quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

J. G. de Araújo Jorge ("Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou") Parte 6


Aluízio de Azevedo
( Aluízio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo)
(São Luis/MA, 14 de abril de 1857 – Buenos Aires/Argentina, 21 de janeiro de 1913)

" POBRE AMOR "

Calcula, minha amiga, que tortura!
Amo-to muito e muito, e, todavia,   
preferira morrer a ver-te um dia
merecer o labéu de esposa impura!   

Que te não enterneça esta loucura,
que te não mova nunca esta agonia,
que eu muito sofra porque és casta e pura,
que, se o não foras, quanto eu sofreria!

Ah! Quanto eu sofreria se alegrasses
com teus beijos de amor, meus lábios tristes,
com teus beijos de amor, as minhas faces!

Persiste na moral em que persistes.
Ah! Quanto eu sofreria se pecasses,
mas quanto sofro mais porque resistes!
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Alvarenga Peixoto,
( Ignacio Jose de Alvarenga Peixoto)
(Rio de Janeiro/GB, 1744 – Ambaca/Angola, 1793 )

ESTELA E NIZE "

Eu vi a Linda Estela, e namorado
fiz logo eterno voto de querê-la;
mas vi depois a Nize, e a achei tão bela
que merece igualmente o meu cuidado.

A qual escolherei, se neste estado
não posso distinguir Nize de Estela?
Se Nize vir aqui, mono por ela;
se Estela agora vir, fico abrasado.

Mas, ah! que aquela me despreza amante,
pois sabe que estou preso em outros braços,
e esta não me quer por inconstante.

Vem, Cupido, soltar-me destes laços;
ou faz de dois semblantes um semblante,
ou divide o meu peito em dois pedaços!
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Alvares de Azevedo
(Manuel Antonio Alvares de Azevedo)
São Paulo/SP, 12 de setembro de 1831 – Rio de Janeiro/GB, 25 de abril de 1852 )

" SONETO PÁLIDA LUZ "
                                  
Pálida, à luz da lâmpada sombria,
sobre o leito de flores reclinada,
como a lua por noite embalsamada,
entre as nuvens do amor ela dormia.

Era a virgem do mar! na escuma fria
pela maré das águas embalada...
Era um anjo, entre nuvens de alvorada,
que, em sonhos, se banhava e se esquecia.

Era mais bela! o seio palpitando...
Negros olhos, as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti – as noites eu velei chorando,
por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!
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Alvaro Moreira
(Alvaro Maria da Soledade Pinto da Fonseca Velhinho Rodrigues Moreira da Silva),
(Porto Alegre/ RS, 23 de novembro de 1888 – Rio de Janeiro/RJ, 21 de setembro de 1964)

" AO AMOR "

Meu tio-avô Manuel morreu de amor
em Póvoa de Varzim, num dia antigo.
Eu quero bem a todos os parentes,
mas é desse Manuel que sou amigo.

Foi o sincero da família. Por
destino, vocação, prêmio, ou castigo,
os bons Moreiras, nós tão diferentes,
somos iguais no amor. Sei por que digo.

Apenas não morremos. Continuamos
com o desejo que fica na saudade,
com o sorriso que fica em cada dor.

Arvores velhas, e de flor nos ramos,
vamos amando para a eternidade,
e o último amor ainda é o primeiro amor ...
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Alves Júnior (1904/1944)
(José Alves Júnior)
(Juiz de Fora/MG, 11 de março de 1904 – Belo Horizontes/MG, 04 de março de 1944)

" LONGE DA VISTA "

Para dar um consolo, um lenitivo
a esta saudade que me traz penando,
a distância em que vives e em que vivo
eu costumo vencer, de quando em quando.

Vou visitar-te. E volto, pensativo,
pensando mais em ti e mais te amando,
e inutilmente busco, em vão, motivo
para a dor desta ausência ir abrandando.

Sempre que volto, meu amor, eu vejo
que a cada vez maior esse desejo
de ter-te sempre junto a mim... E em vão

busco ocultar a dor que me contrista:
- quanto mais longe estas de minha vista
mais perto ficas do meu coração!

" MIRAGEM "

A mulher que há de vir para ser minha
será diversa das demais mulheres:
- há de ser nobre como uma rainha,
- há de ser pura como os malmequeres...

Hão de entoar-lhe os sinos, misereres,
quando ela entrar na igreja! E ela sozinha,
valerá mais que todas as mulheres
porque será unicamente minha...

Hei de exaltar-lhe a graça e a formosura!
Hão de invejá-la as flores mais amadas
e as estrelas mais rútilas da Altura...

E ela será na vida transitória,
consolo as minhas ilusões fanadas,
suprema inspiração de minha glória !

Fonte:
J.G . de  Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou". 1a ed. 1963

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