quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

J. G. de Araújo Jorge ("Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou") Parte 9


Aristheu Bulhões
(Maceió/AL, 8 junho 1909 – 31 outubro 2000)

" AMOR PROIBIDO "

"Crescei, multiplicai" - disse o Senhor
mas a sua palavra o mundo olvida,
porque na Terra, justamente o amor
converteu-se na coisa mais proibida.

Ama o sol, ama a planta, o inseto, a flor,
amam todos os seres que tem vida,
é uma aurora de afeto embriagador
a própria natureza colorida.

Somente ao homem se proscreve o culto
da amizade sem mácula e defeito,
que não tem ambição e afronta o insulto.

Bem mais humano é o animal bravio
que extravasa a ternura do seu peito
quando a força do amor explode em cio!
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Arthur Azevedo
Arthur Nabantino Gonçalves de Azevedo,
(São Luís/MA, 07 julho 1855 – Rio de Janeiro, 22 outubro 1908)

" ARRUFOS "
                                                         
Não há no mundo quem amantes visse
Que se quisessem como nos queremos...
Um dia, uma questiúncula tivemos
Por um simples capricho, uma tolice.

— "Acabemos com isto!", ela me disse,
E eu respondi-lhe assim — "Pois acabemos!"
E fiz o que se faz em tais extremos:
Tomei do meu chapéu com fanfarrice.

E, tendo um gesto de desdém profundo,
Saí cantarolando... (Está bem visto
Que a forma, aí, contrafazia o fundo).

Escreveu-me... Voltei. Nem Deus, nem Cristo,
Nem minha mãe, volvendo agora ao mundo,
Eram capazes de acabar com isto!

" TRANSEAT  "
                                                        
Tu és dona de mim, tu me pertences,
E, neste delicioso cativeiro,
Não queres crer que, ingrato e bandoleiro,
Possa eu noutra pensar, ou noutro penses...

Doce cuidado meu, não te convences
De que tudo na terra é passageiro,
Frívolo, fútil, rápido, ligeiro...
E a pertinácia do erro teu não vences!

Num belo dia - has de tu veres - desaba
Esta velha afeição, funda e comprida,
Que tanta gente nos inveja e gaba...

Choras? Para que lágrimas, querida?
Naturalmente o amor também se acaba,
Como tudo se acaba nesta vida.

" VEM... "

Escrúpulos?... Escrúpulos!... Tolices!
Corre aos meus braços! Vem! Não tenhas pejo!
Traze teu beijo ao encontro do meu beijo,
e deixa-os lá dizer que isto é doidice!

Não esperes o gelo da velhice,
não sufoques o lúbrico desejo
que nos teus olhos úmidos eu vejo!
Foges de mim?... Farias mal... Quem disse?

Ora o dever! - o coração não deve!
A amor, se é verdadeiro, não ultraja
nem mancha a fama embora alva de neve.

Vem!... Que o teu sangue férvido reaja!
Amemo-nos, amor, que a vida é breve,
e outra vida melhor talvez não haja!
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Assis Garrido
(Francisco de Assis Garrido)
(São Luiz/MA, 14 agosto 1899 – 1969)

" VÊNUS "

Deusa, a teus pés a flor das minhas crenças, ponho!
Mulher, eu te procuro, eu te amo, eu te desejo!
Para a tua nudez, — a gaze do meu Sonho,
para a tua volúpia, o fogo do meu beijo.

Divina e humana, impura e casta, o olhar tristonho,
cabelos soltos, corpo nu, como eu te vejo,
dás-me todo o calor dos versos que componho
e enches-me de alegria a vida que pelejo.

Glória a ti, que, do Amor, cantaste, aos evos, o hino,
que surgiste do mar, branca, leve, radiante,
para a herança pagã do meu sangue latino!

Glória a ti, que ficaste, à alma dos homens, presa,
para a celebração rubra da carne estuante
e a régia orquestração da Forma e da Beleza!
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Augusto de Lima 
((Nova Lima, então Congonhas de Sabará, 5 de abril de 1859 — Rio de Janeiro, 22 de abril de 1934)

" ALMAS PARALELAS "
                   
Alma irmã de minh'alma, espelho vivo
de outro espelho fiel, que te retrata;
alma de luz serena e intemerata,
cujo influxo de amor me tem cativo!

Bem sinto que em mim vives e em ti vivo;
no entanto (e eis o desgosto que me mata! )
de amor a doce vaga me arrebata,
e não posso atingir teu vulto esquivo.

O mesmo curso têm nossos destinos,
do gozo, o mel; da dor, os desatinos,
a um nada inspiram, sem que o outro inspirem;

mas, triste some! Ó bela entre as mais belas!
Eles São como duas paralelas:
- próximos correm, sem jamais se unirem!
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Augusto dos Anjos
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos
(Engenho Pau D’Arco/PB, atualmente Município de Sapé, 20 abril 1884 –  Leopoldina/MG, 12 novembro 1914)

 " IDEALISMO "

Falas de amor, e eu ouço tudo e calo
O amor na Humanidade é uma mentira.
É. E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.

O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?

Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
— Alavanca desviada do seu fulcro —

E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!

Fonte:
– J.G . de  Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou". 1a ed. 1963

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