sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Larissa Fadel (Cristais Poéticos)


VALSA DO DESENCANTO

Meu querer passeia distraído em minh' alma
A felicidade espia
vai embora
A tristeza chega
Impiedosamente demora

A madrugada me instiga a esquecer
me chama
na chama
do meu ser

Chove em meus olhos
Anoitece todas as luas
Espero a estrela no mar entornar

Navego em refrões que um dia cantaste
Lembro que outrora meu riso roubaste

Hoje me aqueço
nos tons da lembrança
Coleciono saudades pra vingar da esperança

Recordo que em mim já sentiu poesia
Lamento que hoje não quer mais saber

Saio às pressas com os olhos de chuva
O vento que vem é o mesmo que vai
Balanço no tempo impávido e cruel
Seria mais doce provar outro fel

Fito teus olhos
hoje como vidro
Mas um dia espelho meu

Acordo e persigo meus anos e planos
Estanco em meu medo
Estraçalho meus sonhos

Desencanto traduz
Valsa que conduz
A chuva dos olhos vai demorar
Sozinha em mim é melhor ficar...

RESSURREIÇÃO

Longe do chão navego sem rumo
Sossego segredos em céus e planetas
Sinto asas brancas em suspiro flutuar
Fascinante perigo que ouso alcançar

Inspiro magia de raio e cor
Me visto de estrela em calendário lunar
Ascendo sorrisos para cura e dor
Eterna renúncia que se faz por amor

Delírio de alma, raio , explosão
Entrega de sonhos em tom de emoção
Fogo feroz que não quer machucar
Perfeita beleza que quer delirar

Outro caminho a sorte perfuma
Olhos chorando sem pra trás olhar
Abraço perdido na vida errada
Luz de velas no encontro da madrugada

Lembrança de chuva que molha o sorriso
Silêncio de rua onde sonhos se vão
Viajante de cosmos, visão do paraíso
Mudança de rota no vôo do coração

Pedaço de mim que se foi mais uma vez
Chama que ascende saudade e intuição
Vida minha que amanheceu por dentro
Ternura em acordes de antiga canção

Sabor de sereno desabrochando a flor
Encontro marcado de rio e mar
Olhos chorando o impacto da colisão
Conjugando o fascínio de nova paixão!

VIM TE BUSCAR

Hoje vim te buscar no meu pensamento
Quem me trouxe até aqui soprou forte
Foi o vento

Na viagem colhi fruta madura
Flores do campo pra te aliviar
Vi pássaros, ouvi trovões
A chuva veio pra me molhar

Não resistindo ao encanto da chuva
Deixei a agua cair sobre o meu corpo
Lavei a alma e coração
Senti leveza
Quis voar

Meu vôo foi intenso
Comecei tirando devagarinho os pés do chão
Aprendi a flutuar
Uma andorinha que andava apressada parou para olhar
Me convidou para com ela ver o verão chegar

Assim fomos juntas
E como mágica comecei a voar
Voava leve e solta
Vi terras, cachoeiras e florestas
Num instante já estava no mar

Nadei com baleias e golfinhos
Conheci a estrela do mar
Mergulhei nas profundezas do oceano
Vi corais e navios perdidos
Vi a vida atë então desconhecida
Vi a luz da lua a jorrar na ägua o encanto do luar

De volta estava com os pés na terra
Já estava quase lá
De tão lindo que foi caminho
Jurei um dia voltar

Te encontrei sozinho, sentado num canto a chorar
Me aproximei de mansinho sem saber o que falar
Não sabia o que houvera
Nem tampouco como parar
De repente a primavera
Veio com as flores perfumar

O perfume exalou
De novo quis voar
Desta vez minha companhia
O vento ajudou a carregar

E Entre terras tão distantes
Não mais quis te deixar
Vem comigo meu amor
Este mundo desbravar!

SONHO MORTO

Fala as horas nesse imenso céu
Canto estrelas sem existir
Distancio as rimas desse dia
Sei que é hora de partir

O mundo que não veio
Tinha o cheiro de jasmim
risos, lagos, outras cores
doces versos e mar sem fim

Mas o tempo trouxe o lamento
e todos os dias eu recordava
presente imperfeito da solidão
soneto de amor numa canção

Debrucei na janela da alma
lá derramei todo meu ser
vazio de coração que ama
grito de sofrido querer

Desejei todas as dores
caminhei na noite fria
deixei sonhos e amores
em troca de flores e calmaria

Hoje escrevo sem a lágrima
sem amor, sem ilusão
letra fria de uma história
que arrebentou um coração.

