quarta-feira, 7 de julho de 2010

Trova 161 - Apollo Taborda França (Curitiba/PR)

Fonte:
Trova sobre imagem obtida em http://riscando7.blogspot.com/2010/01/lazer.html

Apollo Taborda França (Baú de Trovas)


Meu coração é valente,
Não chora o mal que me fez...
E diz que bem de repente,
Termina a sua altivez!

Quando a gente ama não sente,
O mal que fazem prá nós
Escondemos d' alma silente,
Num secreto albornoz!

Coração que ama não chora
Males que afligem a gente;
Exalta e nunca deplora
A mágoa dura, pungente!

Melhor fora não amar,
Não ficaria à mercê...
Não seria mais vulgar,
De pensar tanto em você!

O teu sorriso menina
É feiticeiro demais...
Tão forte qual vitamina,
Muito alvoroça meus ais!

Das rosas do meu jardim,
Maria sempre a mais bela...
Perfuma mais que o jasmim,
Que floresce em torno dela!

Borboletas, aves, flores,
que bem nutrem os florais...
Dão contornos às silhuetas
Dos esbeltos pinheirais!

Aves grandes e pequenas,
De refulgentes roupagens...
Cores que vão às centenas,
Celebrizando as plumagens!

Página triste da vida,
Não se guarda na lembrança...
Sim, aquela bem querida,
Que nos trouxe a esperança!

Cada página da vida,
Faz lembrar um grande amor...
É você, minha querida,
A que guardo com fervor!
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Fonte:
FRANÇA, Apollo Taborda. Trovas Maravilhosas. Curitiba: O Formigueiro, 1986.

Bernardo Sá Barreto Pimentel Trancoso (Diálogos: A Ilha)


- Quem és - pergunta o Sol - no azul brilhante
Que o céu, mesmo distante, cede ao mar?
Por que persistes tanto em ser gigante,
Se és menos que o meu brilho, a refratar?

- Sou ilha. Esse meu verde exuberante
Faz aves, por aqui, virem pousar.
Meu lar, acolhedor, traz navegante
Que a areia, um só instante, quer beijar.

- Se atreves a afirmar que não és só?
Tuas matas e terras, não são vãs?
No mar, lembra-te ilhota, és vil, és pó.

- Não feito tu, estrela das manhãs,
De quem a solidão provoca dó:
Tu vens, e vão dormir tuas irmãs.

Fonte:
http://www.elsonfroes.com.br/sonetario/trancoso.htm

Lima Barreto (Clara dos Anjos)


Análise da obra

Concluído em 1922, ano da morte de Lima Barreto, o romance Clara dos Anjos é uma denúncia áspera do preconceito racial e social, vivenciado por uma jovem mulher do subúrbio carioca.

O Realismo-naturalismo, que tanto influenciou Lima Barreto na composição de Clara dos Anjos, é cientificista e determinista, considerando que as ações humanas são produtos de leis naturais: do meio, das características hereditárias e do momento histórico. Portanto, os romances naturalistas procuravam, através da representação literária, demonstrar teses extraídas de teorias científicas. Para isso, o Naturalismo buscou compor um registro implacável da realidade, incluindo seus aspectos repugnantes e grotescos. São exatamente esses os aspectos que mais chamam à atenção na narrativa exagerada de Clara dos Anjos.

Em Clara dos Anjos relata-se a estória de uma pobre mulata, filha de um carteiro de subúrbio, que apesar das cautelas excessivas da família, é iludida, seduzida e, como tantas outras, desprezada, enfim, por um rapaz de condição social menos humilde do que a sua. É uma estória onde se tenta pintar em cores ásperas o drama de tantas outras raparigas da mesma cor e do mesmo ambiente. O romancista procurou fazer de sua personagem uma figura apagada, de natureza "amorfa e pastosa", como se nela quisesse resumir a fatalidade que persegue tantas criaturas de sua casta.

Espaço

O romance passa-se no subúrbio carioca e Lima Barreto descreve o ambiente suburbano com riqueza de detalhes, como os vários tipos de “casas, casinhas, casebres, barracões, choças” e a vida das pessoas que ali vivem.

Ao descrever o subúrbio, Lima Barreto aborda o advento dos “bíblias”, os protestantes que alugam uma antiga chácara e passam a conquistar novos fiéis para seu culto:

Joaquim dos Anjos ainda conhecera a "chácara" habitada pelos proprietários respectivos; mas, ultimamente, eles se tinham retirado para fora e alugado aos "bíblias"… O povo não os via com hostilidade, mesmo alguns humildes homens e pobres raparigas dos arredores freqüentavam-nos, já por encontrar nisso um sinal de superioridade intelectual sobre os seus iguais, já por procurarem, em outra casa religiosa que não a tradicional, lenitivo para suas pobres almas alanceadas, além das dores que seguem toda e qualquer existência humana.” E reflete sobre a nova seita:

“Era Shays Quick ou Quick Shays daquela raça curiosa de yankees fundadores de novas seitas cristãs. De quando em quando, um cidadão protestante dessa raça que deseja a felicidade de nós outros, na terra e no céu, à luz de uma sua interpretação de um ou mais versículos da Bíblia, funda uma novíssima seita, põe-se a propagá-la e logo encontra dedicados adeptos, os quais não sabem muito bem por que foram para tal novíssima religiãozinha e qual a diferença que há entre esta e a de que vieram.”

A crítica às “novas seitas cristãs” revela também a ojeriza de Lima Barreto à influência americana no Brasil. Como o colocou Antônio Arnoni Prado, o autor de Clara dos Anjos “interessou-se pelos Estados Unidos, em virtude do tratamento desumano que este país dispensava aos seus cidadãos de cor. (…) Censurou duramente a discriminação racial americana, assim como o expansionismo imperialista dos ‘yankees’, que, através da diplomacia do dólar, ia, a seu ver, convertendo o Brasil num autêntico protetorado.” Nada mais profético.

Personagens

Marrameque - Poeta modesto, semiparalisado, Marramaque freqüentara uma pequena roda de boêmios e literatos e dizia ter conhecido Paula Nei e ser amigo pessoal de Luís Murat.

Lima Barreto denuncia, na figura de Marramaque, a influência das rodas literárias, grupos fechados que abundam no Brasil; a cultura da oralidade, dos que aprendem “muita coisa de ouvido e, de ouvido, falava de muitas delas”, tendo um cultura superficial, de verniz; e o azedume dos que não conseguem brilhar nas “rodas de gente fina”.

Clara: a “natureza elementar” - Clara era a segunda filha do casal, “o único filho sobrevivente…os demais…haviam morrido.” Tinha dezessete anos, era ingênua e fora criada “com muito desvelo, recato e carinho; e, a não ser com a mãe ou pai, só saía com Dona Margarida, uma viúva muito séria, que morava nas vizinhanças e ensinava a Clara bordados e costuras.”

O autor reitera sempre a personalidade frágil da moça – sua “alma amolecida, capaz de render-se às lábias de um qualquer perverso, mais ou menos ousado, farsante e ignorante, que tivesse a animá-lo o conceito que os bordelengos fazem das raparigas de sua cor” – como resultado de sua educação reclusa e “temperada” pelas modinhas:

Clara era uma natureza amorfa, pastosa, que precisava mãos fortes que a modelassem e fixassem. Seus pais não seriam capazes disso. A mãe não tinha caráter, no bom sentido, para o fazer; limitava-se a vigiá-la caninamente; e o pai, devido aos seus afazeres, passava a maioria do tempo longe dela. E ela vivia toda entregue a um sonho lânguido de modinhas e descantes, entoadas por sestrosos cantores, como o tal Cassi e outros exploradores da morbidez do violão. O mundo se lhe representava como povoado de suas dúvidas, de queixumes de viola, a suspirar amor.”

Essa “natureza elementar” de Clara se traduzia na ausência de ambição em melhorar seu modo de vida ou condição social por meio do trabalho ou do estudo:

Nem a relativa independência que o ensino da música e piano lhe poderia fornecer, animava-a a aperfeiçoar os seus estudos. O seu ideal na vida não era adquirir uma personalidade, não era ser ela, mesmo ao lado do pai ou do futuro marido. Era constituir função do pai, enquanto solteira, e do marido, quando casada. (…) Não que ela fosse vadia, ao contrário; mas tinha um tolo escrúpulo de ganhar dinheiro por suas próprias mãos. Parecia feio a uma moça ou a uma mulher.”

A descrição de Clara reforça os malefícios da formação machista, superprotetora, repressiva e limitadora reservada às mulheres na nossa sociedade. Ecoa, portanto, a descrição de Luísa, do romance O Primo Basílio, de Eça de Queirós, ou a Ana Rosa de O Mulato, de Aluísio de Azevedo. Todas são, na verdade, herdeiras diretas da figura de formação débil, educada nas leituras dos romances românticos, que é Emma Bovary, criada por Gustave Flaubert no romance inaugural do Realismo, Madame Bovary (1857).

Cassi: o corruptor - Por intermédio de Lafões, o carteiro Joaquim passa a receber em casa o pretendente de Clara, Cassi Jones de Azevedo, que pertencia a uma posição social melhor. Assim o descreve Lima Barreto:

Era Cassi um rapaz de pouco menos de trinta anos, branco, sardento, insignificante, de rosto e de corpo; e, conquanto fosse conhecido como consumado "modinhoso", além de o ser também por outras façanhas verdadeiramente ignóbeis, não tinha as melenas do virtuose do violão, nem outro qualquer traço de capadócio. Vestia-se seriamente, segundo as modas da rua do Ouvidor; mas, pelo apuro forçado e o degagé suburbanos, as suas roupas chamavam a atenção dos outros, que teimavam em descobrir aquele aperfeiçoadíssimo "Brandão", das margens da Central, que lhe talhava as roupas. A única pelintragem, adequada ao seu mister, que apresentava, consistia em trazer o cabelo ensopado de óleo e repartido no alto da cabeça, dividido muito exatamente ao meio — a famosa "pastinha". Não usava topete, nem bigode. O calçado era conforme a moda, mas com os aperfeiçoamentos exigidos por um elegante dos subúrbios, que encanta e seduz as damas com o seu irresistível violão.”

O padrinho Marramaque, que já lhe conhecia a fama, tenta afastá-lo de Clara quando percebe seu interesse. Na festa de aniversário da afilhada, provoca Cassi e deixa claro que ele não é bem-vindo ali e que seria melhor que se retirasse. Cassi vinga-se de modo violento: junta-se a um capanga e ambos assassinam Marramaque. Clara, que já suspeitava das ameaças do rapaz ao padrinho, passa a temê-lo, mas ele consegue seduzi-la, principalmente ao confessar seu crime, dizendo que matou por amor a ela.
Malandro e perigoso, Cassi já havia se envolvido em problemas com a justiça antes, mas sempre fora acobertado pela sua família, especialmente sua mãe, que não queria que fosse preso. Assim, conseguia subornar a polícia e continuar impune, mesmo depois de ter levado a mãe de uma de suas vítimas ao suicídio e da perseguição da imprensa.

O exagero narrativo de Lima Barreto torna-se patente ao descrever a figura do sedutor. Branco, sardento e de cabelos claros, é a antítese de Clara. Como o apontou Lúcia Miguel Pereira: “Até os animais da predileção de Cassi, os galos de briga, são apresentados com visível má vontade: ‘horripilantes galináceos’ de ‘ferocidade repugnante’.”

Joaquim dos Anjos - carteiro, acredita-se músico escreveu a polca, valsas,tangos e acompanhamentos de modina. polca: siti sem unhas; valsa: mágos do coração.

Uma polca sua - "Siri sem unhas" - e uma valsa - "Mágoas do Coração: - tiveram algum sucesso, a ponto de vender ele a propriedade de cada uma, por cinqüenta mil-réis, a uma casa de músicas pianos da Rua do Ouvidor. O seu saber musical era fraco; adivinha mais do que empregava noções teóricas que tivesse estudo.

