domingo, 8 de abril de 2012

Caldeirão Poético do Rio Grande do Sul II


CRISTINA CECCAGNO
( Pelotas / RS)
[(In) definição


procuro nas palavras de outras pessoas
algo que defina o que sinto por ti
pela insanidade que nos envolve
pela tua ausência

nada nos define
nada nos enquadra

procuro nas lembranças
uma pista do tempo que vivemos
do tempo que perdemos
e do que se perdeu ao longo do tempo

nada nos define
nada nos enquadra

procuro nos andarilhos
o movimento certo para seguir adiante
para acertar o passo
para dançar a música certa
para inventar um ritmo

nada nos define
nada nos enquadra

procuro a ti
nos mesmos lugares
e só te encontro dentro de mim
isso me define: tua
isso me enquadra: pra sempre.

DENISE MULLER GARATEGUY
(Montenegro/ RS)
Todas as tuas cores


Tateio
Teus bolsos,
Encontro
Sementes
E
Nos teus olhos
Vejo
Encardidas ilusões
Há pedras
De todos os tipos
Segurando portas
Por sobre a mesa
Há os vasos de flores
De tomates
E
De pimentas
Há os gatos
Os livros
Os acordes
E as letras

A dura indecisão
Transbordando copos
E pensamentos

Os sonhos
Nos escapam...

Tua presença
Vinga-se
De mim
Na perfeição
De ser
Como
És

GILBERTO MONTEIRO MAZOT
(Porto Alegre / RS)
Cadafalso de mim


Trancado em meu baú de desejos, sonhos, loucuras,
Meu coração faz-me cadafalso de mim.

Atuando meu teatro interior,
Faz-me sorrir,
Aplaudir
Despedaçar-me de chorar por ti.

Contraceno no espelho a consciência inconsciente
de que teu desejo é meu desejo.
Desejo que se torna meu por incorporar tudo o que sente.

Se sente frio,
Frio eu sinto,
Se fome sente,
Sinto fome,
Se pensa em mim,
Teu amor me consome!

IONITA KÉSIA PEREIRA
(Sapucaia do Sul / RS)
Não se afaste de mim


Não se afaste de mim
Além de meu olhar

Não se declare com ardor
Além do “eu te amo”

Não cesse seu carinho
Além de um abraço

Não se desnude em você
Além de sua alma

Não dê causa à embriaguez
Além de meus beijos

Não se revele em cores
Além de seus sonhos

Não queira estar comigo
Além de um momento chamado sempre

E não esperarei de você
Além de seu amor por mim.

ISABEL CRISTINA SILVA VARGAS
(Pelotas / RS)
Louvação


Cantam os pássaros
Saudando o sol
A vida que aqui transborda.
Ao seu canto
Acrescento minha prece
Cheia de amor e saudade
Louvando tua preciosa vida
Que a todos encantou.

JULIANO PAZ DORNELLES
(Porto Alegre / RS)
Poeta dos Versos Profanos


Sobrevoando campos verdejantes
Bebo da água da fonte
E navego no mar da tranquilidade

Sangue latino, sonho americano
O andar de um peregrino
Em um terreno plano

Sentimento divino, corpo humano
Espírito vivo, ‘Eu me amo’

Tantra hindu, ritual xamânico
Cartas de vinte e dois arcanos

Deuses gregos, mitos africanos
‘Eu sou o que sou’
O poeta dos versos profanos

Registrando momentos de magia
Dia após dia, ano após ano
Alegro-me na sabedoria
E pela paz reclamo

MARCELO ALLGAYER CANTO
(Cachoeirinha / RS)
Quem é você?


Quem é você?
Que acalma meu coração
Pelo sabor de todas as noites
Seja em qualquer estação.

Quem é você?
Que com sua simplicidade
Me mostra a possibilidade
De um viver despreocupado
Regado pelo amor.

Quem é você?
Que não precisa me procurar na noite,
Pois me encontra dia a dia
Sem clamor, mas com a vida ganha.

Quem é você?
Que me conquistou pela paciência
Seguindo meus passos “descalçados”
Pelas ilusões de meus dias.

Quem é você?
Que ratificou meus caminhos
Com seus doces e suaves carinhos
Me salvando dos despropósitos.

Quem é você?
Você é a minha amada!

MARIA OLINA CARDOSO FEIJÓ
(Pelotas / RS)
Índigos e cristais


Às vezes procuro e não encontro
fotos e molduras, rotas e esquecidas.

Pela razão do estar e permanecer
em linhas fazer-me presente aos distantes
comprometida: encéfalo entre tarjas e confetes.

