quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Paulo Vinheiro (Tremor)


Uma dose a mais, a última, a primeira do dia
 Um deslizar constante para onde não sei
 O quente e macio gesto do adeus demorado
 A sangria e o cheiro do mato cortado
 A chuva e uma tristeza que não sacia

 Descer a serra se faz fácil e rápido
 O destino não há, mas a vontade de se ir
 Assim, embriagado, mergulhado no fim
 De mim nem haverá lembranças
 Por certo não haveria de haver

O sonho de se sentir acordado
 A percepção de ser diferente
 Sinto o tempo encolhendo, vacilante
 Abro a porta de meus olhos
 E mudo as cores do espectro

Trocando as pernas pelas ruas
 Como quem anda, à toa, achando
 Já não sou mais o que pensei
 Isto é, não sei nada de mim
 Hoje ando mais tonto que ontem


Feliz e aceitando tudo que não entendo
 Abraço outros bêbados como fui e sou
 Acreditamos num mesmo deus
 Lutamos as mesmas guerras
 Somos imbecilmente apaixonados

O que me embriaga é de outra natureza
 Minha natureza foi a das choças
 Hoje não sei mais, por mais que busque
 O que anda por dentro é morno
 Acredito no que a maioria quer
 E não sei mais o que quero… de mim

Fonte:
http://entrementes.com.br/2012/11/tremor-27112012/

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