segunda-feira, 7 de junho de 2010

Trova 151 - Therezinha Dieguez Brisolla (São Paulo)

Lançamento do Livro de Fausto Couto Sobrinho, "O Grande Balão de Jornal e Outras Histórias"


É possível passar a vida a limpo? Talvez não, mas é possível reinventá-la a cada segundo, ampliando o contorno do que costumamos chamar de realidade para torná-la mais conforme com o real. É possível lançarmos um olhar para além do véu e enxergarmos as coisas e as pessoas em sua completude.

É isso o que Fausto faz – e nos convida a fazer – em seus deliciosos contos. Primeiro livro aos 62 anos? Ora, isso não é nada para quem corre os riscos de se recriar e entrelaçar com palha e vime uma nova realidade a cada momento, não uma comum e sem graça, mas outra muito mais verdadeira, mais fluida, com a cor do brejo, da sucuri que escorrega lentamente para o rio, do pássaro que se oculta na folhagem (“O Grande Balão”...). É o primeiro livro, bem sabemos, de uma carreira literária recheada de histórias pelas quais nós, leitores, agradecemos antecipadamente.

Embarquemos, pois, neste Grande Balão de Jornal na companhia dos seus mágicos passageiros – afinal, não somos todos nós criaturas mágicas?
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Fausto Couto Sobrinho

Fausto Couto Sobrinho foi professor de História, juiz do trabalho e diretor do Arquivo Público do Estado de São Paulo – da Secretaria de Estado da Cultura. Nessa última função, que exerceu por 10 anos, promoveu numerosos eventos culturais e a publicação de cerca de 60 livros, de diversos autores, em parceria com a Imprensa Oficial e outras editoras.

Este é o seu primeiro livro pessoal, terminado aos 61 anos. Inicia, nessa época de sua vida, uma nova carreira, a de contador de histórias. Pois, acima de tudo, Fausto é um contador de histórias, e dos bons, coisa rara hoje em dia.

No conto que dá o título ao livro – O Grande Balão de Jornal – ele nos leva de episódio em episódio, encadeando os causos de maneira saborosa, até criar um panorama multicolorido, onde, fixando bem o olhar, se percebe a imagem do próprio autor e seus personagens internos.

Atualmente Fausto mora em Michigan, nos Estados Unidos, onde escreve mais um capítulo de sua própria história, enquanto acompanha, maravilhado, o crescimento dos netos.

Fontes:
– Colaboração da REBRA – Rede de Escritoras Brasileiras
– Editora Scortecci

A. A. de Assis (A Língua da Gente) Parte 19


18. Defeitos de estilo (I)

Escritores, jornalistas, apresentadores do rádio e da televisão, políticos, professores, enfim todos os que frequentemente nos comunicamos com o público estamos sujeitos a escorregões. Na linguagem coloquial, evidentemente, podemos até bagunçar um pouco a norma chamada culta. Mas em textos formais é bom tomar cuidado. Ler, reler, emendar, cortar, reescrever, são hábitos que ajudam a evitar certos vexames – desde simples cochilos de grafia até defeitos mais importantes, como os que veremos (ou reveremos) a seguir.

CHAVÃO (chapa, clichê, estereótipo, lugar-comum, mesmice) – Ninguém escapa de perpetrar de vez em quando um chavãozinho. No entanto, vale sempre a pena buscar a originalidade. Olhos e ouvidos atentos: ao perceber que determinada expressão está sendo muito repetida em toda parte, fujamos dela. Com um pouco de criatividade, acharemos algo capaz de substituir fórmulas por demais surradas, tais como:
a bola da vez,
a céu aberto,
administrar os resultados,
agradar a gregos e troianos,
alto e bom som,
a nível de,
aparar as arestas,
a toque de caixa,
causar espécie,
calorosa recepção,
calorosa salva de palmas,
cartada decisiva,
chegar a um denominador comum,
com a voz embargada pela emoção,
com certeza,
conjugar esforços,
conquistar o seu espaço,
coroado de êxito,
corpo escultural,
correr atrás do prejuízo,
de mão beijada,
dirimir dúvidas,
em compasso de espera,
empanar o brilho,
escoriações generalizadas,
falta vontade política,
fazer a lição de casa,
fazer uma colocação,
forças vivas da sociedade,
gesto tresloucado,
honrosa visita,
ideia fantástica,
ilustre visitante,
infausto acontecimento,
inserido no contexto,
lamentável equívoco,
lauto jantar,
leque de opções,
misto de alegria e tristeza,
monstros sagrados,
na fila do gargarejo,
não é por aí,
num primeiro momento,
obra faraônica,
o conjunto da sociedade,
perda irreparável,
perdeu o bonde da história,
por ironia do destino,
por último mas não menos importante,
profundo pesar,
profundo silêncio,
rápidas pinceladas,
rigoroso inquérito,
segmentos da sociedade,
sincera homenagem,
singelo presente,
suculenta feijoada,
tecer considerações,
verdadeiro caos...


AMBIGUIDADE (anfibologia, duplo sentido, obscuridade) – Há casos até de triplo sentido, como percebemos na frase “O operário pintou o avião a jato”. Você pode entender: a) que um avião movido a jato foi pintado pelo operário; b) que o operário pintou o avião muito rapidamente (a jato); ou c) que o operário pintou o avião usando uma daquelas pistolas que soltam jatos de tinta... Veja agora esta: “Pedro beijou a mulher dele e José fez o mesmo”. José beijou a própria esposa ou beijou a mulher de Pedro?... Mais uma: “Vi a lua entre as nuvens viajando de avião”. E outras mais:
A comida ali é barata.
A população parou de crescer porque o brasileiro está comendo menos.
Roupas para mulheres usadas.
Chapéus para homens de palha.
Fogões para cozinheiras a gás que soltam fogo pelas quatro bocas.
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Fonte:
A. A. de Assis. A Língua da Gente. Maringá: Edição do Autor, 2010

Enéas Athanázio (A Estradinha)

Tulio Dias(Estradinha do Cipó)
Sentei no banco gasto da velha estação ferroviária e espraiei o olhar pela vila onde passei muitos anos da infância feliz. Para trás estavam as ruas tortas em que se alinhavam velhas casas; à direita se avistavam as ruínas da antiga madeireira, a indústria que devorou as matas da região; à esquerda, menores do que eu imaginava, ficavam os morros misteriosos onde, como diziam nos meus tempos de criança, viviam até bugres e onças pintadas. Mas à minha frente se estendia a paisagem que mais me dizia à saudade. Naquela campina plana, com o capim ralo queimado da geada inclemente, começava a estradinha que ligava minha vila ao lugarejo onde morava meu amigo Téo, um dos tantos que o tempo levou. Era uma estrada de poucos quilômetros, com o chão vermelho batido pelo caminhão velho que puxava madeira, cortando a mataria fechada, subindo e descendo as quebradas do terreno. Caminho pobre, onde quase ninguém passava, e cujos únicos ruídos eram o canto dos pássaros e o grito de algum bicho.Para mim, porém, aquela estradinha era a porta da aventura e da liberdade – era tudo.

Por ela eu saía nas explorações solitárias do mato próximo e, mais tarde, com a espingarda nas costas, para algumas caçadas inofensivas. Por ela eu partia para acampar na companhia dos amigos, curvado ao peso da mochila. Mais crescido, já metido a homem, a estradinha servia para minhas andanças a cavalo e as corridas na bicicleta que ganhei de minha avó, a única da vila. Também era por ali que eu rumava para os primeiros bailes, nos sítios ou nas casas-de-festa das capelas, quando até arranjei uma namorada, caboclinha simplória e acanhada que também sumiu no tempo. Era ainda por ali, na fase da leitura apaixonada, que eu rumava para a casa de Téo, com quem trocava livros e revistas.

Bem cedinho, mal engolido o café, eu enfrentava o frio e partia decidido. Quase sempre a pé, com o maço de leituras em baixo do braço, esticava o passo nas curvas sem fim, a batida dos saltos provocando um som cavo no chão vidrado. Nem saía da vila e me punha a cantar e assobiar, talvez para espantar o medo, a voz reboando nas canhadas e o eco respondendo longe. Às vezes treinava mesmo uns discursos e declamações para uma platéia invisível. Nessas visitas ao Téo acontecia encontrar por ali, pastando à vontade, o Rosilho, um cavalo muito velho que pertencia à minha família. Não servia mais para o serviço e fôra largado ao deus-dará. Muito barrigudo e de lombo agudo como facão, era o retrato da mansidão. Submisso sempre a meus caprichos infantis, muito eu tinha brincado com ele.

Eu então o montava em pelo, sem pelego e sem freio, e o colocava na estrada. Bufando e rebolando, o pobre me levava até a vizinhança do povoado do meu amigo, onde eu o largava, com um tapa amistoso no lombo. À noitinha, quando retornava, eu o encontrava quase no mesmo lugar, pastando em silêncio. Parecia que me esperava. Eu montava de novo e, entre bufos, ele me levava de volta. Para compensá-lo, eu lhe dava um trato de milho e alfafa e servia-lhe água fresca. Com olhos imensos e plácidos, parecia agradecer. Depois, em passos curtos, sem pressa, retomava a liberdade duramente conquistada e cruzava a campina.

Chegando em casa, nem descansado do passeio, eu já imaginava novas andanças pela estradinha. A estradinha que ficou para sempre na minha lembrança como o caminho livre do sonho e da fantasia.
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Premiado no Concurso Nacional Monteiro Lobato promovido pela Academia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil (S. Paulo – 1990).
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Fonte:
ATHANÁZIO, Enéas. Rosilho Velho: contos juvenis. Balneário Camboriu: Minarete, 1994

Nilto Maciel (Enéas Athanázio: Histórias Catarinenses)


Estreou Enéas Athanázio em 1973 e, nos anos seguintes, publicou inúmeras obras, quer como contista, quer como ensaísta. Citemos alguns de seus livros. Meu Amigo Hélio Bruma são páginas soberbas de homenagem a Monteiro Lobato. Tapete Verde traz dez peças, todas elas escritas nos moldes da narrativa tradicional, linearmente. Todavia, isto não significa repetição, anacronismo, aversão ao novo.