Aprendeu a "artinha" musical da terra do seu nascimento, nos arredores de Diamantina, em cujas festas de igrejas a sua flauta brilhara, e era tido por muitos como o primeiro flautista do lugar. Embora gozando desta fama animadora, nunca quis ampliar os seus conhecimentos musicais. Ficara na "artinha" de Francisco Manuel, que sabia de cor, mas não saíra dela, para ir além (p.21/22)

Natural de Diamantina, filho único. A convite de um inglês, pesquisador, foi para o Rio de Janeiro e lá ficou. Confiava em todos que o rodeavam.

"Um dos traços mais simpáticos do caráter de Joaquim dos Anjos era a confiança que depositava nos outros, e a boa fé. Ele não tinha, como diz o povo, malícia no coração. Não era inteligente, mas também não era peco; não era sagaz, mas também não era tolo; entretanto, não podia desconfiar de ninguém, porque isso lhe fazia mal à consiência." (p.115)

Dona Engrácia - era católica, romana, filhos trazidos na mesma religião, era caseira, insegura, e rude.

Calado - músico e compositor brasileiro (polcas "Cruzes, minha prima!")

Patápio Silva - "Uma polca sua - "Siri sem unha"- e uma valsa - "Mágoas do coração" - tiveram algum sucesso, a ponto de vender ele a propriedade de cada uma, por cinqüenta mil-réis, a uma casa de música e piano da Rua Ouvidor." (p.21).

João Pintor - era um cidadão que visitava "os bíblias" aqueles que pregavam o evangelho. "era preto retinto, grossos lábios, malares proeminentes, testa curta dentes muito bons e muitos claros, longos braços, manoplas enormes, longas pernas e uns tais pés que não havia calçado."(p.25).

Mr. Shays - chefe da seita bíblica, homem tenaz cheio de eloqüência bíblica faz seus adeptos ouvir a palavra. Quando os adeptos se acham preparados põem-se a propagá-la.

Eduardo Lafões - religiosamente ia aos domingos à casa de Joaquim para jogar o solo. Eduardo Lafões gostava dos assuntos do comércio. Era um homem simplório, que só tinha agudeza de sentidos para o dinheiro. Vivendo sempre em círculos limitados, habituado a ver o valor dos homens nas roupas e no parentesco, ele não podia conceber que torvo indivíduo era o tal Cassi; que alma suja e má era dele, para se interessar generosamente por alguém.

Manuel Borges de Azevedo e Salustiana Baeta de Azevedo - pais de Cassi. O pai não gostava dos procedimentos do filho, enquanto a mãe, cobria-lhe as desfeitas com as proteções.

Dona Margarida Weber Pestana - viúva, mãe de Ezequiel, descendente de Alemão; ela, russa. Casou no Brasil com tipógrafo que falecera dois anos após o casamento. Era dona de uma pensão, mulher corajosa.

"O Senhor Ataliba do Timbó deu em certa ocasião em persegui-la com ditinho de Amor chulo. Certo dia, ela não teve dúvidas: meteu-lhe o guarda-chuva com vigor. À noite, no intuito de defender as suas galinhas da sanha dos ladrões, de quando em quando, abria um postigo, que abrira na janela da cozinha, e fazia fogo de revólver. Era respeitada pela sua coragem, pela sua bondade que era mulato, mais tinha os olhos glaucos, translúcidos, de sua mãe meio eslava, meio alemã, olhos tão estranhos - olhos tão estranhos e nós e, sobretudo, ao sangue dominante no pequeno." (p.60)

D. Laurentina Jácone - gostava de rezar, ficar zelando a igreja.

D. Vicêntina - cartomante.

"Além desta, havia uma digna de nota: era Dona Vicência. Morava na vizinhança também e vivia a deitar cartas e cortar "cousas feitas". O seu procedimento era inatacável e exercia a sua profissão de cartomante com toda a seriedade e convicção."(p.60)

Praxedes Maria dos Santos - gostava de ser tratado por doutor Praxedes. Foi um dos convidados de Joaquim. Era um homem bom. Ficou indeterminada das correspondência de Clara com o Cassi.

Etelvina - crioula, colega de Clara, notou a impaciência de Clara porque o rapaz Cassi ainda não chegara à festa.

Leonardo Flores - grande poeta.

Velho Valentim - era português.

Barcelos - um português fichado na detenção.

Arnaldo - era um colega do grupo dos valdevino (desoculpados que andava com Cassi).

"Cassi explicou-lhe então que devia ir, naquela tarde, à venda do Nascimento, cuja rua e cujo número lhe deu. Chegando lá, simularia ter ido procurar por "Seu" Menezes, que ele conhecia.

- Se ele não estiver? - indagou Arnaldo.

- Você diz que fica à espera e ouve o que se conversa lá. Nela, devem estar, entre outros o aleijadinho que anda sempre fardado. Ele não conhece você, como os outros, conforme espero. O que você ouvir, guarda e me conta. Se Meneses aparecer, você diz que quero falar com ele, negócio de interesse dele
." (p.91).

Menezes - o dentista da família. Intermediário dos bilhetes e cartas de Cassi para Clara. Senhor Monção - caixeiro vendedor; Belmiro Bernedes & Cia. - "tocava realejo", era um moço português, simpático, educado, e bom porte.

Helena - tia de Marramaque, econômica, prendada, costurava para o arsenal do governo.

D. Castolina - mulher de Meneses.

Leopoldo - marinheiro. Cedo, saiu de seio da família para melhorar de vida. Há 30 anos não via família. Meneses com a sua pobreza tratou de visitar o imrão já que eram os únicos vivos da família.

Enredo

Clara é uma mulata pobre, que vive no subúrbio carioca com seus pais, Joaquim e Engrácia, mulher “sedentária e caseira.” Joaquim era carteiro, “gostava de violão e de modinhas. Ele mesmo tocava flauta, instrumento que já foi muito estimado em outras épocas, não o sendo atualmente como outrora”. Também “compunha valsas, tangos e acompanhamentos de modinhas.” Além da música, a outra diversão do pai de Clara era passar as tardes de domingo jogando solo com seus dois amigos: o compadre Marramaque e o português Eduardo Lafões, um guarda de obras públicas.

Clara engravida e Cassi Jones desaparece. Convencida pela vizinha, dona Margarida, que procurara na tentativa de conseguir um empréstimo e fazer um aborto, ela confessa o que está acontecendo à sua mãe. É levada a procurar a família de Cassi e pedir “reparação do dano”. A mãe do rapaz humilha Clara, mostrando-se profundamente ofendida porque uma negra quer se casar com seu filho. Clara “agora é que tinha a noção exata da sua situação na sociedade. Fora preciso ser ofendida irremediavelmente nos seus melindres de solteira, ouvir os desaforos da mãe do seu algoz, para se convencer de que ela não era uma moça como as outras; era muito menos no conceito de todos.”

O autor representa, na figura de Clara e no seu drama, a condição social da mulher, pobre e negra, geração após geração. No final do romance, consciente e lúcida, Clara reflete sobre a sua situação:

O que era preciso, tanto a ela como às suas iguais, era educar o caráter, revestir-se de vontade, como possuía essa varonil Dona Margarida, para se defender de Cassi e semelhantes, e bater-se contra todos os que se opusessem, por este ou aquele modo, contra a elevação dela, social e moralmente. Nada a fazia inferior às outras, senão o conceito geral e a covardia com que elas o admitiam...”

E, na cena final, ao relatar o que se passara na casa da família de Cassi Jones para a sua mãe, conclui, em desespero, como se falasse em nome dela, da mãe e de todas as mulheres em iguais condições: “— Nós não somos nada nesta vida.”

Fonte:
http://www.passeiweb.com

Bernardo Sá Barreto Pimentel Trancoso (Soneto)


DEFINIÇÕES:

Soneto – Pequena composição poética composta de 14 versos, com número variável de sílabas, sendo o mais freqüente o decassílabo, e cujo último verso (dito chave de ouro) concentra em si a idéia principal do poema ou deve encerrá-lo de maneira a encantar ou surpreender o leitor. Pode ter a forma do soneto italiano (o mais praticado) ou do soneto inglês. (…). Fonte: Houaiss

Soneto – Composição poética, formada por quatorze versos geralmente distribuídos por dois quartetos e dois tercetos. S. estramboto: soneto com três tercetos, usado no século XVII. S. inglês: soneto formado por três quartetos independentes e um dístico. Fonte: Michaelis

COMO ESCREVER UM SONETO

Introdução

É quase um desaforo tentar ensinar regras a alguém que pretende escrever um poema, onde cada verso produzido resulta de uma inspiração que, além de individual, é uma manifestação do pensamento livre. Em outras palavras, não dá para dizer a um poeta “seja metódico em seus versos”. Deve partir do próprio poeta a iniciativa de seguir ou não as regras que existem nos sonetos.

A maioria dos poetas citados nessas páginas não se limitou a elaborar sonetos. Alguns deles, eu creio, foram atraídos pela história e pela sonoridade dessa composição. Um soneto é uma obra curta criada para transmitir uma mensagem em seus catorze versos, divididos em dois quartetos (grupos de quatro versos) e dois tercetos (três versos), ou três quartetos e um dístico (dois versos).

Métrica

Em primeiro lugar, os versos devem possuir a mesma métrica, ou seja, o mesmo número de sílabas poéticas. Uma sílaba poética é bem diferente de uma sílaba comum. É possível unir duas ou mais palavras em apenas uma sílaba poética. Veja o verso abaixo: “Busque amor, novas artes, novo engenho…” (Luis de Camões). Tente ler esse verso devagar, como se fosse uma só palavra, e vá contando quantas pausas existem até a última sílaba tônica.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Bus/que a/mor,/no/ vas/ ar/ tes,/ no/ vo en/ge/ nho

Você encontrou as dez sílabas poéticas, certo? Repare que a expressão “busque amor”, ao invés das quatro sílabas comuns (bus-que-a-mor), tem na poesia apenas três sílabas. Costuma-se ensinar as sílabas poéticas como sendo a forma em que são “ouvidos” os versos, por isso a sonoridade é importante em um soneto.

Camões escreveu seus sonetos (e Os Lusíadas também) usando sempre dez sílabas poéticas. Outro exemplo pertence a Vinícius de Moraes: “De tudo, ao meu amor serei atento…”. Poeticamente, o verso acima é dividido assim:

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
De/tu/ do ao /meu /a/ mor/ se/ rei/ a/ ten/ to

Versos com dez sílabas poéticas são chamados decassílabos. Outra forma famosa de escrever são os versos alexandrinos ou dodecassílabos (doze sílabas), conforme exemplo: “Sinto que há na minha alma um vácuo imenso e fundo…” (Machado de Assis). Tente perceber as doze sílabas. Se não conseguir, veja abaixo como o verso é dividido.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Sin /to/ que há /na/ mi/ nha al/ ma um/ vá /cuo i /men/ so e/ fun /do

Curiosamente, Olavo Bilac, um dos maiores poetas brasileiros, tinha em seu próprio nome um verso alexandrino: Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac. Dizem que ele já nasceu predestinado à poesia. Coincidência ou não, meu nome completo também é um verso alexandrino: Bernardo Sá Barreto Pimentel Trancoso.

