segunda-feira, 23 de abril de 2012

Esopo e suas Fábulas


Pensa-se que o presumível autor destas fábulas, Esopo, viveu entre 620 a.C. e 560 a.C., mas não há a certeza quanto ao local onde nasceu. Não se sabe se veio da Trácia, da Frígia, da Etiópia, de Samos, Atenas ou Sárdis, mas dizem antigos autores que ele era escravo de um cidadão chamado Idamon, em Samos, na atual Grécia.

Segundo Heródoto, que escreveu cerca de duzentos anos mais tarde, Esopo teve morte violenta, tendo sido lançado num precípicio pelo povo de Delfos. Desconhece-se contudo a ofensa que teria praticado. Um autor diz que foi o sarcasmo mordaz das fábulas, outro conta que ele se apropriou de dinheiros que o rei Creso, da Lídia, lhe confiara; diz ainda outra versão que Esopo roubou uma taça de prata.

Esopo foi indubitavelmente, libertado pelo seu senhor, Idamon, porque veio a viver na corte do rei Creso, onde conheceu o grande estadista e sábio ateniense Sólon. Pisístrato, governador de Atenas, era parente de Sólon, e Esopo visitou a sua corte, na qual conseguiu convencer os cidadãos a permitirem que o seu governador conservasse o trono. Fê-lo contando-lhe a fábula "As rãs que queriam ter um rei" (fábula 16), e tão grande era a eloquência de Esopo que Pisístrato conseguiu manter-se como ditador.

Alguns escritores negam a existência de Esopo, e a verdade é que possuímos poucos pormenores da sua vida e do seu trabalho. Até o seu aspecto físico é discutível. Segundo um monge de Constantinopla, Máximo Planudes, que escreveu no século XIV, Esopo era um anão feio e disforme, e é assim que a famosa estátua de mármore da Villa Albani, em Roma, o representa. Mas Plutarco, escrevendo cerca de mil e trezentos anos antes, não nos diz nada acerca do seu aspecto físico. Consta que os Atenienses erigiram uma magnífica estátua em honra de Esopo.

Atualmente considera-se que, embora Esopo tivesse existido, ele não foi o autor das famosas fábulas que lhe são atribuídas. Eram-lhe familiares, mas não escreveu nenhuma, limitando-se a contar as histórias aos outros.

Na Grécia as fábulas eram populares, como em todo o mundo antigo. Foram-no, certamente, centenas de anos antes do tempo de Esopo.

De fato veio a provar-se que muitas das fábulas são muito antigas. "O leão e o rato" (fábula 13), por exemplo, foi encontrada num antigo papiro egípcio com milhares de anos e a fábula "O rato do campo e o rato da cidade" (fábula 9) encontra-se nas Sátiras de Horácio.

Certos estudiosos crêem que todas as fábulas são de origem indiana, árabe ou persa e que Esopo se limitava a espalhar as fábulas que ouvira contar ou que conhecia há muito tempo. Nenhuma das fábulas foi descoberta em grego original e só passadas algumas centenas de anos foram compiladas. Demétrio de Falerno publicou um conjunto de fábulas nos finais do século IV a.C., que veio a perder-se.

Se houvéssemos de atribuir a autoria das fábulas a alguém, seria talvez a Bábrio, que viveu durante o século III d.C., na Síria, que então fazia parte do Império Romano. Bábrio escreveu em Grego, mas a sua obra só foi conhecida através de citações de outros escritores até 1842. Nesse ano descobriram-se num convento no monte Atos fragmentos de papiros contendo mais de duzentas fábulas, a maior parte das quais, certamente, da sua autoria. Mais tarde, descobriram-se outras seis num manuscrito existente no Vaticano.

Cerca de cem fábulas também foram escritas em latim por um escravo macedonico chamado Fedro, trazido para Roma no tempo de Augusto, o primeiro imperador romano. Ao chegar a Roma, Fedro foi libertado pelo imperador, mas não usou a sua liberdade com sabedoria. Numa fábula ridicularizou o grande soldado romano Sejano e foi condenado á prisão. Também cometeu erros nas suas narrativas. Por exemplo, na fábula "O cão e a sombra" (fábula 6), o original contava que o cão via o seu reflexo ao passar numa ponte; Fedro fê-lo ver o seu reflexo enquanto 'nadava na água.

Tanto Fedro como Bábrio inspiraram-se largamente nas histórias Jataka da literatura budista, originais da Índia durante o século IV a.C. ou mesmo antes. Estas e outras fábulas sânscritas tinham-se espalhado da Índia á China, ao Tibete, á Pérsia e à Arábia, tendo chegado á Grécia em tempos remotos e incertos.

Na Idade Média existiam três coletâneas das chamadas "Fábulas de Esopo"; uma compilada pelo monge Máximo Planudes no século XIV, outra publicada em Heidelberga em 1610 e um manuscrito descoberto em Florença, datando provavelmente do século XIII. A coletânea grega de Máximo Planudes foi publicada em Milão em 1840, com uma tradução latina de um estudioso italiano chamado Ranuzio.

Atualmente, as fábulas de Esopo podem ser lidas em mais de duzentas e cinquenta línguas.

Fonte:
Fábulas de Esopo. Coleção Recontar. Ed. Escala, 2004.

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