Embora Athanázio elabore as suas narrativas com o propósito de retratar usos e costumes da gente simples do interior catarinense, até com o emprego de uma sintaxe própria de sua região, sua linguagem não deixa de ter um sabor clássico. Com maestria, consegue escrever como os bons cultores de nossa língua, utilizando palavras e expressões do linguajar do interior sulista. Como bem percebeu Luz e Silva, em excelente estudo sobre os contos de Meu Chão, Enéas Athanázio “dosa, de modo conveniente, uma prosa clássica com a inclusão adequada de expressões de uso regional”.

Nota-se, ainda, que o autor não se repete, embora seu universo ficcional seja miúdo – a gente e o espaço de determinada região. No máximo, repete personagens, como o Dr. Janary Messias, advogado solteirão e boêmio, sempre às voltas com seu passado.

Merecem destaque em Tapete Verde os três contos que narram os reencontros ou desencontros amorosos de Messias. Talvez fosse preferível falar de três textos ou partes de um único conto. A técnica nele usada pode não ser nova, mas não deixa de ser apropriada à narrativa. É um dos melhores momentos da coletânea.

A última história do volume, a que dá título ao livro, é uma espécie de biografia de Janary. Sua trajetória de estudante de Direito pobre a prefeito da cidade que adotou como sua. Talvez a estrutura da narrativa seja de novela, até porque vai além de vinte páginas, ou seja, mais de um terço do livro. Quem sabe, um esboço de novela.

Há também em Tapete Verde simples instantâneos, quase crônicas, como “Os matungos de Mané Fortuna”, “Visita Oficial” e “Viagem Inesperada”. Há também autênticos “causos” pitorescos, anedotas, como “Tamanho não é documento”. Todas as narrativas são, porém, belos textos e mimosas histórias, que agradarão a gregos e troianos.

Não resta dúvida, Enéas Athanázio conhece, como poucos, o ofício de escrever e narrar, e tem plena consciência de que literatura não se faz às custas de autoglorificação nem de bajulação.

Nos contos de O Cavalo Inveja e a Mula Manca, de Enéas Athanázio, o espaço da ação é quase sempre amplo, aberto: o campo, o coxilhão, a invernada, a estrada, a rua da vila. Raramente a ação se dá em espaços fechados. Um dos motivos frequentes na obra de Enéas é a vida em volta da estação ferroviária. “A Estação”, em que narra a história de Seu Baby, é também um pouco a história das ferrovias brasileiras, do apogeu à decadência. Esse mesmo Baby reaparece em “O Natal de seu Berilo”. Às vezes o espaço do drama é um balcão de bar, como em “O Banco do Meu Compadre”. Aliás, em muitas histórias o protagonista não tem nome, como neste. É apenas “meu compadre”. No entanto, personagens menores têm nome, como os donos de bares Arno, Tatu, João-Sem-Braço. Muitos deles têm apenas apelido: “uma certa Xaxim, mulher de vida airada”.

Os personagens se locomovem no campo, nas fazendas, nas estradas. Em “Um gritedo na coxilha” é narrado um passeio da coronela e suas filhas: “de campo a fora, num desfile estranho, com a coronela encabeçando, acavalada no pitiço meio cambaio, seguida pela negra velha e as meninotas, enfrentando a quentura e a distância”, até se depararem com “as cabeçorras ameaçadoras” das vacas. Os personagens de Athanázio vagam pelas ruelas poeirentas da Vila do Calmoso; frequentam os botecos de São Simão, “cidadezinha perdida nos campos”. Nos bares, “em cujas mesas jogavam cartas ou dominó”, quase não falam. Não há muito a dizer. E passam pelas ruelas, sob “as luzes baças dos postes”. Habitam a Vila (simplesmente “a Vila”): “aninhada num grande vale, a Vila vivia em permanente modorra” (p. 65). Visitam o armazém, os bares, a igrejinha, a delegacia, a estação ferroviária. Vivem vidinhas sem eira nem beira, sem horizontes, estagnadas, modorrentas.

Nos contos de O Cavalo Inveja e a Mula Manca, bem como em outras obras de Athanázio, ao lado do tradicional narrador-onisciente encontramos com frequência o protagonista-narrador e o narrador-testemunha. O narrador-protagonista é um tanto obscuro, sem nome, contudo desenhado ao longo da vasta obra ficcional do escritor catarinense: ora advogado, ora promotor de Justiça, nascido na Vila ou em São Simão, viajante contumaz, sem mulher e filhos. Não fala muito de si mesmo. Em “O Banco do Meu Compadre” ele aparece a partir do título e logo no início da história: “Desde cedo meu compadre revelou vocação para os bares”.Não deixa de ser um narrador-onisciente, eis que acompanha todos os passos do “meu compadre”. Em “Meu Tio” ocorre o mesmo: o narrador conta detalhes da vida de seu tio deputado federal. Neste conto, contudo, o narrador tem nome – Dr. Enéas – e participa intensamente da trama. Pode, então, o leitor ver na narrativa uma crônica. Em “Calças Esfiapadas” o narrador é protagonista: advogado, candidato a vereador em São Simão. Em “A Tapera” é secundário. Em “O Campo do Silêncio” não conta uma história: lembra o passado de sua vila e constata a decadência. Em “Silêncio” o narrador se revela um pouco mais: “Depois de muitos anos na Capital, eu me vi em São Simão para iniciar nova fase da vida e a profissão abraçada. Fui morar no velho casarão que pertencera aos meus avós” (...). Em “Sonho de Liberdade” o narrador é ainda e apenas um advogado, sem nome, perdido no interior. Em “Estação de Cura” trata-se de um jovem incumbido da “nobre missão” de acompanhar o avô a uma estância hidromineral. Em “Retrato na Parede” o narrador se refere ao tempo em que fora Secretário Adjunto da Justiça e conta uma história desse tempo. Em “Como Casei com a Filha do Coronel” o próprio título denuncia o tipo de narrador. E mais uma vez sem nome, ao contrário dos demais personagens, como o cachorro Tigre e o automóvel Gentileza.

O tradicional narrador-onisciente está presente em “O Batizado”, “Negócio de Ocasião”, “O Atentado”, “Apelido”, “O Passamento do Arigó”, “Voz de Prisão”, “A Ameaça”, “A Estação”, “Um Gritedo na Coxilha”, “O Cavalo Inveja e a Mula Manca”, “Onde Está o João da Banha?”, “A Festa do Taquaral” e “O Natal de seu Berilo”. São contos anedóticos, de personagens planas, típicas do interior brasileiro ou catarinense, roceiros, gente simples, rústica, sem estudo, enraizada na terra.

Enéas Athanázio domina, como poucos, as mais variadas técnicas de linguagem. Não se encontra em seus contos o excesso. Consciente de que vem elaborando uma literatura regional, não se deixa conduzir pela tentação de descrever o campo, a flora, a fauna. Aliás, não há muitas referências a plantas e animais. Quando absolutamente imprescindível à história, aparecem bois, mulas, cavalos, cachorros. Nada de mais ou de menos. Os personagens também não são descritos. A não ser quando a personagem não pode deixar de ser pintada, como em “A Ameaça”. Marta é a mulher feia, gorda, disforme: “pegou a engordar de um jeito desconforme”, “as banhas se acumulando nas partes inferiores”, “as pernas se arredondando sem parar, como toras de corte”. Mesmo assim o leitor tem a sensação de que está vendo os personagens.

Enéas se vale mais da narração e do diálogo. No entanto, a inserção de diálogos não é excessiva, exaustiva. São diálogos mínimos, necessários. Os personagens não se perdem nas falas. São concisos; falam apenas o suficiente para que a narração prossiga. O contista evita o uso de vocábulos de uso regional na boca dos personagens, embora no decorrer das narrações sejam encontrados termos de uso mais frequente nos campos catarinenses.

O autor de Peão Negro se pauta sempre pelas mesmas linhas, se serve dos mesmos ingredientes, buscando ocasionar no leitor a impressão de que conta histórias singelas, sem malícia. Sua intenção é apresentar causos do interior catarinense, das pessoas simples do campo, servindo-se de personagens comuns, mesmo quando se vale de “bandidos”. João da Banha está presente em duas narrativas e em ambas não ocorre nenhum crime, nenhuma tragédia. O personagem é apenas “um andarilho, andejo sem paragem certa, que vivia perambulando pela linha férrea, para cima e para baixo, ao deus-dará” e “ganhara o apelido porque surrupiara um tantote de banha numa casa”.

Conhecedor dos narradores clássicos e das técnicas de narrar, o contista catarinense é daqueles que sabem começar e finalizar histórias. O leitor não é conduzido a veredas obscuras, embora os arremates nos contos de Enéas sejam sempre jocosos, leves, sem nenhum traço de tragédia. Em “O Atentado” o leitor pode esperar um fim trágico. João da Banha, “conhecido facínora”, prometia matar Seu Berilo, o Administrador. O povo da Vila em pânico. Ainda assim, ao fim da história nada de refregas, violências, mortes.

Em suma, O Cavalo Inveja e a Mula Manca é livro de agradável leitura, para leitores de todas as idades, de quaisquer regiões do Brasil, sejam eles principiantes ou mais lidos. As narrativas do livro retratam os campos de Santa Catarina, sua gente simples, pacata. E é livro de linguagem correta, limpa, sem malabarismos, sem excessos, porém rico no vocabulário e na construção das frases.