Posicionamento de rimas

Além do número de sílabas, outra característica importante de um soneto é a ordem em que os versos rimam, ou posicionamento de rimas. Para os quartetos, existem três formas principais de posicionamento:

Rimas entrelaçadas ou opostas – abba (o 1º verso rima com o 4º, o 2º rima com o 3º):

“Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão – esta pantera -
Foi tua companheira inseparável…”
(Augusto dos Anjos)

“Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido,
Porque quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado…”
(Gregório de Matos)

Rimas alternadas – abab (o 1º verso rima com o 3º, o 2º rima com o 4º):

“Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha…”
(Olavo Bilac)

“Quando em teus braços, meu amor, te beijo,
se me torno, de súbito, tristonho,
é porque às vezes, com temor, prevejo
que esta alegria pode ser um sonho…”
(Martins Fontes)

Rimas emparelhadas – aabb (o 1º verso rima com o 2º, o 3º rima com o 4º):

“No rio caudaloso que a solidão retalha,
na funda correnteza na límpida toalha,
deslizam mansamente as garças alvejantes;
nos trêmulos cipós de orvalho gotejantes…”
(Fagundes Varela)

“Nada vai separar; existem laços.
Nem vai desenlaçar, nem nos espaços
Entre os passos que, juntos, damos sós,
Nem antes dos abraços, nem após…”
(Bernardo Trancoso)

Os tercetos, por sua vez, são mais flexíveis com relação ao posicionamento das rimas. Fernando Pessoa, por exemplo, usou a estrutura cdc ede nos tercetos a seguir:

“Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Mas – esta é boa! – era do coração
que eu falava… e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação?…”

William Shakspeare, por sua vez, escrevia, ao invés de dois tercetos, um quarteto e um dístico (cdcd ee).

“But thy eternal Summer shall not fade,
Nor lose possession of that fair thou ow’st,
Nor shall Death brag thou wander’st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow’st,
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee…”

Outros exemplos de posicionamento de rimas nos tercetos são cde cde, um dos mais famosos, cde edc e também cce dde. Ao passear pelos sonetos dessas páginas, tente notar que estilo o autor empregou em seus versos.

Escolha o que achar melhor para o seu soneto.

Até aqui falei de métricas e de rimas, encontradas na quase totalidade dos sonetos clássicos. Há sonetistas modernos, entretanto, que aboliram esses conceitos, usando versos brancos (sem rima) em suas composições. Martins Fontes escreveu o Soneto Monossílabo, onde cada verso tem uma sílaba apenas.

“Negro jardim onde violas soam
e o mal da vida em ecos se dispersa:
à toa uma canção envolve os ramos
como a estátua indecisa se reflete…”
(Carlos Drummond de Andrade)

Sonoridade

O último componente importante de um soneto é a sonoridade, isto é, onde estão as sílabas tônicas (ou fortes) de cada verso. Quando combinadas, essas sílabas fazem com que o soneto se pareça com uma suave canção. Quanto à sonoridade, os versos decassílabos classificam-se em dois tipos: heróicos e sáficos.

“Já Bocage não sou!… À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento…”
(Bocage)

Esses são versos decassílabos heróicos, porque as sílabas poéticas tônicas são a sexta e a décima, indicadas em negrito. Todos os 8816 versos de “Os lusíadas” são decassílabos heróicos. Um verso decassílabo sáfico, por sua vez, reforça a quarta, a oitava e a décima sílaba poética: “Vozes veladas, veludosas vozes…” (Cruz e Souza)

Finalmente, os versos alexandrinos possuem a quarta, a oitava e a décima-segunda sílaba poética como sílabas fortes, ou a sexta, a décima e a décima-segunda.

Conclusão:

O que mais torna um soneto possível? A inspiração, o tema, o conhecimento das palavras e das rimas, que serão mais ricas quanto mais rico for o vocabulário do sonetista. Por isso, a leitura de outros sonetos, poesias e livros é importante. A minha intenção é um dia poder publicar o seu soneto entre essas páginas. Escreva! Assim, você estará dando um passo rumo à eternidade das palavras e dos versos que compõem a nossa tão grandiosa literatura

Fonte:
Academia de Letras de Maringá. Obtido no site http://www.sonetos.com.br/

terça-feira, 6 de julho de 2010

Silviah Carvalho (Renúncia)


Amando-te mais que a vida,
Sigo meu caminho,
Nem posso dizer que existo,
Pois neste mundo me vejo sozinha.

Se ao menos pudesse vê-lo um dia,
E olhar nos seus olhos e sentir teu calor,
Talvez sobrevivesse essa falta de você,
Essa falta de amor.

Lágrimas caem do meu rosto,
Como cai lá fora a chuva constante,
Lágrimas de um sofrimento absurdo,
Que me martiriza a cada instante.

Sinto que cheguei fora do tempo aqui,
Ou o tempo teve pressa e não esperou por mim,
Agora, amando-te mais que a mim mesma,
Desisto de ti.

Para provar que te amo,
Renuncio minha felicidade para que sejas feliz,
Renuncio os sonhos que sonhei com você,
Renuncio minha paz, para que em paz você possa viver.

Porei vendas em meus olhos,
Para que eles não mais te procurem,
Atarei meu coração á mim,
Para que desesperado não fuja para ti.

Renuncio a vida, e tudo que eu sempre quis,
E quando secarem minhas lágrimas,
De chorar por ti, não pense que te esqueci.

Será o silêncio da renúncia,
Que eu mesma fiz,
Renunciei tudo, por ti.
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Fontes:
Colaboração da Autora
Imagem = http://ncahino.blogspot.com/

Literatura Brasileira (Parte 15 = A Produção Contemporânea)


Produção contemporânea deve ser entendida como as obras e movimentos literários surgidos nas décadas de 60 e 70 e que refletiram um momento histórico caracterizado inicialmente pelo autoritarismo, por uma rígida censura e enraizada autocensura. Seu período mais crítico ocorreu entre os anos de 1968 e 1978, durante a vigência do Ato Institucional nº 5 (AI-5). Tanto que, logo após a extinção do ato, verificou-se uma progressiva normalização no país.

As adversidades políticas, no entanto, não mergulharam o país numa calmaria cultural. Ao contrário, as décadas de 60 e 70 assistiram a uma produção cultural bastante intensa em todos os setores.

Na poesia, percebe-se a preocupação em manter uma temática social, um texto participante, com a permanência de nomes consagrados como Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Ferreira Gullar, ao lado de outros poetas que ainda aparavam as arestas em suas produções.

Visual - O início da década de 60 apresentou alguns grupos em luta contra o que chamaram "esquemas analítico-discursivos da sintaxe tradicional". Ao mesmo tempo, esses grupos buscavam soluções no aproveitamento visual da página em branco, na sonoridade das palavras e nos recursos gráficos. O sintoma mais importante desse movimento foi o surgimento da Poesia Concreta e da Poesia Práxis. Paralelamente, surgia a poesia "marginal", que se desenvolve fora dos grandes esquemas industriais e comerciais de produção de livros.

No romance, ao lado da última produção de Jorge Amado e Érico Veríssimo, e das obras "lacriminosas" de José Mauro de Vasconcelos ("Meu pé de Laranja-Lima", "Barro Blanco"), de muito sucesso junto ao grande público, tem se mantido o regionalismo de Mário Palmério, Bernardo Élis, Antônio Callado, Josué Montello e José Cândido de Carvalho. Entre os intimistas, destacam-se Osman Lins, Autran Dourado e Lygia Fagundes Telles,

Na prosa, as duas décadas citadas assistiram à consagração das narrativas curtas (crônica e conto). O desenvolvimento da crônica está intimamente ligado ao espaço aberto a esse gênero na grande imprensa. Hoje, por exemplo, não há um grande jornal que não inclua em suas páginas crônicas de Rubem Braga, Fernando Sabino, Carlos Heitor Cony, Paulo Mendes Campos, Luís Fernando Veríssimo e Lourenço Diaféria, entre outros. Deve-se fazer uma menção especial a Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto), que, com suas bem humoradas e cortantes sátiras político-sociais, escritas na década de 60, tem servido de mestre a muitos cronistas.

O conto, por outro lado, analisado no conjunto das produções contemporâneas, situa-se em posição privilegiada tanto em qualidade quanto em quantidade. Entre os contistas mais significativos, destacam-se Dalton Trevisan, Moacyr Scliar, Samuel Rawet, Rubem Fonseca, Domingos Pellegrini Jr. e João Antônio.
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Parte 1 - Origens = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-1-origens.html
Parte 2 - Quinhentismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-2-o.html
Parte 3 - Barroco = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-3-o-barroco.html
Parte 4 - Arcadismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-4-o.html
Parte 5 - Romantismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-5-o.html
Parte 6 - Realismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-6-realismo.html
Parte 7 - Naturalismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-7.html
Parte 8 – Paranasianismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-8-o.html
Parte 9 – Simbolismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-9-o.html
Parte 10 - Pré-Modernismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/07/literatura-brasileira-parte-10-pre.html
Parte 11 - Semana de Arte Moderna - http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/07/literatura-brasileira-parte-11-semana.html
Parte 12 - Modernismo - primeira fase = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/07/literatura-brasileira-parte-12.html
Parte 13 – Modernismo – segunda fase = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/07/literatura-brasileira-parte-13-o.html
Parte 14 – Pós-Modernismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/07/literatura-brasileira-parte-14-pos.html
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Fonte:
http://www.vestibular1.com.br

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Heitor Stockler (Palmeira)


Minha Canção do Berço Natal

Palmeira, onde nascí
Pequena e linda entre os dois rios da minha infância,
Vê que, apesar de longa ausência e da distância,
Eu penso em ti!

Meu coração não erra
Quando, batendo aflito e de saudade cheio,
Evoca e chama a meninice, em doce enleio
E o amor da terra,

Esse rocio imenso
Que é um patrimônio a te envolver em mil venturas,
Porque te veio de uma fonte das mais puras,
Que era o bom senso

Conclamados, assim,
Jamais esqueço, num dia cinco de novembro
Cheguei à vida e vieram muitos, se me lembro,
Tal como vim.

Eram tantos e tantos,
Trazendo ideais bem como os meus, todos felizes,
Pisando flores ou curando cicatrizes.
Almas de santos.

Formosa companhia,
Uma brigada, uma legião de travessura,
Mas, só com ela, tão ardente e de alma pura,
Bem me sentia.

E anos e mais anos,
Naquele âmbito restrito da cidade,
Passava o tempo, sem pensar na mocidade,
Nos desenganos.

Era ditosa a vida...
Da Rua das Tropas a ao Cemitério,
Nenhum recanto, para mim, tinha mistério.
Fase querida!

Mas, sempre aventuroso,
Saía em busca de paisagem mais tranqüilas
Nos arredores, nos povoados e nas vilas
Ou mato umbroso.

Fiel aos caprichos meus,
Vezes a pé, ou a cavalo ou de carroça,
Eu palmilhava desde a Lapa a Ponta Grossa,
E São Mateus,

Na divisa legal,
No Tibagí, nos Papagaios, no Iguaçú,
Chapéu de palha, sapatão de couro cru
E o meu bornal.

Inquieto caminhante
Voltas eu dava ao município do meu berço,
Sempre ditoso, prazenteiro, guapo e terso
Mas, sem rompante.

Palmeira onde nascí,
Pequena e linda entre os dois rios da minha infância...
Vê que, apesar da longa ausência e da distância...
Eu te consagro, eu te venero, eu vivo em ti!.

HINO À PALMEIRA:
Letra de Heitor Stockler de França
Música de José Shön

- I -
Palmeira, revivamos teu passado
Tuas nobres e sublimes tradições
As Fases de tua vida e do teu Fado
Que Fulgem no esplendor dos teus Brasões
- II -
Façamos das tuas glórias claro espelho,
Rota em flor, no presente e no porvir,
Um Missal com exemplos do evangelho,
aos filhos desta terra sempre a unir
-III-
Lembremos tua feição de Lugarejo
Ansioso de ser Vila e ser Cidade,
Que assim vislumbrou Fortuito ensejo,
Fez-se um recanto de felicidade
-IV-
Chamemos à memória os Ancestrais,
Audazez bandeirantes da grandeza,
Que ao fundarem as Rondas e os Currais,
Geraram disciplina e a riqueza
-V-
És sempre Essa Palmeira acolhedora
Que aos filhos de outras Plagas propicia
Fartura, bem estar e promissora
Era de paz, de amor e de alegria
-VI-
Palmeira, altiva, Edênico rincão,
com boas auras tutelas nosso lar...
Por isso, te erigimos um altar
Florido em festa em nosso coração.
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A Cidade de Palmeira

Palmeira é um município brasileiro do Estado do Paraná, próximo á cidade de Ponta Grossa famosa por ter sido berço da Colônia Cecília.

