. Nem pelo vento que te seca. Mas porque estás sozinho. E quem te ajudará a sair da poça, quando teu corpo nela cair? Quem arrumará teus cabelos, aliás feios, quando o vento passar? Um dia ficarás velho, amigo. Quem irá te ajudar?

Enquanto tu adormece, linda cotovia, a noite me banha com suas alegrias. Claro que não nego que posso cair na poça. Afinal, o vinho depois de uma e outra, me leva ao chão. Mas, mesmo caindo, terei forças de levantar-me, como fiz ontem. Para aqui chegar, quando tu acordar. Por estar sozinho, às vezes sinto um vazio. Até invejo o coelho que na toca tem a coelha. O leão que tem a leoa. A formiga que tem todo um formigueiro. Porém, penso na liberdade que possuo. Se eu tivesse minha toca, não teria conhecido minha vida. Nem a ti, cotovia.

A cada dia, deixa-me mais confuso, poeta. Conheço por minhas viagens ao redor do mundo, dos ninhos que outrora faço no sul, outrora no norte, pessoas que possuem tudo: casa, família, dinheiro. Que parecem ter nada.
Outras que dormem em suas luxuosas camas, mas somente sonham com o palácio que poderias tu ter, mas renegas. Todos vivem reclamando daquilo que possuem, pois querem mais. Quanto a ti, vejo te contentares com a noite que é deles também. E com o vinho que eles bebem quando querem desabafar. Talvez tu sejas um anjo perdido que de tanto incomodar a Deus, com tuas conversas e Teus poemas compridos, foi jogado, aqui debaixo de minha árvore, para contar-me tuas aventuras que nunca possuem um fim. Queria entender-te, poeta. Mas tu és um segredo. Para outros, um simples bêbado. Para mim, um segredo

Talvez eu seja um anjo, cotovia. Mas para que um anjo beberia? Também conheço essa gente metida que por possuir tudo, quer o que outro possui. E nunca em suas vidas encontram a felicidade. Que se esconde embaixo do nariz, como a verdade eles escondem embaixo dos tapetes. Enquanto estou aqui, posso ser feliz. Lá estaria preso, como numa gaiola sem chave. Aqui posso correr, pular, assustar as crianças com minhas roupas velhas, fingindo ser o bicho-papão. Ou, apenas sentar na calçada e escutar os velhos que ninguém mais escuta. E o mar, não vou lá somente para atirar-me em suas ondas. Para isso existem os peixes, corais, tubarões. Vou lá para sentar-me na areia, deslumbrando os segundos que faltam para o nascer do sol. Assim reparto com o mar, a vida. Tirando lá do fundo minha alegria, que aqueles que ali se banham afogam, com suas tristezas, desarmonias.

Hoje irei dormir tranqüilo, poeta. Serei uma cotovia sonhando até o outro dia. E quando acordar, aos meus pés tu estarás, para dar-me lições que fazem-me ser sábio, mesmo na ignorância. Esta noite não irei mais preocupar-me contigo. Pois sei que alguém que enxerga a beleza onde os outros só buscam o prazer, deve ter a proteção de todos os santos, orixás, anjos. Até mesmo de Deus. Serei sempre teu amigo. Eu aqui em cima. Tu ali embaixo. Não é poeta? Por que não respondes, já que falas pelos cotovelos? Sei que só bebes quando o sol se deita. Ainda é cedo para adormecer. Acorda, poeta! Acorda! Quero te ouvir. Mas onde estão teus roncos, onde está tua respiração? Por que não bate teu coração? Usa tua arma poderosa e acorda! Por que teus olhos fecharam rápido, apagando o brilho que neles havia? Deixando aqui solitária essa pobre cotovia. Que de tão triste por tua partida, jamais a ninguém irá falar. Somente cantará um canto. Mais triste no mundo não haverá. Serei tua voz, poeta. Para os velhinhos abandonados, amargurados. Para as crianças serei mais um pássaro. Agora conheço a força de tua arma. É ela que me faz cantar, quando na verdade quero apenas chorar. E para sempre ser: A cotovia sem o poeta. O poeta sem a cotovia.

