sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Trova 186 - José Feldman (PR)

Montagem sobre imagem (ondas) obtida em http://www.TecnoCientista.info

Maria da Graça Stinglin de Araújo (Livro de Trovas)


Buscar caminhos amenos,
inovar o dia-a-dia,
errar menos...sempre menos...
também é sabedoria.

Curitiba, da magia,
tem beleza, tem lisura.
Curitiba, muito fria...
mas... só na temperatura!

Faça o trânsito seguro.
Só dirija com cuidado.
Não deixe o outro no apuro...
Está certo? Combinado!

Jovens estão temerosos?
Estimule-os a aprender,
tornando-os bem poderosos
com o domínio do saber.

Linda Noite de Natal!
Nessa noite, muita luz,
brilha a estrela principal,
renasceu nosso jesus!

Na linda manhã de sol
ouvi uma canção tão bela...
Eu debaixo do lençol
e a cigarra na janela!

Os conselhos agradáveis
muitas vezes são tão fúteis,
totalmente dispensáveis.
Bons conselhos são os úteis.

Por incrível que pareça,
a pessoa que é ranzinza
leva acima da cabeça
uma leve nuvem "cinza".

Primavera... ipês floridos,
pássaros alegres cantam.
Jardins estão coloridos...
todos eles nos encantam!

Quem trafega com atenção
demonstra conhecimento,
melhora a circulação...
e evita aborrecimento!

Todos os anjos e santos
de maneira especial,
consolam os nossos prantos,
com piedade angelical.

Trovadores... luz... ribalta!
No cenário: a poesia.
Trova nasce... verso salta...
na maior coreografia.

Um abraço com frequência
sempre muito amor nos traz.
Ele desarma a violência,
constrói um mundo de paz.

Vem na natureza... em cota!
O dom de ser escritor...
Muitas vezes ninguém nota,
e o texto está numa flor!

Fontes:
União Brasileira dos Trovadores.
Portal CEN

Maria da Graça Stinglin de Araújo (1947)


Nasceu no dia 28 de dezembro de 1947, em Curitiba, Paraná, onde sempre residiu.

Casada. Professora de Português, Francês e respectivas literaturas. Pós-graduada em Magistério Superior e Ensino Religioso.

Artesã, apreciadora de arte em geral. Trovadora, iniciou no mundo da Trova trabalhando em sala de aula.

Voluntariamente, desde 1999 leva às escolas um trabalho de incentivo aos jovens, no conhecimento da Trova.

Colaborou na elaboração do livro "Papalavras" 2004, onde se registra a primeira participação de alunos no concurso de trovas dos "Jogos Florais" em Curitiba.

Participou em 2006, na "Semana de Estudos Pedagógicos" na Prefeitura Municipal de Curitiba, como docente em Oficina de "Trova em Sala de Aula", para professores do Ensino Fundamental da mesma Instituição.

Vice-presidente de Cultura da UBT-Curitiba - biênio 2007/2008.

Eleita presidente, para o biênio 2009/2010,da referida Seção, que tinha como projeto iniciar em março de 2010 um trabalho mensal de "Oficina de Trova", em parceria com a Academia Paranaense de Poesia, em espaço cedido pela Biblioteca Pública do Paraná.

Fonte:
União Brasileira dos Trovadores.

Ialmar Pio Schneider (Soneto para o Ano Novo)

Fontes:
- O Autor
- Imagem obtida no Baixaki

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.81)


Trova do Dia

O Ano Velho já se deita...
e amenizando os cansaços
o Ano Novo chega e ajeita
a esperança em nossos braços.
WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ/PR

Trova Potiguar

Este ano, já moribundo,
chora por não ser capaz
de ao menos puxar o mundo
para mais perto da paz!
JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN

Uma Trova Premiada

2002 > Garibaldi/RS -Estadual
Tema > Natal > 5º Lugar

Pratique o bem, ore e peça
por seus irmãos em vigília;
Natal com Cristo começa
em nós, no lar, na família!
ANTONIO VOGEL SPANEMBERG/RS

Uma Trova de Ademar

Vou pedir pra todo o povo,
em preces e em orações,
muita paz neste Ano Novo...
muito amor nos corações!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

Chega o Natal... e as criança,
na pobreza sem brinquedo,
não tendo mais esperanças
ficam adultas mais cedo.
NYDIA IAGGI MARTINS/RJ

Estrofe do Dia

Quero desejar ao povo
de todas as regiões,
que tenham nesse Ano Novo
muitas realizações;
e que os nossos corações
se superlotem de paz,
pra não ter guerra jamais
peço a Deus que nos ajude,
com paz, amor e saúde
que o resto vamos atrás.
ADEMAR MACEDO/RN

Soneto do Dia

– Edmar Japiassú Maia/RJ –
RÉVEILLON.