Em 1819, o vigário Antônio Duarte dos Passos recebeu por doação do Tenente Manoel José de Araújo um terreno para edificar uma igreja que seria a Matriz de uma nova freguesia dos Campos Gerais, em 7 de abril de 1819, considerada a data oficial da fundação de Palmeira. Porém, somente a 3 de julho de 1820 é que iniciou-se a construção da igreja. Em 8 de setembro é transferida oficialmente a freguesia de Tamanduá para Palmeira com o nome de Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Palmeira. As obras da Igreja Matriz são concluídas em 1837 quando é feita a sua inauguração. Em 15 de fevereiro de 1870 a freguesia é levada à condição de Vila de Nossa Senhora da Conceição da Palmeira. A partir da elevação de Palmeira à condição de Vila, adquiriu o direito de ter autoridades executivas e legislativas municipais. O primeiro presidente da Câmara de vereadores foi o Padre José Antônio Camargo e Araújo e o primeiro Prefeito foi o Capitão João Padilha de Oliveira.

A região já era povoada por ricos fazendeiros portugueses, antigos Bandeirantes Paulistas que se fixaram na região, caboclos e negros descendentes de escravos. A partir de 1878, por iniciativa dos governos provincial e imperial começam a se fixar na região outras colônias de imigrantes:

Russos Alemães: começaram a chegar em 1878 e formaram 7 núcleos ou colônias de povoação. Se dividiam em católicos e luteranos. Muitos abandonaram a atividade agrícola e passaram a se dedicar ao serviço de transporte de mercadorias com carroções. Outros passaram a trabalhar em obras públicas e outras ainda em atividades urbanas.

Poloneses: chegaram a partir de 1888. Agricultores por excelência, se espalharam pelo município formando várias colônias.

Italianos - Anarquistas: chegaram em 1890, motivados por Giovani Rossi para implantar a primeira Colônia Anarquista da América, mundialmente conhecida como "Colônia Cecília". A mesma acabou alguns anos depois por motivos internos e externos, os imigrantes italianos se transferiram para várias regiões do Brasil, contribuindo decisivamente para o surgimento do movimento sindical em nosso país. Ficam em Palmeira apenas três famílias.

Alemães Menonitas: chegam em 1951 e fundam a Colônia Witmarsum e a Cooperativa Mista Agropecuária Witmarsum Ltda. que é grande produtora de leite e seus derivados e de frango com a marca Cancela.

Russos Brancos: chegaram em 1958 e se fixaram na localidade de Santa Cruz, entre Ponta Grossa e Palmeira, dedicando-se a atividade agrícola.

Sírio-Libaneses, Palestinos, Egípcios e Japoneses: chegaram no início do século XX. Os Sírio Libaneses se dedicaram ao comércio e os Japoneses ao comércio e a agricultura.

Fontes:
Poesias de autores Palmeirenses do Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira
http://www.radioipiranga.com.br/palmeira.html
http://pt.wikipedia.org/

Otávio Venturelli (Noites de Frio)


Nos dias gelados do inverno na Serra
o frio recita o Poema da geada ,
a grama se veste de branco enfeitada ,
e o vento da noite segredos encerra .

A lua , pisando de leve na terra ,
invade a janela de vidros fechada ,
a conta das horas a insônia não erra ,
e as dores mantém a minha alma acordada .

Imagens passeiam em minha memória ,
são mágoas retidas ao curso da história ,
vividas , sofridas e amadas em vão ...

Então me levanto , e afastando a tristeza
acendo o meu quarto , e essa lâmpada acesa
apaga a saudade no meu coração !

Fontes:
Colaboração de Pedro Ornellas
Imagem = UNESP São José do Rio Preto

IV Jogos Florais de Balneário Camboriú 2010 (Resultado Final)