SONHO QUE NÃO VEIO

Atravesso a madrugada
Me falta o sonhar que queria
Os versos que me acompanham
Não querem a aurora do dia

Viajo pra dentro de mim
Ânsia louca do meu ser
Vibro como cordas de uma lira
Canto uma história sem fim

Doce é o manto da ilusão
Aconchego de novo ninho
Tantas são as cores da emoção
vaga noite, lume, passarinho

Fonte são teus olhos
Cais do porto de solidão
diamante desse amar
Ondas que teu nome levou
das areias daquele mar

Lembrança que partiu
Saudade que ficou
Sereno de silêncio
amor que navegou

Palavras que soam o instante
Gotas de ternos orvalhos

Que doce poesia eu poderia compor
se teus dedos tocassem meu amor

Que doce poesia eu poderia ser
Se tuas mãos abraçassem minha saudade

Que doce poema poderia dizer
se me desse a flor do teu querer

Mas fico na madrugada
e perco agora a palavra
não sei o que dizer

Ajoelho pra esperança
Colho eu a desejada flor
Enquanto o dia não vem
Fico eu com a calada dor

NOVO RETRATO

Não tenho mais promessas de ficar só
Tenho as tenras andanças
Areia, sal, terra e pó
Tenho solitárias lembranças
Contidos pecados
E na garganta um nó

Tenho saudade de coisas
Que ainda não sei
Fiquei sem tempo pra isso
Nem sei se terei

Tenho uma rota definida
Em constante mutação
Se é contraditório
Eu sou a mutação

Sou mais feliz agora
Do que antes fui
Mas tenho uma lágrima aqui
Que ainda insiste em cair

Lágrima de vontade
De saudade
De paixão
Mistura de quem ama
No cantinho de ilusão

Me abriga o sol lá fora
Olho o tempo, passam as horas
Queria eu tudo poder dizer
Aqui tudo transcrever
Mas a mente vai mais longe
E nos dedos sangra esse querer

Abstraio as largas emoções
Deixo a paisagem na memória
Fotografo a história
Que no futuro chegará

Me interpreto no acústico desse lugar
Sem rimas ou versos
Na ânsia de chegar

Na tempestade das palavras
Concebo o que de mais belo há
Posso até ver anjos
Posso ser
Posso crer
Posso amar

Posso amar o beijo lento
Me entregar nas altas ondas
Posso no fogo me deitar

Posso ser mulher
Ser criança
E nessa ampulheta
Brincar com o tempo que me balança

Por fim posso ser
Essa pele branca
Esse jardim
Posso ser tudo
Com um toque suave e profundo
Do seu eterno ser em mim.

NOVA ESTAÇÃO

Para colorir a estação
a primavera despertou
vieram estrelas
oásis
o sonho dos meus dias
a chuva regando a flor!

Melodia
já era dia
clareou!

Surgiu o meu compasso
nas mãos de outro sonhador
cor verde
que a chuva molhou!

Minha alma adormecida
meus quereres inesquecíveis
a porta aberta
minha música
minha dança
emoção!

Ao som de muitos tempos
não teve recordação
fui errante e saudade
o presente se manifestou!


E eu que tanto esperava a primavera
coroei minha jornada
floreei minha estrada
fiz belo meus dias

E vc que tanto esperou estações
atiçou sentidos
acordou adormecidos
fez o dia nascer!

E eu de novo
uma vez criança
outra mulher que dança
outra vez
e vou!

Não por onde pisei
não por ali, nem por aqui
somente vou
somente sou
somente viva

Sou êxtase
esse êxtase que se extrai
das mais belas notas da lira
que se entrega ao som do vento

que volta como onda
que pisa na areia
que desenha estrela
que não olha pra trás
estou!


Estou como quem pode estar
talvez um acorde
que no tempo andou
somente estou
me basta
o ontem...já passou
um pouco serena, ainda pequena
mas estou!

Sigo adiante
para uma terra nem tão distante
com o coração pulsante
com vontade de futuro
mas sem medo do escuro
com desejo no pulsar

Componho as notas da vida
curo minha ferida
faço minha própria canção
já aprendi a dançar

E na primavera que brota
minha primeira rima
é composição de cores
é ter de volta amores
é poder voar!

Quem me rodopiou foi o tempo
com ele senti medo do vento
mas com ele sei que vou chegar
e vou!

Vou novamente andando
me domando
navegando nesse imenso mar

Não vou por ali
não!
Não vim para seguir caminhos traçados
planos cansados
trajetórias impostas

Vim para desbravar o tempo
devastar o vento
e seguir minha brisa

Vim para ser sonora
como nos tempos de outrora
enfim me encontrar

Então vou!
Por aqui, por ali, por lá!

Não tenho uma nota só
tenho a partitura
mas por terminar


O fim sou eu que faço
porque meu caminho hoje eu traço
seja no deserto, nas estrelas, no mar

Não possuo a música inteira
mas tenho vontade de cantar

Audácia
Caminhos
Trilhas
Pedras
e flor

É primavera meu amor!

Fonte:
http://www.novaordemdapoesia.com/search/label/Larissa%20Fadel

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