Fonte:

Nilto Maciel.

domingo, 6 de junho de 2010

Livro de Poemas: Poema 1 - Antonio Manuel Abreu Sardenberg (São Fidélis/RJ)

Luiz Antonio Assis Brasil (Cães da Província)


O livro Cães da província, escrito por Assis Brasil, narra várias histórias que são ambientadas na cidade de Porto Alegre, Província de São Pedro do RS, durante o reinado do imperador D.Pedro II .

O destaque maior é dado ao personagem Joaquim de Campos Leão, Qorpo-Santo que representa a intelectualidade em choque com a mediocridade dos parâmetros de sua sociedade.

A falta de compreensão da população leva Qorpo-Santo a ser considerado louco, devido a sua audácia em burlar os costumes da época.

O narrador deixa claro, durante o desenrolar dos acontecimentos, a superioridade do personagem Qorpo-Santo em relação aos demais.

A forma que seu comportamento tomou é tida como conseqüência de sua imensa inteligência, conhecimento e seus conflitos internos e sentimentais.

Fora abandonados por sua esposa, Inácia, que visava interditá-lo. Passa a viver só com seu criado Inesperto.

Porém, por baixo de toda a aparência de uma sociedade normal, existe um mundo marginal onde prevalecem a violência, o adultério, a crueldade e as mentiras.

Entre as histórias paralelas que, porém, não se desvinculam de Qorpo-Santo, temos a do importante comerciante Eusébio.

Este só se preocupava com sua posição social, o que tornava um homem digno e respeitável.

Mas o seu maior problema foi o adultério cometido pela mulher, o que levou a uma grande mentira perante toda a cidade, ameaçando abalar sua integridade.

Junto com essa história, temos os crimes que abalaram a calma população, cometidos pelo açougueiro e sua mulher, Pelsen. Esses dilaceravam corpos de pessoas atraídas para sua casa, a fim de fazer lingüiça.

Assim, vemos transparecer a mesquinhez, a falta de valores reais da sociedade, que se mostra mais preocupada com a interdição ou não de Qorpo-Santo do que com os crimes hediondos ocorridos.

Qorpo-Santo é realmente, um personagem extraordinário. Suas idéias seus pensamentos o levam muito além dessa época.

Contudo, seu comportamento não é completamente normal, porque o personagem conversa, diversas vezes, com pessoas irreais, como Napoleão III.

A sua condição psíquica é levada a julgamento, havendo divergências entre os alienistas a respeito da mesma. Acaba por ser interditado, mas seus bens não são entregues á esposa. É extraditado, e a sociedade sente-se apaziguada.

A narração é em 3ª pessoa - narrador onisciente. A realidade choca-se com a ficção nesse livro. O fato de Qorpo -Santo fantasiar um mundo só seu, à revelia dos costumes e regras tradicionais, eleva-o ainda mais.

Independente da exata localização espacial, o livro extrapola, indo muito além de suas fronteiras.

A denúncia é feita constantemente, mostrando a mediocridade de espírito da sociedade que é, facilmente, igualada a um cão, o cães da província.

Isto porque essa população é, realmente, domada e obediente às normas e costumes impostos pela época.

Assim atingindo o universal, a obra de Assis Brasil pode ser entendida por várias pessoas em diversas épocas, sem perder, de maneira alguma, seu valor real.

A própria personagem, na sua loucura, oscila entre momentos de lucidez e o mais completo desvario: " Ora sou um, ora sou outro".

Assim, a ocultação e o desvelamento da vida assumem representação concreta no confronto entre as patologias individuais e coletivas, de que são ilustrativos os episódios dos cadáveres escondidos, o falso enterro de Lucrécia e sua reclusão em vida, a ambigüidade velada e ardorosa de Inácia e, principalmente, a hipocrisia das eprícias médicas e dos laudos judiciais.

O trecho abaixo evidencia uma visão de exaltação à "loucura" (conversa entre Landel e Joaquim Pedro):"Amigo, no imaginário do nosso mundo a loucura é uma coisa aquática, os loucos têm um espírito profundo e turbulento com as correntezas, jamais poderemos adivinhar-lhe o fundo; daí por que escapam a qualquer compreensão, é como se você quisesse adivinhar o que acontece a dois palmos de baixo do casco da nossa canoa; a mente enlouquecida é pior que este rio barrento."

Neste outro trecho percebe-se a tortura de Qorpo-Santo, em sua indefinição entre a razão e a loucura (pensamento dele lido por Joaquim Pedro para Luísa):

"Se sinais naturais me inclinam algumas vezes á cópula, em outras me fazem desaparecer tal inclinação. Assim é que saio às vezes com mais forte atenção, e volto com mais contrária disposição.

Logo, se a natureza agora exige e determina e passados alguns minutos reprime e impossibilita, faz desaparecer o desejo e a lembrança, pergunto: o que é o homem?"

Fonte:
Passeiweb

Luiz Antonio de Assis Brasil (1945)


Nascido em Porto Alegre, em 1945, Luiz Antonio de Assis Brasil passa parte da infância em Estrela, com a família, que de lá retorna à capital em 1957. Cinco anos mais tarde começa a estudar violoncelo.

Em 1963 termina o Curso Clássico no colégio Anchieta, em Porto Alegre, dos padres jesuítas.

Em 1964, ano do golpe militar, ocorre sua entrada no exército, para o serviço militar obrigatório. Um ano mais tarde Luiz Antonio ingressa no curso de Direito da PUCRS e também passa a fazer parte da OSPA - Orquestra Sinfônica de Porto Alegre – como violoncelista, lá permanecendo por 15 anos. Forma-se em Direito em 1970. Advoga por dois anos. Em 1975 ingressa como Professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, função na qual atua até hoje; no mesmo ano inicia a colaborar na imprensa com artigos históricos e literários.

Estréia em 1976 com o romance Um quarto de légua em quadro, lançando-o na 32ª Feira do Livro de Porto Alegre, e que lhe dá o Prêmio Ilha de Laytano. Em 1976 inicia sua trajetória de administrador cultural, primeiramente na Prefeitura de Porto Alegre [Chefe da Secção de Atividades Artísticas] e depois no Estado do Rio Grande do Sul [Diretor do Instituto Estadual do Livro - 1983]; 1978 é também o ano de lançamento de A prole do corvo. Em 1981 publica Bacia das almas. No ano seguinte, Manhã transfigurada. Em 1981 Luiz Antonio de Assis Brasil assume a direção do Centro Municipal de Cultura de Porto Alegre

No inverno 1984/1985 vai à Alemanha, como bolsista do Goethe-Institut [Rothenburg-ob-der-Tauber, na Francônia]. Em 1985 lança aquele que, segundo o autor, é seu livro com maior carga emocional, As virtudes da casa.

Em 1985 começa a ministrar a Oficina de Criação Literária do Programa de Pós-Graduação em Letras da PUCRS, em atividade até hoje, e que recebeu o Prêmio Fato Literário, da RBS/Banrisul em 2005, ao completar 20 anos de atividades ininterruptas.

Em 1986 sai mais uma obra, O homem amoroso, uma novela com forte acento autobiográfico. Cães da província, em 1987, retoma o ciclo histórico, adotando Assis Brasil o dramaturgo José Joaquim de Campos Leão, o Qorpo-Santo, como personagem e evocando os tenebrosos crimes da Rua do Arvoredo. O romance dá o título de Doutor em Letras ao autor e faz jus ao Prêmio Literário Nacional, do Instituto Nacional do Livro.

Em 1988 Assis Brasil recebe da Câmara Municipal de Porto Alegre o Prêmio Érico Veríssimo pelo conjunto de sua obra. Videiras de cristal, que recria a saga dos Muckers, é lançado em 1990. Nova experiência é o romance em três volumes Um castelo no pampa, que se divide em Perversas famílias [1992 - ganhador do Prêmio Pégaso de Literatura, da Colômbia], Pedra da memória [1993] e Os senhores do século [1994]. Concerto campestre, Breviário das terras do Brasil e Anais da Província-boi saem em 1997, ano em que o romancista é eleito Patrono da 43a Feira do Livro de Porto Alegre.

Em 1998 é palestrante convidado na Brown University, em Providence, USA e em 2000 participa do programa Distinguished Brazilian Writer in Residence, na Berkeley University, Califórnia.

Em 2001 publica O pintor de retratos, que recebe o Prêmio Machado de Assis, da Fundação Biblioteca Nacional.

Em 2003 lança o livro A margem imóvel do rio, o qual é contemplado com três prêmios: Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira [o único romance dentre os três primeiros classificados], Prêmio Jabuti [finalista menção honrosa] e Prêmio Açorianos de Literatura.

Ainda em 2003 acontecem três publicações no Exterior: O pintor de retratos sai em Portugal pela Editora Ambar, do Porto; O homem amoroso é publicado pela Editora l´Harmattan, de Paris [l´Homme Amoureux], e na Espanha, pela Editora Akal, de Madrid, lança a tradução de Concerto campestre [Concierto Campestre]. Também em 2003 publica um livro de ensaios literários pela Editora Salamandra, de Lisboa: Escritos açorianos: tópicos acerca da narrativa açoriana pós-25 de abril. Em 2005 sai na França, pela editora Les temps des Cérises, o Breviário das terras do Brasil [Bréviaire des Terres du Brésil.]

Em 2006, Assis Brasil participa, com conferências na Alemanha [Tübingen, Leipzig, Berlim] de programa oficial do Ministério da Cultura do Brasil.

Música perdida é lançado em 2006, o qual vence, em 2007, a Copa de Literatura Brasileira e recebe indicação ao Jabuti. Em 2008 publica Ensaios íntimos e imperfeitos, uma coleção de pequenos textos de caráter poético e ensaístico.