Os fogos de artifício mostram claras
das pessoas as faces coloridas,
e no espocar, alegre, das bebidas,
rolam champanhas em cascatas raras...

As frases de euforia, repetidas,
guardam mensagens de emoções mais caras,
e um reflorir constante das searas,
semeando esperança em nossas vidas...

A contagem do tempo, regressiva,
uníssona retumba, forte e viva,
no anseio do Ano Novo...do Ano Bom.

E em cada olhar, brotando, cristalinas,
as lágrimas são preces das retinas,
em louvação de graça ao Reveillon!

Fonte:
Ademar Macedo

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Abgar Renault (Antologia Poética)


ENCANTAMENTO

Ante o deslumbramento do teu vulto,
sou ferido de atônita surpresa
e vejo que uma auréola de beleza
dissolve em luar a treva em que me oculto.

Estás em cada reza do meu culto,
sonhas na minha lânguida tristeza
e, disperso por toda a natureza,
paira o deslumbramento do teu vulto.

E' tua vida minha própria vida
e trago em mim tua alma adormecida . . .
mas, num mistério surdo que me assombra,

tu és, as minhas mãos, vaga, fugace,
como um sonho que nunca se sonhasse
ou como a sombra vã de uma outra sombra...

ALEGORIA

Em vão busco acender um diálogo contigo:
a alma sem tom da tua boca de água e vento
despede cinza, névoa e tempo no que digo,
devolve ao chão o meu mais longo pensamento,

e entre cactos estira esse deserto ambíguo
que vem da tua altura ao vale onde me ausento,
procurando o teu verbo. O silêncio, investigo-o,
e ouço o naufrágio, o vácuo e o deperecimento.

Sonho: desces a mim de um céu de algas e rosas,
falas às minhas mãos vozes vertiginosas,
e palavras de flor no teu cabelo enastro.

Desperto: pairas ainda em silêncio e infinita:
meu ser horizontal chora treva e medita
tua distância, teu fulgor, teu ritmo de astro.

SONETO DO IMPOSSÍVEL

Não ouvirás nem luz, nem sombra inquieta
das sílabas que beijam tuas asas,
nem a curva em que morre a ardente seta,
nem tanta eternidade em horas rasas.

Não medirás a bêbeda corola
que abriste no final do meu sorriso,
nem tocarás o mel que canta e rola
na insônia sem estradas onde piso.

Não saberás o céu construído a fogo,
que tua jovem chave cerra e empana,
nem os braços de espuma em que me afogo.

Não verão os teu olhos quotidiana
a minha morte de homem embebida
no flanco de ouro e luar da tua vida.

COMO QUEM PEDE UMA ESMOLA

Preciso de uma palavra.
Em que dia ou em que noite
estará essa, que almejo,
ideal palavra insabida,
a única, a exclusiva, a só?
Dela me sinto exilado
todas as horas por junto,
com minha face, meu punho,
meu sangue, meu lírio de água.
Soletro-me em tantas letras,
e encontrá-la deve ser
encontrar a criança e o berço,
a unidade, a exatidão,
o prado aberto na rua,
a rua galgando a estrela.
Preciso de uma palavra,
uma só palavra rogo,
como quem pede uma esmola.
Em florestas de palavras
os calados pés caminham,
as caladas mãos perquirem,
os olhos indagam firmes.
Em que parábola cruel,
em que ciência, em que planeta,
em que fronte tão hermética,
em que silêncio fechada
estará viajando agora
- mariposa de ouro azul -
a palavra que desejo?
Lâmina sexo cristal
fulcro pântano convés
voraginoso fluvial
Antígona circunflexa
catastrófico crepúsculo
ênula ventre rosal
sibila farol maré
desesperadoramente
nenhuma será nem é
aquela do meu anseio.
Como será, quando vier,
a palavra entrepensada,
necessária e suficiente
para a minha construção
de lápis, papel e vento?
Dura, espessa, veludosa
ou fina, límpida, nítida?
Asa tênue de libélula
ou maciça e carregada
de algum plúmbeo conteúdo?
Distante, insone e cativo,
debaixo da chuva abstrata,
eu me planto decisivo
no tráfego confluente,
aéreo, terrestre, marítimo,
e espero que desembarque,
triste e casta como um peixe
ou ardendo em carne e verbo,
e pouse na minha mão
a áurea moeda dissilábica,
a noiva desconhecida,
a coroa imperecível:
a palavra que não tenho.