Pescadores de Camboriú (pintura de Neiva Passuello)
Troféu Arlindo Tadeu Hagen ÂMBITO NACIONAL Tema: VENTO(S) VENCEDORES: Na era do “ponto.com”, voa o sonho mais ligeiro: -um clique... e, qual vento bom, chega a trova ao mundo inteiro! Antonio Augusto de Assis – PR Eu trago no pensamento tantas angústias e apelos, e sinto inveja do vento quando roça os teus cabelos. Clenio Borges-RS Eu te agradeço, Senhor, este vento que acarinha, que traz mensagens de amor a quem vive tão sozinha! Delcy Canalles- RS O vento varre a ansiedade e as folhas secas do chão, só não varre esta saudade que corta o meu coração. Flávio Roberto Stefani- RS Voa longe o pensamento... Ah, que saudade me dói: -Assopra mãe, sopra um vento para curar meu dodói... -O que é o vento, mamãezinha, que a gente não vê mas sente? E a mãe responde: “Filhinha, vento é Deus beijando a gente...” Gilvan Carneiro Silva-RJ Quando é puro o sentimento, quem faz o bem, faz de graça e é discreto como o vento que move o moinho e passa... Inconstante como o vento, o tempo não nos perdoa: Se vamos mal, ele é lento; se vamos bem, ele voa! Longe de tudo, sozinho, após tantos vendavais, eu sou um velho moinho, que o vento não move mais... Hegel Pontes – MG Desencantado da vida, do amor - em total entrega-, sou folha no chão caída que nem o vento carrega. João Costa – RJ O bom jangadeiro, atento ante o mar que se encapela, não culpa o rigor do vento... Prefere ajustar a vela!... Que a sorte ajuda, sustento; mas vence quem tem valor... De nada vale o bom vento para o mau navegador!... José Tavares de Lima – MG Em “Mal sem Pena”... não creia! -Segundo seus Ancestrais, “Para quem VENTOS semeia... ...os frutos são... Vendavais!... Maria Madalena Ferreira – RJ Estou só... e, eu me contento em debruçar-me à janela... -Lá fora, há o luar e o vento trazendo recados dela!... Rodolpho Abbud – RJ MENÇÕES HONROSAS: O vento, soprando forte, do galho derruba o ninho. Dos filhos chorando a morte, pia triste o passarinho. Algustinho Saco - PR Calquei meu pingo na espora me estribei no pensamento com o pala cor de aurora parti galopando o vento. Doralice Gomes da Rosa-RS De essência controvertida, mas sempre às ordens da sorte, ora o vento ampara a vida, ora o vento espalha a morte! Ederson Cardoso de Lima-RJ O vento, feito um açoite, num burburinho profundo, murmura, dentro da noite, todos segredos do mundo! Eduarto Tolego - MA
Aprisionado à rotina do trabalho e da vaidade, não vi o vento em surdina varrer minha mocidade. Joana D’arc da Veiga – RJ Quando o fracasso me alcança, qualquer derrota rejeito... Pois o vento da esperança sopra mais forte em meu peito! João Freire Filho – RJ Vento, eterno viajor desses mares sem guarida, traz-me a jangada do amor que perdi no mar da vida! José Lucas de Barros – RN Ouço no vento o lamento dos solitários tristonhos que viram, da vida, o vento amarrotar os seus sonhos! Marisa Rodrigues Fontalva - SP Quem dera, na humanidade, pudessem os pensamentos ter a mesma liberdade que têm as asas dos ventos! Sandro Pereira Rebel – RJ A doce canção do vento à minha alma tanto diz que embala meu pensamento e sonho que sou feliz!... Sonia Mª Ditzel Martelo-PR MENÇÕES ESPECIAIS: Docemente em meu ouvido, a tua respiração é o vento leve, contido, que areja o meu coração. Almerinda Liporage-(Tita)– RJ Eu sinto o vento que passa portador de boa nova, enchendo de rima e graça os quatro versos da trova. António José Barroso Barradas - Portugal Passaste...e por um momento plantar-te em meu peito quis, mas és livre, tal qual vento, e vento não tem raiz... Élbea Priscila de Souza e Silva – SP Na força do bem sê crente, quando a maldade te assalta, que vento açoita inclemente a palmeira que é mais alta! José Valdez de Castro Moura – SP No céu, a branca tropilha galopa no firmamento, corcéis de nuvens em trilha, comandadas pelo vento! Lisete Johnson – RS Que importa se o vento em açoites faz das folhas estilhaços... Tenho a volúpia das noites no aconchego dos teus braços. Maria Campos da Silva Velho – SP Lá fora o vento não passa e em mim não passa o desgosto.. Chora a chuva na vidraça, chora a saudade em meu rosto!... Marilucia Rezende – SP Num engano de momento, a vida se transformou... Eu fui rosa...foste vento que ao passar...me desfolhou... Um pássaro engaiolado, mesmo com todo alimento, parece invejar, magoado, a liberdade do vento!... Marina Bruna – SP Deixa o que passou “de lado”, a vida é um ensinamento... Pois lamentar o passado, é correr atrás do vento!... Roberto Tchepelentyky- SP Eu confesso o amor secreto que sinto – e você não vê – para que o vento, indiscreto, conte o segredo...a você! Fez juras – embora negue- nas cartas, que eu faço em tiras, para que o vento carregue todas as suas mentiras! Therezinha Dieguez Brisolla -SP Em vez de gritar ao vento que tens um grande saber, mostra o teu real talento: Age...sem nada dizer! Vanda Fagundes Queiroz-PR Suporto os ventos medonhos, não me curvo aos vendavais, pois as vigas dos meus sonhos suportam os temporais. Wilma Mello Cavalheiro-RS SANTA CATARINA Tema:SEGREDO(S) VENCEDORES: Dum segredo não contenho, toda noite uma visão: -a mãezinha que não tenho vem ninar-me uma canção... ARI SANTOS DE CAMPOS O segredo é chama acesa pérola em concha fechada, guardando sua beleza para ser vista e admirada Quando há segredo de amores, como envelopes lacrados, se abertos são como flores e eternos, quando fechados. EDUARDO ARTHUR PEREIRA Nem brincando eu vou contar o nosso grande segredo, vou pôr no fundo do mar onde o guardarei sem medo! EFIGÊNIA COUTINHO Um segredo bem guardado para assim permanecer não deve ser partilhado para nunca se perder. ELIANA RUIZ JIMENEZ Para mim, não há segredos, meu mar, de infinito azul, nós convivemos sem medos, nas belas praias do Sul! Um segredo que me assusta: -Não saber, se após a morte, há uma vida boa e justa, que não dependa da sorte! GISLAINE CANALES A vida é tão passageira, para que tanto segredo? Se você me ama inteira revele ao mundo, sem medo! GLEDIS TISSOT Lá vai o bom sonhador com o seu segredo enorme. Ele o guarda com amor até mesmo quando dorme. LUCAS BARBOSA O segredo é chama acesa pérola em concha fechada, guardando sua beleza para ser vista e admirada. MARA TERESINHA SOUZA Segredo... Calou no peito um sentimento profundo. Não revelo... Não tem jeito. Selado está para o mundo. Por que guardo esse segredo se vivo a me torturar, fazendo dele um enredo que só me leva a chorar? MARIA CARMEN VAREJÃO Eu já fui um beija flor em outras vidas passadas: - era segredo em louvor às flores desamparadas. Meu bem chegue aqui pertinho, tenho um segredo a contar: o teu amor e carinho, lamento, não vou guardar! MARIA LUIZA WALENDOWSKY Quem sabe do meu segredo é só o céu, só o mar. Desse fato sou sem medo sei que eles não vão contar. MIRIAM WEBER Quando há segredo de amores, como envelopes lacrados, se abertos são como flores e eternos, quando fechados. TAMARA KAUFMANN MENÇÕES HONROSAS: De segredos, sou cativo: desse jeito não aguento!... Já pareço um morto-vivo destroçado num tormento! ARI SANTOS DE CAMPOS Fiz da mente uma clausura: -mente assim me mete medo... Mas a mente é tão segura que até guardo o meu segredo!... Vou rezar o meu rosário para Deus vir me salvar: pois um segredo ordinário me sufoca sem parar!... EDSOM LUIZ MAURICI- LUIGI Você sabe o meu segredo, mas outros sabem também, que outros saibam, tenho medo, pois ninguém guarda, ninguém! EFIGÊNIA COUTINHO O futuro do planeta não é segredo a ninguém preserve e se comprometa que a vida assim se mantém. ELIANA RUIZ JIMENEZ Quero dizer-te um segredo que não confio a ninguém: "eu te amo", e estou com medo! E peço aos anjos amém. GLEDIS TISSOT Vou contar os teus segredos, pintar no muro com giz, hoje já não tenho medos, não te quero como eu quis. JOSEANE GILI Este grande coração tem o seu segredo imenso, que, com amor e emoção é a chave do consenso. LUCAS BARBOSA O pescador, sem ter medo de ver seu barco emborcar, do seu amor faz segredo, Não sabe se vai voltar... MIRIAM WEBER Se as abelhas caprichosas soubessem segredos meus, deixavam o mel das rosas pelo mel dos lábios teus. MOACIR FIGUEIREDO Teus olhos e o teu olhar, lembram impuros desejos que não posso revelar, são os segredos dos beijos! RONI ANTONIO COSTA MENÇÕES ESPECIAIS: Nesta casa, sem tramela, tem um segredo guardado: -é na verdade uma cela, este meu crânio fechado. ALAÉRCIO JOSÉ LOPES Nas estrelas escondi, meu segredo, meu amor! Hoje padeço, aprendi, que ter segredo é temor. ALZIRA D’ALL AGNOL Um segredo bem guardado é uma prova de amor, para quem foi confiado entregar a grande dor. EDLA DA COSTA SENS Esse mundo feminino de segredos permeado é um gracejo do destino pelos homens odiado. ELIANA RUIZ JIMENEZ Enquanto durar o amor você viverá com medo, mas seus olhos têm calor que mostram o seu segredo. GLEDIS TISSOT Sua boca tem segredos, e assim, você me seduz, revelo então, os meus medos que nem a noite reluz! JULIANA APPEL A arte de manter segredo é reter velhas lembranças, se contar me faz ter medo e enclausurar esperanças. LEANDRO DE SOUZA As estrelas sabem bem o segredo do Universo, mas o silêncio mantém, e inspiram o nosso verso. MARA TERESINHA SOUZA Quem não possui um segredo nesta vida, não viveu, temos guardado, com medo, o que não aconteceu. MARA TERESINHA SOUZA Língua Hispânica Tema: BESO(S) GANADORES Serás mis rosas tempranas y aunque fui leso de lesos, yo vestiré tus mañanas con un bordado de besos. ANTONIO ALEJANDRO ARJONA RAMÍREZ- ESPAÑA Besos que elevan al cielo En la dicha y bienestar, Son la gloria y el consuelo; Obra de quien sabe amar. CARLOS RODRÍGUEZ SÁNCHEZ-VENEZUELA Solo un beso es cual armiño del más divino, querer, que la madre da a su niño, ¡cuando acaba de nacer! CRISTINA OLIVEIRA CHAVEZ-MÉXICO-USA Doy un beso agradecida al árbol que está sembrado, con su vida nos da vida ¡aun, después de ser cortado! Era un niño silencioso... Con la mirada me amaba, y con un beso amoroso ¡sin tocarme me besaba! CRISTINA OLIVEIRA CHAVEZ- MÉXICO-USA Tu beso de la mañana es panal lleno de miel y el de la noche es campana que vibra sobre mi piel. ELENA GUEDE ALONSO –PERU Beso sensual que yo ansío quiero sentir tu sabor…, te necesito bien mío, calma mis ansias de amor. Hoy un beso de tu boca es fuego de mi emoción…, se ha roto el cristal de roca del dique de mi pasión. ELIZABETH LEYVA RIVERA-MÉXICO El beso es culminación de la atracción de dos seres y también preparación de los más gratos placeres. HÉCTOR JOSÉ CORREDOR CUERVO-COLOMBIA Un beso que no se olvida siempre es un beso de amor, en el que entregas la vida y te alejas del dolor. ¡Ay beso!, beso bendito que me has robado la calma, llegas lento y despacito y te anidaste hoy en mi alma. LIZ CASTRO RIVERA- MÉXICO
En el chasquido de un beso se escucha la melodía de un corazón que está preso con pasión, de noche y día. El amor que nos encanta y en el tiempo queda impreso, es aquel que se agiganta en la dulzura de un beso. MANUEL SALVADOR LEYVA MARTÍNEZ- MÉXICO En alas de una paloma ... Viajará mi beso amigo , Y el encanto de tu aroma , Le dará su amor y abrigo ! MIGUEL ANGEL ALMADA-ARGENTINA Son tus besos alimento a mi alegre corazón de mi boca es el aliento de mi vida la razón. MIRTA LÍLIAN CORDIDO- ARGENTINA MENCIÓN HONROSA Cuando tus ojos yo beso todo es tan pura ternura por eso yo te confieso ¡Besarlos, es gran dulzura! Besos suaves de seda abrigan, y dan calor pido se me conceda, refugiarme en tu ardor... ÁNGELA DESIRÉE PALACIOS B- VENEZUELA De mi madre con sus besos cure todos mis dolores; Y mi vida con sus rezos quedó salva de temores. CARLOS IMAZ ALCAIDE -FRANCIA Receta maravillosa que en tus besos he probado: amor en salsa jugosa y de pasión salpicado. ELENA GUEDE ALONSO - PERU Cuando me robaste un beso aquella tarde en el río mi corazón quedó preso de tu amor que ahora es mío. Me entregué completamente a ese beso apasionado y disfruté dulcemente todo lo que hube soñado. GLORIA RIVERA ANDREU-MÉXICO Cuando los besos se dan por el amor que sentimos, montamos en alazán y al cielo nos dirigimos. HILDEBRANDO RODRÍGUEZ-VENEZUELA En el sublime embeleso de mi inquieto corazón, aun conservo yo aquél beso que me robó la razón. LIZ CASTRO RIVERA-MÉXICO Lo sublime del destino y lo juro por Dios Padre es el instante divino del beso que da una madre. MANUEL SALVADOR LEYVA MARTÍNEZ-MÉXICO Em el polen de tu beso nace la flor del amor, mi corazón está preso en tu fuego abrasador. MARIA CRISTINA FERVIER-ARGENTINA
No voy a dejar de amarte, en mí seguirás latiendo. Aunque no pueda tocarte, tus besos estoy pidiendo. RAMÓN ROJAS MOREL-ARGENTINA La vida es una delicia que nos ofrece el Señor, el beso es una caricia y es un regalo de amor. RENE B. ARRIAGA DEL CASTILLO-MÉXICO MENCIÓN ESPECIAL Lo fuiste todo en mi vida. Por eso, sólo por eso, si vuelves arrepentida, yo aceptaré tu beso. ANTONIO ALEJANDRO ARJONA RAMÍREZ- ESPAÑA El besar con emoción a todo el mundo complace; pues los besos por su acción nos redime y satisface. Si los besos proporcionan la mayor satisfacción, parejas que reflexionan, se los dan con emoción. CARLOS RODRÍGUEZ SÁNCHEZ-VENEZUELA se compra, lo confeso, y tú lo debes saber que el hombre que paga un beso no tiene buena mujer... CARMEN PATIÑO FERNÁNDEZ- CARMIÑA-ESPAÑA Hacia ti va el sentimiento de que te amo lo confieso... hoy siento el atrevimiento de florecer con tu beso. ELIZABETH LEYVA RIVERA-MÉXICO Tu beso es un caramelo. Con el sabor del amor. Me transporta hacia el cielo. Todo gira alrededor. LIBIA BEATRIZ CARCIOFETTI-ARGENTINA Ha pasado mucho tiempo sin embargo lo confieso mi boca sin contratiempo tiene el sabor de tu beso. LIZBETH RIVERA ANDREW-MÉXICO Sobre tus labios el beso Sabe de fresa y a menta. Cuán grande amor te profeso Que a mis sueños alimenta. MARIA CRISTINA FERVIER-ARGENTINA Con los besos que me diste tejí mi collar de estrellas y cuando tuya me hiciste me quemaba cual centellas, MARTHA ALICIA QUI DE ZAMORANO-MÉXICO Cuando encuentres el calor... De tu corazón en calma, Hallarás besos de amor, En las ventanas de tu alma! MIGUEL ANGEL ALMADA-ARGENTINA Hermosos besos de vida, donan las eternas brisas, entre cantata ascendida, ¡entre luces y sonrisas! MIGUEL ÁNGEL MUÑOZ CORTÉS-ESPAÑA Ese beso apasionado que me das amado mío lo llevo muy bien guardado en las noches de rocío. NORA LANZIERI-ARGENTINA Tus besos me comunican los latidos de tu ser y siento cómo armonizan la fuerza de mi querer. RAMÓN ROJAS MOREL- ARGENTINA Regálame niña un beso en esta noche de luna, y en un verso quede preso te amaré como a ninguna. RENE B. ARRIAGA DEL CASTILLO- MÉXICO Fonte: Colaboração de A. A. de Assis

Literatura Brasileira (Parte 14 = Pós-Modernismo)


O Pós-Modernismo se insere no contexto dos extraordinários fenômenos sociais e políticos de 1945. Foi o ano que assistiu o fim da Segunda Guerra Mundial e o início da Era Atômica com as explosões de Hiroshima e Nagasaki. O mundo passa a acreditar numa paz duradoura. Cria-se a Organização das Nações Unidas (ONU) e, em seguida, publica-se a Declaração dos Direitos do Homem. Mas, logo depois, inicia-se a Guerra Fria.

Paralelamente a tudo isso, o Brasil vive o fim da ditadura de Getúlio Vargas. O país inicia um processo de redemocratização. Convoca-se uma eleição geral e os partidos são legalizados. Apesar disso, abre-se um novo tempo de perseguições políticas, ilegalidades e exílios.

A literatura brasileira também passa por profundas alterações, com algumas manifestações representando muitos passos adiante; outras, um retrocesso. O jornal "O Tempo", excelente crítico literário, encarrega-se de fazer a seleção.

Intimismo - A prosa, tanto nos romances como nos contos, aprofunda a tendência já trilhada por alguns autores da década de 30 em busca de uma literatura intimista, de sondagem psicológica, introspectiva, com destaque para Clarice Lispector.

Ao mesmo tempo, o regionalismo adquire uma nova dimensão com a produção fantástica de João Guimarães Rosa e sua recriação dos costumes e da fala sertaneja, penetrando fundo na psicologia do jagunço do Brasil Central.

Na poesia, ganha corpo, a partir de 1945, uma geração de poetas que se opõe às conquistas e inovações dos modernistas de 1922. A nova proposta foi defendida, inicialmente, pela revista "Orfeu", cujo primeiro número é lançado na "Primavera de 1947" e que afirma, entre outras coisas, que "uma geração só começa a existir no dia em que não acredita nos que a precederam, e só existe realmente no dia em que deixam de acreditar nela."

Essa geração de escritores negou a liberdade formal, as ironias, as sátiras e outras "brincadeiras" modernistas. Os poetas de 45 partem para uma poesia mais equilibrada e séria, distante do que eles chamavam de "primarismo desabonador" de Mário de Andrade e Oswald de Andrade. A preocupação primordial era quanto ao restabelecimento da forma artística e bela; os modelos voltam a ser os mestres do Parnasianismo e do Simbolismo.