Paredes, estantes, recantos de lembranças
móveis abatidos e solitários
jogados em vértices da sala, ignoram
busca incessante... Tem que ser assim?
São lembranças que o tempo traz
na ausência de mim.Talvez...
não queira reencontrar-me
em poeiras corroídas pelo tempo,
Ainda que tenha que percorrer
escombros vitais. Trilhar por estradas
tortuosas e sombrias. Sinto o desejo
de tudo esquecer.
Homens comem os cães,
Cães comem o pão... amassou

Quero!...Viver em bolsa amniótica
coberta por células fetais
no estreito mundo dos inocentes
rompendo o casulo de índigos e cristais.

MARTA TREVISOL
(Frederico Westphalen / RS)
Mulher


Enfim, o que sou,
Mulher, mãe, amante...
Sonhos
Apenas fantasia
Criada na imaginação
De um homem
Enfim, hoje sou o quê...
O desejo obscuro,
O sonho irreal
De um homem solitário.
Enfim, o que sou?
Neste mundo real
Onde a magia do sonho
Do amor encantado.
Transformou-se em modernidade
Fragmentos, compilados
Nos fios da internet
E a mulher, mãe, amante,
Ficarão solitárias.
No mundo real
De um homem só.

NEUSA MARIA TRAVI MADSEN
(Lajeado / RS)
Infinita liberdade


Quando eu me for desta vida,
quero liberdade infinita !
Quero poder estar em múltiplos espaços:
Na brisa que move o mundo,
no afeto dos abraços,
no olhar de meus filhos e netos,
no sentimento mais profundo...
Quero poder estar no gorjeio dos pássaros,
no perfume das flores,
na amizade, na paixão, nos amores...
Quero estar na labuta
e na vitória de meus sucessores...
Quero poder estar na paciência,
no perdão, na fé, na benevolência.
Quero estar na aceitação, na compreensão,
nas palavras de conforto e alento,
para amenizar o sofrimento.
Quero estar na emoção, na afeição,
na solidão, na harmonia e no perdão...
Estar nos acordes de minhas canções preferidas,
para animar as pessoas queridas.
Quero estar na alegria, na poesia,
nos afazeres do dia a dia;
Quero estar na luz do sol,
num pedaço do céu azul,
nos raios do luar,
para os poetas e enamorados inspirar...
Quero alcançar a infinita liberdade
Para poder amenizar a saudade...
Quero ser amor e felicidade !

VILMAR WIEDERGRÜN
(Santa Rosa / RS)
Voa, saudade


Voa, voa saudade
Procure até encontrar
O infinito não é longe
Um dia ela há de voltar

Voa, voa saudade
Sua parceira dor fica comigo
Quanto mais ela me invade
Mais me sinto seu amigo.

Um poeta não vive sozinho
Tem amiga melhor que a dor?
Faz doer bem de mansinho
O coração cheio de amor.

Portanto saudade, vá
E se puder traz minha vida
O coração quer parar
Está tão fraca a sua batida…

VIVIANE LUCHESE
(Caxias do Sul / RS)
Quantas primaveras?…


é o que todos perguntam.
Mais uma primavera?! quantas primaveras?!!
Não são primaveris os dias
Não sei ao certo quantas estações floridas se deram
tenho ciência apenas de que tive algumas
Infelizmente, parece-me mais próprio contar os invernos
talvez porque na noite gélida tenha essa res nascido
ou porque o frio tenha lhe exigido mais destreza
Não sei se são os aprendizados obtidos nas tempestuosidades que lhe fazem melhor recordar do frio, que foram muitos, ou se porque as alegrias do calor solar sempre passam tão depressa.
Não me apraz ser mais uma sombra vivente
Mas o sol estava em ti e derretia os cristais de gelo que se cumularam na minha alma
Quando foras, deste lugar ao inverno e com ele
o frio
e, até agora ao menos, insiste ele em ficar aqui
como uma cúpula de cristal circundando todo e qualquer sentimento gélido,
conservando cada lembrança e fazendo queimar o espírito
Como podem ser infernais os dias em que a paz predomina
Como podem ser ardis as noites frias e solitárias

Um eterno inverno se apodera de mim
Perséfone se perdeu no Hades
e mesmo que por metade não retornou de seu reino tão sombrio
levando consigo o brilho destes olhos que vos dizem estas coisas
esterilizando também este coração,
que nada mais espera colher
que labuta apenas por coação celestial
que vive morto, e não vive e,
de fato está morto desde então.
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Fontes:
Câmara Brasileira de Jovens Escritores. “Grandes Poetas, Grandes Versos" - Edição Especial - Fevereiro de 2012.
Câmara Brasileira de Jovens Escritores. Os mais belos Poemas de Amor" - Edição 2011.

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