Em 2010 segue com sua coluna quinzenal no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, e profere conferências nas Universidades de Paris-Sorbonne e na Universidade de Toronto.

Obras
* 1976 - Um quarto de légua em quadro
* 1978 - A prole do corvo
* 1981 - Bacia das almas
* 1982 - Manhã transfigurada
* 1985 - As virtudes da casa
* 1986 - O homem amoroso
* 1987 - Cães da província
* 1990 - Videiras de cristal
* 1992 - Perversas famílias
* 1993 - Pedra da memória
* 1994 - Os senhores do século
* 1997 - Concerto campestre
* 1997 - Anais da Província-Boi
* 1997 - Breviário das terras do Brasil
* 2001 - O pintor de retratos
* 2003 - A margem imóvel do rio
* 2006 - Música perdida

Entre outros, recebeu os seguintes prêmios:

* Prêmio Literário Nacional, do Instituto Nacional do Livro (1987), por Cães da Província;
* Prêmio Erico Verissmo (1987) pelo conjunto de sua obra;
* Prêmio Literário Machado de Assis, da Biblioteca Nacional (2001), por O pintor de retratos;
* Prêmio Jabuti (2003), por A margem imóvel do rio. Menção;
* Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira (2004), por A margem imóvel do rio. O único romance entre os três vencedores.

Adaptações para o cinema
* Concerto campestre, com o mesmo título;
* Videiras de cristal, com o título de A paixão de Jacobina
* Um quarto de légua em quadro, com o título de Diário de um novo mundo.
* Manhã Transfigurada, com o mesmo título.

Fontes:
Luiz Antonio de Assis Brasil
Wikipedia

Rubenio Marcelo (Poemas Ao Sabor das Ondas )

Canoa Quebrada (Aracati/CE)
LUZ DA SABEDORIA
(ou "Soneto de reflexão")

As maiores virtudes, incontestes,
são a nobre humildade e a calmaria.
Quem as tem, demonstra sabedoria,
pois segue a lição do Mestre dos mestres.

Assim são os jograis do dia-a-dia,
À mercê das cidades e agrestes,
sublimando as oferendas celestes
e criando essências de primazia...

Quanta luz tem um cego na esquina
tocando uma rebeca peregrina,
espargindo arte pura em seu mister...

E quanta escuridão possui o ser
que se julga sapiente, mas sem ver
que há saberes que só Deus nos ensina.

A CRUZ DE UM ADEUS

(Soneto Inglês)

Já é madrugada. Eu estou pela rua...
Na trilha dourada dos olhos da lua.
No meu desvario, na minha tristeza,
Ainda aprecio os dons da Natureza.
E assim, sem destino, tal qual vaga-lume,
Aos entes sagrados faço meus queixumes.
Ao longe, o clarão dos astros em prumo...
E o meu coração errante, sem rumo.
A brisa vadia soprando com jeito...
E uma agonia tomando meu peito.
Estrelas cadentes brincando no céu...
E eu, decadente, pervagando ao léu.

Cometas pulsando pertinho de Deus...
E eu carregando a tal cruz de um adeus!

TRIBUTO POÉTICO
*Para o amigo, médico e sonetista
Herculano Alencar, poeta piauiense residente atualmente em São Paulo.

Qual Cronin, João Guimarães e Scliar,
Que trouxeram o pendor da Medicina
E o mesclaram com a arte genuína,
Assim é nosso Herculano Alencar.

Escritor de inspiração singular,
É mestre da cultura cordelina;
Mas também do Soneto tem a mina,
Sendo, enfim, erudito e popular.

Seu estilo é autêntico, sem arranjos;
Seu mister relembra Augusto dos Anjos,
Pelo verso forte que traz em si.

Menestrel - orgulho do Piauí,
Trovador de estilo soberano:
Assim é o nosso bardo Herculano!

AOS MENESTRÉIS CANTA(DORES)
*Para Geraldo Amâncio, Daudeth Bandeira e José Dantas

Airosos, cheios de brio,
versando horas a fio,
Esgrimindo em desafio,
duelam os dois contendores...
Eivados de alegoria,
embolam-se em desvario,
Com sestros de Artilharia
e estro de Cantadores.
Impávidos guardiões
de sublimações em flamas!
Feitores de encantações!
Plácidos guerreadores!
Jograis de almas ufanas
que rimam fazendo famas
E brilham ostentando as chamas
dos seus gênios criadores.
Seus desenvoltos repentes,
garridos, cheios de manha,
Articulam-se, ferventes,
em compassos viajores...
Qual par de gladiadores,
engalfinham-se na sanha,
Replicam sagas estranhas
e aventuras multicores...

... E com o dom das entranhas,
alardeando furores
E proferindo façanhas,
abraçam-se os dois sonhadores!

SONHOS DA BEIRA DO MAR

Tocando meus dedos nas cordas plangentes
Do meu violão, antigo companheiro,
Relembro o meu vulto-menino fagueiro,
Brincando nas praias de areias ardentes...

Saudosos instantes, distantes, ausentes,
Que me inquietam e me deixam sem jeito;
Machucam, maltratam, martelam meu peito,
Torturam minh’alma com rijos tridentes.

É só nostalgia, cilícios medonhos,
Que hoje acompanham o meu caminhar;
E nessa agonia, meu ser-avatar

Palmilha, sem lar, caminhos tristonhos;
Cantando elegias que às vezes componho,
Lembrando meus sonhos da beira do mar!

MEU SONETO DO EXÍLIO

Não esqueço as toadas, cantigas tão belas
Que fiz só pra ela (e a noite levou...);
E a brisa marinha que testemunhou
Nós dois bem juntinhos, fitando as estrelas...

Não esqueço as manhãs branqueadas de velas,
Fantásticas telas – beleza sem par –
Balouçando, aos ventos, num lindo bailar,
Seduzindo as ondas, vencendo as procelas...

Recordo a tardinha, dia, mês e ano,
Em que eu abracei meu destino cigano
E, em meio a geenas, fui peregrinar...

Hoje, estou vagando (cerviz combalida)
Lembrando os enlevos reais da minha vida
Que, um dia, ficaram na beira do mar.

GRAAL DAS METÁFORAS

Nestas cálidas tardes peregrinas,
Se estiveres já sem inspiração,
Ante espelhas da desfiguração.
Que perverte a céu das tuas retinas ...

Se estas haras infaustas de rotinas
Demudarem teu ser, tua alegria;
E se vires fugir a primazia,
Devida - deste mundo. - à avareza ...

Vem saciar tua sede de beleza
Nas sagradas águas da poesia! ...

Na devir deste cetro venerando,
Um clarão logo exclui as ignotos.
Na rota das indômitos pilotos,
Os mistérios azuis vão rebrotando ...

O graal das metáforas vai doirando
Os brasões da Verbo, com sutileza;
E a Arte, esta divina alquimia,
Vai transfazendo sanha em realeza.

Nas sagradas águas da poesia,
Vem saciar tua sede de beleza! ...

Rubenio Marcelo (1961)


(Tradução do espanhol por José Feldman)

Rubenio Marcelo é poeta, músico, compositor e animador cultural. Nasceu em Aracati/Ceará, e reside em Campo Grande/Mato Grosso do Sul há mais de 15 anos.

Membro vitalicio titular da Cadeira 35 e Secretario-Geral da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, da qual – por indicação – foi eleito em 2002, havendo tomado posse solene em 27 de setembro deste mesmo ano. É membro vitalício da Academia Maçônica de Letras de MS (titular da Cadeira 13).

Formado em Ciencias Jurídicas (Direito), e em Engenharia. Rubenio, é também músico/compositor, revisor e membro da União Brasileira dos Escritores (UBE/MS).

Quando residia em Fortaleza e estudava no tradicional Liceu de Ceará, ainda adolescente, estudou também teatro e guitarra clássica e popular. Nesta época – e também no periodo universitário – integrou vários grupos musicais e participou de importantes projetos artísticos, como o Projeto Cocotal e o Projeto Luiz Asunción (que levavam shows abertos em teatros, praças e bairros da capital alencarina.

Nesta época sua poesia e composições musicais começam a ganhar destaque através de sua presença ativa nos festivais, eventos e movimentos culturais da região.

É autor de sete livros publicados: 1 - “Fragmentos de Mím"; 2 - "Cantar para Vivir"; 3 - “Estigmas do Tempo”; 4 - “O Metro de São Paulo - Literatura de Cordel”; 5 - “Reticencias...”; 6 - "O Reino Encantado do Cordel - A Cultura Popular na Educação"; e 7 – “Graal das Metáforas - Sonetos & Outros Poemas” (2007).

Lançou os CDS musicais (1 - "A Música de Rubenio Marcelo"; e 2 - "A Arte Maior de Rubenio Marcelo & Jorge Sales").

Ativista cultural y defensor da Arte eclética, é merecedor de importantes prêmios em festivais e concursos lítero-musicais, como: Festival Nacional Golondrina de Poesía (RJ); Prêmio Nacional Directv “A Liberdade em Suas Mãos”; Prêmio Nacional Metro de São Paulo/CPTM (I Concurso de Literatura de Cordel); Troféu Ouro do Concurso Nacional “Mural de Poesía”; 1º lugar do Concurso Internacional de Poemas Min. de la Aeronáutica e AVBL; e 1º lugar em valor literario/conteúdo poético do concurso “XVII Noite Nacional da Poesía” (UBE/FUNCESP - maio/2004).

