quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.12)

Trova do Dia

Sem rodeio e sem firula
deixo a todos essa dica:
Impostor sempre bajula,
amigo às vezes critica!
PEDRO ORNELLAS/SP

Trova Potiguar

Mandei clonar do meu ser
uma cópia da ilusão
para jamais esquecer
as razões do coração.
FRANCISCO BEZERRA/RN

Uma Trova Premiada

2006 > Pitangui/MG
Tema > TERÇO > M/H.

Eu rezo o terço a meu jeito
e penso que Deus me aprova,
porque falo, com respeito,
em cada conta...uma trova.
THEREZA COSTA VAL/MG

Uma Poesia

Maria Emília Xavier/RJ
A SOLIDÃO DA ESTRELA.

O céu azul escuro...
Como, se palco fosse,
mostra um espetáculo belo:
uma estrela solitária,
que nessa imensidão qual luminária,
brilha, brilha, brilha,
faíscas, muitas faíscas solta
e o céu enfeita de prateado...
Fico pensando...
Esse espetáculo lindíssimo,
não será a estrela sua solidão chorando?
O brilho... As faíscas...
Olhos marejados de água...
Lágrimas que escorrem...

Uma Trova de Ademar

Da fonte que jorra o amor,
Deus, na sua imensidão,
faz jorrar com todo ardor
as carícias do perdão.
Ademar Macedo/RN

...E Suas Trovas Ficaram

A lua serena e pura,
quem a pesquisar se afoite,
verá que é um lírio plantado
no jarro negro da noite.
CESAR COELHO/CE

Estrofe do Dia

Às vezes vejo cansaço
nos olhos do meu irmão
que precisa de ternura,
que é carente de afeição
e, então, lhe escrevo alguns versos
carregados de emoção.
DELCY CANALLES/RS

Soneto do Dia

Olegário Mariano/PE
ENAMORADO DAS ROSAS

Toda manhã, ao sol, cabelo ao vento,
ouvindo a água da fonte que murmura,
rego as minhas roseiras com ternura,
que água lhes dando, dou-lhes força e alento.

Cada um tem um suave movimento
quando a chamar minha atenção procura
e mal desabrochada na espessura,
manda-me um gesto de agradecimento.

Se cultivei amores às mancheias,
culpa não cabe às minhas mãos piedosas
que eles passassem para mãos alheias.

Hoje, esquecendo ingratidões mesquinhas,
alimento a ilusão de que essas rosas,
ao menos essas rosas, sejam minhas.

Fonte:
O Autor

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.11)

Trova do Dia

É de ternura o momento
em que o Sol sorri no espaço,
se faz vida e sentimento
e lança ao mar seu abraço!
GISLAINE CANALES/SC

Trova Potiguar

Todo amor que a ti proponho,
vem no afeto mais bonito;
que se esconde no meu sonho,
nas estradas do infinito!
EVA GARCIA/RN

Uma Trova Premiada

1997 ; Ribeirão Preto/SP
Tema: DROGA ; Venc.

A droga, feito um rastilho,
ampliando o seu terreno,
não poupa mãe e nem filho
que, ao seio, suga o veneno...
DARLY O. BARROS/SP

Uma Poesia Livre

Maria de Fátima Carvalho/RN
SAUDADES PERFUMADAS.

Num sentir tão sentido
Mergulha lilás minha alma
Em fonte de amor bem serena
E as rosas de orvalho molhadas
Perfumam saudades deixadas
No meu coração a chorarem.

Uma Trova de Ademar

Nesses carnavais vividos
envolto em tanta ilusão,
deixei meus sonhos perdidos
no meio da multidão.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Ninho de felicidade
com gravetos de ilusão,
se faz com facilidade
mas tem curta duração.
MIGUEL RUSSOWSKY/SC

Estrofe do Dia

Pra nós sermos amigos de verdade
precisamos amar e querer bem,
dividir nossos sonhos com alguém;
repartir nosso pão pela metade,
plantar uma semente de amizade
no jardim onde nasce a solidão
e dizer no ouvido de um irmão:
plante um pé de amizade em sua horta,
amizade é a chave que abre a porta
do castelo onde mora o coração.
ANTONIO FRANCISCO/RN

Soneto do Dia

Raul de Leoni/RJ
HISTÓRIA ANTIGA.

No meu grande otimismo de inocente,
Eu nunca soube por que foi... um dia,
Ela me olhou indiferentemente,
Perguntei-lhe por que era... Não sabia...

Desde então transformou-se de repente
A nossa intimidade correntia
Em saudações de simples cortesia
E a vida foi andando para a frente...

Nunca mais nos falamos... vai distante...
Mas, quando a vejo, há sempre um vago instante
Em que seu mudo olhar no meu repousa,

E eu sinto, sem no entanto compreendê-la,
Que ela tenta dizer-me qualquer cousa,
Mas que é tarde demais para dizê-la...

Fonte:
O Autor

Bienal do Livro do Paraná (Programação de Quinta-Feira, 7 de Outubro)




Bienal do Livro do Paraná (Programação de Quarta-Feira, 6 de Outubro)




terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.11)


Trova do Dia

Na voragem da procela
do combate interior
é que o homem se revela
se é escravo ou é senhor!
HÉRON PATRÍCIO/SP

Trova Potiguar

Tua ausência indesejada
me causou tão forte dor,
que vivo abraçado ao nada,
no deserto desse amor.
JOAMIR MEDEIROS/RN

Uma Trova Premiada

2000 > Niterói/RJ
Tema > DELÍRIO > Venc.

Teu olhar não me diz nada
mas, sem querer, eu me iludo
e em delírio, apaixonada,
transformo o teu nada... em tudo!
MARINA BRUNA/SP

Uma Poesia

Daniel Patrício Szebralcikowski/SP – “13 Anos”
IDADE CONFUSA...

Nas químicas de minha vida
faço filosofias,
curo feridas,
desarmo armadilhas.

Minha vida é uma equação,
que tento em vão resolver...
se chego ao xis da questão
os nós não sei desfazer

Porque os fatos, verdadeiros,
contados nos meus versos,
são uns falsos curandeiros
curando sonhos dispersos....

Uma Trova de Ademar

Com todos os caracteres
do mais puro devaneio
pude amar muitas mulheres
mas a que eu amo... não veio!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

Para ter felicidade
na minha vida futura,
não preciso de saudade,
só preciso de ternura.
EZEQUIEL PINTO DE SOUZA/CE

Estrofe do Dia

Pela união fraternal
serei sempre agradecido
por ter apoio integral
no desfecho acontecido;
quando eu mais necessitei
de cada amigo ganhei
um abraço enternecido.
MARCOS MEDEIROS/RN

Soneto do Dia

José Antônio Jacob/MG
O VENDEDOR DE BONEQUINHOS.

De manhãzinha à beira da calçada
Todo dia uma corda eu estendia
E pendurava nela uma braçada
De bonequinhos feios que eu vendia.

Eram polichinelos que eu fazia
De trança de algodão, à mão desfiada...
No pano das feições não conseguia
Puxar-lhes traços de melhor fachada.

Ao desbotar o azul no fim do dia,
Quando eu os desatava dos alinhos,
Desse varal de cordeação brilhante,

Esses desengonçados bonequinhos
Desciam-me nas mãos com alegria
E me davam abraços de barbante!

Recomendo os Blogs:

http://poesiasemprepoesia.blogspot.com/
http://marimilaxavier.blogspot.com/
http://jobaxaol.blogspot.com/
http://poesiaemtodaparte.blogspot.com/
http://www.outraseoutras.blogspot.com/

Fonte:
O Autor

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Trova 178 - Ialmar Pio Schneider (Porto Alegre/RS)

Paraná em Luto pelo Falecimento de José Carlos Veiga Lopes (1939 - 2010)


Nascido em Curitiba em 07 de maio de 1939, filho do ex-prefeito Ângelo Lopes e Rosina Veiga Lopes.

Formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná, apaixonado por História, presidente da Academia Paranaense de Letras, ocupando a cadeira de numero 14, pecuarista por paixão, proprietário da Fazenda Butuquara uma das mais antigas fazendas do Sul do Brasil localizada nos Campos Gerais do Paraná, próximo a São Luiz do Purunã.

