sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Paula Raposo (Caravelas da Poesia)


“A TUA CANÇÃO”

O mar voltou a chamar-me,
 brando, azul;
 ondulando
 levemente de espuma e paz.

Eu regresso, de mansinho
 (ao seu afago),
 canto a tua canção
 -num beijo inesgotável-
 quando o mar me desperta
 todas as ausências:
 eu te chamo breve em nós.

CARTA DE PAIXÃO”

Escrevo-te:
 mais uma carta de paixão.
 Conto-te do desejo,
 do incontornável calor
 do teu corpo e do meu,
 da saudade vincada de ti,
 da cama, do suor, do orgasmo.
 É: uma carta de paixão
 (esta), a que te escrevo,
 com palavras que escorrem
 no envelope.
 Vem hoje;
 para que eu me venha, também.

“AQUECE”

Não deixes arrefecer,
 aproveita a imaginação
 e no vento frio,
 que nos gela,
 aquece comigo a noite.
 Deixa que a madrugada
 regresse a casa
 e o calor se faça sentir,
 como a memória,
 agora ausente,
 do que fomos;
 nas entranhas
 os únicos sobreviventes.

“ATRASOS”

Sempre olhavas o relógio
 E as horas marcadas
 Para estar em casa
 Quando começava
 A despir-me
 Olhavas-me cobiçoso
 E tocavas-me
 Onde sabias
 As horas ficavam para trás
 (Mas nunca te atrasavas
 Em casa)
 Atrasavas-te só em mim
 No reboliço
 Em que deixávamos
 Metade de nós

“CANÇÃO DO AMOR”

Gosto das canções de amor
 Embaladas na tua voz
 Como se a música
 Chovesse prateada
 Em torno do meu corpo
 Emudecido
 Gosto de te ouvir
 Nas canções de amor
 Que a tua vida não calou
 E que cantas ainda
 Sob um feixe de luz
 Na madrugada aquecida
 De um quarto de hotel
 Adormeces-me em desvario
 Quando assim me embalas
 E a chuva é prateada
 E o vento se torna poema
 Na tua canção de amor.

“O TEMPO ERRADO”

Tanta palavra dita e redita
 Esquecida e magoada
 Falada no silêncio
 Fechada no tempo
 De não ser nada.
 Palavras repetidas
 Como se fossem verdade
 Como se as quisesse ouvir
 Só para que a minha voz
 Ecoe e eu a escute
 Para que as palavras
 Sejam as da minha solidão
 As da minha vontade
 Aquelas que se entregam
 Sem troca alguma.
 Ditas e reditas
 Enterradas no dia
 Do tempo errado…

DESENHO

Desenho com um lapis,
acabado de afiar,
os traços que contornam
o teu rosto
onde a barba se destaca,
mas não sei desenhar
o tom da tua voz.

Talvez o pinte de azul- maresia
e o acaricie
num longo gesto,
pronunciado
Pelo bico de meu lápis,
junto à nascente
do dia
com a sofreguidão
da maré

Fontes:
http://www.estudioraposa.com/index.php/category/poetas/paula-raposo/
http://o-sol-poente.blogspot.com.br/2009/03/poesia-de-paula-raposo.html

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