Rubenio Marcelo é um polígrafo prolífero... Vai do soneto mais tradicional ao verso livre, do cordel de fundo popular aos poemas de cunho social, com um vocabulário que deve entusiasmar os lexicógrafos de nossa poesia. Graal das Metáforas é um belo livro: pela generosidade do conteúdo e pela qualidade gráfica de sua feitura. (Antonio Miranda)

Fonte:
Antonio Miranda

Eunice Arruda (Poemas Avulsos)


SENTENÇA

Convém nos
iniciarmos
cedo
As coisas são demoradas

E não é bom
colher os frutos
quando a boca não
conseguir mais
saboreá-los

PAISAGEM

O sol se
põe

Girassóis olham o chão

GUITARRA

Som
sentido
quem sou?
Corda de guitarra
fina
aguda
quebra a noite em duas

Vida – som sem
sentido

EM DEZEMBRO

a lenta
iluminada
agonia

retorna a
voz esquecida sob a
pele

em dezembro

águas passadas movem
moinho

Fonte:
Colaboração da poetisa.

A. A. de Assis (A Língua da Gente) Parte 18


17. O valor do pormenor

Pormenor, minúcia, detalhe... como você preferir. O importante é levar a sério certas minudências que realmente decidem na construção de um significado. Por exemplo: entre velinha acesa e velhinha acesa (com lh), a diferença é grande. Pior ainda será se na festa de aniversário, em vez de apagarem a velinha, resolverem apagar a velhinha... Notem que, no primeiro caso, velhinha (com lh), em lugar de velinha, altera também o sentido de acesa; no segundo caso, altera o sentido de apagar. Outros exemplos:

Comer à francesa (com crase) é uma coisa. Comer a francesa (sem crase) é outra. E “comer” a francesa pode ter outro sentido ainda...

A manchete Avião caiu no rio faz entender que um avião tenha caído nas águas de um rio. Já Avião caiu no Rio indica que o avião caiu no Rio de Janeiro. A maiúscula aí faz a diferença.

Manifestantes dirigiram-se à Bolsa de Valores levando uma faixa: Não à privatização. Como naquele dia o leilão não pôde realizar-se, os manifestantes fizeram uma pequena alteração na faixa: Não há privatização. Um simples h e a inversão do acento mudaram o recado.

Pedro ouviu que Maria estava falando (reconheceu a voz de Maria). Pedro ouviu o que Maria estava falando (ficou sabendo de que assunto Maria estava falando).

Agora é com você. Veja se percebe a diferença:

* O defeito é no rádio – O defeito é na rádio.
* Ele é ruim de bola – Ele é ruim da bola.
* Ele é um homem de bem – Ele é um homem de bens.
* Ele saiu daqui há pouco – Ele sairá daqui a pouco.
* Sente-se, bem! – Sente-se bem?
* Não gosto de pão duro – Não gosto de pão-duro.
* Ele caiu da cama – Ele caiu de cama.
* O tio e padrinho da noiva – O tio e o padrinho da noiva.
* O papel de imprensa – O papel da imprensa.
* O médico chegou a tempo – O médico chegou há tempo.
* Os inimigos são dois – Os dois são inimigos.
* A galinha vai por ali – A galinha vai pôr ali.
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Fonte:
A. A. de Assis. A Língua da Gente. Maringá: Edição do Autor, 2010

sábado, 5 de junho de 2010

Trova 150 - Elbea Priscila Souza e Silva (Caçapava/SP)

Joaquim Moncks (Poemas Escolhidos)


ZELO DE AMAR O DOLOROSO

“O poeta é um fingidor...”
Fernando Pessoa.

Cantar o amor é decantar
o espelho das ausências...

Quando o poema tem
esse ar distraído de que
é possível superar
a falta do que amamos,
percebe-se o poeta
(e sua aura de espinhos)
na ótica rasa do terceiro
destrambelhado.
O outro só olha o feito
e não o teor do escrito.

E dentro de nós somente o fetiche
de sermos inteiros, imolados
no exemplar bíblico
das dores do Homem..
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HOMENAGEM AO POETA - O MAGO DOS AFETOS

para Nelson da Lenita Fachinelli, in memoriam.
Há pessoas que são fachos de luz
roçando o capinzal da ignorância.
Figuras luminares em sua época.
Há imagens de amor sem posse,
que se escondem nestas amorosas
lanternas de rumos e vertentes.

Espíritos benfazejos,
deixam uma lacuna de ausências,
quando a hora do trespasse chega.
E temos certeza: a mínima entrega
a ser feita ao mistério do outro
é repetir pra todo o sempre o seu legado.

Na comunidade construída, repousa
a esperança do reencontro, e se aponta
aos homens a acesa chama da Poesia.
A rosa-dos-ventos demonstra o norte,
aponta caminhos: novas trajetórias.
Estes remos do Belo falam de pátria,
de amor e zelo aos excluídos.
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PIPAS AO VENTO

Deixai que o tempo se mova
com seus cordéis de prata.
A vida, ampulheta da morte,
jamais dará resposta.

Olhai o mar encapelado
e vede como é forte
a ira dos elementos.

Cantai, ó bardo triste;
O canto é a torre das auroras.
Morre a noite e, presto,
levanta-se a pálpebra do dia.

Cantai, humanos.
É para isto que nascestes!
Viestes ao mundo para vencer!

Renova-se, a cada noite,
o reconstruir das lembranças.
É de sonhos o futuro,
e de Ciclope o olho em que me vejo.

Ainda assim, manejo
ventos e esperanças,
com o segredo das pipas,
os longos rabos ao vento.
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O BARQUEIRO DA VIDA

Morreu o poeta com sua carga de relatos.
Por certo a humanidade ficará menos fantasiosa,
menos sonhadora,
mais pobre de estímulos.

Corre vida sob pés cansados.
Vento e chuva retratam o espírito triste.
O que se perde em meio à água que corre debaixo
dos pés andarilhos?

É líquido o silêncio nos olhos,
e os passos se fazem permanentes nos trajetos.
Caminha-se em nome de quem e de quê?
De nosso próprio pré-traçado destino?

Margearão a estrada dos acontecimentos
aqueles que ficaram nas veredas do Rio Escuro.
No retorno da poeira ao pó, a luz solitária
vem na hora bíblica.

A amizade antiga produz o último recado:
o poema com o gosto de lágrima.
É preciso conter o choro,
coragem para o coração pulsar vivo.
A vereda ficou pequena, esvaiu-se aos poucos.

Fiandeiras do fio da vida,
é incerto e dúbio o destino traçado
entre o nascer e o morrer.

Haverá lutas, adiante?
Quais desafios nos restam
além da barcarola de Caronte?

É chegada a hora da transposição do Rio Profundo.
Desta para a outra margem, aquela da qual jamais voltou alguém.
A morte é a primeira parada na estrada longa do Eterno.

— É preciso guardar a moeda para pagar o barqueiro da vida!

Fontes:
AURORA DE POEMAS, 2009/10.
BULA DE REMÉDIO, 2004/2009.
O POÇO DAS ALMAS. 2000.

Joaquim Moncks (1946)


Oficial PM, na reserva. Advogado. Professor de Criminologia, Ciência e Direito Penitenciário, Direito Processual Penal Militar e Segurança Empresarial. Ativista Cultural. Agente Literário. Poeta. Declamador. Conferencista. Ensaísta. Analista literário. Jurado em certames literários, em festivais nativistas e eventos de poesia e música popular.

Nascido em Pelotas, em 29 de setembro de 1946. Tem a cidade de Canguçu, um município agro-pastoril como sua segunda terra, porque lá iniciou sua carreira como oficial de polícia militar, aos 23 anos, em 1969.

Deputado constituinte à Assembléia Legislativa do Estado, em 1989, presidiu a Comissão Temática de Educação, Desporto, Ciência, Tecnologia e Turismo, ajudando a forjar a carta constitucional do Rio Grande do Sul, pioneira em muitos aspectos, principalmente nas áreas da
Educação e da Cultura.

Como deputado, foi autor de três importantes projetos, todos transformados em lei: o das PILCHAS GAÚCHAS, que oficializou a indumentária tradicional do homem e da mulher gaúcha, em respeito à ancestralidade e à tradição agro-pastoril do RS, como traje preferencial e de honra no território do Estado (1989); o que institui o 20 de novembro, dia da morte de Zumbi, o líder negro dos Palmares, como o DIA ESTADUAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA, em homenagem à negritude rio-grandense (pela primeira vez um líder político, no Brasil, lograva pedir desculpas pela escravidão imposta aos negros). Por fim, aquele que institui o dia 04 de Dezembro como o DIA DO ARTISTA REGIONALISTA E DO POETA REPENTISTA GAÚCHO (1989).

De 1973 até 2005, entregou ao público sete livros individuais, no gênero Poesia: ENSAIO LIVRE (plaqueta), 1973; FORÇA CENTRÍFUGA,1979; ITINERÁRIO (?), 1983; O EU APRISIONADO, 1986; O SÓTÃO DO MISTÉRIO, 1992; O POÇO DAS ALMAS, 2000, e OVO DE COLOMBO, 2005.

Tudo o que publicou em prosa estava disperso em mais de uma centena de antologias e coletâneas, editadas no país e no estrangeiro. Em novembro de 2008, durante a 54ª Feira do Livro de Porto Alegre e 36ª Feira do Livro de Pelotas, publicou CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre Prosa e Poesia.

Trabalha, desde novembro de 2004, nos textos inéditos de BULA DE REMÉDIO, poesia universalista. Previsão de publicação para 2009.

Também está recolhendo material para o livro de poemas regionalistas DE QUANDO O CORAÇÃO ABRE A CORDEONA, iniciado em 1978, quando tinha intensa participação nos movimentos tradicionalista e nativista do RS. Nessa época, 1982/87, integrou o Conselho de Cultura do Movimento Tradicionalista Gaúcho - MTG, órgão informal de política cultural com forte atuação durante os três mandatos do presidente Zeno Dias Chaves, que, nas novas administrações do MTG, perdeu força e desapareceu.