Desde a infância teve convívio com a região dos Campos Gerais do Paraná, de onde lhe veio a inspiração para seus escritos, quer sejam os estudos históricos, quer sejam os contos regionalistas. No campo da História, possui vasta produção e tem publicadas várias obras referenciais, provenientes de exaustivas pesquisas em documentos e fontes primárias. Seus livros são freqüentemente citados e constituem fontes fidedignas para as consultas dos estudiosos da História do Paraná. Mantem um Museu de Arte Popular Brasileira na sua fazenda (Fazenda Butuquara, uma das mais antigas fazendas do Sul do Brasil, localizada nos Campos Gerais do Paraná, próximo a São Luiz do Purunã).

Faleceu em 3 de outubro de 2010, aos 71 anos, em Curitiba, de enfarte fulminante.

Livros:

– Sapecada - Contos regionalistas dos Campos Gerais (1972).
– Esboço Histórico da Fazenda Santa Rita - edição mimiografada em 1973, e 2ª edição em 1974.
– As Aves do Céu tem ninhos - Romancete Regionalista dos Campos Gerais - (1977).
– Curucaca - Ensaios sobre a ave símbolo dos Campos Gerais - (1981).
– Açoiteira - Contos regionalistas dos Campos Gerais - (1991).
– Origens do Povoamento de Ponta Grossa - Estudo Histórico - (1999).
– Raízes da Cidade da Palmeira - Estudo Histórico - (2000)
– Informações sobre os bens de Nossa Senhora das Neves no Paraná - Estudo Histórico (2000)
– Antecedentes históricos de Porto Amazonas
- Superagui: informações históricas

Fontes:
http://www.pousadacaina.com.br/
http://www.institutomemoria.com.br/

Gazeta do Povo - nota de falecimento.

Parana Online

A. A. de Assis lança Trovia n. 130 – Outubro de 2010





Paraná em Trovas
Dê-se ao jovem liberdade
para sem medo ele ousar.
– E’ no ardor da mocidade
que o sonho aprende a voar!
A. A. DE ASSIS

Outras há cheias de encanto…
mas me encantei por você,
que ao ver-me a seus pés, no entanto,
faz de conta que não vê…
ANTÔNIO DA SERRA

Quer a musa que o poeta
brinque com a nostalgia,
e sendo dele a profeta
vê a dor virar poesia…
CRISTINA LEITE

Canto a melhor serenata,
faço os mais doces anelos
ao ver a lua, em cascata,
emoldurar seus cabelos.
ELIANA PALMA

As lembranças de nós dois
fui guardando nas caixinhas…
para descobrir, depois,
que em verdade… eram só minhas!
ISTELA MARINA

Cena que a todos encanta:
a mãe lindos sonhos tece,
enquanto canta e acalanta
o seu filho que adormece!
JEANETTE DE CNOP

Como a gralha azul que voa,
cultivando o Paraná,
a trova a terra povoa,
espalhando o seu maná.
JOSÉ FELDMAN

Contra-senso é eu ter na vida
por meu sol os olhos teus,
e ao te olhar, minha querida,
bem ceguinhos deixo os meus.
LUIZ HÉLIO FRIEDRICH

Quando li num caminhão,
procurei guardar de cor:
– “Minissaia e prestação…
quanto mais curtas… melhor”.
MAURÍCIO LEONARDO

Quando a neblina é mais densa
e a luz parece tão mansa,
na estrada o que a gente pensa
é que o sol ainda descansa.
OLGA AGULHON

Jequice não paga imposto,
e nem dá pra contestar.
O máximo, ante o mau gosto,
é a gente se lastimar…
OSVALDO REIS

Lá em casa, quando anoitece,
dormir não há quem consiga:
gulosa, a sogra parece
ter alarme na barriga.
VANDA ALVES

Na vanguarda, com certeza,
toda luz tem sua ação,
revestida de nobreza,
brilhando no coração.
VIDAL IDONY STOCKLER

Encobrir rompidos laços
por uma “paz’ aparente,
é como esconder pedaços
de “guerra” dentro da gente…
WANDIRA F. QUEIROZ
-----------


além destas, muitas outras de diversos estados podem ser encontrados na Revista Virtual de Trovas Trovia n. 130, outubro de 2010 em https://sites.google.com/site/pavilhaoliterario/Home ou http://www.academiadeletrasdemaringa.com.br/?page_id=2634, onde poderá encontrar numeros anteriores.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.10)


Trova do Dia

Brigamos, mas a tormenta
em instantes se desfaz;
um grande amor sempre inventa
um arco-íris de paz!...
DOMITILLA BORGES BELTRAME/SP

Trova Potiguar

Semeada com amor
no canteiro da bondade,
desabrocha com frescor
minha flor da mocidade.
IEDA LIMA/RN

Uma Trova Premiada

2000 > Niterói/RJ
Tema > DELÍRIO > M/H.

No delírio da paixão
beijo-te a boca, sem calma,
tendo a louca pretensão
de poder beijar-te a alma!
DIVENEI BOSELI/SP

Uma Poesia livre

José Cláudio/MG
LAMENTO.

Ora canção triste de minha boca
ora lamento opaco de tinta de minha pena.
Não sai palavra que não seja
alívio de alguma dor sem ensejo
dessas que invadem o peito
e não acatam a voz
e não alcançam ouvintes.
E assim vou seguindo
também indiferente
à dor que me rouba o encanto
Na paz que o silêncio me concede.

Uma Trova de Ademar

A multidão dos meus áis
com saudade se mistura;
que eu ouço a voz dos meus pais
por trás da velha moldura.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

No poente, o sol bem louro,
se reveste de magia
de ser uma chave de ouro
fechando o cofre do dia!
EUGÊNIA MARIA RODRIGUES/MG

Estrofe do Dia

Pelo feito do bombeiro
muita gente agradeceu
nesse país brasileiro
quando em excesso choveu,
pois no meio da barreira
fez da mão escavadeira
para salvar quem sofreu.
MARCOS MEDEIROS/RN

Soneto do Dia

Sônia Sobreira/RJ
MOMENTO.

No silêncio de um momento encantado,
onde o clarão dos astros conheci,
vem a noite em seu vestido brocado
lembrar-me um sonho lindo que eu vivi!

Nesse momento belo e apaixonado,
as mágoas e as lágrimas esqueci
e o mistério do universo estrelado,
me trouxe a calma, então, adormeci.

Mas quando o sol clareia os meus cabelos,
a brisa sopra e teima em desprendê-los,
o vento já não ri, o vento chora.

Desperto então do instante apaixonado
e os sonhos que voltaram do passado,
foram levados pelo mundo afora.

Fonte:
O Autor

domingo, 3 de outubro de 2010

Bienal do Livro do Paraná (Programação de Segunda-Feira, 4 de Outubro)



Antonio Brás Constante (Super-Herói – Dindhy, A Menina Que Perdia Os Chinelos)



Dindhy era, aparentemente, uma menina normal que vivia em um mundo louco, tão louco quanto o nosso, mas com um detalhe: lá existiam super-heróis. Seu pai tinha superpoderes, sua mãe também, e suas tias, primos e vizinhos. Até seu cachorro e o papagaio tinham superpoderes, e o fato mais importante é que eram poderes legais, bem legais, tais como: capacidade de voar, ficar invisível, atravessar paredes, etc. Dindhy também tinha um poder, mas seu poder não lhe trazia muitas alegrias, nem impressionava a garotada, pois Dindhy era conhecida em seu mundo como: A MENINA QUE PERDIA OS CHINELOS. Algo realmente cômico para alguns, mas desanimador para a pobre garota.

Talvez você ache graça de um poder assim, mas esta capacidade peculiar de desaparecer com os próprios chinelos já salvara a vida dela e de seus amigos em várias situações, como na vez em que o Doutor Louco (sim, também existiam super vilões no mundo de Dindhy, do contrário seu universo não teria muito sentido, e seria ainda mais parecido com o nosso) tentou acabar com a cidade da menina, e teria conseguido, mas quando tudo parecia perdido o Capitão Relâmpago (pai de Dindhy) milagrosamente encontrou um chinelo perdido, próximo de onde estava preso, conseguindo arremessá-lo na alavanca responsável pela tranca das celas de contenção, soltando os outros super-heróis ali aprisionados e detendo o Doutor Louco, que teve seus planos arrasados por um simples chinelo. E de quem era aquele chinelo perdido? Da Dindhy, é claro.