NA RUA FEIA

Na rua feia,
de casas pobres,
morreu o filhinho daquela mulher
que lava o linho rico
de um bairro distante.
Morreu bem simplesmente,
assim como um passarinho.
O enterro saiu...lá vai...
um caixãozinho azul
num carro velho de 3a. classe.
Atrás dois autos. Dois.

A tarde irá pôr luto
na rua feia,
de casas pobres?

Garotos brincam de esconder
atrás do muro de cartazes.
Lá no alto
vai-se abrindo grande céu sem mancha
cruzeiro-do-sulmente iluminado.

POEMETO MATINAL

O ar da manhã beija a minha face.
A minha alma beija o ar leve da manhã
e olha a paisagem longínqua da cidade,
que branqueja alegremente na distância
e sorri humanamente
um sorriso branco no caiado das casas
que montam os flancos das colinas azuis
e espiam pelos olhos escancarados das janelas.

7 horas. Vai começar a função.
O despertador das sirenes fura liricamente
o silêncio doirado da manhã.
Parece que a vida acorda agora pela primeira vez
e esfrega os olhos deslumbradamente...

Meu Ford fordeja dentro da manhã
e sobe a rua velha do meu bairro,
arquejando, bufando, fumando gasolina.
Meu Ford a cabriolar nos buracos da rua descalça
é um cabrito todo preto a cabriolar, prodigioso.
O ar leve beija o radiador
e beija a minha face.

A meninice de todo o meu ser
na doirada névoa desta manhã!

NOITE

Há duas pombas brancas no telhado.
Junto delas pousa o silêncio do dia já parado,
e entre asas caladas o primeiro gesto da noite vai crescendo.
É tarde nos telhados e nas árvores,
é tarde (triste e mais tarde) nessa rua
que se reabriu no fundo de um olhar,
onde se movem ressurrectos mármores
e começam a discorrer ventos e velas
por sobre a limpidez das mesmas águas velhas,
e pássaros azuis bicam frutos de astro soltos no ar.

Sobem (de onde?) vultos escuros de coisas e de entes,
alongam a última distância, somem a luz que se destece
e a linha dos caminhos, apagam o verde prado.
Não há duas pombas brancas no telhado:
sobre elas, seu vôo e seu arrulho ausentes
a lápide sem cor das horas desce.

Fonte:
Jornal de Poesia

Abgar Renault (1901 - 1995)



Abgar Renault (A. de Castro Araújo R.), professor, educador, político, poeta, ensaísta e tradutor, nasceu em Barbacena, MG, em 15 de abril de 1901, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 31 de dezembro de 1995.

Era filho de Léon Renault e de Maria José de Castro Renault. Casado com D. Ignês Caldeira Brant Renault, teve dois filhos, Caio Márcio e Luiz Roberto, e três netos, Caio Mário, Abgar e Flávio.

Realizou os estudos primários, secundários e superiores em Belo Horizonte, onde começou a exercer o magistério.

Foi professor do Ginásio Mineiro de Belo Horizonte, da Universidade Federal de Minas Gerais e, no Rio de Janeiro, do Colégio Pedro II e da Universidade do Distrito Federal.

Eleito deputado estadual por Minas Gerais, nomeado Diretor da Secretaria do Interior e Justiça do mesmo Estado; Secretário do Ministério da Educação e Saúde Pública Francisco Campos e seu Assistente na Secretaria da Educação e Cultura do Distrito Federal;
  • Diretor e organizador do Colégio Universitário da Universidade do Brasil;
  • Diretor do Departamento Nacional da Educação,
  • Secretário da Educação do Estado de Minas Gerais em dois governos, quando se notabilizou por incentivar o ensino no meio rural;
  • Ministro da Educação e Cultura;
  • Diretor do Centro Regional de Pesquisas Educacionais João Pinheiro em Belo Horizonte;
  • Ministro do Tribunal de Contas da União;
  • membro da Comissão Internacional do Curriculum Secundário da Unesco (1956 a 1959);
    consultor da Unesco na Conferência sobre Necessidades Educacionais da África, em Addis Abeba (1961);
  • membro da Comissão Consultiva Internacional sobre Educação de Adultos, também da Unesco (1968-1972);
  • representante do Brasil em numerosas conferências internacionais sobre educação levadas a efeito pela Unesco em Londres, Paris, Santiago do Chile, Teerã, Belgrado e Genebra;
  • eleito várias vezes membro da Comissão de Redação Final dos documentos dessas reuniões;
  • membro da Comissão Consultiva Internacional do The World Book Encyclopædia Dictionary (Thorndike-Barnhart Copyright, Doubleday & Company, USA, 1963);
  • membro do Conselho Federal de Educação e do Conselho Federal de Cultura;
  • Professor Emérito da Universidade Federal de Minas Gerais.

