segunda-feira, 28 de maio de 2012

Flávia Muniz (O Espelho e a Perua)

Ilustração de Ionit
A confusão começou 
 Certa vez, no galinheiro, 
 Quando as aves encontraram 
 Um espelho no terreiro. 

 Uma galinha vaidosa 
 Logo quis contar vantagem: 
 - Com licença, galináceas, 
 Vim conferir minha imagem! 

 A pata, torcendo o bico, 
 Comentou com a vizinha: 
 - Não vale arrancar as penas 
 Pra parecer mais magrinha! 

 E qual não foi a surpresa 
 Das aves estabanadas: 
 No reflexo do espelho 
 Só tinha coisas erradas! 

 Quem era alta e bela 
 Viu-se feiosa e baixinha. 
 Quem era gorda e forte 
 Ficou magrela e fraquinha. 

 - Credo! - grasnou o marreco. 
 - Cruzes! - o pinto piou. 
 - Incrível! - cantou o galo. 
 E o papagaio berrou. 

 A galinha carijó 
 Foi quem depressa falou: 
 - Este espelho tem feitiço... 
 Foi a bruxa que o mandou! 

 - Mentira! - disse a perua, 
 Balançando as pulseiras. 
 - Li esse conto de fadas, 
 Vocês só dizem besteiras! 

 Estufou-se, bem danada, 
 Mostrando o papo vermelho. 
 E com pose de malvada 
 Fez a pergunta ao espelho: 

 - Espelho, espelho meu! 
 Responda se há no mundo 
 Outra ave mais bonita, 
 Mais charmosa e elegante, 
 Mais esperta e fascinante, 
 Mais incrível e imponente, 
 Mais formosa do que eu? 
 Diga logo, espelho meu!! 

 Os bichos, impressionados, 
 Ouviram com atenção 
 A resposta do espelho 
 A tamanha pretensão: 

 - Se você quer a verdade, 
 Vou dizê-la, nua e crua. 
 E mostrar a realidade 
 Para uma simples perua. 

 Você disse que é esperta, 
 Imponente e charmosa. 
 Mas parece antipática, 
 Falando assim, toda prosa. 

 Desfila o ano inteiro 
 Como se fosse a tal. 
 Mas foge do cozinheiro 
 Quando chega o Natal!

Fonte:
Revista Nova Escola

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