quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

J. G. de Araújo Jorge ("Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou") Parte 5


Alexandre Fernandes          
(Alexandre José de Seixas Fernandes)
(Rio Grande/RS, 24 de julho de 1863 – Salvador/Bahia – 30 de março de 1907 )

" CORAÇÃO DE MULHER "

Vira o rosto se eu passo; e entretanto,
seu olhar a seguir meu vulto fica.
Que me estima, de certo não indica,
porque parece que me odeia tanto!

Se um dia não me vê, ligeiro espanto
quando me avista o seu olhar explica;
e, nessa alternativa, mortifica
minha alma, escravizada a seu encanto.

As vezes, eu também, rapidamente,
volto meu rosto, finjo, indiferente,
nem pensar que ela vive neste mundo.

Mas, vejo, de revés, que ela me segue,
que o seu olhar ansioso me persegue ...
Coração de mulher, como és profundo!
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Alphonsus de Guimaraens
Afonso Henriques da Costa Guimarães
(Ouro Preto/MG, 24 de julho de 1870 – Mariana/MG, 15 de julho de 1921 )

" AO POENTE "
            
Ficávamos sonhando horas inteiras,
com os olhos cheios de visões piedosas:
éramos duas virginais palmeiras,
abrindo ao céu as palmas silenciosas.

As nossas almas, brancas, forasteiras,
no éter sublime alavam-se radiosas,
ao redor de nós dois, quantas roseiras...
O áureo poente coroava-nos de rosas.

Era um arpejo de harpa todo o espaço;
mirava-a longamente, traço a traço,
no seu fulgor de arcanjo proibido.

Surgia a lua, além, toda de cera ...
Ai como suave então me parecera
a voz do amor que eu nunca tinha ouvido.

" SONETO "
                                                           
Encontrei-te. Era o mês... Que importa o mês? Agosto,
Setembro, outubro, maio, abril, janeiro ou março,
Brilhasse o luar que importa? ou fosse o sol já posto,
No teu olhar todo o meu sonho andava esparso.

Que saudades de amor na aurora do teu rosto!
Que horizonte de fé, no olhar tranqüilo e garço!
Nunca mais me lembrei se era no mês de agosto,
Setembro, outubro, abril, maio, janeiro, ou março.

Encontrei-te. Depois... depois tudo se some
Desfaz-se o teu olhar em nuvens de ouro e poeira.
Era o dia... Que importa o dia, um simples nome?

Ou sábado sem luz, domingo sem conforto,
Segunda, terça ou quarta, ou quinta ou sexta-feira,
Brilhasse o sol que importa? ou fosse o luar já morto?

" SONETO XIX "
                                                           
Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão — "Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria.. .
" E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: — "Por que não vieram juntos?"
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Alphonsus de Guimarães Filho
(Afonso Henriques de Guimarães Filho)
(Mariana/MG, 3 de junho de 1918 – Rio de Janeiro/RJ – 28 de agosto de 2008)

"SONETOS DA AUSÊNCIA XII "
                                                        
Não te desejo mais pela amargura
nem pelas alegrias inconstantes:
quero beijar nas tuas mãos distantes
o amor que me alivia e transfigura.

Quero, sonhando a adolescência pura
no teu corpo febril, das mãos amantes,
colher nos ventos tudo quanto dantes
ambicionara em sedes de loucura.

Quero o teu riso, o teu silêncio, a graça
do teu vestido ao vento, o andar sereno
de ave marinha pelas madrugadas.

Quero colher em ti o que não passa
e pulsa em mim como o teu leve aceno
na distância impossível das estradas.

"SONETOS DA AUSÊNCIA XLII "
                                                           
O doce amor. As doces mãos da amada.
Seu corpo branco como luz macia
e a matinal pureza. e a graça e a fria
carícia da leve madrugada...

A rua humilde. A paz desta pousada.
A trepadeira, o alpendre... E, todo dia,
os risos das crianças, a alegria
descendo, clara, sobre a minha estrada.

Depois, a noite os sonhos dominando,
vozes veladas... Confissões a medo...
Gestos de quem parou na despedida

e há de ficar, por seu pesar, chorando,
vivendo o adeus que é como o seu segredo,
o adeus que encerra em si a própria vida.

Fonte:
J.G . de  Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou". 1a ed. 1963

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