No princípio a mãe de Dindhy achava que era desleixo da garota perder seus chinelos a toda hora, e o que era pior, eles acabavam reaparecendo nos lugares mais inconvenientes, como na vez em que surgiram dentro da tigela de ponche, em um evento de comemoração do aniversário da rainha Glória, um verdadeiro vexame. Mas quando seus pais descobriram que aquilo não era simples travessura de criança e sim um poder latente, a menina passou a ser treinada na esperança de que seus poderes somente se manifestassem em situações em que pudessem ser úteis, sem estragar a festa de ninguém.

Dindhy tinha um amigo chamado Cyelo (que se referia a Dindhy como sendo sua princesa), que também possuía um estranho poder. Ele controlava a fumaça dos cigarros, charutos e similares. Cyelo tinha uma aparência cansada e envelhecida, apesar de ter apenas vinte e dois anos de idade (sete a mais do que Dindhy), a explicação para isso era bem simples, pois para gerar a fumaça necessária para manipulação de seus poderes ele precisava muitas vezes fumar vários cigarros de uma vez, e como todos sabem fumar causa envelhecimento precoce.

Os poderes de Cyelo surgiram ainda no início de sua adolescência, quando conseguiu controlar a fumaça do charuto de seu Avô, escrevendo no ar um palavrão que vivia sendo dito em sua casa por seus pais e seu avô (pessoas normais e sem poderes). Mas apesar de praguejarem aquela expressão a toda hora, a família de Cyelo ficou horrorizada com ele, pois achavam indecente ver tal palavra flutuando no ar, ainda mais sendo escrita por um rapazinho cheio de espinhas, e que diferentemente deles, demonstrava ter aptidões especiais.

Pelas convenções descritas no manual supremo dos super-heróis (um livro sagrado que contava a história de Arhtim o iluminado e os doze guerreiros da luz, e de seu pai o grande SUED), Cyelo, tendo sangue heróico, somente poderia fumar para gerar a fumaça necessária ao uso de seus poderes a partir dos dezoito anos, pois não era permitido que menores de idade, “tocados pelo tom do poder”, fumassem. No máximo ele poderia atuar de forma passiva, ou seja, utilizando a fumaça do cigarro de outros fumantes para combater o crime. Por outro lado os heróis (inclusive menores de idade) poderiam mutilar e espancar supostos marginais a qualquer momento, ou mesmo destruir livremente o patrimônio alheio, desde isso ocorresse de forma heróica, mas teriam que obedecer a um rígido código de conduta, onde, por exemplo, não poderiam praguejar em público, tirar vidas (exceto em casos extremos e comprovadamente heróicos), ou expor menores de dezoito anos (dotados de superpoderes) a vícios que de alguma forma maculassem a classe de heróis, pois ostentar uma imagem ilibada junto à sociedade era dever sagrado dos super-heróis.

Uma vez Cyelo enfrentou problemas ao tentar impedir um crime em um restaurante onde era proibido fumar. Cyelo, já com dezoito anos, bem que tentou agir, chegando ao local com seis cigarros acessos na boca, mas antes que pudesse atacar o bandido, foi forçado a se retirar do recinto por um dos garçons, que disse preferir correr o risco de levar um tiro a ser vítima de um enfisema pulmonar.

Cyelo de vez em quando tentava animar Dindhy (muitos achavam que ele gostava de uma forma especial daquela garota), dizendo que seus poderes também não eram lá grande coisa, já que as mulheres se afastavam dele por causa de seu hálito de cinzeiro. Mas se havia uma coisa que sempre o motivava a continuar com aquela carreira de herói-fumante eram as gravações dos comerciais antigos que ele assistia dos cigarros MalToro e Emhollywood, com músicas empolgantes e cenas incríveis, que despertavam em qualquer um a vontade de viver e de fumar.

O futuro, porém, não seria generoso com Cyelo, que descobriria anos mais tarde que poderia manipular a fuligem dos canos de descarga dos automóveis para utilizar como arma, não precisando mais fumar para municiar de fumaça os seus poderes, mas seria tarde demais, pois nesta época ele já teria desenvolvido um tipo de câncer pulmonar.

Dindhy também acabou enfrentando problemas em seu futuro, mesmo depois de saber que através de seus poderes poderia perder qualquer coisa. Ela foi até lançada como garota propaganda de um novo produto no mercado para perda de peso. Porém, a ampliação dos próprios poderes não lhe ajudaria muito quando em uma bela noite de outono, descobriria ter perdido sua aliança de casamento (a capacidade dela em perder coisas não serviu como desculpa). A aliança acabou sendo encontrada por seu esposo Kayo das pontes Altas, na cama de seu melhor amigo, quando Kayo foi lhe fazer uma visita de cortesia para jogar uma ou duas partidas de buraco entre amigos. Isso aconteceu no dia seguinte à perda do precioso anel. Após este episódio, Dindhy perdeu o marido, a guarda dos filhos, a casa e o carro (seriam seus próprios poderes agindo contra ela?).

O derradeiro golpe de misericórdia viria quando ela soubesse que os seus anos de combate ao crime ao lado do amigo Cyelo (que muitos consideravam seu amante), teriam colaborado para que contraísse uma terrível doença, já que de tanto aspirar à fumaça dos cigarros de seu colega, Dindhy tornara-se uma fumante passiva, com mazelas irreparáveis a sua saúde. Uma parceria que se mostrou tóxica, mas bela enquanto durou.

Assim termina a história da menina que perdia os chinelos, e se por algum motivo você achou que a leitura de todo este texto foi uma tremenda perda de tempo, isto pode significar que, de algum modo, os poderes dela também afetaram você...

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 9)

Um Ano sem Miguel Russowsky

Trova do Dia

Deus fez o mundo e ao fazê-lo
como quem sabe o que quer,
usou todo seu desvelo
na figura da mulher.
FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE

Trova Potiguar

Quando a dor de raivas breves,
de ti, musa, não tem fim,
escreves com traços leves
mil versos de amor em mim...
MANOEL CAVALCANTE/RN

Uma Trova Premiada

2000 > Niterói/RJ
Tema > DELÍRIO > Venc.

Meu delírio, ouvindo passos,
chega às raias da demência;
abre a porta, estende os braços
para abraçar tua ausência!
PEDRO ORNELLAS/SP

Uma Trova de Ademar

Sem cobrar qualquer metragem,
pela sombra ou pelos ninhos,
a árvore dá hospedagem
aos homens e aos passarinhos...
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Naquele amor que resiste
às invernias da idade,
a lembrança é órfão triste
nos asilos da saudade.
MIGUEL RUSSOWSKY/SC

Uma Poesia livre

Auzêh Freitas/RN
SER POESIA. SER POETA

Me desnudo de tudo
e sinto o absurdo que é
não acreditar
no que me veste
e me reveste.

Canso sem correr.
E o fim da caminhada
não é mais minha meta.

Quero seguir a passos lentos
tendo como único alento
a maravilhosa descoberta
que respiro e aspiro a mim mesma.

Ser Poesia. Ser Poeta.

Estrofe do Dia

Nosso caso de amor se encaminha
porque nada dos beijos se perdeu,
eu já fui de alguém hoje sou teu
tu já foste de outro e hoje és minha;
tu és mais poderosa que a rainha,
tu és mais valiosa que a safira,
e num concurso de misse outra não tira
tua nota nem toma esse teu posto;
ao beijar tua boca eu sinto gosto
da doçura do mel de jandaira.
RAIMUNDO NONATO/CE

Soneto do Dia

João Batista Xavier/SP
TRANSLAÇÃO DA AUSÊNCIA.

Com uma volta ao sol sem sua companhia
a saudade a doer procura no universo
uma estrela crescente em rima de mais verso
e eis que encontra um sorriso em forma de poesia!

Meditando perlustro um soneto e converso
com estrofes ativas sem tisne, elegia.
(e eis que encontro um sorriso em forma de poesia)
E a sua alma brilhante e emersa... e eu... imerso!

Sua ausência me acode num pranto doído
e afugenta o vazio ao cosmo infecundo;
me acalanta presente sem nunca ter ido.

