sábado, 17 de dezembro de 2011

Larissa Fadel (Teia de Poesias)


RASGANDO O VERSO

Solto a palavra
me faço
abraço
de mim

Abro o verso
visto o reverso
contorno sem nexo
de mim

Canto o poema
me sinto serena
humana
de mim

Revolto olhares
concebo
alimento
de mim

Abro minha boca
e na fúria louca
grito a verdade
de mim

Danço e sorrio
construo e procrio
o melhor
de mim

Quem não entender
a porta é aberta
vou esquecer
vou aceitar
porque sei
de mim

Mas nunca mais deixo
não me permito
no ar ou escrito
o que há
o que pulsa
o que vive
EM MIM!

ROUBEI SIM

Roubei de ti o coração
e não tente tomá-lo de volta
porque ele está atravancado
no mais profundo recanto do meu ser
tal como a árvore imensa enraizada
por milênios existenciais da natureza...

Eu o roubei...
naquele instante em que me deste teu sorriso
naquele instante em que me estendeste as mãos
naquele instante em que eu já era a poesia por te querer
e num chamado eterno para seguirmos juntos
as estradas da vida... já éramos nós...

Eu o roubei...
roubei o teu coração e te digo:
não hás de tê-lo de volta
porque em troca
dei-te o meu coração repleto de amor
a minha alma iluminada por teus carinhos
a minha vida inteira
para amparar-te...
para aquecer-te...
para amar-te...
amar-te... e amar-te...
eternamente...

CUIDA-ME

Quero tirar a poeira do tempo
quero varrer as folhas do vento
limpar a casa
e caminhar

Procuro não olhar pra trás
já vivi o passado
não vou por lá mais passar

Não me culpe por olhar pra frente
sou assim, as vezes bem diferente
intrigante
talvez incoerente

Não me deixe voltar
cuida-me
deixa-me cuidar
se a felicidade é urgente
eu tenho pressa no caminhar

Não vou remoer minh’alma
quero serenidade e calma
quero esse louco desejar

Não tenho pretensão demasiada
quero a calma acelerada
amo
e quero ser amada!

Tenho fome de vida
tenho pressa de criança
e...sinceramente
o medo também me invade
feroz
atroz
covarde? ...não!
Só temperamental

Minhas horas já foram longas
agora quero devagarzinho
só o meu lugar
agora quero bem de mansinho
sorrir
estar
ficar

Tento...
Um dia quem sabe aprendo
um dia quem sabe vou acertar

Enquanto isso
cuida-me
mais uma vez
enquanto isso
deixa-me cuidar

Quero o livre passarinho
o rouxinol na árvore
a prata da lua
o ouro do sol
e quando eu estiver triste
cuida-me
e quando vc estiver triste
permita-me cuidar

Minha voz reside na minha alma
assim como minha alma se reflete em meus olhos
em minha boca
em meu corpo
me calo!
E num contraste fascinante
grito!

Sem culpa
não volto
sigo
tiro a poeira do tempo
planto novas flores
rego tons e sabores
e me precipito
quem sabe...

Por isso...urgentemente...
Cuida-me
e deixe-me cuidar!

MISTURA DO AMOR

*Essa foi uma das minhas primeiras linhas. Acho que essa poesia tem sabor. Gosto do gosto dela!

Relaxe o corpo
A mente, o coração.
Deixe as emoções cavalgarem
Pelos espaços verdejantes

Viaje...
Sinta a brisa leve da manhã
Tocar seus cabelos despenteados
Ande descalço

Prove a sensação do barro nos seus pés.
Abra os braços para abraçar o cheiro
De menta da manhã.
Deite na aurora que anuncia a vida

Cheire as rosas da imaginação
Tome o mel, deguste o hortelã
Sinta na pele o toque suave da maçã.
Beba água do riacho

Ouça o canto das águas
O sussuro das árvores
A linguagem do céu azul
Banhe-se na energia dourada do sol

Role na grama, espreguice, morra de rir.
Perca-se na magia de uma fruta madura
Magia de uva, pera, laranja, limão.
Favo de mel, eucalípto, tentação
Atalho para a cereja do coração.

