terça-feira, 1 de maio de 2012

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Poetas de Ontem e de Hoje) VII


Contraste
ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG
São Fidélis/RJ - Cidade Poema


Você é fogo, a chama mais ardente,
Semente a germinar em pleno cio,
É luz que o sol espalha suavemente,
É toque de prazer, é arrepio...

É água cristalina da nascente
Que corre lentamente para o rio,
Paixão que vem assim, tão de repente,
Deixando o coração por quase um fio.

Você é o meu passado mais presente...
Calor a me aquecer durante o frio,
Loucura que enlouquece loucamente!

Você é como um sonho inocente,
É brisa mansa em manhã de estio
E muitas vezes temporal fremente!

Soneto antigo
CECÍLIA MEIRELES


Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.

Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.

Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.

Amar direito
AMILTON MACIEL


Que me valeu ganhar um bom dinheiro,
Juntar montes de bens em minha vida;
Viajar sem parar o mundo inteiro,
Se eu tenho a vida sempre aborrecida?

Que me valeu estar ainda solteiro,
Com boa cama e até boa comida,
Se nunca passa em casa algum carteiro
Com uma carta de amor pra mim trazida?

Sem amor, pouco vale esta existência,
Ou melhor, muita vez não vale nada,
Pois só o amor lhe dá mais consistência!

Preciso, então, de amor! De amor perfeito;
Que seja de bondade exagerada,
E então me ensina a amar... E amar direito!

As cousas do mundo
GREGÓRIO DE MATOS


Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa:
O velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa,
Mais isento se mostra o que mais chupa.

Para a tropa do trapo vazo a tripa
E mais não igo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.

Contradição
MARIA NASCIMENTO S. CARVALHO


Hoje, mais uma vez, desesperada
por ser injustamente preterida,
vejo que já nasci predestinada
a amar sem nunca ser correspondida...

Mas o que me dói mais, na despedida,
é saber que fui sempre desprezada
porque foste o anjo bom da minha vida
e eu, da tua, jamais pude ser nada.

Se me pudesse ver da eternidade,
chorando de tristeza e de saudade
pelo amor que no tempo se perdeu,

Carlos Drummond de Andrade me diria:
"E agora", como vais viver Maria
sem o José que achavas que era teu?!

Ironia de lágrimas
CRUZ E SOUZA


Junto da morte é que floresce a vida!
Andamos rindo junto a sepultura.
A boca aberta, escancarada, escura
Da cova é como flor apodrecida.

A Morte lembra a estranha Margarida
Do nosso corpo, Fausto sem ventura...
Ela anda em torno a toda criatura
Numa dança macabra indefinida.

Vem revestida em suas negras sedas
E a marteladas lúgubres e tredas
Das Ilusões o eterno esquife prega.

E adeus caminhos vãos mundos risonhos!
Lá vem a loba que devora os sonhos,
Faminta, absconsa, imponderada cega!

Soneto do amor total
VINICIUS DE MORAES


Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te enfim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude

Perspectiva
LUIZ POETA (LUIZ GILBERTO DE BARROS)


Dentro dos olhos que se fecham sobre a vida,
O teu sorriso se condensa em fantasia,
A tua tela é pulsante e colorida
E a tua vida faz da tinta, a poesia.

Tudo é revisto com sutis perspectivas,
E cada traço geométrico que traças,
Longe das frias lentes das objetivas,
É muito mais que imagem fora das vidraças.

Surrealista na intenção, porém real
Na dimensão que a metafísica alcança,
A tinta dança na pureza do vitral
Que o teu olhar vai colorindo de esperança.

O todo é tudo e quando tudo é tempo e pó,
Cada partícula do tempo que se ausenta
Vai transformando a essência de estar só
Na emoção que o teu silêncio experimenta.

E é nessa doce ocasião de libertar
O teu sorriso sobre a mágica das tintas,
Que tu libertas, com teu jeito de sonhar,
No coração, a emoção com que te pintas.

Fonte:
Poemas enviados pelo autor

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