Com a sua energia a sublimar meu mundo
eu rogo ao Criador descerrar esse véu...
e eu poder abraçar nosso doutor MIGUEL!!

Fonte:
O Autor

sábado, 2 de outubro de 2010

Trova 177 - Ademar Macedo (Santana do Matos/RN)

Don McLean (Vincent)

Starry Night (Vincent van Gogh, 1889)
Museu de Arte Moderna de Nova York
O quadro "Starry Night" (Noite Estrelada) foi pintado aos 37 anos, quando o artista esteve em um asilo em Saint-Rémy-de-Provence ( 1889-1890).

"Vincent" é uma canção composta pelo músico e compositor norte-americano Don Mc Lean escrita em homenagem a Vincent Van Gogh. É também conhecida por sua linha de abertura," Starry, Starry Night ", uma referência à pintura de Van Gogh "Noite Estrelada". A Canção também descreve outras pinturas do artista.

Mac Lean escreveu a letra em 1971, depois de ter lido um livro sobre a vida do artista.No ano seguinte, a canção se tornou o Hit nº 1 no Reino Unido, e alcançou o 12º lugar nos Estados Unidos.

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Vincent

Noite estrelada
Pinte suas cores de azul e cinza
Olhe os dias de verão
Com olhos que conhecem a escuridão da minha alma
Sombras nas colinas
Desenhe as árvores e os narcisos
Sinta a brisa e os arrepios de inverno
Em cores na terra de neve
Agora eu entendo
O que você tentou me dizer
E como você sofreu por sua sanidade
E como você tentou os libertar
Eles não queriam ouvir, eles não sabiam como
Talvez eles te ouçam agora

Noite estrelada
Flores em fogo com chamas brilhantes
Nuvens que giram em uma roxa neblina
Refletem nos olhos azuis de Vincent
Cores mudando de tom
Campos matutinos de grãos âmbar
Rostos cansados com dor
São acalmados pelas mãos afetuosas do artista
Agora eu entendo
O que você tentou me dizer
E como você sofreu por sua sanidade
E como você tentou os libertar
Eles não queriam ouvir, eles não sabiam como
Talvez eles te ouçam agora
Porque eles não podiam te amar
Mas mesmo assim seu amor era verdadeiro
E quando não havia mais esperança
Naquela noite estrelada
Você tirou sua própria vida, como amantes geralmente fazem
Mas eu poderia ter te falado,
Vincent,
Esse mundo nunca foi desenvolvido para pessoas tão bonitas quanto você

Noite estrelada
Retratos pendurados em paredes vazias
Cabeças sem porta-retratos em paredes sem nomes
Com olhos que observam o mundo e não esquecem
Como os estranhos que você conheceu
Os homens acabados, com roupas rasgadas
O espinho prateado
de rosas sangrentas
Está esmagado e quebrado, na neve virgem
Agora eu acho que sei
O que você tentou me dizer
E como você sofreu por sua sanidade
E como você tentou os libertar
Eles não queriam ouvir
Ainda não estão ouvindo
Talvez nunca ouvirão
––––––––––––––––––
Original em inglês
_______________
Starry starry night..
Paint your palet blue and grey
look out on a summer's day
with eyes that know the darkness in my soul
Shadows on the hills
Sketch the trees and the daffodiles
catch the breeze and the winter chills
in colours on the snowy linen land
Now I understand
what you tried to say to me
and how you suffered for your sanity
and how you tried to set them free
they would not listen they did not know how
perhaps they'll listen now.
Starry starry night
Flaming flowers that brightly blaze
swirling clouds in violet haze
reflect in Vincent's eyes of china blue
colours changing hue
morning fields of amber grain
weathered faces lined in pain
are soothed beneth the artist's loving hand
Now I understand
what you tried to say to me
and how you suffered for your sanity
and how you tried to set them free
they would not listen they did not know how
perhaps they'll listen now
For they could not love you
but still your love was true
and when no hope was left inside
on that starry starry night
You took your life as lover's often do
But I could have told you,
Vincent,
this world was never ment for one as beautiful as you
Starry starry night
Portraits hung in empty halls
framless heads on nameless walls
with eyes that watch the world and can't forget
like the strangers that you've met
The ragged men in ragged clothes
a silver thorn
a bloody rose
lie crushed and broken on the virgin snow
now I think I know
what you tried to say to me
and how you suffered for your sanity
and how you tried to set them free
they would now listen
they're not listening still
Perhaps they never will
--------
Fonte:

Pedro Ornellas (Prosas de Poeta – Soneto em 7)


Todos os sonetos com metro menor que 10 sons são por definição denominados SONETILHOS.

O soneto em sete é também chamado de soneto em redondilha maior ou heptassílabo.

Pouco cultivados, mas de beleza ímpar, merecem uma melhor atenção, razão pela qual conclamo meus amigos sonetistas a experimentá-lo, os que ainda não o fizeram. Quem sabe os trovadores que ainda não fazem sonetos possam começar por aí, afinal os dois quartetos são trovas.

Pesquisando, encontrei algumas nos poetas do passado:

De Emílio Menezes:

O VIOLINO

São, às vezes, as surdinas
Dos peitos apaixonados
Aquelas notas divinas
Que ele desprende aos bocados...

Tem, ora os prantos magoados
Dessas crianças franzinas,
Ora os risos debochados
Das mulheres libertinas...

Quando o ouço vem-me à mente
Um prazer intermitente...
A harmonia, que desata,
Geme, chora... e de repente

Dá uma risada estridente
Nos "allegros" da Traviata.

De Bernardino da Costa, que cultivava mais essa forma:

CROMO XXV

Na alcova sombria e quente
Pobre demais, se não erro,
Repousa um moço doente
Sobre uma cama de ferro.

Pede-lhe baixo inclinada,
Sua mulher — que adormeça,
Em cuja perna curvada
Ele reclina a cabeça.

Vem uma loira figura
Com a colher da tintura,
Que ele recusa, num ai!

Mas o solícito anjinho
Diz-lhe com riso e carinho:
— Bebe que é doce, papa
i!

Entre os poetas de hoje, Glauco Mattoso vem se dedicando ao heptassílado, como neste que fez aludindo a uma mensagem de teor biblico:

A TROVA E A PROVA
(a Pedro Ornellas)

A um confrade trovador
perguntei: "No que acredita?"
Respondeu: "Num Salvador,
na Palavra, em livro escrita!"

Mas pergunto-lhe: "E quem for
incapaz de ler?" Me cita
a Palavra oral: "O Amor
sempre encontra o que o transmita!"

Vem-me ainda outra questão:
si a Palavra pode ou não
ser verdade ou ser mentira.

Ele pensa um pouco e diz:
"Quem duvida e está infeliz
que comprove e que confira!"

Finalizo com um dos meus,

Pedro Ornellas
INFORMAÇÃO

Segue em seu carro o doutor
na estradinha empoeirada,
quando avista um lavrador
na roça puxando enxada.

Pergunta ao trabalhador:
“Não sou daqui... não sei nada...
pode informar, por favor,
se vai pra Franca esta estrada?”

Franzindo a testa, o caipira,
olha na estrada, suspira,
e na resposta se apressa:

“Si vai num sei, não sinhô...
mais vai sê ruim si ela fô,
que a gente aqui só tem essa!

Fontes:
O Autor
Imagem recebida por e-mail, sem definição de créditos do autor.

J. Heitor Montans Condé (O Tronco do Capeta)


Meu nome é Firmino Fonseca; isso mesmo, com dois fês, o Firmininho falado pra arrematar os fês; valente que nem a onça pintada, rápido e rusguento que nem gato do mato e ladino igual à raposa.

Vim ao mundo no meio do mato, filho de uma bugra das brabas, mulher de todas as coragens que só sossegou quando o velho meu pai, um mateiro, acho que meio português, que nunca lhe perguntei de onde vinha, lhe botou a mão no cangote. E então se embrenharam mato adentro a buscar uns palmos de terra que o pai ganhou de um coronel, talvez por não valerem nada, não compensar nem o machado.

Alguns trocados que o velho andou guardando a duras penas garantiram as ferramentas, alguns animais e uma carroça. Mais alguns sacos de mantimentos e esse foi o começo de uma luta sem trégua com a terra bruta.