Viva! Se entregue à imaginação
Sonhe com paixão
Corra sem destino entre as árvores
Viaje no sabor!
Sinta a ternura de beijar a flor.

Deixe que o sabor fresco invada sua língua
Fruta molhada, sorvete, flocos de neve
Suave beijo de licor
Boca doce, gelada, refrescante
Essa é a mistura do amor!

SOLO DE AMOR

Cala a terra arada no pó
Espera a chuva no seu lugar
Quimera que fica na solidão
Ao relento dois destinos
E um só coração.

Harmonia que tira a guerra
Gira no amarelo do girassol
Planta semente e alento
Deixa vestígios na memória do vento

Antes que o sol acorde
Lembra a saudade da noite fria
Sinta brotar o pranto
Que rega a planta de calmaria

Inunda a terra de verde
com os olhos teus
pinta de vermelho as flores
com os desejos meus

Faz solo fértil com a boca tua
Semeia o ventre e a canção
Descansa no orvalho da terra crua
Colha minha doçura com tua mão

Canta vontades antes temidas
Que eu canto a imensidão

Faz poema que risca o céu
Contorne meu corpo com pincel
Traço de bem querer
Deitada na terra nua
Só tua eu quero ser!

A ARTE DE MORRER

Essência da vida.
Alma eterna.
Mistério definitivo,
Inexprimível,
Indefinível.

Respostas rejeitadas, colapso
Pergunta irrespondível
Milagre da mente
A arquitetar perguntas que desaparecem
E no saber, a experiência existencial

A semente cresce
Botão de rosa que sabe como abrir
E o conhecimento divaga
Nas raízes da mente

Na sabedoria
Você não é mais
Dentro do inexplorado
Interior da Existência

Viável à mente
Somente o silêncio
Nenhuma pergunta,
Nenhuma resposta,
Íntima sensação sem palavras
Só o incomunicável

Espada para cortar pensamentos
E todas as respostas
Escutar de corpo e alma
Os dois infinitos

Sonata de Beethoven
O coração em nostalgia
Mesmo com rota definida
Ninguém sabe onde está

Na Auto estrada da multidão
Todos estão na mesma posição
Indo a lugar nenhum
Mas na mesma direção

E então você fica só
Sua solidão total
É necessário morrer,
Cair pra renascer

Nas fontes infinitas de vida
É a arte de morrer

Cair para o coração...
Onde não há marcos de referência
Cair num abismo
Caída de amor
Uma queda

Mas caminho sólido não há
O coração não está cartografado.
O coração treme de medo

Quebrar paredes de pedra,
Libertar-se do rochoso pensamento;
Dogmas, preconceitos.
Libertar-se da prisão

Ter uma certa descontinuidade
Olhar pra trás
E Morrer...
Sentir que foi como um sonho
Uma história que jamais fora sua
E Nascer!

TEU VERBO

Singelos gestos
perfuram a grade do meu ser
Vibrantes beijos
encarceram o que sempre fingi não querer

Invadem e transformam
mutantes sentimentos
desprezam lamentos
me faz tempestade

Corro pra dentro de mim
mas esconder não consigo
deito nas corredeiras das palavras
implorando por um abrigo

Contemplo o céu de noite quente
calo com os dedos teu beijo ardente
deixo as pegadas da minha mão
na lembrança de afeto que te dei
Atravesso a calçada da vida
na procura do que ainda não sei

Navego o ritmo dos teus olhos
transpiro teu suor
Desisto de correr

Deixo-me a ti
respiro o teu ar
E morro no instante de conjugar
o verbo incessante
na rima vibrante
desse seu jeito de amar !

Fonte:
http://www.novaordemdapoesia.com/search/label/Larissa%20Fadel

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