Esse grupo, chamado de Geração de 45, era formado, entre outros poetas, por Lêdo Ivo, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Geir Campos e Darcy Damasceno. O final dos anos 40, no entanto, revelou um dos mais importantes poetas da nossa literatura, não filiado esteticamente a qualquer grupo e aprofundador das experiências modernistas anteriores: ninguém menos que João Cabral de Melo Neto. Contemporâneos a ele, e com alguns pontos de contato com sua obra, destacam-se Ferreira Gullar e Mauro Mota.
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Parte 6 - Realismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-6-realismo.html
Parte 7 - Naturalismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-7.html
Parte 8 – Paranasianismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-8-o.html
Parte 9 – Simbolismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-9-o.html
Parte 10 - Pré-Modernismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/07/literatura-brasileira-parte-10-pre.html
Parte 11 - Semana de Arte Moderna - http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/07/literatura-brasileira-parte-11-semana.html
Parte 12 - Modernismo - primeira fase = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/07/literatura-brasileira-parte-12.html
Parte 13 – Modernismo – segunda fase = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/07/literatura-brasileira-parte-13-o.html
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domingo, 4 de julho de 2010

Literatura Brasileira (Parte 13 = O Modernismo - segunda fase)


O período de 1930 a 1945 registrou a estréia de alguns dos nomes mais significativos do romance brasileiro. Refletindo o mesmo momento histórico (Queda da Bolsa de Nova York, colapso no sistema financeiro internacional, a Grande Depressão - paralisação de fábricas, ruptura nas relações comerciais, falências bancárias, altíssimo índice de desemprego, fome e miséria generalizadas - gerando a intervenção do Estado na organização econômica, com agravamento das questões sociais.) e apresentando as mesmas preocupações dos poetas da década de 30 (Murilo Mendes, Jorge de Lima, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles e Vinícius de Moraes), a segunda fase do Modernismo apresenta autores como José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Érico Veríssimo, que produzem uma literatura de caráter mais construtivo, de maturidade, aproveitando as conquistas da geração de 1922 e sua prosa inovadora.

Efeitos da crise - Na década de 30, o país passava por grandes transformações, fortemente marcadas pela revolução de 30 e pelo questionamento das oligarquias tradicionais. Não havia como não sentir os efeitos da crise econômica mundial, os choques ideológicos que levavam a posições mais definidas e engajadas. Tudo isso, formou um campo propício ao desenvolvimento de um romance caracterizado pela denúncia social, verdadeiro documento da realidade brasileira, atingindo um elevado grau de tensão nas relações do indivíduo com o mundo.

Nessa busca do homem brasileiro "espalhado nos mais distantes recantos de nossa terra", no dizer de José Lins do Rego, o regionalismo ganha uma importância até então não alcançada na literatura brasileira, levando ao extremo as relações do personagem com o meio natural e social. Destaque especial merecem os escritores nordestinos que vivenciam a passagem de um Nordeste medieval para uma nova realidade capitalista e imperialista. E nesse aspecto, o baiano Jorge Amado é um dos melhores representantes do romance brasileiro, quando retrata o drama da economia cacaueira, desde a conquista e uso da terra até a passagem de seus produtos para as mãos dos exportadores. Mas também não se pode esquecer de José Lins do Rego, com as suas regiões de cana, os bangüês e os engenhos sendo devorados pelas modernas usinas.

O primeiro romance representativo do regionalismo nordestino, que teve seu ponto de partida no Manifesto Regionalista de 1926 (este manifesto, elaborado pelo Centro Regionalista do Nordeste, procura desenvolver o sentimento de unidade do Nordeste dentro dos novos valores modernistas. Propõe trabalhar em prol dos interesses da região nos seus aspectos diversos - sociais, econômicos e Culturais) foi "A bagaceira", de José Américo de Almeida, publicado em 1928. Verdadeiro marco na história literária do Brasil, sua importância deve-se mais à temática (a seca, os retirantes, o engenho), e ao caráter social do romance, do que aos valores estéticos.
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Parte 1 - Origens = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-1-origens.html
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Parte 3 - Barroco = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-3-o-barroco.html
Parte 4 - Arcadismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-4-o.html
Parte 5 - Romantismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-5-o.html
Parte 6 - Realismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-6-realismo.html
Parte 7 - Naturalismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-7.html
Parte 8 – Paranasianismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-8-o.html
Parte 9 – Simbolismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/06/literatura-brasileira-parte-9-o.html
Parte 10 - Pré-Modernismo = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/07/literatura-brasileira-parte-10-pre.html
Parte 11 - Semana de Arte Moderna - http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/07/literatura-brasileira-parte-11-semana.html
Parte 12 - Modernismo - primeira fase = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2010/07/literatura-brasileira-parte-12.html
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sábado, 3 de julho de 2010

Paulo Setubal (Poemas Avulsos)


VIDA CAMPÔNIA

Como um caboclo bem rude,
Eu vivo aqui, nesta paz,
Recuperando a saúde,
Que eu esbanjei, quanto pude,
Nas tonteiras de rapaz.

Mal brilha o primeiro raio
Da aurora rubra e louçã,
Eu monto um fogoso baio,
E alegre, e lépido, saio
Pelo espendor da manhã.

Lord, o meu bravo cachorro,
Vem pela estrada a saltar:
E a várzea, e os pastos, e o morro,
Tudo, a galope, eu percorro,
Numa alegria sem par.

Do mato, cerrado e umbroso,
Vêm cheiros de manacás;
Num pau-d'alho, alto e frondoso,
Vai um concerto furioso
De bem-te-vis e sabiás.

Vespas, cor de ouro brunido,
Lantejouladas de luz,
Fazem, com surdo zumbido,
Num tronco já carcomido,
O escasso mel dos enxus.

Fulgaram, pelos caminhos,
Gotas de luz, como sóis;
Ruflos, canções, burburinhos,
Noivado em todos os ninhos,
Por toda a relva, aranhóis.

E em tudo quanto eu diviso,
Há tal brilho tal clarão,
Como se, do paraíso,
Deus acendesse um sorriso
Em cada ervinha do chão.

Volto... Os caboclos, no eito,
Vão desbastando os juás.
Eu venho tão satisfeito,
Como se houvesse em meu peito
- Um baile de tangarás!

Apeio. E então, vivo e moço,
No claro terno de brim,
Vou eu, com grande alvoroço,
Sentar-me à mesa do almoço,
Que espera apenas por mim.

Risonha, a fumaça voa
Em densos, cálidos véus:
É o lombo, é a fava, é a leitoa,
- Toda cópia farta e boa,
Dos nossos ricos pitéus!

Depois, ao longo do dia,
Ferve, requeima o verão.
E há pêssego, há melancia,
A fruta nova e sadia
Colhida em plena estação.

À noite, o luar, que fulgura,
Por tudo estende o seu véu.
Brilham estrelas na altura.
Uma infinita doçura
Penetra os campos e o céu.

Nessa calma, enquanto rola
A lua pela amplidão,
Subitamente se evola
O som duma grafonola,
Quebrando a paz do sertão.

Num timbre gasto e confuso,
Pelo silêncio rural,
Ecoa a voz do Caruso,
Velhas canções em desuso,
E fados de Portugal...

Nisto, o relógio badala:
Dez horas. Quê? Já é tarde assim?
Toda a dormir! Fechem a sala!
A casa inteira se cala,
Tomba um silêncio sem fim...

Cheiro acre, de manjerona,
Lá fora embalsama o ar;
Tudo se aquieta. Ressona...
Eis que uma tarda sanfona
Passa na estrada, a chorar...

A VILA

Lembro-me bem dessa vilota rude,
Onde eu me fui, sem gosto e sem saúde,
Buscar um poiso para os meus cansaços.
Que terra triste! Triste e sertaneja:
A escola, a hospedaria, a antiga igreja,
E a capelinha do Senhor dos Passos...

Na esquina, em frente à Câmara, o barbeiro.
Logo depois, num colossal letreiro,
A "Loja Popular" do velho Lopes.
E é bem no largo da Matriz que fica
A sempiterna, a clássica botica,
Com seus reclames de óleos e xaropes...

Ah! Foi aí, nesse ermo de tristeza,
Nessa terreola fúnebre e burguesa,
Tão sem encantos, tão descolorida,
Que eu fui viver, com lágrimas e flores,
No mais cruel amor dos meus amores,
A página melhor da minha vida!

A FORASTEIRA

Dissera-me o barbeiro da vilota,
Que essa elegante, essa gentil devota,
Que freqüentava assim as ladainhas,
Também quisera, em busca de bons ares,
Passar o mês das férias escolares,
Na mesma terra onde eu passava as minhas.

E ali, na vila, nessa pobre aldeia,
Tão incolor, tão rústica, tão feia,
Povoada de caboclos indigentes,
A forasteira, com seu ar touriste,
Com seu chapéu de plumas, com seu chiste,
Chocava o povo e deslumbrava as gentes!

E eu, que vivia a padecer nesse ermo,
A definhar-me, torturado e enfermo,
Nas nostalgias dessa vila odiosa,
Eu bem sentia, ao ver essa estrangeira,
Que na minh'alma, pela vez primeira,
Brotara a flor duma paixão furiosa...

IDÍLIO

"Vamos!" disseste... E eu disse logo: vamos!
Ia no céu, nos pássaros, nos ramos,
Uma alegria esplêndida e sonora;
E tu, abrindo ao sol, como uma tenda,
Tua sombrinha de custosa renda,
Partimos ambos pela estrada afora...

Eram pastagens largas, eram roças,
Carros de bois, currais, barreadas choças,
E rústicos galpões de pau-a-pique;
Só tu, nessa bucólica simpleza,
Com teu tailleur de casimira inglesa,
Punhas uns tons de mundanismo chic.

E a poeira, e o sol queimante, e a dura estrada,
Nós, papagueando, sem sentirmos nada,
Seguíamos num sonho encantador:
É que a felicidade, como um vinho,
Fazia-nos andar pelo caminho,
Tontos de gozo e bêbedos de amor!

SÓ TU

Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei...
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!
Mas tu - que rude contraste!
Tu, que jamais me beijaste,
Tu, que jamais abracei,
Só tu, nesta alma, ficaste,
De todas as que eu amei.

À BEIRA DO CAMINHO

Por essas tardes plácidas do campo,
— Tardes azuis de firmamento escampo,
Eu vou, través de longos carreadores,
Sentar-me num barranco, ermo e distante,
Sentindo o fresco aroma penetrante
Que vem da madressilva aberta em flores.

Tudo me entrista e punge nestas terras!
Os mesmos cafezais. As mesmas serras.
A mesma casa antiga da fazenda,
Que outrora viu, quando éramos meninos,
Nossos amores, nossos desatinos,
— Toda essa história descorada em lenda!

Quanta saudade! De manhã bem cedo,
Saíamos os dois pelo arvoredo,
De alma contente e exclamações na voz.
Como éramos apenas namorados,
E andássemos, a rir, de braços dados,
Os camponeses riam-se de nós!

Era dezembro. Florescia o milho,
Verde e glorioso como o nosso idílio.
Que lindas roças! Que estação aquela!
Toda a velha fazenda parecia,
Com sua larga e rústica alegria,
Mais cheia de aves, mais ruidosa e bela!

Ainda guardo, intata, na memória,
Aquela ingênua e deliciosa história,
Que foi o meu e o teu primeiro amor.
E ai! que recordação, que duro travo,
Lembrar que eu fui o teu rei o teu escravo,
Saber que fui eu teu servo e teu senhor!

E cismo... Cismo... A tarde vai tombando.
De lado a lado, claras, azulando,
Destacam-se as colinas no horizonte.
Tristonha, a várzea na amplidão se perde.
Lá em baixo um bambual sombrio e verde.
Um fio dágua. Uma arruinada ponte.

Assim, ao pôr do sol, triste e sozinho,
Sentado num barranco do caminho,
Sem que ninguém meu coração compreenda,
Olho a mata, olho os campos, olho a estrada
Ouvindo a melancólica toada
Que chora, ao longe, o piano da fazenda...

ÁRVORES TRISTES

Eu, nestes campos, longe do tumulto,
Amo essas tristes árvores que crescem
Por sobre as margens dum arroio oculto,
Ouvindo as águas que cantando descem...