Em 1995, iniciara a coleta de textos para o livro OS MENESTRÉIS ESTÃO VIVOS,em que também predomina a prosa poética.

A sua abordagem crítica não é a da ótica do professor da área de Letras, e, sim, a do veterano escriba que deseja dar a sua contribuição aos mais novos. No entanto, exercita o magistério, em Poética, através de Oficinas Literárias, sendo chamado a atuar em várias regiões do Brasil, da Argentina e do Uruguai.

Atual vice-presidente da Academia Sul-Brasileira de Letras, em Pelotas. Da Academia Literária Gaúcha, do Partenon Literário, da Casa do Poeta Rio-Grandense e da Estância da Poesia Crioula, todas sediadas em Porto Alegre, onde reside.

Idealizador, fundador e primeiro presidente da Academia Brigadiana de História, Artes, Ciências e Letras – ABRHACEL, que congrega os intelectuais da Brigada Militar (PM) do Estado do RS.

Em outubro de 2003, assumiu a Coordenação das Casas de Poetas do Brasil – POEBRAS NACIONAL, entidade líder do associativismo literário no país, que contava com 26 sedes em 05 Estados da Federação à época da assunção de Joaquim Moncks na coordenação, e que está articulada, na atualidade, em 74 sedes municipais em 20 estados-membros da Federação.

Editou, até agosto de 2005, o Suplemento Literário OFFICINARIUM – AMOR & INCLUSÃO SOCIAL, no Jornal RS LETRAS, de Porto Alegre/RS. Por ora, a publicação está suspensa, por não ser auto-sustentável.

Integra o Grupo dos "15 Renascidos", que publica desde março de 2005, a REVISTA CAOSÓTICA, em Porto Alegre, com tiragem de 500 exemplares, de circulação nacional, com edição a cargo de António Filipe Neiva Soares, intelectual português, doutor em Psicologia Social, pela USP, e em Teoria Literária, pela PUCRS, jubilado pela Universidade Estadual de Campina Grande, na Paraíba.

De Outubro de 2003 a Abril de 2006 realizou quatro OFICINAÇÕES LITERÁRIAS em Campo Grande, MS, a convite da Fundação Municipal de Cultura, com a participação de cerca de noventa novos escritores locais.

No dia 17 de abril de 2006, ampliando a sua contribuição intelectual no Mato Grosso do Sul, proferiu palestra sob o tema POESIA: A TERAPIA DOS EXCLUÍDOS, para os acadêmicos de Letras e de História, da Universidade Federal de Corumbá, com a participação dos escritores da Associação dos Poetas e Escritores de Corumbá - APEC e de comitiva diretiva da União Brasileira de Escritores – UBE/MS, sediada em Campo Grande.

De 27 de junho a 02 de julho de 2006 esteve no II Encontro de Mestres do Mundo, em paralelo com o Fórum Cearense de Cultura Popular Tradicional, ocorridos em Russas e Limoeiro do Norte, no Ceará. Moncks foi declarado Mestre Nacional em Oralidade Poética Contemporânea, pela organização do evento, que reuniu a mestria do País nas modalidades de Mestres do Sagrado, dos Sons, do Corpo, das Mãos, da Oralidade e dos Sabores.

Tem trabalhado com muito afinco na ampliação da Casa do Poeta Brasileiro - POEBRAS, entidade que coordena em nível nacional. Esteve, de 02 a 16 de julho de 2006, em SP, capital, Valinhos, Jundiaí, Guarulhos e no Rio de Janeiro, articulando a afiliação de grupos à Casa do Poeta Brasileiro - POEBRAS NACIONAL.

De 13 a 16 de julho de 2006 participou ativamente do IV Congresso de Poetas Trovadores, promovido pelo Clube de Trovadores Capixabas, que tem na presidência o intelectual espírito-santense Clério Borges. O evento ocorreu na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro.

Com iniciação maçônica em setembro de 1981, na Loja Philantropia e Liberdade, unidade filiada ao Grande Oriente do Rio Grande do Sul - GORGS, em Porto Alegre, aos 30 de setembro de 2006, tomou posse como titular acadêmico na Academia Internacional Maçônica de Letras – AMIL, cerimônia ocorrida na Casa de Portugal, em São Paulo, capital. A AMIL congrega maçons escritores de todo o Brasil e os integra harmonicamente aos dos países de
língua portuguesa, visando a Universalidade.

A partir de 24 de abril até 11 de junho de 2007 cumpriu um extenso roteiro de palestras e de oficinas de poesia para grupos de universitários e escribas de associações literárias, em Salvador. Realizou visitas a associações de escritores, de cortesia e de instalação de novas sedes municipais da Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS NACIONAL. Esteve em Manaus/AM, Belém, Marituba, Benevides e Santarém, no Pará, Aracaju/SE, Maceió/AL e
Salvador da Bahia.

Em 16 de junho de 2007 participou do I Varal de Poesia, organizado por Aline Romariz no Centro Cultural Anti–Matéria, em Campinas/SP.

De 18 a 20 de junho esteve na cidade do Rio de Janeiro, juntamente com o ativista e editor Rossyr Berny, para promover o projeto 24 Horas de Poesia, na 53ª Feira do Livro de Porto Alegre, de 09 para 10 de novembro, e na Bienal do Livro do Rio, de 18 para 19 de setembro, e que pretendia reunir 200 poetas declamando versos pela Paz e pela Justiça Social.

No dia 19 de junho, na Livraria Letras & Expressões, no Leblon, Rio, apresentou uma performance poética de arena, integrativa do Projeto Corujão da Poesia - Universo da Leitura, coordenada pelo Professor João Luiz de Souza. Naquela noite o Corujão, das 00h às 05h da madrugada, reuniu mais de 200 pessoas. Estava consolidada, no Rio de Janeiro, a parceria com o Projeto 24 horas de Poesia, originário do RS. A Poesia foi o móvel do encontro entre os organizadores, declamadores e intérpretes, no palco.

Foi nomeado Diretor Nacional de Cultura da Academia Maçônica Internacional de Letras – AMIL, em 07 de agosto de 2007.

Integrou a caravana de autores gaúchos (vinculados à Ed. Alcance, de POA-RS) que participou das atividades lítero– culturais pertinentes à 13ª Feira do Livro do Rio de Janeiro, de 17 a 19 de setembro de 2007. Durante o evento autografou o seu livro OVO DE COLOMBO, poemas.

Na execução do Projeto 24 HORAS DE POESIA PELA PAZ & JUSTIÇA SOCIAL, fez o aporte de 39 autores vinculados à Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS, na qualidade de Coordenador Nacional, em iniciativa do poeta e editor Rossyr Berny, pela Ed. Alcance, que, além de obra editada (400 páginas) reuniu 200 poetas durante a 53ª Feira do Livro de Porto Alegre, nos dias 09 e 10 de novembro de 2007.

Em 2008 foi premiado com o primeiro lugar em Arte Literária, na EXPOESIA da Casa do Poeta Rio-Grandense, com o poema Soluços e Trastes. O quadro, que congemina Arte Plástica e Poesia, foi ilustrado por James Nelsis, que também recebeu a láurea de 1º lugar em Arte Plástica. Ambos receberam troféu e diploma.

Eleito, à unanimidade, para atuar como Orador Oficial na abertura da 36ª Feira do Livro de Pelotas, a ocorrer do dia 31Out a 16Nov2008.

Em 11 Out 2008 realizou performance poética sobre os poemas “Autopsicografia” e “Tabacaria”, de Fernando Pessoa, e “Pátria Minha”, de Vinicius de Moraes, durante o 14º Jantar Poético-Musical da Casa do Poeta Brasileiro de São Luiz Gonzaga – POEBRAS, ocorrido no Salão do Sindicato dos Bancários, em SLG, região das Missões Rio-Grandenses.

No dia 13/Dez/2008 instalou a 72ª sede municipal da Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS Santiago, em assembléia geral presidida pelo Capitão do EB e poeta Carlos Giovani Pasini, na oportunidade eleito presidente da 1ª diretoria executiva.

Em 22Mar2009 esteve em São Gabriel, com o objetivo de formar a Casa do Poeta local, sendo designado o poeta e artista plástico Ítalo Zailu Gatto, para indicar os membros para a Comissão de Instalação. A POEBRAS São Gabriel tomará o nº 74 na organização da POEBRAS Nacional.

Em 25Abr2009 se oficializou a criação da Academia Maçônica Internacional de Letras do Extremo Sul.

De 22 a 24 de janeiro de 2010 esteve em Santiago/RS, para participar do 1º Fórum de Literatura Contemporânea da América Latina e do II Encontro de Escritores do MERCOSUL e palestrar sobre as atividades da Casa do Poeta Brasileiro, em nível nacional. Dos dois eventos, promovidos pela POEBRAS Santiago, participaram escritores, poetas, artistas e bibliotecários do Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil.

Fonte:
Recanto das Letras

Nilto Maciel (A Arte de Escrever Contos)

Modelo de Aeroplano, de Leonardo da Vinci

O título do livro (que é de uma peça) convida o leitor a um passeio pelos espaços da ficção. Um bom título agarra o leitor muito mais do que um bom prefácio. E certamente o título Da Arte de Fazer Aeroplanos atrairá o leitor.

Composto de narrativas (contos, histórias, devaneios, peripécias verbais, parábolas...) curtas e algumas curtíssimas, o novo livro de Carlos Gildemar Pontes é pródigo em títulos atraentes. Entretanto, o leitor conseguirá ir além dos títulos e alcançar os finais? O primeiro – “De como Ibañez Santoro fez este conto-prefácio” – é agradável, sim. Passadas as primeiras linhas, no entanto, o leitor deparará com um “prefácio” sofrível, capaz de levá-lo a desistir da leitura.