    Esteve sempre ligado à educação e, como professor, preocupou-se com a língua portuguesa, de que foi um conhecedor exímio e representante fiel.
Pertenceu à
  • Academia Mineira de Letras,
  • Academia Municipalista de Letras de Belo Horizonte,
  • Academia Brasiliense de Letras;
  • Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Stanford, Califórnia, EUA, e
  • Presidente da Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa de Belo Horizonte.

    Em todos os postos que ocupou, como no magistério, Abgar Renault desenvolveu intensa e exemplar atividade, registrando em A palavra e a ação (1952) e Missões da Universidade (1955) seus estudos e reflexões.

    Além disso, foi um grande poeta. Contemporâneo de Carlos Drummond de Andrade, juntou-se ao grupo surrealista moderno e participou do movimento modernista de Minas Gerais. Desde então, sua importância na literatura contemporânea só fez crescer. Apesar de ter a obra associada ao Modernismo, fazia uma poesia original, audaciosa, não formalista e não ligada a nenhuma escola poética. Era dos que não faziam questão de aparecer em público, mas sua qualidade literária se impõe nos livros que publicou.

    Foi também um notável tradutor de poetas ingleses, norte-americanos, franceses, espanhóis e alemães. Era um grande especialista em Shakespeare. Sua poesia tem sido incluída em numerosas antologias, no Brasil e no exterior.

    Quinto ocupante da Cadeira 12, da Academia Brasileira de Letras, eleito em 1º de agosto de 1968.

    Bibliografia

    Obras:
    Sonetos antigos (1968);
    A lápide sob a lua, poesia (1968);
    Sofotulafai, poesia (1971);
    A outra face da lua, poesia (1983);
    Obra poética, reunião das obras anteriores (1990).

    Traduções:
    Poemas ingleses de guerra (1942); A lua crescente (1942), Colheita de frutos (1945) e Pássaros perdidos (1947), de Rabindranath Tagore;
    O boi e o jumento do Presépio (1955), de Jules Supervielle.
    Essas obras foram reunidas, em grande parte, em Poesia Tradução e versão (1994).

    Fonte:
    Academia Brasileira de Letras

Deth Haak (Antologia Poética)


DA LUA AO POETA...

Ser aluado ou disperso é o viver do poeta
Que a pena dissipa suas dores e compulsões
Imergindo inversas letras ao vento que o ata
Olhando outros olhos a miragem das ablações.

Pode parecer flutuar encantado com o que versa
Diz não a sofreguidão, deitando em constelações;
Que luzem sois na beleza do existir que perpassa
Enjeitando as aflições de suas tantas emoções...

Só há flores em seu vergel, e ao acúleo congraça,
O negrume em rendilhas bordadas na imensidão
Ri da dor no verso lido odora o lodo e a traça...

O Poeta faceta em rosas o desejar da imaginação
Transmuda o viver obscuro aos olhos de toda praça
Lamentos que despem a lua no gozar da alucinação.

ESCULPI O VENTO...

Despertar afoito no sol que desponta
Na morna canção num solo da brisa
Insuflando a completude que decanta
Rompendo muralhas alisando e frisa,

Diálogos afagados, a natureza monta
beleza esculpida que a erosão alisa .
sutilezas em cinzéis ventados em data
conturbada na memória que encanta.

Lacerando Dunas e Falésias dum amar
erosões do vento que conto no momento,
e permaneço embebida na visão do mar .

Que insiste salivar a rocha ,na sede do tempo
lambendo o fruto proibido em seu acariciar.
Flui da aragem, liras lúbricas no sentimento..