Fonte:
http://www.overmundo.com.br/banco/o-poeta-e-a-cotovia

Anisio Lana (Caderno de Poesias)



PÁSSARO NEGRO

É estátua, é areia, é vento, é pó
A vida é um pássaro que ao sentir a imensidão
Do infinito nunca volta há pousar na terra
Vive na distancia
Lá saudade/solidão
No coração.

Há se o poeta tivesse respostas
Não ficaria sofrendo em vão
Ele prenderia esse pássaro com o laço do amor
Impedindo sempre que a lágrima primeira que chegue
Fosse a de dor.

Porem nem o amor impede que outro se vá
Que feche os tão belos olhos
Cele os tão gélidos lábios
Retirando bruscamente do mundo
A passagem negra de sua poesia
Não há toque, não há sorriso
Não há nada nesse corpo
Imagem triste do silencio que lembra
O pássaro que foge de mim.

Quais pássaros vão embora hoje!
===========================

O TEMPO DEPOIS DE TI

Não posso entender o passar do tempo ainda
Pois o meu não passou
Mais olhando tuas rugas em tua face já murcha
Sei que outrora elas serão minhas.

Serão minhas tuas historias
E no doce balançar do vento
Toda tua existência
Tuas lágrimas, teu toque, seu cheiro
Adormeceram em mim
Serei o tempo que não se apaga, o tempo depois de ti.

Perante os caminhos da vida talvez esqueça tuas marcas
Perca os seus pedaços em mais alguém que depositei
Carinho, amor
Na defesa que o coração inventa para não chorar
Deixando tudo lá quieto nas suspensas lembranças
Para brotarem no vazio do mundo
Como saudades.

Das tuas rugas ao envelhecer dos dias
Que lembram em cada célula que morre no esvair da vida
Que viver é preciso.

Mesmo sentindo, perdendo a todo instante
Morrendo...
Somente assim nasce o tempo que serei e não se apaga,
O tempo depois de ti...
===========================

UM DIA
-
Acordamos um dia e percebemos quanto à vida é preciosa
Podem ser segundos há passar no relógio do tempo
Contemplarmos nas avenidas, nos começos e fins o viver.

Dormimos um dia, chegamos ao limite
Olhos são cascatas profundas da alma
Nos despedimos da felicidade com sorrisos
E da tristeza com lágrimas.

Alguém pode abrir a porta e tirar de dentro do peito essa dor?

Quebrem se for preciso, mas afastem a dor
Usem as mãos, toquem
Usem as palavras, falem

A composição da vida termina
Dessa sinfonia a orquestra não conhece o tom
Na platéia ninguém repete
Mas sabem que um dia farão parte dela
E assim se repetirão novas orquestras, platéias e canção.
_________________

Anisio Lana (1981)



Anísio Lana, pseudônimo de Elias Anísio Lana, nasceu em 26 de julho de 1981 na cidade de Blumenau, Santa Catarina, reside na cidade de Gaspar/SC, é poeta e membro da Frente em Defesa da Cultura Catarinense e membro fundador da SEG – Sociedade Escritores de Gaspar. Atua e apoia entidades e é articulista cidadão. O autor também luta contra a Toxoplasmose, que atingiu sua visão do olho esquerdo, restando apenas 28%. Sendo já cego da visão direita e tendo plena consciência dos riscos de ficar cego da noite para o dia.

Freqüentador assíduo da seção "Espaço do Leitor" dos dois jornais de Gaspar, Elias Anísio Lana carrega na veia a tendência à denúncia, à crítica e à polêmica. Quem lê suas cartas imagina estar diante de uma pessoa de meia-idade e pai de família. Nada disso. Anísio é um jovem solteiro de 26 anos, tímido e discreto, escritor e poeta, que faz das palavras uma verdadeira "metralhadora" na denúncia dos desmandos e injustiças sociais. Ele se diz preocupado com o futuro do seu bairro e de Gaspar. "Muita gente, quando me conhece, fica surpreso com a minha idade", conta Anísio que que nasceu e vive no Bateias.