A mãe me pariu agachada com as mãos apertando um galho de murici, à moda bugre mesmo, e aquele lugar esquecido de Deus foi meu berço e minha escola, a caneta era a enxada, a natureza os livros.

Já meio rapazote então, certa feita, ao voltar com o pai do povoado, que era bem longe, não encontramos minha mãe. Não fumegava a chaminé da choupana, nada no terreiro, ninguém no roçado! Sumiu!

O velho observou calado os quatro cantos, eu com o coração apertado, o fôlego curto, e tomou o rumo do rio, comigo nos calcanhares. À beira d'água jazia a tina de madeira cheia de roupas ainda por lavar, e a areia em redor toda marcada de rastros e sulcos, folhas e galhos quebrados por todo lado.

A onça pegou ela, filho! – o pai olhou para o nada. – Mas não se entregou sem luta, não, que a bugra tinha fibra!

E esse foi seu último comentário sobre o ocorrido, e eu, buscando lá no fundo uma nesga de valentia, engoli o nó na garganta e me calei para sempre, ... Ou pelo menos até hoje, quando cismei de contar a vocês esse meus passados.

Correu o tempo, sempre sem tempo pra muito matutar, até que um dia, quando a barba já me nascia farta, umas idéias de me vestir no mundo a ma rondar e martelar, o velho, como que adivinhando o que me ia na cachola, arreou a mula rosilha e me pôs as rédeas na mão;

- Rapaz, você já é homem feito e aqui não é lugar para enterrar sua vida. Vá e busque para você o que eu não consegui achar neste fim de mundo.

A mão firme em meu ombro, que o pai não era de muita prosa nem muitos afagos, me fez apenas olhar aquele olhar sereno no rosto firme, de longas barbas, a testa vincada de muitos sóis.

Um tantinho de farinha, carne seca, uns poucos trocados, e saí pela porteira de paus roliços, ganhando o trilho. Uma vez ainda, com um soluço, olhei para trás a tempo de ver a mão acenando e ouvir suas últimas palavras:

- Em três coisas jamais acredite, rapaz: cavalo do olho pelado, choro de mulher dama e promessa de político.

E de lá para hoje venho medindo esse mundo de Deus, enfrentando o que aparece, seja animal xucro pra quebrar, viagem com boiada estrada afora, qual um errante cigano, e até mesmo alguma empreita pra criador de gado. Assim foi até o dia em que um entrevero me mudou o rumo da vida ...

Calma que eu conto, mas antes me deixem molhar a goela que essa cachaça está um especialidade!

... Pois é, gente, como eu dizia, a hora da virada na vida chega sempre quando menos se espera!

Andava eu por estas paragens, seguindo a estrada batida. Era já final de tarde, o céu se avermelhando lá detrás da serra, o cavalo e a besta cargueira suspirando de cansaço, quando parei em uma encruzilhada. Ao braço direito, um tronco de angico preto deitado no barranco marcava o começo de descida suave, num caminho mais estreito. Mais além, o trilho cortava um capãozinho de mato e, por cima das copas, uma fumacinha esbranquiçava o ar. Um galo cantou ao longe e, como diz a moda roceira, no lugar que canta o galo, decerto que mora gente, desci pelo caminho estreito esperando encontrar onde passar a noite.

Parei o cavalo ante uma cerca de arames bambos. Lá no meio do terreiro batido, uma casinha simples, sem pintura , com paiol de milho e chiqueiro nos fundos. O cachorro pintado e grande latiu e a porta foi aberta deixando escapar uma luz amarelada.

Assomou ao umbral um vulto alto e magro que caminhou em minha direção, as feições se delineando à medida que se aproximava deixando para trás o brilho da lamparina. Era um homem de mais de meia idade, bem moreno, o corpo magro mas musculoso, cabelos cor de carvão.

Chegou à beira da cerca e saudou-me levando a mão à aba do chapéu.

- Boas tarde "sô" moço! Apeie e vamos acabar de chegar!

Conversamos ali por um fiozinho de tempo e eu lhe disse a que vinha.

- Ora, mas é com muito gosto que “lhe” recebo, "sô" moço.Tem um quarto e uma cama sobrando. Desarreie os animais, solte no piquete lá detrás que a grama está verdinha, e venha para dentro que a janta está pronta.

De fato o cheiro dos temperos e da banha de porco viajava o ar aguçando o apetite. Serviu o jantar uma moça morena, linda, uma beleza cabocla, o rosto delicado emoldurado pela cabeleira negra e brilhante que lhe caía pelos ombros.

O velho, "sô" Pedro Reis, apresentou.

- Essa é minha filha Esmeralda, a única família que tenho. A mãe, que Deus a tenha, partiu nas águas de novembro três anos atrás, e o rapaz sumiu no mundo faz muito tempo, que nunca teve um pingo de juízo.

De barriga cheia, sentamo-nos em tamboretes do lado de fora observando uma meia lua solitária por entre a fumaça dos cigarros de palha. Ali ficamos um tempo em silêncio, olhando para ontem, e então o velho virou-se para mim e disse, meio de surpresa, me embasbacando um pouco:

- "Sô" Firmino, o senhor acredita em assombração?

- Ora, não sei não! Já ouvi muita história, e de gente que não conta mentira, mas ver mesmo ...

- Pois eu lhe digo, "sô" Firmino, que aqui mesmo andam acontecendo coisas de arrepiar os cabelos!

E "sô" Pedro me contou o que se passava. Fazia um tanto de tempo que sua casa se transformou num inferno; era um barulho só, e toda noite, como tive ensejo de confirmar. Lá pelas tantas, acho que meia noite, começou uma algazarra infernal; pancadas no telhado como se alguém quisesse derrubar tudo, assobios agudos e esturro de onça ao redor da casa, uivo de lobo. Do outro quarto chegava até mim o som meio abafado da reza de "sô" Pedro e da moça, pedindo por tudo que é santo, mas a coisa continuou noite adentro.

Assim que amanheceu, tive uma conversa com o dono da casa.

- Mas, "sô" Pedro, como é que o senhor vive com essa fuzarca?

- A gente reza, "sô" Firmino, reza e agüenta, sei lá como.

- Mas isso é o capeta, "sô" Pedro, é o próprio! O senhor já viu?

- Ver eu não vi não! Me disseram que fica sentado num tronco de angico que tem lá na encruzilhada, amolando e assombrando todo viajante que passa, mas nunca andei por lá depois que escurece.

- Pois eu vou lá, "sô" Pedro. E é hoje mesmo que acerto as contas com esse filho da puta!

- "Sô" Firmino, não vá não, pode ser perigoso!

- Deixe comigo, "sô" Pedro, deixe comigo!

Assim disse e assim fiz. Quando foi de tarde, logo que o sol começou sua caminhada morro abaixo, arreei o cavalo, botei o “cospe-fogo” na goiaca e vim tomar um trago aqui na venda, menos de légua de distância. Passei pelo tronco e já vim maquinando:

- Na volta vamos ver onde é o ninho da onça!

Fiquei aqui tomando cachaça, essa mesmo, a boa, devagar e sem pressa, esperando o cair da noite e quando isso se deu, virei o último gole e me finquei no caminho. Lá vinha eu pela estrada e ao me aproximar do tal lugar ouvi um assobio alto que até doeu nos ouvidos e quando olhei para o lado do tronco lá estava o excomungado, sentadão, com os olhos vermelhos de fogo, sorrindo para mim um sorriso debochado com os dentes amarelos maiores que eu já vi!

Nem pensei duas vezes; saquei do “fala a verdade” e já fui fazendo barulho! E eu lhe digo, rapaz, que descarreguei o danado e tenho certeza de que não errei um tiro, que sou bom nisso, mas o desgraçado continuou lá, com aquela dentaria à mostra, se rindo de mim.

De repente, como um raio, ele saltou para a garupa do cavalo e bufou nas minhas costas; e sapecou-me um tapa no pé da orelha que me jogou ao chão, levantando poeira, e desceu atrás. Levantei-me e ficamos frente a frente.

Mas ora, "sô" menino, que eu sou o Firmininho falado!

Medi bem o cornudo e pensei:

- Se bala não adianta, a coisa vai ser é no braço mesmo!

