sábado, 3 de dezembro de 2011

José Paulo Paes (Poemas para Brincar)


CONVITE

Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.

Só que
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.

As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.

Como a água do rio
que é água sempre nova.

Como cada dia
que é sempre um novo dia.

Vamos brincar de poesia?

CEMITÉRIO

1
Aqui jaz um leão
chamado Augusto.
Deu um urro tão forte,
mas um urro tão forte,
que morreu de susto.

2
Aqui jaz uma pulga
chamada Cida.
Desgostosa da vida,
tomou inseticida:
era uma pulga suicida.

3
Aqui jaz um morcego
que morreu de amor
por outro morcego.
Desse amor arrenego:
amor cego, o de morcego!

4
Neste túmulo vazio
jaz um bicho sem nome.
Bicho mais impróprio!
Tinha tanta fome
que comeu-se a si próprio.

ATENÇÃO, DETETIVE


Se você for detetive,
descubra por mim
que ladrão roubou o cofre
do banco do jardim
e que padre disse amém
para o amendoim,

Se você for detetive,
faça um bom trabalho:
me encontre o dentista
que arrancou o dente do alho
e a vassoura sabida
que deixou a louca varrida.

Se você for detetive,
um último lembrete:
onde foi que esconderam
as mangas do colete
e quem matou os piolhos
da cabeça do alfinete?

PATACOADA

A pata empata a pata
porque cada pata
tem um par de patas
e um par de patas
um par de pares de patas.
Agora, se se engata
pata a pata
cada pata
de um par de pares de patas,
a coisa nunca mais desata
e fica mais chata
do que pata de pata.

PESCARIA

Um homem
que se preocupava demais
com coisas sem importância
acabou ficando com a cabeça cheia de minhocas.
Um amigo lhe deu então a idéia
de usar as minhocas
numa pescaria
para se distrair das preocupações.
O homem se distraiu tanto
pescando
que sua cabeça ficou leve
como um balão
e foi subindo pelo ar
até sumir nas nuvens.
Onde será que foi parar?
Não sei
nem quero me preocupar com isso.
Vou mais é pescar.

LETRA MÁGICA

Que pode fazer você
pra o elefante
tão deselegante
ficar elegante?
Ora troque o f por g!

Mas se trocar, no rato,
o r por g,
transforma-o você
(veja que perigo!)
no seu pior inimigo:
o gato.

PARAÍSO

Se esta rua fosse minha,
eu mandava ladrilhar,
não para automóvel matar gente,
mas para criança brincar.

Se esta mata fosse minha,
eu não deixava derrubar.
Se cortarem todas as árvores,
onde é que os pássaros vão morar?

Se este rio fosse meu,
eu não deixava poluir.
Joguem esgotos noutra parte,
que os peixes moram aqui.

Se este mundo fosse meu,
eu fazia tantas mudanças
que ele seria um paraíso
de bichos, plantas e crianças.

GATO DA CHINA

Era uma vez
um gato chinês

que morava em Xangai
sem mãe e sem pai,

que sorria amarelo
para o Rio Amarelo,

com seus olhos puxados,
um pra cada lado.

Era um gato mais preto
que tinta nanquim,

de bigodes compridos
feito mandarim,

que quando espirrava
só fazia "chin!"

Era um gato esquisito:
comia com palitos

e quando tinha fome
miava "ming-au!"

mas lambia o mingau
com sua língua de pau.

Não era um bicho mau
esse gato chinês,

era até legal.
Quer que eu conte outra vez?

RESPOSTAS


- Vá plantar batata.
- Depois você descasca?

- Vá lamber sabão.
- Pois não. Mas me empresta a sua língua
que a minha já está limpa.

- Vá ver se eu estou na esquina.
- Fui e nada vi: o bobo estava aqui.

- Vá caçar sapo.
- Cacei, aqui está: mande logo pro papo.

PROFISSÕES

O MARUJO

Marinheiro pequenino
bebeu água ao se deitar.
Acordou de madrugada:
a sua cama era um mar.

O CARPINTEIRO

Bate bate martelinho
mas não bata feito cego.
Cuidado com o meu dedo
que o meu dedo não é prego.

O BOMBEIRO

Blen blen blen blen
Quem vem? Quem vem?
É o bom bombeiro
e vem ligeiro.
Alguém o chama.
Ele vem que vem
blen blen blen blen.


ANA E O PERNILONGO

para Aninha Vogt

1
Toda semana
eu me lembro da Ana,
Para mim não há semana
sem Ana.

2
Havia um pernilongo
chamado Lino
que tocava violino.
Mas era tão pequenino
o Lino
e tocava tão fino
o seu violino,
que nunca ouvi o Lino
nem vi o Lino.

DICIONÁRIO


A
Aulas: período de interrupção das férias.

B
Berro: o som produzido pelo martelo quando bate no dedo da gente.

C
Caveira: a cara da gente quando a gente não for mais gente.

D
Dedo: parte do corpo que não deve ter muita intimidade com o nariz.

E
Excelente: lente muito boa.

F
Forro: o lado de fora do lado de dentro.

G
Girafa: bicho que, quando tem dor de garganta, é um deus-nos-acuda.

H
Hoje: o ontem de amanhã ou o amanhã de ontem.

I
Isca: cavalo de Tróia para peixe.

J
Janela: porta de ladrão.

L
Luz: coisa que se apaga, mas não com borracha.

M
Minhoca: cobra no jardim-de-infância.

N
Nuvem: algodão que chove.

O
Ovo: filho da galinha que foi mãe dela.

P
Pulo: esporte inventado pelos buracos.

Q
Queixo: parte do corpo que depois de um soco vira queixa.

R
Rei: cara que ganhou coroa.

S
Sopapo: o que acontece quando só papo não adianta.

T
Tombo: o que acontece entre o escorregão e o palavrão.

U
Urgente: gente com pressa.

V
Vagalume: besouro guarda-noturno.

X
Xará: um outro que sou eu.

Z
Zebra: bicho que tomou sol atrás das grades.

Fonte:
José Paulo Paes. Poemas para brincar. SP: Editora Ática, 1996. Texto-base digitalizado por Sueli Ducat

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