Gosto de vê-las à tardinha, envoltas
Numa suave e mística tristeza,
Olhando os rolos das espumas soltas
Que encrespam o lençol da correnteza.

Tristonhas plantas! Árvores sombrias!
Como se as torturasse estranha mágoa,
E as compungissem fundas nostalgias,
— Procuram consolar-se à beira d'água.

Oh! vós que amais os campos, nunca as vistes?
— Desconsoladas, trêmulas, chorosas,
Pelas barrancas dos arroios tristes
Debruçam as ramagens silenciosas...

Que importa o sol, que importa a chuva e o vento,
Se sempre as mesmas ânsias as consomem?
Talvez — quem sabe? — nesse desalento,
Palpite e sofra o coração dum homem!

Talvez nessas folhagens, nesses ramos,
Torturados de angústia e desconforto,
— Sem que a vejamos, sem que a compreendamos,
Soluce a alma de algum poeta morto.

Ai, não turbeis a misteriosa mágoa,
A imensa nostalgia em que se abismam;
Deixai-as em silêncio, à beira dágua,
Essas tristonhas árvores que cismam...

CERTA VEZ

Certa vez... Vá, não cores desse jeito!
Eu era um estudante de direito,
Tu eras uma simples normalista:
Podíamos, portanto, meu tesouro,
Fazer, como fizemos, sem desdouro,
Essa loucura que hoje te contrista.

Com que emoção — recordas? — com que gozo,
Eu vinha te esperar, vibrante e ansioso,
Nessas novenas de plangências cavas.
E como um cavalheiro que se preza,
Timbrava em te levar, depois da reza,
Até ao portão da chácara em que estavas.

Certa vez... Vá, não cores desse jeito!
Era de noite. Arfava-nos o peito.
Ardia em nós um lânguido desejo,
Tomei-te as mãos... Sorriste... E aí, num assomo,
As nossas bocas, sem sabermos como,
Famintamente uniram-se num beijo!

FIM DE VIAGEM

Venho a sonhar contigo... E, no meu sonho,
Vendo o arraial bucólico, risonho,
Onde floriu essa paixão feliz...
Com que saudade, com que gosto amargo,
Relembro a tua casa em frente ao Largo,
Que tu chamavas "Largo da Matriz...".

Vejo-te ainda, lá nesse povoado,
Tua cestinha de costura ao lado,
Perdida em sonhos de felicidade.
E o trem, enquanto assim eu cismo, aflito,
Entra, a bufar, com enervante apito,
Pela cidade adentro... Oh, a cidade!

Suas ruas. Vielas. Bairros proletários.
Rasgando o azul, ao longe, os campanários,
E as chaminés das fábricas e usinas.
Vivos letreiros, no alto, em letras largas.
Aqui — vagões; depósitos de cargas;
Pontes, guindastes, máquinas, cabinas...

Mas eu, no entanto, pensativo e mudo,
Passo por tudo, indiferente a tudo,
Bem longe tendo o espírito daqui;
E vejo apenas — que visão tranqüila! —
Tua longínqua e solitária vila,
Donde, chorando, esta manhã parti...

O FRUTO

E da florida janela
Que eu abro de par em par,
--Verde painel, larga tela,
Da cor mais viva e mais bela,
Desdobra-se ao meu olhar !
A manhã que é fresca e branda,
A rir, gloriosa e feliz,
Doira a casa veneranda,
Com a sua quieta varanda
Cheirosa de bogaris...
Um renque de altos coqueiros
Circunda o velho pomar;
Toscos, enormes tabuleiros,
Ficam em frente os terreiros,
Com grãos em coco a secar.
Num quadro curvo e sozinho,
Um pobre negro, o Bié,
A passo devegarinho,
Com seu rumoroso ancinho,
Lá vai rodando o café...
Depois -- a máquina, a tulha,
O alpendre, o farto paiol:
Ah ! como a roça se orgulha
De ver subir a fagulha,
Que lança a máquina ao sol !
Branca, entre tufos, a escola
Na entrada logo se vê:
Aí, nessa casinhola,
A filha de nhá Carola
Vive a ensinar o A B C.
Fulgem na estrada tranqüila,
Casinhas brancas de cal:
É a colonia que cintila,
Graciosa como uma vila,
Risonha como um pombal.
Ao longe, o pasto, a cancela,
-- Um boi deitado no chão:
Paisagem rude e singela,
Daria fina aquarela,
De puro estilo aldeão.
E além para lá da ponte,
Ao lado do matagal,
Por sobre as lombas do monte,
Por todo o imenso horizonte,
-- Alastra-se o cafezal.
O olhar, tonto, se extasia,
Na cena rústica e chã;
E a gente sente a poesia,
Sente a radiosa alegria
De tão soberba manhã !
Absorto no panorama
Que assim contemplo, de pé.
Eis que uma velha mucama,
Surgindo à porta me chama:
"Nhonhô, tá pronto o café..."
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Fontes:
Academia Brasileira de Letras
Vida em Poesia

Paulo Setubal (Plácido Pereira de Abreu)

(extraído do livro As Maluquices do Imperador) - foi mantida a grafia original
------------------
- Plácido!

O favorito, que lia na antecâmara, acudiu imediatamente ao chamado do amo:

- Majestade!

- É hoje o aniversário da filha do Inhambupe?

- É, Majestade. A moça completa hoje vinte anos...

- E a que horas é a festa?

- Às duas, Majestade. O Marquês de Inhambupe não dá saraus à noite. O pobre homem anda muito atacado da gota. A filha, à vista disso, oferece uma simples merenda aos amigos.

D. Pedro, ouvindo, abriu o seu velho contador de jacarandá negro. Agarrou numa caixa de veludo, milto donairosa, enfeitada gentilmente por um laçarote de fita. E virando-se para o favorito:

- Toma lá este mimo, Plácido. É um bracelete cravejado. Leva-o de minha parte à filha do Inhambupe.

O Plácido sorriu. E D. Pedro, com o seu bom humor inextinguível, batendo maliciosamente nos ombros do criado:

- É bonita aquela rapariga, hein, Plácido?

E o Plácido, um tanto embaraçado:

- É linda...

- Aquilo é que é mulher, oh! Plácido: tu não achas?

E o criado confuso, com um sorriso amarelo:

- É uma rapariga e tanto! Mas...

- Mas o quê? tornava D. Pedro irrequieto; vamos lá: mas o quê?

- Mas é um perigo essa aventura de Vossa Majestade, afoitava o valido com ares de prudência; a moça é solteira. A moça é filha do Inhambupe. O Marquês, além de homem probo, é ministro de Vossa Majestade. Tudo isso são coisas graves. Coisas de se ponderar. Vossa Majestade, portanto, precisa ter cautela. Muita cautela! Senão vem por aí um escândalo dos diabos...

E D. Pedro, sempre estourado:

- Qual escândalo, qual nada! Não arrebenta coisa alguma. Depois, meu caro, o Marquês é como os outros. Um adulador! É o ministro mais adulador que eu já tive. O Marquês não me assusta. É deixá-lo... Trata, pois, de tecer a coisa, oh! Plácido, e larga o resto por minha conta. Leva hoje, de minha parte, este presente à moça...

D. Pedro, últimamente, encaprichara-se amalucadamente pela rapariga. Raro o dia em que Sua Majestade não galanteasse a filha do seu ministro.

Era sempre um recadinho amável, uma caixa de confeitos, uma prenda. O Plácido trançava dum lado para outro. Fizera-se o leva-e-traz daquele namorisco. E vinha sempre com mil coisas. Que a moça delirara! Que a moça estava louca por D. Pedro! Que a história ia às mil maravilhas! O Imperador, no entanto, retrucava sempre:

- Mas é curioso, só Plácido: ela não dá amostra. Nem um sorriso, nem um olhar, nem uma palavra mais denunciativa...

E o Plácido:

- Está claro, Senhor D. Pedro! Haverá nada mais melindroso do que isso? A moça tem lábias. Porta-se assim por manha: não quer que o caso dê na vista... E é natural. Pode lá a moça gostar que falem dela? Mas fique Vossa Majestade tranqüilo: vai tudo muito bem: muitíssimo bem!

D. Pedro aceitava. E todo dia, com mais afinco um galanteio tentador.

Agora, no aniversário, era aquele bracelete cravejado. Um escândalo!

Mas, o Plácido, sem comentário, lá foi cumprir a ordem do amo. Vestiu a casaca verde.

Espremeu o pescoço num colarinho de palmo. Alastrou no peito um "plastron" vistoso. Borrifouse de água-de-cheiro. Calçou luvas. Pôs um cravo na botoeira. E assim, casquilho e taful, partiu com elegância para a merenda em casa do Ministro dos Estrangeiros.
* * *

Plácido Antônio Pereira de Abreu, ou melhor, e simplesmente, o "Plácido", tivera uma sorte curiosa. Fora um caso interessantíssimo de boa-estrela. Um amimado da fortuna! E esse, que, ao depois, conquistaria tão largamente as boas-graças do Imperador, começou na vida como "varredor do Paço". Um dia, todo ronhas e habilidade, aplainou as coisas e subiu de posto: conseguiu insinuar-se como barbeiro de D. Pedro.

D. Pedro, por esse tempo, ainda era príncipe. E além de príncipe - toda gente sabia - um desmiolado e estróina. O barbeiro, por seu turno, um sujeito folião, muito patusco, amador de regabofes, grande conhecedor de mulherinhas.

D. Pedro afeiçoou-se logo ao barbeiro. Era natural... Fê-lo seu camarada de todas as noites. Ligou-se ao homenzinho com um entusiasmo boêmio. O Plácido tornou-se o amigo de toda hora, o imprescindível, o companheiro único. Foi então, nessa quadra maior, o mais acarinhado dos validos do príncipe.

O nosso primeiro Imperador teve, durante a vida inteira, essa fraqueza imperdoável: gostou sempre de gente canalha. Circundou-se continuamente da ralé, tipos à-toa, escória apanhada no enxurro da vida. Os seus três favoritos, os servidores mais do peito aqueles que D. Pedro mais amou, demonstram-no dolorosamente. Um foi o Plácido; outro, o Chalaça; o terceiro, o João Pinto. O Plácido iniciou-se na vida como varredor do Paço; o Chalaça, como criado de galão; o João Pinto, como negociante falido e expulso da alfândega por ladrão. Esses três homens, no Primeiro Império, ergueram-se a alturas vertiginosas. Tornaram-se os poderosos do dia. Não houve mercê que pleiteassem e não alcançassem.

O Plácido conquistou o seu valimento desde os belos tempos em que D. Pedro era solteiro. A começar daí, durante a vida inteira, trabalhou ininterruptamente no Paço. Subiu tanto, com tal felicidade, que chegou a ser tesoureiro do Imperador. Depois, por determinação de D. Pedro, acumulou o cargo de tesoureiro da Imperatriz.

Foi até (não podia haver posto de maior confiança...), foi até espião de D. Leopoldina! O Imperador, por tão altos serviços, condecorou-o com a Ordem do Cruzeiro e com a Ordem da Rosa. O Plácido fizera-se benemérito da pátria.

E como conseguiu o "varredor" do Paço infiltrar-se de tal jeito no coração do amo? Por um acontecimento cômico. Uma verdadeira maluquice de D. Pedro. Uma dessas muitíssimas maluquices do nosso simpático primeiro Imperador. O caso foi assim:
* * *

D. Pedro, como príncipe, recebia muito pouco dinheiro. A sua pensão era ridícula: um conto de réis E não havia força de D. João sair daquilo. O rei era um sovina tremendo. D. Pedro, temperamento de irrefletido, inteiramente oposto ao do pai, gastava ás mancheias, estouradamente, esbanjadamente. Por isso mesmo, enquanto príncipe, D. Pedro viveu em aperturas desesperadas. Mais duma vez, nos seus apuros, o herdeiro do trono recorreu a empréstimos envergonhantes. O Pilotinho, bodegueiro da Rua dos Barbonos, forneceu-lhe certa ocasião doze contos de réis. Manuel José Sarmento, pessoa pacata, antigo oficial de secretaria, socorreu-o muitíssimas vezes com quantias fortes. Ora, diante da usura do pai, para sair daquela situação humilhante de empréstimos e mais empréstimos, o príncipe tomou uma resolução heróica: resolveu ganhar dinheiro Resolveu ganhar dinheiro a todo transe, de qualquer jeito, desse no que desse. E que é que engendrou aquela cabeça de vento? Apenas isto: fazer uma sociedade mercantil com o Plácido. Imaginar e executar foi um pronto.