Assim pensei, assim me aviei! Assentei-lhe um soco no bucho com a força desse braço lavrado na lida. O punho foi fundo, entrou até nos “como é que chama” lá dele arrancando um bufado feio.

Aí, pois, que só escutei um estouro de rojão e o fiadaputa sumiu numa nuvem de fumaça fedendo a enxofre ...

Bem, isso já faz um tempo. O Capeta se foi e eu fiquei.

Fiquei lá no sítio sossegadão!

"Sô" Pedro Reis hoje é meu sogro e minha cabocla Esmeralda vai parir um neto de bugra, mês que vem ou pouco mais.

Até qualquer dia, rapaziada …

Fontes:
J.H.Montans Condé. Queimando Campo.
Imagem = http://fantacos.com.sapo.pt/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.8)


Trova do Dia

De remédio tem mania,
mas vício... não tem nenhum!...
– toma mil gotas por dia...
da erva “Cinquenta e Um”!...
CLENIR NEVES RIBEIRO/RJ

Trova Potiguar

Chupando cabras na serra
o E.T. está na pior.
Sem saber que aqui na terra
tem coisa muito melhor!
BOB MOTTA/RN

Uma Trova Premiada

1994 > Bandeirantes/PR
Tema > GRANA > Venc.

Dei dinheiro esta semana
para a sogra viajar
a minha sorte é que a grana
não dá pra velha voltar.
SERGIO FERRAZ/RJ

Uma Trova de Ademar

A minha sogra, assanhada,
no barracão da mangueira,
foi muito mais apalpada
do que laranja na feira!...
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram

Era uma bruxa sem graça!
Não me dava paz nem trela.
Eu, então, só por pirraça,
me casei com a filha dela.
CÉLIO GRUNEWALD/MG

Uma Poesia Livre

Sylvio Von Söhsten Gama/AL
ABANDONEI

Abandonei a infância,
ainda cedo,
porque me fiz precoce.
Abandonei a adolescência
na excelência
de seu pleno gozo,
porque ao meu destino quis dar posse.
Abandonei a luta pela vida
quando senti cansaço.
E quanto a esta velhice?
Que é que eu faço?
Se a abandono...
Da vida passo.

Estrofe do Dia

Minha mulher já brigou
com minha própria cunhada,
chamou a irmã safada
porque me cumprimentou,
inda ontem perguntou
por que é que essa cadela
só vem na minha janela
quando você se apresenta?
Eita mulher ciumenta
essa que eu casei com ela!
VALDIR TELES/PB

Soneto do Dia

Francisco Macedo/RN
VOCAÇÃO FRUSTRADA.

Menino, meu sonho! Ser Padre: Sonhava...
Falava sozinho pelo meu sertão,
fazia ecoar o mais lindo sermão
a pedra era o altar, lá de cima eu falava.

Mocós, os preás, e o vento, que escutava.
Os cães, as galinhas, porcas o barrão.
Os pássaros, todos... Uma multidão,
parava ante a voz que e à caatinga ecoava...

Fiquei só no sonho, hoje aqui confessado,
a igreja perdeu mais um padre arretado;
depois de ser Bispo; um Papa brasileiro!

Seria o maior e mais iluminado,
e o nome, por certo, deste meu papado,
deveria ser: Papa Gaio Primeiro.

Fonte:
O Autor

III Congresso Nacional de Pesquisa em Literatura e XI Seminário de Estudos Literários (13 a 15 de Outubro em São José do Rio Preto/SP)


O Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", UNESP, campus de São José do Rio Preto convida os pesquisadores de literatura e de áreas afins para o III Congresso Nacional de Pesquisa em Literatura e XI Seminário de Estudos Literários, SEL, que ocorrerá de 13 a 15 de outubro de 2010

O Congresso promoverá Conferências, Mesas debatedoras, Mesa de Poetas, Simpósios, Mesas de Escritores, Sessão de Paineis, coffee break, além de Coquetel de lançamento de livros. Os alunos de pós-graduação poderão apresentar comunicação nos simpósios oferecidos. Haverá também, para graduandos interessados, apresentação de paineis.

Para mais informações, acessem o site:

http://www.eventos.ibilce.unesp.br/congressoliteratura/index.php

O e-mail para esclarecimento de dúvidas é sel2010divulgacao@yahoo.com.br

O III CONGRESSO NACIONAL DE PESQUISA EM LITERATURA é uma iniciativa do Programa de Pós-Graduação em Letras do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE), câmpus da Universidade Estadual Paulista (UNESP), de São José do Rio Preto (SP). O encontro reúne pesquisadores de literatura - mestres, doutores, pós-graduandos e graduandos -, além de poetas e escritores. O Congresso realizar-se-á nas dependências do IBILCE, nos dias 13, 14 e 15 de outubro de 2010.

Perfis do Contemporâneo colocará em foco uma diversidade de visões sobre as atuais manifestações literárias, por meio de atividades voltadas à reflexão crítica e à atuação artístico-cultural. O propósito do evento é abrir-se a discussões acerca dos perfis da literatura em sintonia com posicionamentos inovadores do fazer literário moldado por distintas linguagens, no que se refere, por exemplo, a novas tecnologias no campo da literatura, em termos de produção e divulgação; às relações entre literatura e fotografia, literatura e cinema, literatura e pintura; às questões de gênero literário; à problematização da teoria da literatura no âmbito das obras contemporâneas. Portanto, perfis com muitas faces, em que se entrecruzam imagem, som, texto, palavra, movimento e corpo – signos múltiplos em diálogo.

O XI SEMINÁRIO DE ESTUDOS LITERÁRIOS (XI SEL) é parte das atividades do Programa de Pós-Graduação em Letras do IBILCE. Tem como objetivo promover o debate dos projetos desenvolvidos em nível de Mestrado e Doutorado, a fim de que haja, por meio da crítica, a melhoria no trabalho de pesquisa como um todo. É um espaço importante para o pós-graduando, uma vez que já se prepara para o embate crítico de sua pesquisa. As bancas de avaliação dos projetos, além de professores do Programa, são compostas por docentes convidados especialmente para esse fim, permitindo uma discussão mais ampla das questões implicadas nos trabalhos.

O Congresso compreende conferências, simpósios, mesas-redondas e mesas debatedoras.

As conferências serão proferidas por pesquisadores renomados em suas áreas de atuação, dividindo experiências no campo da pesquisa em literatura.

Os simpósios são organizados por professores doutores, sob cuja coordenação os participantes inscritos apresentam seus trabalhos de pesquisa.

As mesas-redondas têm como intuito promover o debate crítico sobre poesia e sobre narrativa. São formadas por docentes pesquisadores, poetas e escritores.

As mesas debatedoras discutem os projetos de pesquisa em desenvolvimento, em nível de mestrado e de doutorado.

PROGRAMAÇÃO

13 de outubro (quarta-feira)

8h: Entrega de material e últimas inscrições

9h30: Cerimonial de abertura

10h-12h: CONFERÊNCIA 1: "Literatura na era digital" - Profª Drª Lúcia Santaella (PUC/SP)

14h-16h: MESAS DEBATEDORAS

16h: Café

16h30-18h: MESA-REDONDA: "A narrativa contemporânea em revista"

·Profª Drª Maria José Palo (PUC/SP): "A narrativa moderna e contemporânea: formas (d)escritas"

·Profª Drª Márcia Valéria Zamboni Gobbi (UNESP/Araraquara): "A construção do espaço da escrita na narrativa portuguesa contemporânea"

·Profª Drª Marisa Corrêa Silva (UEM/PR): "A escrita de Murilo Rubião: a pulsão como técnica narrativa

18h-19h: Coquetel e Lançamento de livros

19h-21h: MESA DE POETAS: Fábio Weintraub (SP) e Antônio Vicente Seraphim Pietroforte (SP)

14 de outubro (quinta-feira)

8h-10h: SIMPÓSIOS

10h: Café

10h-12h: MESA DE ESCRITORES: Carlos Felipe Moisés (SP) e Francisco Lopes (MG)

14h-16h: MESAS DEBATEDORAS

16h: Café

16h30-18h: MESA-REDONDA: "Poesia contemporânea: perfis"

·Profª Drª Diana Junke Martha Toneto (UNAERP/Ribeirão Preto): "'Memória se deseja: o resto se ouça ou veja': considerações sobre memória, corpo e desejo em um poema de Frederico Barbosa"

·Prof. Dr. Álvaro Falleiros (USP/SP): "A massa-palavra: leituras brasileiras de Christophe Tarkos"

·Profª Drª Paola Poma (USP/SP): "As voltas com Marianas, Marias e por que não José?"