Em “Minha gente”, originado da obra homônima de Guimarães Rosa, narrado na primeira pessoa, o contista prega uma peça no leitor, com muita sabedoria e sutileza. Sem diálogo, o narrador rememora o cotidiano em uma fazenda: animais, jagunços, trabalhadores, crianças, patrões. Durante toda a narrativa ele mantém o segredo sobre a própria identidade, embora dê vagas indicações, só percebidas no final, de que se trata de um cavalo. No terceiro parágrafo ele diz: “Meus pais eram teimosos, sofreram e apanharam que nem burro”. Ora, a teimosia é própria tanto de homens como de animais. Homens também sofrem e apanham “que nem burro”. E assim vai a narração até quase o final. Somente no último parágrafo vem a decifração do enigma: “Uma vez, tive que brigar até ficar exausto, machucado dos coices e das mordidas”. Ora, homens não dão coices. E vem o esclarecimento final: “algum tempo depois nasceu meu primeiro rebento, um cavalinho faceiro e corredor”.

As demais composições do volume se apresentam em uma ou duas páginas. Algumas são tão minúsculas que mal parecem contos: “O rio dos ventos”, bem nordestino, porém sem o ranço do velho regionalismo; “Praça sem pombos” lembra desenho a lápis (Os pombos “fugiram para outras plagas ou foram comidos por aquele gato amarelo, que vivia em posição de ataque, brincando de estátua?”); “O caçador de arco-íris”, quase poema em prosa; “O rio dos ventos”, também cheirando a sertão (“Arrumei tudo como de costume e esperei o vento trazer o rio que se foi na última seca”); “Da arte de cada um” e “O canto do velho” são parábolas. O mesmo se pode dizer de “Da arte de amadurecer”, breve esboço de conto no caderno ou rascunho de desenho na prancheta.

Em obras menos curtas, como “Por pouco eu não fui feliz”, Gildemar se vale de outros expedientes narrativos: os diálogos sem indicação dos nomes dos falantes e sem sinais (travessão ou aspas), no decorrer da narração. Como em diversas narrativas do livro, neste também o protagonista não tem nome explícito. O desenlace é ao mesmo tempo poético e fantástico: “Oito dias depois, minha sobrinha trouxe um hipopótamo para o jardim e ele, deitado sobre as roseiras, tirou a única possibilidade de eu poder ofertar a Helena um pouco do que restou de mim”. Remate inesperado, insólito, embora no início da história Helena se dirija ao homem assim: “Oi! Vim aqui visitar sua mãe, mas parece que ela viajou...”, e ele responda: “Nem notei, parece que está em Zanzibar!”

Às vezes, o contista resvala para o fosso perigoso da anedota, como em “Goipada na testa”, com o uso do linguajar matuto (... “dei uma goipada pra fora e taquei a cabeça no vrido”), e “Por falta de um adeus”. Mas consegue se recuperar em outras histórias, com certo humor que nada tem de anedótico, como em “A Lua e Natasha”.

Gildemar cultiva os mais variados temas, além de se mover com desembaraço pelo fantástico, pelo humorístico, pelo poético e pelo realismo mais brutal. No breve “O homem que botava ovo” o fantástico se desencadeia desde o título e vai até o final nesse ritmo. O protagonista todo dia botava um ovo. (“Pensou em criar galinhas no quintal e aproveitar alguma para chocar seus ovos”). A metáfora aparece em “Da arte de (des)fazer 500 anos”. Em “Meus dias de ostra” se vê o amor, a vida, a doença, a decadência física do narrador. Um dos mais soberbos momentos do livro é, sem dúvida, “Diário de um cego”. Narração sem sobressaltos, sem grandes arrufos, porém afastado da linearidade comum a muitos escritores. Seu Manuel, o cego, “sonhava com o transplante de córnea” enquanto imaginava o corpo de Dona Carmina e sentia o seu perfume. O final inesperado e poético é digno dos melhores cultores de composições ficcionais. Também o desfecho de “Da arte de fazer aeroplanos” faz balançar os corações mais sadios.

A leitura de “O sorriso do brinquedo” deixa no leitor uma sensação amarga na boca, ante a violência de mendigos no lixão, ao brigarem por uma boneca. Em apenas duas breves falas inseridas na narração, o narrador onisciente estabelece o conflito: “Quero a boneca pra minha neta. / Que nada, ela é minha”. O primeiro homem agride o outro: “dividiu sua cara ao meio com uma giletada”. A menina corre abraçada à boneca. “Sãs e salvas, as duas moram no sinal”. Como em outros finais, aqui o contista surpreende o leitor: a menina pede moedas na esquina e um “sujeito do outro lado da rua tem planos para a menina”. Mais um epílogo enigmático. Violência também se vê em “Gemidos sinceros”, cuja ação se dá num hospital. E haja cenas de brutalidade: “Chuta-lhe violentamente o saco; a cara e o peito lavados de sangue”.

Gildemar, também escritor engajado (palavra muito falada e escrita nos tempos das ditaduras), elabora algumas histórias de dor, fome, desabrigo, como “Condenado pelo tempo”, sem, no entanto, cair na arapuca de fazer discurso político. A não ser quando faz uma brincadeira com o coronel Garcia, o protagonista de “A greve”.

O múltiplo Gildemar é, pois, não só um bom criador de títulos, mas, sobretudo, um narrador de muita imaginação, capaz de fazer homens botarem ovos, como se isso fosse normal. Se algumas peças deste livro têm os títulos iniciados pela “expressão” “da arte de”, nada mais natural do que darmos a este prefácio o título “Da arte de escrever contos”.

Fortaleza, 17 de janeiro de 2008.

Fonte:
Nilto Maciel

Silviah Carvalho ("Habeas Cor" Liberte Coração)


poema em homenagem ao primeiro "Habeas Pinho"

Senhor Juiz

Venho diante de vossa excelência expor um fato
Pedir assim se de teu agrado for sua excelsa intervenção
Pois tendo já perdido o controle, não vejo em mim condições
De resolver de imediato, mesmo sendo responsável por minhas ações

Conhecendo seu Domínio e Sua capacidade, eu me rendo
E por não mais enxergar, dou por minha parte perdido assim a visão
Trago a Ti tamanho enigma e peço desfragmenta-o e devolva-me a razão.
E dai a liberdade, Senhor Juiz, ao instrumento de carne em questão.

Da parte que a mim cabe, digo estava ele a poetizar, só e sem nada sentir
Quando foi tomada de mim a ciência e percebi nada mais poder fazer
Procurei-o porem não dei queixa, pois me parecia bem a tal situação
E o tempo teve pressa em afastá-lo de mim tirando-me o poder de ação.

Lembrai Senhor Juiz, do poeta Ronaldo Cunha
Do fato inusitado de um “tal” violão
Que tendo levado alegria nas noites de serestas
E sem nada dever foi parar numa prisão?

Lembrai Senhor! da atitude do Juiz Roberto Pessoa
Comovido em seu peito da responsabilidade em suas mãos
Vendo a tristeza da cidade e o silencio em suas ruas
Mandou soltar de imediato, dando liberdade ao violão

Peço com a mesma reverência que me dê preferência
Pois tenho certa urgência em voltar meu afazer
Preciso dele, do instrumento a ser mencionado, deixe preso
Os motivos que agora são banais como já se pode ver

Senhor Juiz devolva a liberdade tira-o desta agonia
Pois o “crime” ocorrido foi amar outro coração
“crime” comum eu penso, considerando a tristeza deste dia
Vejo em minha mente a morte silenciosa da poesia

Ele nada mais é que um cansado coração em sofrimento
Atrás das frias grades dos laços da ilusão
Certa de seu acolhimento, juntada destas provas,
Tristes provas. Eu peço, enfim, deferimento.
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Habeas Pinho pode ser encontrado em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/02/eliana-palma-habeas-pinho.html
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Silvia Helena de Carvalho, é nascida em Bom Jardim de Goiás. Aos sete anos de idade mudou-se com sua família para o Mato Grosso, depois passou a residir em Porto Velho onde começou a escrever suas lindas poesias aos 16 anos, as quais eram publicadas no jornal de maior circulação de Rondônia pelo escritor José Calixto de Medeiros, de quem ganhou seu primeiro livro de poesias “Sentinelas da Estrada” . Daí em diante sua inspiração ganhou impulso.

Silvia é missionária consagrada pela Conamad, finalista em Teologia pela Ibad, Professora de Religião na área de Escatologia, ministra em palestras para jovens e adultos

Atualmente mora em Curitiba/PR

Fontes:
Colaboração da Poetisa.
http://www.silviah.net/

A. A. de Assis (A Língua da Gente) Parte 17


16. Sinônimos (II)

A gíria é outra fonte inesgotável de sinônimos, alguns engraçados, outros um tanto grosseiros, mas sempre fruto de admirável criatividade. Veja, por exemplo, quantos sinônimos o povo criou para aguardente: bagaceira, birita, bafo-de-onça, branca, branquinha, cachaça, caiana, cana, caninha, esquenta-goela, mata-bicho, parati, pinga, purinha, suor de alambique; para bêbado: bebum, esponja, gambá, pau-d’água, pinguço; para embriaguez: carraspana, ferro, fogo, pileque, pifão; para casamento: amarração, degola, forca, entrega dos pontos; para prostituta: cortesã, loba, loureira, horizontal, marafona, mariposa, messalina, mulher à-toa, mulher-dama, mulher da rua, mulher da vida, mulher da zona, mulher de vida fácil, odalisca, piranha, rameira, traviata; para dinheiro: carvão, gaita, grana, tutu; para caipira: bobó, bocó, brega, cafona, capiau, casca-grossa, coió, jacu, jeca, matuto, mocorongo, otário, tabaréu...

A metonímia e a sinédoque (que alguns consideram uma coisa só) prestam bons serviços na criação de sinônimos, tanto poéticos quanto populares.