LONGA MADRUGADA...

De arcabouços carcomidos, estafados e ansiosos
Envolto a asperezas dissonantes das notas dum jazz
Náufragos embevecidos de pensamentos nervosos
Entre libar dum rubro tragado o debilitar que satisfaz...

Embalados a canções balouçadas de eus silenciosos
Buscando quem sabe onde, o acalentar de seus ais.
Lágrimas que vertem nas faces, de vultos curiosos
Providas de ilusos perdidos, balizados no olhar fugaz...

Na disfarçada melancolia, a corroer tantos corações ociosos.

Fundeados no ar denso, mitigando canchas de templos e sagas,

Definindo os semblantes, almas mortas de sonhos preciosos...

O fulgurar mesmo que diuturno o alvorecer dos sorrisos
Entre cinzas espalhadas sob as guimbas. Na brasa voraz,
O arder da musica, sons alcoolizados, afligindo orgulhosos.

A DERIVA DO AMOR...

Revoltada a ventania e o marejar irado
Deste dia, em que sonho querências.
Do afagar aquecendo o imo, no aguardo
Da bonança a envolver-me em caricias...

Naufraga imaginando as espumas brancas,
Mareada.... Na ilusão duma espera suportada.
A deriva a paixão faz água nas molancas,
E Inunda o barlavento na onda quebrada...

E , nesse nadar marolas ateadas, eu te navego
Oceano! Entrevendo ao longe, a tábua do amor
Mitigando o que vem, no sentir que a ti renego,

E apenas no sonhar a sanha, a ti me entrego
Alcançando o mastro imerso no escarcéu do ardor.
Boiando no contemplar das ondas aguçando o ego!

CHOVE EM MIM...

Inunda chuva molhando meu ser
Umedecendo o solo do escrever
Germinando vaga a triste realidade.

Lacrimejada nos olhos de quem lê;
E chora o Poeta a tamanha saudade
Descrita no tempo do não sabe por quê.

Que nas pardacentas folhas da idade
O Vento sopra á noite ruelas de mim
Enclausuradas na cruel infelicidade...

Ateando a poeira mundana no argüir
Os traços deixados no caminhar
Rimas crivadas dum amor sem fim...

Refaz o pulsar de o imo a premunir,
A tempestade de nuvens a entoar
O redivivo borrão, chovido nanquim.

Insistem mostrar o negrume ao luar
Chuvosos versos bordando marfim
Lembrar das gotas, pérolas a tilintar...

Sussurram colchas nas eras do cetim
pros catres que te chamam sem ouvir
a vaguear pelas ruas nas noites sem fim...

Chove o peito da paixão por não sorrir
os momentos nebulosos vindo do mar
A carpirem ondas de o amargo existir.

ASPIRO ROSAS...

Assim vou dando cor e aroma ao que inspiro,
das pétalas aveludadas, que desnudam o corpo
Pra vestir a vida, mesmo que seja de espinhos
Aspiro Rosas...
Envolvo o templo em matiz imaginarias
Viandando por cânones que valsam no tempo
A harmonia dos pelos que encrespam poros e,
Aspiro Rosas...
Mesmo que imersas na água da chuva, que inunda o viver
De tempestades inclementes, no carpir de amarguras
Que assolam o ser por querer da vida, um rasgo no alvorecer.
Aspiro Rosas...
Mesmo que murchem ao olhar do que vê, mesmo assim
As quero ornando a esperança que o horizonte aponta
Quando de nuvens pesadas, nebulosos os dias perceber
Aspiro Rosas...
Quando a tarde vai desmaiando em busca dum crepúsculo
Pra morrer nos braços da noite, que orvalha o que precente
no caule da flor, que o amanhã não será diferente, aspiro Rosas!
Nos ventos transportando aromas e cores.
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Deth Haak, A Poetisa dos Ventos (1959)



" A Poetisa dos Ventos"