18h-19h: Sessão de Painéis

19h30: Jantar por adesão

15 de outubro (sexta-feira)

8h-10h: SIMPÓSIOS

10h: Café

10h30-12h: CONFERÊNCIA 2: Prof. Dr. Jorge Fernandes da Silveira (UFF/Niterói): "Breve Sumário da Experiência da Grafia"

14h-16h: MESAS DEBATEDORAS

16h: Café

16h30-18h: Assembléia

Ialmar Pio Schneider (Baú de Trovas X)


A esperança, nesta vida,
é tudo que nos conduz,
pela estrada florescida
de sonhos de amor e luz !...

A felicidade é abstrata,
Não a podemos tocar,
É uma forte candidata
De quem vive para amar.

Alguma coisa me diz
Que um dia chegarás,
Só assim serei feliz
E quem sabe viva em paz !

Às vezes na solidão,
Eu sonho com teus carinhos,
Tento te esquecer em vão,
Pois vives em meus caminhos...

Caminhemos pela vida,
qual se fôssemos crianças,
e por mais ríspida a lida,
nunca nos falte esperanças !

Certo dia andava triste
Pelas ruas da cidade,
Foi então que tu surgiste
Pra minha felicidade.

Depois de tantos caminhos
percorridos nesta vida,
meu troféu são teus carinhos
que tenho em contrapartida.

Esquecer não é somente,
A força pra não lembrar,
É viver bem o presente
Pra não ter que retornar...

Esta chuva me visita,
vem despertando a saudade,
ao lembrar quanto és bonita,
pois és a felicidade !

Eu não sei porque sorris
Quando me vês sem ninguém,
Teus sorrisos são gentis –
Talvez precises de alguém.

Eu não te quero somente
Pela aparência exterior;
Meu querer é mais ardente,
Mais profundo meu amor.

Faça chuva, faça sol,
meu amor é permanente;
desde o surgir do arrebol,
até descer o poente.

Lá na praia se encontraram
e viveram na ilusão,
pois apenas se tornaram
namorados de verão...

Lobo da Estepe sozinho
ando à procura de alguém,
seguindo pelo caminho
que agora mais me convém.

Longe de ti me entristeço
pela falta de carinho
e pago o mais alto preço
nesta vida tão sozinho...

Meu destino é fazer versos
Pra compor as minhas trovas,
Quanto mais sejam diversos
Mais elas hão de ser novas...

Na trova tudo acontece,
que o diga meu coração,
pois amei quem não merece
possuir minha paixão.

Nesta vida surge o amor
Que vem abraçar nós dois;
E no fim do corredor
Vem a saudade depois...

O menestrel sem juízo
um dia nasceu em mim,
daquele instante, preciso
me comunicar assim...

Outrora fui solitário,
não tinha grande vaidade,
mas, hoje, sou perdulário
de tanto amor e saudade.

Quando fui apaixonado
por uma estranha mulher,
meu coração era amado
e eu não quis a quem me quer.

Quantas noites mal dormidas,
Já quase perdendo o juízo,
Ó meu bem, por que duvidas
Que é de ti que eu mais preciso ?

Quantas trovas, quantos versos,
me levaram de roldão,
a conhecer universos
existentes na ilusão...

Quem deseja ser feliz
Deve nutrir a ilusão;
Será sempre um aprendiz
Das coisas do coração.

Quem namorou algum dia,
sabe o quanto se requer,
para ter a simpatia
e o coração da mulher.

São duas jabuticabas,
Teus olhos mirando os meus,
Vou dizer-te, pra que saibas,
Meus tristes olhos são teus.

Ser feliz nesta existência
Talvez apenas consiste
Em demonstrar na aparência
Ser sempre alegre e não triste...

Ter-te comigo sozinha
Numa noite enluarada,
É toda a vontade minha
E nem desejo mais nada.

Toda noite durmo e sonho
com os teus olhos brilhantes,
porque teu rosto risonho
nem me deixa por instantes...

Tua pele morena clara
Tem um quê de sedutor,
Não sei com que se compara...
Deve ter muito calor.

Fonte:
O Autor

Ésquilo (Prometeu Acorrentado)



Texto de Anatoli Oliynik, obtido em seu blog http://anatoli-oliynik.blogspot.com/
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Autor: Ésquilo (525 a.C. – 456 a.C.)
Assunto: Tragédia grega

SINOPSE:

Zeus, rei dos deuses e dos homens, acabara de assumir o poder após a titanomaquia (luta que elevou os deuses olímpicos ao poder). Soberano despótico e parricida manda acorrentar Prometeu, seu antigo aliado, em um rochedo culpando-o de muitos "crimes" a favor dos mortais. O mais grave dentre eles foi o de roubar o fogo dos deuses para dá-lo aos homens.

Por isso Zeus ordena que Prometeu seja acorrentado por 30 mil anos a um rochedo, onde uma ave vem diariamente dilacerar-lhe o fígado, que se regenera noite. No entanto, apesar das súplicas que alguns deuses fazem a Prometeu para que ele vá se redimir humildemente com Zeus, ele se recusa, afirmando que o pai dos deuses ainda necessitará de sua ajuda. Prometeu diz que sabe de um segredo que ameaça o reinado de Zeus: o filho deste num casamento próximo o destronará e somente ele sabe como impedi-lo. Porém, recusando-se a revelar como, é condenado a um castigo ainda mais mais severo.

Personagens:

Todas as personagens são divinos: a tragédia é uma teomaquia, i.e., uma disputa entre os próprios deuses. Há um intenso conflito de personalidade entre Prometeu e Zeus, este ausente do palco.

- PROMETEU: Um titã filho Urano (o Céu) e Gaia (a Terra).
- HEFESTO: Deus do fogo, dos metais e da metalurgia; filho de Zeus, irmão de Hermes.
- CRATOS: Filho de Palas; personificação do poder de Zeus.
- CORO: As jovens Oceanides, filhas de Oceano e primas de Prometeu.
- OCEANO: Titã que personificava as águas primitivas que cercam o mundo; tio de Prometeu e pai das oceânides.
- IÓ: filha do rei Ínaco, amada por Zeus e perseguida por Hera esposa de Zeus (Io é a única personagem humana na história; todos os demais não são humanos, são deuses).
- HERMES: Mensageiro dos deuses, protetor dos viajantes e condutor das almas dos mortos ao Hades; filho de Zeus, irmão de Hefesto.
- FIGURANTE: Bias, irmão de Cratos.

A OBRA:

A ação do Prometeu acorrentado transcorre numa região desolada da Cítia(1), Hefesto, o Poder e a Força, divindades auxiliares de Zeus, chegam arrastando o titã Prometeu, vítima da ira deste último deus. Hefesto prega-o num rochedo, observado pelo Poder, que vigia o deus do fogo, constrangido com sua missão, e o anima com a alegação de que Prometeu se rebelara contra a vontade divina com o intuito de ajudar a humanidade primitiva. Cumprida a missão, Hefesto, o Poder e a Força retiram-se abandonando Prometeu em sua agonia solitária. Rompendo o silêncio, o titã filantropo proclama sua indignação diante do céu, do mar e da terra em sua volta. Este monólogo cessa quando se ouve um ruído de asas e em seguida aparecem as Oceanides, ninfas do mar quem constituem o coro (voz do povo), despertadas pelo ruído do martelo contra os cravos quando Hefesto prendia o titã ao rochedo. Elas tentam animar Prometeu, que lhes conta como Zeus, graças a ele, conseguiu derrotar os outros titãs e tornar-se o novo soberano dos deuses. Isto feito, Zeus consolidou seu poder absoluto e resolveu destruir a humanidade para criar uma nova raça. Prosseguindo em sua narração Prometeu diz que, por amor às criaturas humanas, conseguiu salvá-las da destruição e lhes deu o fogo por ele roubado do céu, permitindo assim o início da civilização.

