domingo, 4 de dezembro de 2011

Reinaldo Pimenta (Origem das Palavras 18, final)


SANGRIA DESATADA
Sangiua veio do espanhol sangría, sangramento. Desatada é o particípio do verbo desatar, livrar, que veio de des- + atar.
Uma sangria desatada é um sangramento descontrolado, que exige cuidados imediatos. Quando se diz que alguma coisa não é nenhuma sangria desatada, significa que ela não requer cuidados ou providências urgentes.
Sangria, a bebida com vinho, frutas, açúcar etc., também veio do espanhol sangría, mas não tem nada a ver com sangue, a não ser que você esteja pensando num coquetel para vampiros.
Sangría veio do inglês sangaree, uma mistura de vinho com limão, consumida nas Antilhas. Muitos dicionários da língua inglesa dizem o contrário, que sangaree teria vindo do espanhol sangría, o que parece pouco provável: sangaree aparece registrado pela primeira vez em 1736; o espanhol sangría, em 1803. Sanga ree teria se formado a partir do sânscrito sakr, açúcar. Atualmente sanga ree e sangría designam a mesmíssima bebida.

VÁ TOMAR BANHO!
A expressão não tem a intenção literal de mandar alguém submeter-se a água e sabão. Trata-se, na verdade, de um banho metafórico, purificador, um convite ao limpar-se de impurezas morais e comportamentais para voltar à normalidade, ao bom- senso e à decência.
Sujo e sujeira no sentido moral aparecem freqüentemente: ele ficou sujo com os amigos, um negócio sujo, está preso porque só faz sujeira.
Não faz muito tempo, quando alguém cometia uma perversidade ou uma deslealdade, era comum exclamar-se "Sujeira!". Modernamente foi substituído por "Sacanagem!".

XUMBREGA
De má qualidade, malfeito.
Um livro com o título "Figuraças da História do Brasil" teria a presença obrigatória do governador de Pernambuco Jerônimo de Mendonça Furtado, que em 1666, por sua notável impopularidade, foi detido pelos senhores de engenho em Olinda, deposto e remetido para Lisboa. O moço, que bebia sem moderação, era odiadíssimo por seus desmandos e tinha o apelido de Chumbergas (ou Xumbergas) por ostentar vastos bigodes à chomberga.
A palavra chomberga - homem elegante e afetado - entrou na língua portuguesa por obra e muita graça do general alemão Friedrich Hermann Schõnberg, um aventureiro que foi parar em Portugal para reorganizar e comandar as tropas portuguesas (de 1661 a 1668) na luta contra os espanhóis na Guerra da Restauração.
O alemão teve o nome aportuguesado para Frederico Armando Schomberg e se transformou em padrão de elegância para a moda masculina da época, destacando-se por roupa, chapéu e bigode.
O sobrenome Schomberg propiciou o aparecimento na língua portuguesa, além de chomberga, das seguintes expressões:
(a) chambergo: chapéu militar de feltro, com uma pluma (chiquérrimo);
(b) chumbergas: quem imitava o general na roupa ou no bigode; indivíduo extravagante;
(c) chamborgas: com o sentido pejorativo de fanfarrão (aqui o general começa a ser tratado com ironia);
(d) à chomberga, expressão usada para designar a moda, principalmente militar, introduzida pelo alemão (casaca à chomberga, bigodes à chomberga...).
Da mesma fonte e com a influência do detestável e beberrão governador de Pernambuco, o Chumbergas, apareceram no Brasil as palavras:
(a) xumberga: embriaguez;
(b) xumbrega (também grafado chumbrega): ordinário, reles; pessoa ou coisa de mau gosto.
Para alguns etimólogos, brega (cafona) seria a forma reduzida de xumbrega.

Fonte:
PIMENTA, Reinaldo. A casa da mãe Joana 2. RJ: Elsevier, 2004

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