sábado, 29 de dezembro de 2012

Teatro de Ontem e de Hoje (Estrada do Tabaco)


Segundo espetáculo do Teatro Popular de Arte, marca a estréia do diretor italiano Ruggero Jacobbi, no Brasil e é considerado por alguns críticos o primeiro espetáculo naturalista do teatro brasileiro.

Estrada do Tabaco, estreada com nome de Tobacco Road, de Erskine Caldwell e Jack Kirkland, é escolhida pelo empresário Sandro Polloni em virtude do sucesso da montagem na Broadway, onde atinge mais de 3 mil récitas. Depois de realizar Anjo Negro, enfrentando a baixa popularidade de Nelson Rodrigues, na época, o Teatro Popular de Arte - TPA convida para assumir o trabalho de direção Ruggero Jacobbi. No entanto, em depoimento à pesquisadora Tania Brandão, Sandro Polloni afirma, 30 anos depois, que quem dirigiu os atores foi Itália Fausta e que Ruggero Jacobbi "colaborou, porque trouxe idéias novas",1 o que explica a falta do crédito relativo à categoria direção no programa do espetáculo.

O texto mistura doses de hiper-realismo a um humor corrosivo. A história se passa no universo de uma família de famintos cuja única fonte de renda é a venda da madeira de um carvalho. As terras pertenciam ao avô, plantador de tabaco, até que a propriedade e a lavoura foram sendo gradativamente degradadas pelos herdeiros. Na primeira parte da peça, a ação apresenta os pequenos conflitos e as atividades rotineiras dos miseráveis. Subitamente, recebem o anúncio da visita do dono das terras e passam a acreditar que a vinda dele possa melhorar a vida do grupo.

O cenário de Laszlo Meitner procura unir realismo e síntese: o palco coberto de terra, barris com água e destroços reais de um velho automóvel. A direção, sem fugir do risco da monotonia, investe na lentidão do tempo naturalista, valorizando as pequenas ações e a ambientação. O crítico Henrique Oscar, ao comentar o espetáculo, faz referência ao pioneiro do naturalismo, André Antoine, e à sua companhia, o Théâtre Libre. A interpretação dos atores, no entanto, destoa da proposta geral, que se evidencia com precisão nos elementos visuais.

As apreciações críticas divergem quanto ao resultado final. Décio de Almeida Prado faz ressalvas à encenação que, segundo ele, transforma o realismo em caricatura e empobrece o texto. A interpretação cômica de Ziembinski para o velho Lester e o tom melodramático de Itália Fausta na cena final merecem reprovações, embora a atriz receba na maioria das críticas elogios à segurança e maestria de sua interpretação. Sergio Britto escreve, no Diário de Notícias, que o espetáculo resulta paradoxal: "é uma tragédia que se assiste rindo".2

Notas 

1. POLONNI, Sandro. Depoimento. In: SILVA, Tania Brandão da. Peripécias modernas: companhia Maria Della Costa. 1998. 398 p. Tese (Doutorado em História da Arte)-Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998. p. 174.

2. BRITTO, Sergio. Citado em In: SILVA, Tania Brandão da. Peripécias modernas: companhia Maria Della Costa. 1998. 398 p. Tese (Doutorado em História da Arte)-Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998. p. 177.

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