sábado, 21 de abril de 2012

Leme Franco (A Caixa)


Apareceu abruptamente uma caixa cúbica como muitas. De papelão como quase todas. Cheia, posto que não era leve, não se sabia de quê.

Impossível levantá-la com as mãos, não pelo tamanho, que era pequena, mas pelo seu peso.

Arrastá-la, nem com o esforço conjunto de todas as pessoas a quem se pediu auxílio.

Estava naquele canto do barracão que se usa como despensa e não se sabe como foi levada para lá.

Ninguém se alegou responsável por ela e por levá-la até aquele cômodo escuro meio isolado do resto da fábrica, por um longo corredor.

No dia anterior ninguém a vira por lá, embora poucos iam até esta dispensa almoxarifado.

Neste dia , logo pela manhã a primeira pessoa a chegar para bater ponto na máquina que não ficava muito longe deste quarto, notou-a e estranhou, pois fora ela o último funcionário a sair da empresa na noite que se passou.

Nada comentou, mas outros empregados também a visualizaram e foram até ele, sabendo do horário que o secretário de compras abandonou o local.

Todos da fábrica tentaram abri-la sem sucesso e não conseguiram movê-la para um local mais apropriado, já que ficara no meio da sala.

O empresário foi avisado e toda a empresa foi até o cubículo ver a nova aquisição não programada do expediente.

Também, sem sucesso todos tentaram afastá-la do meio do cômodo. E não conseguiram abri-la.

A conversa do dia foi sobre esta caixa verde escura de origem obscura. Hipóteses para sua existência não faltaram. Piadas também não. Sugestões para se tentar abri-la e movê-la idem.

Tentaram com tesouronas, alicates de vários tamanhos, serras variadas, infrutiferamente. Várias pessoas juntas tentaram tirá-la do lugar. Nada. Experimentaram até um pequeno guindaste. Puxaram, empurraram. Tentaram ouvir algo dentro dela ,a pensar em bomba. A caixa simplesmente resistiu a tudo e todos.

Ficaram lidando com aquele recipiente dias e dias: pediram ajuda dos vizinhos, um dos quais usou uma furadeira, também infrutiferamente. Outro, uma facona longa, mesmo correndo o risco de estragar o conteúdo desconhecido, tudo sem conseguir o que intentaram- abrir o receptáculo.

Quanto a transportá-la para outro espaço desistiram havia tempo.

Com o passar dos dias o mistério saiu do âmbito da vizinhança e ganhou as ruas e os jornais da cidade grande. Foi um auê e prejuízo enorme para os trabalhos daqueles funcionários e para os negócios da empresa e da vida dos circunvizinhos. Até as pessoas comuns dos arrebaldes distantes juntaram-se para conhecer o tal invólucro verde e misterioso.

Nada, nem ninguém – até a polícia fora acionada – mudou o status quo da fábrica de embalagens, embora os que ali trabalhavam estivessem acostumados com caixas e pacotes.

Hipotesaram que alguém da concorrência queria pregar-lhes peça, que algum cliente mal intencionado ou descontente com algum atendimento, poderia ter querido algazarrar para prejudicá-los, mas não atinavam como aquela embalagem chegara ali. Criaram até sensação de desconfiança com a firma de segurança eletrônica do local que também estava no rol dos que queriam solução rápida para o impasse. Não importava mais saber como a caixa lá ficou e nem que continha. Queriam tirá-la de lá e fim.

Com os dias passando, o movimento à fabrica de embalagens aumentou , apareceram mais clientes, muitos vindo pela curiosidade do sítio, e o faturamento dela aumentou muito, ultrapassando os valores anteriores ao encontro daquela estranha caixa, que não mais se sabia se ainda queriam ainda ficar livre daquele trambolho.

Aí, num belo dia de chuva, os funcionários chegaram de manhã e não mais a viram. A peça cúbica desaparecera tão misteriosamente como surgiu. A surpresa veio para todos, e as conversas sobre aquele episódio recomeçaram, com pontos semelhantes a antes: como a caixa desapareceu dali? Os autores da façanha perceberam que queriam dar prejuízos, mas proporcionaram lucros e desfizeram o malfeito? Quem fez a peripécia já se deu por satisfeita e resolveu tirar o incômodo dali? Como conseguiu botar e tirar aquela caixona sem que vissem? E os curiosos de antes voltaram para ver o sumiço.

Episódio até hoje não resolvido e tudo voltou ao normal em Caixolândia

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