quinta-feira, 7 de junho de 2012

Antonio Zumaia (Encontro de Almas)


Seus belos e grandes olhos castanhos umedeciam rapidamente, uma preciosa lágrima deslizou célere pelo seu rosto de menina encantada e sonhadora, o poeta apenas rebatia como mais vivido, os sonhos lindos desta menina-mulher. 

 - Não penses assim meu amor, tens uma vida para viver e um destino para cumprir, nada te pode afastar dele e muito menos por um amor que será finito certamente.

 - Não meu amor e meu poeta; Enganas-te, o encontro de duas almas que se amam, embora pareça temporário é para todo o sempre. O tempo não conta de forma alguma porque o bom Deus tudo acenta na palavra divina que se denomina “amor”, para ELE se dois seres tem a divina graça de se encontrarem e amarem-se sem reservas, deixa de ter qualquer relevância o tempo a vida e própria morte, porque o amor é a mola real da vida e a falta dele a desgraça desta nossa humanidade.

 - És ainda muito jovem para saberes os meandros que regem hoje em dia a vida de um casal, que embora se ame, não se deve sentir preso ao ser amado porque a liberdade existe, apesar do amor.

 - Poeta amado, precisamente por existir essa liberdade, dada por Deus, é que o encontro de almas existe. Vou contar-te uma história que se passou na minha família e que ilustra muito bem, que duas almas ao se encontrarem num verdadeiro hino de amor não se podem mais separar. E tal como eles, o nosso amor criou um grilhão dourado e lindo, que nos faz viver na poesia que me fazes e nos carinhos de amor que existem entre nós. Acredita este amor será eterno porque o bom Deus, nunca vai desunir o que o verdadeiro amor uniu.

 - Minha querida o poeta sou eu.

 - Podes ser o meu amor e meu poeta, mas és ainda um adolescente, apesar da tua idade. Escuta a história deste meu familiar: 

 Numa escola de São Paulo, ali bem no centro da cidade com esse nome, existia uma escola onde os filhos da classe abastada conviviam serenamente com os meninos com menos recursos financeiros; Onde a alegria dos pobres se mesclava com os ricos mais sisudos, dando-se um ar de importantes que rapidamente caia por terra, porque a alegria era necessária a todos. O meu primo era um dos melhores alunos, mas também muito jovial o que atraia de certa forma as meninas da sua classe e não só. Havia uma menina que freqüentava a classe antecedente a sua e que pela sua beleza e tranqüilidade cedo lhe chamara a atenção, procurando a sua companhia a todos os momentos e ajudando nos trabalhos de casa. Os seus belos olhos verdes sombreados por tristeza era para o meu primo um cruel castigo, pois sentia que ela era o seu caminho na vida e não seria fácil para ambos, visto que a família dela era abastada e tinha outros sonhos para com sua filha.

 Terminou os estudos e logo conseguiu um lugar numa boa firma de automóveis implantada em todo o país, ela continuou a estudar e os encontros começaram a espaçar-se e viram ser impossível viver assim, pelo que rapidamente tomaram a resolução de esquecer os laços familiares e serem abençoados por Deus com o casamento. As famílias revoltaram-se, mas o seu ninho era de amor do que nunca acaba, nem com a morte.

 Em breve sentiram o seu amor abençoado com a promessa de um filho, mas não eram esses os planos de Deus e um terrível carcinoma ditava a sorte desta jovem senhora, atacando-a de tal forma que nem o rebento que trazia no seu ventre pode ver a luz do dia.

 Foram dias de tortura incrível para meu primo, que terminaram com as palavras dela:

 - Por favor, meu querido! Não me deixes só no caminho do além, levo o nosso filho junto comigo, mas preciso de ti. Nosso amor é muito maior que o mundo, o bom Deus quer-nos junto a ELE. Veio à terra implantar o amor e nós seguimos os seus ensinamentos amando. 

 - Breve minha querida estaremos novamente juntos e Deus nos dará a graça de vivermos com o nosso querido filho… Deus é amor.

 Aqueles belos olhos verdes pela ultima vez olharam o seu grande amor, o doce fruto desse enlace, um anjo, foi sepultado nos braços de sua mãe.

 Meu primo tentou tudo para resistir ao chamamento do amor, lembro-me que um dia veio até mim muito triste e pediu-me uma bala (Rebuçado) que estava chupando, disse carinhosa que tinha muitas no bolso e que lhe daria com todo o gosto.

 - Não minha querida! Quero a que tens na boca.

 Rapidamente a retirei e lha ofereci e foi com espanto que vi lágrimas invadirem o seu ainda jovem rosto.

 - Que se passa meu primo?

 - Vou unir-me ao meu grande amor, ela não pára de me chamar.

 Na altura não compreendi o alcance de suas palavras, somente passados alguns dias me disseram que meu primo vestira o fato de casamento, cobrira a cama com a colcha do dia de núpcias de cor branca e colocara uma bala no coração; Farto de sofrer com a ausência da mulher amada, o amor suplantara a vida.

 Eu farei isto por ti meu poeta. Gostava de um poema teu a este divino amor que uniu dois seres. 

 - O farei amor, logo que as lágrimas me libertem os olhos.

 NOTA do autor: Este conto é baseado num acontecimento real, nestas terras onde me encontro.

Fonte:
Magazine CEN. junho de 2012. Edição de Carlos Leite Ribeiro. Bloco 1.pag.2.

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