Aparece então Oceano, pai das Oceanides, um titã que se manteve afastado do conflito com Zeus. Ele deseja ver Prometeu livre de seus grilhões, e o aconselha a curvar-se diante do novo soberano. O prisioneiro ouve polidamente o conselho, mas não o aceita. O visitante retira-se, enquanto o coro comenta as lamentações de todos os mortais por causa do suplício de seu protetor. Em seguida Prometeu relembra as artes por ele inventadas para aliviar as misérias da condição humana. O coro pergunta se o titã acorrentado tem esperanças de libertar-se, e ele menciona vagamente uma possível queda de Zeus. Em seguida, celebra o poder soberano dos deuses e demonstra a estranheza diante da obstinação de Prometeu. Aparece então Io, uma mortal amada por Zeus, e, a pedido do coro, Prometeu revela o estranho infortúnio da moça: diante das investidas amorosas de Zeus contra ela, Hera, mulher dele, transformou Io em novilha e mandou que um moscardo passasse a segui-la por todos os caminhos da terra, picando-a incessantemente. Prometeu profetiza a continuação de suas caminhadas errantes, que iriam terminar no Egito, e fala com maior clareza na queda de Zeus, narrando ainda as andanças passadas de Io, concluindo com a profecia de que no Egito ela daria à luz um filho de Zeus chamado Épafo. Prosseguindo, Prometeu revela que um arqueiro corajoso (Heracles) o libertaria depois de decorridas várias gerações. Repentinamente, num acesso de desespero, Io sai correndo. O coro canta os perigos oriundos das uniões de mortais com divindades. Prometeu reitera a sua previsão de que Zeus será destronado por um filho dele.

Entra em cena Hermes, o deus mensageiro de Zeus, pedindo ao infeliz titã para revelar-lhe o segredo fatídico em relação à queda de Zeus. Tratado desdenhosamente por Prometeu, Hermes anuncia-lhe torturas ainda mais cruéis; a águia que devoraria a cada dia seu fígado, que se recomporia também diariamente, e um cataclismo que o lançaria no Hades. As Oceanides insistem para que Prometeu se submeta a Zeus, mas quando Hermes anuncia que se não se afastassem do titã elas também sofreriam, negam-se altivamente a dar-lhe ouvidos. Ocorre, então, o cataclismo, durante o qual prometeu desaparece juntamente com as Oceanides.

COMENTÁRIOS

Prometeu Acorrentado é a única tragédia que sobreviveu de uma trilogia que teria, na ordem de apresentação, Prometeu Acorrentado, Prometeu Libertado e Prometeu Portador do Fogo.
Prometeu (Prometheus em grego) significa "o que pensa antes".

A figura trágica de Prometeu constitui um dos mitos gregos mais presentes na cultura ocidental. Prometeu pertencia à estirpe dos Titãs, descendentes de Urano (o Céu) e Gaia (a Terra). O poeta Hesíodo relatou, em sua Teogonia, como Prometeu roubou o fogo escondido no Olimpo para entregá-lo aos homens.

O fogo que Prometeu roubou simboliza a Inteligência. A razão dessa atitude consiste no seguinte: Epimeteu, irmão de prometeu fora encarregado da tarefa de dar a todos os animais uma autodefesa. Entretanto, Epimeteu esquece-se dos humanos. Prometeu para compensar o esquecimento do irmão, dá aos humanos o fogo que simboliza a inteligência, portanto, a única autodefesa que os humanos têm. Para castigá-lo, Zeus enviou-lhe a bonita Pandora, portadora de uma caixa que, ao ser aberta, espalharia todos os males sobre a Terra. Como Prometeu resistiu aos encantos da mensageira, Zeus o acorrentou a um penhasco, onde uma águia devorava diariamente seu fígado, que se reconstituía. Lendas posteriores narram como Hércules matou a águia e libertou Prometeu. Na Grécia, havia altares consagrados ao culto a Prometeu, sobretudo em Atenas. Nas lampadofórias (festas das lâmpadas), reverenciavam-se ao mesmo tempo Prometeu, que roubara o fogo do céu, Hefesto, deus do fogo, e Atena, que tinha ensinado o homem a fazer o óleo de oliva.

A cena se passa na Cítia, situada por Heródoto a nordeste do Mar Negro, território onde se situa atualmente a maior parte da Rússia. Segundo um antigo comentador da peça, Prometeu havia sido aprisionado por Zeus há mais de 30.000 anos...

Por ordem de Zeus, Hefesto, deus do fogo, prende Prometeu a uma rocha na inóspita Cítia; Cartos supervisiona seu trabalho. Prometeu lamenta-se, mas diz que previu tudo, sabe o que irá acontecer no futuro e que Zeus ainda precisará dele. O Coro (sempre representa a voz do povo) chega e lamenta a sorte de Prometeu, que volta a dizer que no futuro Zeus dependerá de seu auxílio.

Prometeu relata ao Corifeu a luta de Zeus contra os titãs, como evitou que a humanidade fosse destruída por ele, e os benefícios que obteve para os mortais. Oceano vem visitá-lo, exorta-o a dirigir-se com humildade a Zeus e diz que tentará interceder em seu favor, mas Prometeu o dissuade.

O Coro lamenta novamente o destino de Prometeu; ele conta que todas as artes vieram aos homens através dele: a construção de casas e navios, a domesticação de animais, a escrita, os números, os remédios, a adivinhação, etc. O Coro diz que é perigoso contrariar Zeus, e recorda as núpcias de Prometeu.

Chega a errante Ió, na forma de uma novilha, perseguida desde Argos pela incessante picada de um inseto enviado pela ciumenta Hera. Ela conta a Prometeu e ao Coro suas desventuras, e Prometeu revela as coisas que irão acontecer-lhe até chegar ao seu destino, o Egito, e que um de seus descendentes o libertará um dia. Ió foge, aguilhoada pela picada do inseto.

O Coro canta que "o bem supremo é a mulher se casar segundo a própria classe", e esperam que Zeus nunca olhe para elas.

Prometeu revela finalmente ao Corifeu que o filho gerado por Zeus em um casamento próximo o destronará, e que somente ele sabe como impedi-lo. Hermes aparece e interroga-o, mas Prometeu orgulhosamente recusa-se a revelar qualquer coisa. Hermes avisa que Zeus lhe dará novos castigos: um trovão o lançará no fundo da terra e, quando voltar à luz, uma águia virá diariamente comer-lhe o fígado. Prometeu recusa-se novamente, e diz que já ouve o trovão de Zeus aproximar-se... (a história é inconclusa).

A continuação da história provavelmente se encontra na obra Prometeu Libertado da qual, lamentavelmente, só se encontram alguns fragmentos. Especula-se que Prometeu se reconcilia com Zeus.

SENTIDO DA HISTÓRIA

A história representa o eterno conflito entre dois poderes: o Poder Temporal (Zeus) e o Poder Espiritual (Prometeu). Zeus representa o poder temporal porque, embora rei dos deuses e dos homens, não possuía a capacidade de prever o futuro, enquanto Prometeu sim.

CONCLUSÃO

O mundo manifestado vive o eterno conflito entre o Poder Temporal e o Poder Espiritual há mais de 2.500 anos. Considerando que o ser humano se encontra entre dois mundos: o Firmamento de Luzes (A Lei de Deus) e o Abismo de Trevas (A Lei dos Homens) a sua existência no mundo sensível, portanto real será eternamente conflituosa. Trata-se de um problema insolúvel para a humanidade, porque ambas as Leis são necessárias ao homem. A única saída possível é o respeito a hierarquia (ordem sagrada) do Poder Temporal ao Poder Espiritual. Em outras palavras: Enquanto a Lei dos Homens não considerar a hierarquia da Lei Divina, o conflito permanecerá eternamente.

Não será matando Deus, que a Paz e a Felicidade reinarão sobre a face da Terra. Em todo mundo, há exemplos fracassados de que não é possível realizar qualquer projeto humano sem considerar a possibilidade Divina.
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[1] Região remota e deserta, corresponde à maior parte da atual Rússia na direção do oriente, cujos limites eram muito bem definidos. De suas montanhas podia-se ver o mar Negro (o antigo Ponto Euxino) e o mar de Azov (antigo Palos Meótis).