O hábito de escrever cartas sobre fatos do cotidiano começou aos 11 anos de idade. Em 2001, Anísio passou a enviar essas cartas para os jornais reclamando, denunciando ou questionando a atuação do poder público de Gaspar. Com opiniões firmes e textos bem-estruturados, ele caiu nas graças dos editores dos jornais e do povo do Bateias e redondezas. Algumas de suas cartas motivaram acaloradas discussões na comunidade, outras inspiraram pautas para os jornais e rádios locais.

No início, algumas pessoas ligadas ao poder público chegaram a questionar a existência de Anísio Lana. Diziam tratar-se de uma pessoa filiada a um partido político de oposição à administração municipal que assinava utilizando-se de um pseudônimo. Nem uma coisa nem outra. Ele explica que é apenas um cidadão que gosta de bater de frente com as questões sociais. "Não consigo me calar frente às injustiças que observo", admite. Anísio jamais se candidatou a cargo político. Hoje, ele é membro da diretoria da Associação de Associação de Moradores do do Residencial Vila Isabel, um pequeno loteamento no Barracão.

Em defesa da cultura

Anísio também batalha pela preservação da cultura. Ele integra a Frente em Defesa da Cultura Cata-rinense, e é co-fundador da CEG - Companhia de Escritores de Gaspar. Em casa, vive rodeado de livros e documentos históricos. "Faltam registros e gente disposta a resgatar a nossa bela história cultural", lamenta.

Anísio não tem formação acadêmica na área literária. A técnica para escrever bem, explica ele, "é colocar os sentimentos verdadeiros no papel". Ele escreve porque gosta, sem pensar em lucro. "Para mim, escrever é uma terapia".

Os textos de Anísio também têm uma boa dose de sentimentalismo. Durante muito tempo, ele guardou seus versos na gaveta. Nos últimos tempos decidiu revelá-los aos gasparenses e ao mundo. O escritor publica poemas e crônicas em sites na internet e em seu blog, www.profissaocidadao.wordpress.com. A iniciativa lhe rendeu reconhecimento nacional. Alguns de seus versos foram parar nas antologias "Vozes escritas", "9° Prêmio Missões", "A ponte" e "Filhos da Luz". Este ano, planeja escrever um livro. O hábito de escrever cartas aos jornais continuará, garante Anísio, afinal, o jovem e sonhador morador do Bateias acredita que suas palavras podem, um dia, sensibilizar as autoridades públicas.

Antologias:

2009
Participa da Antologia As Cartas Que Nunca Mandei, com a crônica Bandeira Verde Amarela, do projeto 48 horas elaborado pelo jornalista e escritor Marcelo Puglia

2008
Participa da Coletânea Palavras de Abril com a crônica Bandeira Verde-Amarela, da Associação Artistíca e Literária ALPASXX ” A Palavra do Século XX”, de Cruz Alta-RS – Terra de Eríco Veríssimo.

2007
Participa da Antologia Filhos da Luz, com a poesia Um Único País Chamado Brasil – Obras selecionadas na V Seletiva de Poesias, Contos e Crônicas de Barra Bonita – São Paulo.

2006
Segunda Antologia realizada em 2006, com autores selecionados na III Olímpiada Cultural 500 anos da Língua Portuguesa no Brasil. O título a Ponte é baseada em quadro de título homônio de Décio Mallmith, de Porto Alegre – RG. Participou com o poesia Dois Poetas.

2005
Antologia realizada com autores selecionados na II Olímpíada Cultural 500 Anos da Língua Portuguesa no Brasil. O título, “Vozes escritas” é sugestão de Miriam Panighel Carvalho, de São Paulo-SP e a capa, de Simon Cho Baeo, de Serra-ES. O autor participou com o poema O Poeta e a Cotovia.
Em 2005 - participou da 9° Concurso Prêmio Missões – promovido pelo jornal Igaçaba de Roque Gonzales - RG, com a poesia destaque a nível ancional – Quando Uma Mulher Se Despe.

Fontes:
http://www.jornalmetas.com.br/
http://anisiopoeta.wordpress.com/