Amante da literatura, nasci em Armaçãos dos Búzios município do Rio de Janeiro. Cantando siris nas redes, assim aprendi a contar! O mundo deu muitas voltas e eu só troquei de mar, deixei a praia do Canto, para em Ponta Negra , Natal Rio Grande do Norte, morar. Entre jangadas e velas Dunas e mar... A poesia me fez convite e no meu SER instalou-se. Hoje ouso, sou poetisa amadora e, como sou atrevida, busco nas leis de incentivo, meu sonho realizar o livro quero editar!...Eu Sou Deth Haa
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Aos dezessete dias do mês de Janeiro de 1959, nasce em Armação dos Búzios, Município do Rio de Janeiro, Odete Pereira Alves segunda dos quatro filhos. Em meio a uma tempestade onde a lua cheia se escondeu para dar lugar aos relâmpagos que riscavam aquele céu saudando a ventania que soprava Leste. Filha de Manoel Custódio Alves, um humilde pescador e de Maria Julia Pereira Alves, mulher que do sonhar se esquivou... Aos cinco anos deixa a aldeia de pescadores como se a navegar outros mares a família vai à busca de outro porto para ancorar no futuro o que o passado lhes negara...

Em 1966 desde os cinco anos alfabetizada pelo seu pai que possuía a terceira série primária matricula-se na Escola Publica Pandiá Calógeras , bairro de Alcântara São Gonçalo cidade do Rio de Janeiro. E o presente fez-se calmaria abrandando o escarcéu, da curiosidade da então menina, que incentivada pelos educadores de então alça vôos com os livros que lia.

Em 1971 termina o curso primário, e a Nau parte para outro porto. Desta vez para uma Ilha... Onde os dotes já aflorados compunham em versos seus dias. O interesse pela literatura leva-a manusear livros de Poesias na biblioteca escolar e passa ter em Pablo Neruda e outros autores de língua Espanhola o referencial que vem pautando a sua vida.

Nada lhe era mais fascinante que sonhar um mundo melhor como os Poetas...

Em 1972, presta exame admissão ao primeiro ano no Liceu de artes e Ofícios contrariando sua mãe, que sem nenhuma visão de mundo, acreditava ser a mulher feita para casar e procriar. Primeiro desafio vencido e não logrado, por não ter condição de custear despesas dessa instituição. Conclui o curso Ginasial na escola publica Zuleika Raposo Valadares na Ilha da Conceição Niterói RJ. Desperta a ousadia, e parte para o Grêmio Estudantil, fincando nesse solo a bandeira da “PALAVRA” Oradora nata, e POETA. Constrói discursos pautados na Liberdade e Igualdade.

Em 1974 recebe da Câmara dos Vereadores da Cidade Niterói Menção honrosa pela causa comunitária, trabalho desenvolvido junto aos moradores de então pelo direito a terra que ocupavam. Uma luta antiga pela posse da terra.

Não Calarei!

Se quiserem parar meu rumo, mesmo assim caminharei.
Buscando encontrar soluções para o mundo que sonhei...
Buscarei na caminhada o país que almejei.

Em 1981, contrai matrimônio, com Luiz Paulo Freitas Minnemann e realiza o sonho da maternidade.

Em 1982 nasce o fruto dessa união Paulo Roberto Alves Minnemann, rompendo no mesmo ano, essa união contrariando os princípios familiares que não tolerava separações. Primeiro caso de desquite entre as inúmeras mulheres da família que por estigma enviúvam desde os primardes!

Em 1983, sob os auspícios do Vento a soprar seu norte, parte para o então mundo alquímico, onde a beleza e os Egos se contrapõem a todo instante. Torna-se profissional de moda, figurando em salões e exposições por entre as lentes dos fotógrafos e câmeras dos estúdios da extinta TV Manchete,

Sem se distanciar das causas do POVO, auxiliando a comunidade a buscar seus ideais e desta vez valendo-se do prestigio galgado na profissão.

Em 1986 torna-se empresária de moda. Dividindo seu tempo entre a aldeia de pescadores, trabalhando pela sua emancipação e a cidade do Rio de Janeiro onde exercia a profissão.

Em 1989 casa-se com o Austríaco Rolf Helmut Haak, arquiteto e artista plástico e embarca na aventura de viver no Nordeste do Brasil. Refaz o caminho de volta do Sertanejo lutador.

Em 1990, com seu então companheiro investem na gastronomia, tornando-se referencia nesta área, na cidade do Natal, Rio Grande do Norte, projetando nesse espaço artistas de todas as áreas. Fomentando a diversidade Cultural tentando resgatar trezentos anos de história da aldeia onde habita. Projeto Cultural Jangada das Sete, Vila de Ponta Negra RN.

