segunda-feira, 7 de maio de 2012

Leila Krüger / RS (Caderno de Poemas)


A QUEDA DA BASTILHA

Enfim perdi a batalha surda contra a própria mudez.
Enfim a inoperância de meus punhos
para esmurrar estes labirintos de ferro,
para desnudar o universo.

Enfim, voltei... enfim não sei mais!

Enfim me recolho com meus únicos próprios braços,
esperando, no entanto, que haja ainda alguma bondade
nestes pequenos fardos.

Enfim acato a tristeza como uma rosa frágil que é minha...

Enfim não espero nada,
mas acredito em tudo aquilo que não é passível de ser verdade.
Como sei agora,
posso embalar a verdade em meu colo
até que ela acorde, e me olhe.
Caso ela não fuja eu um dia a verei crescer...

Como os carvalhos antigos que arrebentavam o céu,
assim cresce a verdade em meu pequeno bosque.
Copas silenciosas, em nuvens vagarosas, em tardes apenas grenás.

Enfim, perdi...
mas chorei como quem vence. Então venci!

LONGE

Mas se eu tiver que ser sozinha, serei inteira
serei plácida, como o lago que espera a chuva
como a chuva que busca a manhã.

E se eu tiver que ser escura, serei grandiloquente
se tácita, valente
se árida, compreensiva, ao menos
se ainda assim severa... então liberta.

E se me perder de tudo, e até do fim...
possivelmente eu serei nova
como o verão, no céu de janeiro
como janeiro, no céu de Paris!
Seja lá onde for Paris...        

Hoje, em qualquer lugar, longe daqui. Longe, longe...

 QUASE VERÃO

Há uma chuva negra e macia na vidraça.
                               Quase cinza, um tanto fraca... me acaricia.

 Pingos me olham – esperando o chão cegar.
                               Chegar!

E o desespero do que chove no mesmo lugar. E a nuvem que se move...
sobre as palavras... que eu não te dei. Negra na janela, esperando o chão.
 Sou eu quem chove – antes do verão...
 Sou eu quem grita! – Ao perder teu rosto de areia, entre minhas mãos...

 RETORNO DE MIM

Aprendi a me deixar podar pela vida.
Deixar que me arranquem os galhos, tal braços, sem dó,
                                 ou com dó, tanto faz...
mas que me arranquem inevitavelmente
                                 e façam de mim o que eu nem sei.

E se eu não souber tudo bem, porque aprendi também a voltar...
mais alta e mais graúda,
do tamanho de um coqueiro na praia deserta.

Também aprendi a me balançar na praia e até a tocar as ondas.
Tudo me deixa forte. Tudo um dia me deixará forte.

E nada me deixará, nunca mais, seca... agora eu posso amar.

 FLOR DE FIM

Como saber?
             Se a tristeza é breve
             se a alegria é forte
             se a paz é leve.
             Se a fé rebrota
              no inverno gris.
             Se teus dedos
             na madrugada
             fazem meu fim.

             Como saber?
             Entender tua cor.
             Como saber?
             Se já não sou.
             Como não ser?
             Se nós somos flor...

Fonte:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/leilakruger.html#quase

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