Apalavraram logo o contrato. E ambos, unindo os seus destinos, meteram-se a negociar. Um príncipe, o herdeiro do trono, a negociar de parceria com o seu barbeiro! Imaginai um pouco... E negociar em quê? Na única coisa de que D. Pedro realmente entendia: compra e venda de animais...

A sociedade principiou a funcionar sem demora. D. Pedro, em companhia do Plácido, ia quase toda a manhã ver as tropas que chegavam. Escolhia, num relance, os animais mais belos. Um golpe de vista espantoso! Apartava-os, pagava-os, mandava-os para as cavalariças do Paço. Diziam os tropeiros que o "moço tinha faro: enxergava logo a flor da manada..."

Depois, na cidade, a engrenagem do negócio era das mais simples. Uns dias de trato, os animais engordavam, o pêlo reluzia. O Plácido saía então em busca dos compradores. Uma facilidade. Bastava dizer a um daqueles fidalgotes endinheirados:

- O príncipe resolveu vender um belo animal. Belíssimo animal! É um dos mais soberbos das cavalariças do Paço. Por que Vossa Mercê não aproveita a ocasião?

O homem não titubeava. Corria ao Paço, via o cavalo, achava-o perfeito, comprava por qualquer preço. E saía honradíssimo, cheio de orgulho, a esparramar pela corte que adquirira um "cavalo das cavalariças reais..."

A sociedade, evidentemente, começou a prosperar. Os dois parceiros puseram-se a ganhar dinheiro à vontade. Dinheiro a rodo. D. Pedro andava contentíssimo O negócio era dos melhores, dos mais certos.

- Um negocião da China, como dizia alvoroçadamente o príncipe ao barbeiro; um negocião da China! E dizer que até hoje ninguém teve ainda essa idéia.

Mas, um dia, por fatalidade, aquela história foi parar aos ouvidos do Rei. D. João VI branqueou. Nunca, na sua vida, o pobre monarca enfureceu tanto! Aquela leviandade do príncipe revirou-lhe os nervos. Sacudiu-o! Mandou chamar imediatamente o filho.

D. Pedro, ao entrar, deparou com o pai de pé, revolucionado, o cenho torvamente cerrado. O rei tinha na mão a sua grossa bengala de castão de ouro. E numa fúria, espumejando:

- Então, seu grandíssimo canalha, vosmecê a negociar em animais? E a negociar de parceria com o Plácido, o barbeiro? Pois vosmecê, o herdeiro do trono, não tem vergonha nessa cara? O que eu devia fazer, seu cachorro, era quebrar-lhe a cara com esta bengala? Quebrar-lhe a cara, ouviu?

E erguia a bengala no ar, e bramia, e descompunha, e gaguejava de cólera. D. Pedro não negou. Confessou tudo com firmeza. D. João mandou buscar o Plácido. E ali mesmo:

- Você, de hoje em diante, está proibido de se meter em qualquer negócio com o príncipe. A sociedade está liquidada. Lucro, se houve, que fique para você. Não admito que meu filho toque num real dessa patifaria.

E desfez a sociedade.

Está claro que havia muitíssimo lucro no negócio. E o Plácido, o felizardo, ficou-se com aquele dinheirão todo. Principiou desde ai, com esse capital, a prosperar na vida. Ficou riquíssimo. Terminou numa das mais grandiosas fortunas do Primeiro Império.
* * *

Rompeu-se a sociedade mercantil, é verdade, mas não se rompeu a amizade velha que unia o amo e o criado. Ao contrário: afeiçoaram-se ambos mais estreitamente. Continuaram pela vida afora companheiros e íntimos. E agora, já imperador, D. Pedro não dispensava o Plácido.

Naquele momento, então, mais do que nunca, o favorito desempenhava esta nobre e alta missão: era o recadeiro entre D. Pedro e a filha do Inhambupe. Diga-se outra vez, a bem da justiça, que o Imperador, até aquele momento, não recebera da rapariga uma só prova, por pequenina que fosse, que demonstrasse ser correspondido na sua maluquice. Nunca a moça dissera-lhe um "muito obrigado!" Nunca, nos beija-mãos, esboçara um sorriso mais significativo. Nunca, no teatro, erguera ao camarim imperial um olhar que prometesse. D. Pedro notava aquilo. Reclamava. Mas, o Plácido, astucioso e hábil, explicava sempre:

- É para não dar na vista. Ela não quer comprometer-se. Haverá nada mais justo? Mas fique Vossa Majestade sossegado! Deixe o caso por minha conta...

Um dia, enfim, depois daquele suave período de galanterias, D. Pedro tomou uma resolução de louco. Uma resolução verdadeiramente incrível. Sua Majestade ordenou ao criado:

- Vá à casa do Inhambupe e traga-me a filha aqui.

- Aqui no Paço?

- Aqui no Paço! Vá já. Eu fico à espera...

E ficou à espera. As horas começaram a passar. Uma só idéia mordia-lhe o cérebro: será que a moça vem? E D. Pedro andava. Agitava-se. Fumava. O coração batia-lhe forte. Será que a moça vem? As horas passavam... Nada do Plácido! E o Imperador ansioso. E o Imperador cada vez mais aflito. E nada do Plácido! De repente, erguendo o reposteiro, surge o camarista de serviço. D. Pedro, ao vê-lo, arregalou os olhos, espantadíssimo:

- Que há?

- O Senhor Marquês de Inhambupe está na antecâmara. Veio em companhia de Plácido. O Marquês pede para falar urgentemente a Vossa Majestade.

D. Pedro empalideceu. O coração esfriou-lhe. Que diabo teria acontecido? Mas ordenou sem vacilar:

- Que entre!

O Marquês entrou. D. Pedro recebeu-o secamente. Estava nervoso e trêmulo.

- Que deseja Marquês?

O Inhambupe entrou logo em matéria:

- Vossa Majestade há de saber que o Plácido, há vários meses já, vem cortejando a minha filha...

- O Plácido?!

- Sim, o Plácido... Aparecia-me ele, quase todo o dia, com mimos para a rapariga. Era uma flor, uma caixa de confeitos, uma prenda. Eu nunca disse coisa alguma. O Plácido é bom rapaz, muito sensato, pessoa de bem. Homem um pouco madurão, é verdade; Vossa Majestade sabe que o nosso Plácido já passa dos quarenta! Mas eu também não gosto lá de peralvilhos... E por isso deixei a coisa tomar vulto. Hoje, para encurtar histórias, hoje, o homem surge-me lá em casa e pede-me a rapariga em casamento...

E D. Pedro, com assombro:

- O Plácido?

- Sim, Majestade. O Plácido! Pediu-me a rapariga em casamento. Eu, com franqueza, nada tenho contra ele. É pessoa que estimo, pessoa que já tem o seu pecúlio amealhado, uma pessoa, enfim, que não envergonha a gente. Mas eu disse-lhe (como o Plácido é servidor do Paço), que viria em primeiro lugar expor a Vossa Majestade. Estando Vossa Majestade de acordo, eu, evidentemente, também, estaria. Depende tudo de Vossa Majestade. Que é que Vossa Majestade resolve?

D. Pedro ouviu, estuporado. A cabeça dançava-lhe. Estava boquiaberto! Mas respondeu logo, automaticamente, num alvoroço:

- De pleno acordo, Marquês! De pleno acordo! O Plácido é excelente pessoa. A filha de Vossa Excelência faz um ótimo casamento. E um casamento do meu inteiro agrado! Pode ajustar as bodas...

O Marquês iluminou-se. E baboso de contentamento:

- Pois folgo muitíssimo em ver que Vossa Majestade consente... Folgo muitíssimo... À vista disso - não há mais dúvida - está ajustado o casamento. Vou levar já a boa nova à minha filha... Ergueu-se, beijou a mão do Imperador, saiu tonto de felicidade. D. Pedro acompanhou-o até à porta. E com um sorriso:

- Diga ao Plácido que entre, Marquês... Quero abraçá-lo!

E D. Pedro, um fundo vinco na testa, os braços cruzados, esperou o antigo barbeiro. O Plácido entrou. Vinha agoniado, o ar zonzo. Não teve coragem de fitar o amo: apenas, num aturdimento, atirou-se como louco aos pés do Imperador. E chorando, as mãos postas, pôs-se a bradar num desespero:

- Perdoe-me, Senhor D. Pedro! Perdoe-me! Eu fui um traidor! Um infame! Eu bem sei que fui indigno da confiança de Vossa Majestade...

E chorava desabaladamente. D. Pedro ergueu-o desarmado: aquelas lágrimas do amigo abrandaram-lhe imediatamente as iras. D. Pedro sorriu um sorrisinho malicioso. E:

- Mas que é que aconteceu, homem? Que é que significa esta comédia? Vamos lá. Explica-te...

- É que eu gosto da moça, Majestade! Eu sempre gostei dela! Aquela rapariga é a minha paixão! É o meu sonho! E eu - Vossa Majestade me perdoe! - eu não pude resistir: cortejei-a para mim...

D. Pedro, no fundo, era uma alma encantadora. Aquela aventura do criado, verdadeira página de opereta, entrou-lhe vencedoramente pelo coração adentro. Todo o seu furor, dissipou-se.

Aquilo era dum cômico feroz, irresistível... E ali, diante do noivo trêmulo, de olhos molhados, D. Pedro não pôde reprimir-se: soltou uma gargalhada gostosa, uma gargalhada que lhe brotou
sonoramente na alma!

- Oh! seu moleque, eu devia mandar-te para a forca; ouviste? Então, canalha, em vez de conquistar a moça para mim, foste arranjar noiva para ti? Oh! grandíssimo tipo...

- Perdoe-me, Senhor D. Pedro, tornava Plácido, murcho. Perdoe-me! Foi uma traição, eu sei, mas eu gosto tanto da moça! Perdoe-me...

E D. Pedro, jovialmente:

- Pois estás perdoado! Estás perdoado, seu traste! E agora, como Imperador, ordeno que faças a rapariga feliz. Se a não fizeres - vê lá - mando-te para o aljube...

O Plácido abriu-se num sorriso. Era uma delícia o vê-lo assim, diante do amo, rindo e chorando, o ar aparvalhado. E D. Pedro, para coroa daquilo tudo, abriu o contador, escolheu uma bela borboleta de pedras, entregou-a cavalheirescamente ao Plácido:

- Toma lá, meu amigo. Coloca isto nos cabelos de tua noiva... É uma lembrança minha. E mandou a jóia para a filha do Inhambupe.
* * *

A notícia do casamento estrondou como uma bomba. Foi um choque! O Rio inteiro comentou... João Loureiro, que viveu no Brasil uma larga temporada, tendo a boa idéia de escrever montes de cartas sobre tudo quanto se passava na Corte por esse tempo, mandou ao Reino um comentário ao inesperado acontecimento social. Lá diz o curioso bisbilhoteiro:

"Isto, e "o casamento do Plácido", criado do Imperador, com huma filha do Marquez de Inhambupe, tem ocupado todas as attencões e conversas, já não digo dos salões, que cá não há, mas das salinhas..."

Fonte:
SETÚBAL, Paulo. As Maluquices do Imperador. RJ: Companhia Editora Nacional, 1984.