Exemplos de metonímia:
Comeu dois pratos (= a comida contida em dois pratos);
á bebeu duas garrafas (= o conteúdo de duas garrafas);
Ele é um bom garfo (= uma pessoa que come muito);
É sempre útil ler Machado (= os livros de Machado de Assis);
“Respeite ao menos meus cabelos brancos” (= idade avançada) [Herivelto Martins]; “
O retumbar dos bronzes” (= sinos) [Fagundes Varela].

Exemplos de sinédoque:
O pão de cada dia (= o alimento);
Os sem-teto (= sem casa);
Completou 60 janeiros (= 60 anos).


O símbolo é outra forma interessante de sinonímia. Dentro do contexto próprio, são sinônimos, por exemplo: arado = agricultura; balança = justiça; altar, cruz = igreja; lira = música, poesia; trono = realeza. Algumas cores ou conjuntos de cores constituem também símbolos com força de sinônimos: Alvinegro = Botafogo, Corinthians; Rubronegro = Flamengo; Tricolor = Fluminense, São Paulo F.C.; Verdão = Palmeiras. E não nos esqueçamos dos animais-símbolos, que igualmente ganharam status de sinônimos: águia = perspicaz; burro = ignorante; camaleão = falso, traiçoeiro; carneiro = ingênuo, pacífico; coruja = mãe que gaba os filhos; galinha = namorador, namoradeira; gata = moça bonita; gavião = conquistador; jararaca = mulher brava; porco = avesso à higiene; raposa = esperto. Entram ainda nessa categoria de sinônimos alguns famosos personagens da história e da literatura: don juan = conquistador; dom quixote = idealista, sonhador; hércules = forte, másculo; judas, silvério dos reis = traidor; mecenas = protetor das artes.
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Fonte:
A. A. de Assis. A Língua da Gente. Maringá: Edição do Autor, 2010

Vicência Jaguarive (Nos Momentos de Lucidez)

Jana = Noel del Rosal Ortiz

Mas os momentos de lucidez são mais frequentes. Ela ainda conserva a consciência de seu papel na família. De vez em quando dá ordens e toma decisões, para depois alienar-se do mundo e de si mesma. A cabeça luta para se manter intacta, embora o corpo esteja fraquejando.

Parece ter a intuição de que continua a ser a mola mestra da família. Por enquanto não pode empreender sua viagem, ainda precisam dela. Chora quando chega um sobrinho ou um amigo que não vê há tempos. Entende que aquela pode ser a última vez. As lágrimas são uma demonstração de que ela ainda tem ciência do que acontece à sua volta. Sabe que se aproxima seu aniversário. Noventa e três anos. Quase um século, mas nem parece. O tempo passou rápido demais.

A avó aproxima-se e leva-a para a lição de bordado. Está de férias do colégio onde estuda, na cidade vizinha. Depois da sessão de bordado, a avó lhe dá dinheiro para uma cocada, seu doce preferido. A avó é autoritária, não admite desobediência, mas é boa... para os netos... para todo mundo. Passa pelo quarto da mãe, que amamenta o bebê chegado há algumas semanas. Entra e a mãe lhe dá um beijo na cabeça. A mãe é doce, carinhosa, paciente. Ela a ama muito. O bebê recebeu o nome de José, e é assim que o chama. Algumas pessoas já começaram a chamá-lo Dedé, mas ela não. Não gosta de apelido.

Alguém aciona a campainha, e ela pergunta à cuidadora quem é. Põe a cabeça para fora da rede. É uma das sobrinhas. Ela casara, não tivera filhos, mas criara quatro sobrinhas que ficaram sem mãe. Na realidade, foi mãe para quase todos os sobrinhos, e eles a amam e preocupam-se com ela. Fica feliz quando sabe que eles vivem bem. Recentemente, soube que vai ganhar um sobrinho-bisneto. Ficou feliz pelo sobrinho que vai ser avô, mas ficou mais feliz por saber que a família continua a crescer.

O pai reconhece seus passos no corredor e a chama. Ele se sente pior do reumatismo, anda com muita dificuldade, e a ferida da perna está mais profunda. Ele quer sempre um filho por perto. Gosta de conversar com ela, porque a acha ajuizada e responsável. Pergunta-lhe se ela vai bem no colégio, se comporta-se bem, se sente saudades de casa. Ele conserva-a perto de si por uma boa meia hora. Ela já está impaciente. Sente o gosto da cocada, que continua na bodega. Quando finalmente ele a libera e ela chega à mercearia, alguém havia comprado o último doce do dia. O semblante de tristeza sensibiliza o bodegueiro, que vai mandar a mulher fazer um outro prato de cocada. Dentro de uma hora ela volte que o doce vai estar pronto.

A cuidadora anuncia a hora do banho. Ela não gosta mais de tomar banho, sente muito frio, apesar da temperatura alta da água. O cheiro do sabonete líquido e do shampoo. Depois, a fragrância da colônia suave, que ganhou no Natal. Como ganha presentes! Os sobrinhos mandam presentes no aniversário, no Dia das Mães e no Natal. E quando vêm passar o fim de semana com ela trazem sempre uma lembrança. Veste um vestido limpo e cheiroso e pede para ouvir música. Levam-na à área coberta, onde se conserva sempre uma rede armada, e ela ouve a voz modulada do Orlando Silva: Lábios que eu beijei / Mãos que eu afaguei / Numa noite de luar assim...

O médico dissera que o pai precisava cortar a perna, para evitar a gangrena. Mas ele não resistiu e morreu horas depois da cirurgia. Ela deixara o colégio para ajudar a tocar os negócios da família. Era a mais velha e tinha jeito para comandar. O irmão mais novo do que ela um ano iria substituir o pai na política. Talvez se candidatasse. Havia também o namorado, que fez pressão para ela deixar os estudos e voltar para casa. Aquele namoro era outro problema que parecia não ter solução. Gostava dele, mas ele era um boêmio. Já havia dito: só se casaria quando ele se cansasse daquela vida. A mãe estava sofrendo com a morte do marido, principalmente porque se sentia desamparada. Era uma mulher fraca, que se apoiava na fortaleza dele. Agora não sabia o que ia ser de sua vida.

Vestida de azul e branco / Trazendo um sorriso franco / No rostinho encantador / Minha linda normalista / Rapidamente conquista / Meu coração se amor. Nélson Gonçalves havia substituído Orlando Silva. Gostava daquela música, que a fazia lembrar-se da sobrinha mais velha, a menina do seu coração. Sempre achara que ela seria professora primária, mas a sobrinha fora além. Fez faculdade e até ensinava na universidade.

Nasceu! É uma menina! E o nome vai ser Vicência Maria, em homenagem à Tatença. O irmão entrara correndo e dera a notícia. Era a primeira filha, a primeira neta, a primeira sobrinha. Ela gostou de ouvir que o nome da menina seria o mesmo da avó deles – Vicência, que os netos chamavam Tatença. Aquela menina seria o xodó da família, ela tinha certeza. Levantou-se da máquina, onde bordava uma colcha para o berço do bebê e apressou-se a ir à casa do irmão. A cunhada já estava pronta na cama, com os belos olhos azuis brilhando de felicidade. A menina tem os olhos azuis? Ela era herdeira do gene dos olhos azuis, havia muito a quem puxar: a mãe tinha os olhos azuis e mais duas irmãs dela também. Ela própria, a tia, e um de seus irmãos ostentavam um par de olhos da cor do céu. Não, ela tem os olhos castanhos, disse a mãe da cunhada.

O irmão fizera um bom casamento. A cunhada era uma esposa perfeita. Ele casara-se antes das eleições. Quando tomou posse, a mulher já estava grávida. Aproximou-se do berço. Quando viu o pacotinho branco, somente com os negros cabelos do lado de fora, sentiu que amaria aquela menina como se fosse sua filha.

O almoço está na mesa. Vamos!? Era a voz da cuidadora. Levou-a para a sala de jantar e aproximou a cadeira de rodas da mesa, onde uma das sobrinhas a esperava. Vovó – era assim que os sobrinhos mais novos a chamavam –, está chegando o seu aniversário. O que a senhora vai querer? Ela sorriu um sorriso maroto: Eu quero uma festa, com bolo confeitado, convite, missa e tudo mais. A sobrinha surpreendeu-se: Outra festa, vovó? A resposta veio em tom de ordem: Sim! Eu não tenho dinheiro? Até morrer vou festejar o aniversário.

O sorriso passou de brincalhão a irônico. O que ela ironizava? A vida, talvez. Será que está lúcida? Perguntou-se a sobrinha. Ela tem momentos de ausência, momentos em que se refugia no passado.

Fonte:
Colaboração da escritora.

26ª Feira do Livro Canoas (Programação)


Histórias chegam, ficam e partem daqui.
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05 a 20 de junho de 2010

Horário:
Segunda a sexta:- visitação 9h às 21h

-Livreiros: Das 9 às 20h.
Sábado: Das 9h às 18h30
Domingo: Das 10h30 às 17h

Calçadão e Praça da Bandeira

Patrona: Nelsi Inês Urnau

Xerife:Inácio Ritter Longui

Escritora Homenageada: Cíntia Moscovich

Cidade Homenageada: São Leopoldo

Tema: 25 anos da Trensurb


Informações e agendamento para escolas:
Secretaria Municipal de Cultura
Rua Ipiranga,105-Centro
Fone(Fax): (51) 34784449

Agendamento para Hora do Conto: 34621622

E-mail: feiradolivrocanoas@gmail.com
Blog: http//www.feiradolivrocanoas.blogspot.com/

Fornecem certificados para os participantes (professores e mediadores)

A Programação Geral está em http://sites.google.com/site/pavilhaoliterario/26a-feira-do-livro-canoas-programacao