Em 1998 Rolf Haak, falece. E como a vida não pode parar retoma os movimentos comunitários vivenciando outras realidades. União das Mulheres de Natal, Conselho Comunitário da Vila de Ponta Negra, Preservação da Natureza SOSPONTANEGRA. Coletivo Leila Diniz, UNEGRO Brasil Sem Aborto Núcleo Rio Grande do Norte, Protagonista da Paz trabalho Comunitário com 68 adolescentes de risco.

Oradora Oficial da Capoeira Arte e Vida que congraça 1500 capoeiristas pela inclusão Social.

Em 2001,-Deth Haak dedica-se a Poesia de inclusão. Escreve , recita educa através das mesmas, levando a áreas carentes onde relata e divulga a necessidade de cada comunidade fazendo lembrar ao que detém o poder e nada fazem que essa seja a hora de tentar mudar.

Incentivada pelo seu filho começa a publicar na Internet, poesias e através do mundo virtual em contato com os poetas trocando conhecimento com o Brasil e Mundo
Em busca de um raio de sol na escuridão dos mundos para fazer germinar a PAZ.

EM 2006 filia-se a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins- RN dedicando-se a difusão da poesia na terra de tantos poetas, com outro propósito levar essa arte aquém disto dela não aprendeu a sonhar.

Parte A Caravana da Poesia por escolas publicas, Centros comunitários, Universidades, Igrejas, incentivando a leitura através de apresentações em praças, clubes, sindicatos e Ongs.

Em 2006 vence na Alemanha o primeiro concurso Literário na categoria Pœsia, com o pseudônimo Deth Haak “ A Poetisa dos Ventos”. Segundo lugar do concurso na Faculdade de Direito Câmara Cascudo no Rio Grande do Norte, com poema “ Crepúsculo”.

Organiza o Abraço a Maior Duna do Nordeste Morro do Careca, pela preservação ambiental SOS.PONTA NEGRA.

Participa da elaboração das emendas do novo plano diretor da cidade do Natal, conscientizando a Câmara dos Vereadores e a população sobre o Desenvolvimento Sustentável pela causa do Planeta, Ação essa que derrubou licenças já concedidas para construção de cinco espigões no em torno da Duna, mostrando que vale a pena lutar pela preservação da vida, e a Natureza clama aos seres humanos a usar as armas que possuem.

Escreve sobre Poesia na Revista Nosso Estado, divulgando a arte de fazer versos e a produção literária no Brasil e no Mundo.

Apresenta a cidade do Natal, candidata a receber no Brasil, no ano de 2008 o Primeiro Congresso Internacional de Poetas Del Mundo.

Em 2007 é nomeada Cônsul Poeta Del Mundo - RN, em cerimônia realizada no mês de abril na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte onde recebe Menção de destaque Cultural do ano.

Munida de Vassoura e Sabão, lava a escadaria da Câmara dos Vereadores da cidade do Natal, em protesto as emendas vetadas por nove vereadores contrariando o querer do povo, por mais qualidade de vida, e acusando a corrupção dos mesmo que venderam seus votos ao Sindicato da Construção Civil. Incitando o Ministério Publico a apurar as denuncias que foram comprovadas gerando assim um processo de cassação dos mesmos.

Eleita interprete Oficial do Poeta Vinicius de Morais, AJEB

Em 2008 coordena junto a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte, o Primeiro Congresso de Poetas Del Mundo na cidade do Natal, que por falta de compromisso governamental o mesmo não se realizou.

Participa da Antologia ‘ Letras e Imagens do Bem’
Poetas Del Mundo em Poesias

Eleita Embaixadora da Paz- Circulo Universal da Paz. dos Embaixadores da Paz -Genebra Suíça;

Projeto Cultura no Trem a um ano em movimento

Recebe homenagem do Memorial da Mulher Potiguar, Pela Cultura de Paz.

Lança o Projeto Caravana da Poesia- Poeta nas Escolas, com apoio da Fundação José Augusto.

Participa do XVI Congresso Brasileiro de Poesias, Bento Gonçalves RS

Coordenou a Campanha no Estado ‘ Unindo dos Rios através da Poesia, Campanha essa que levou 280 livros dos escritores locais para o Congresso.

Participa do IV ENCONTRO Internacional de Poetas Del Mundo no Chile representando o Brasil.

Participa da FLIPORTO, Festa Literária de PE

Representando o Rio Grande do Norte, com apresentação em recital, ao lado do Poeta Thiago de Melo, Embaixador de Poetas Del Mundo para o Mundo

Em 2009 recebe homenagem Poeta Vivo Imortalizado, com um Poema ao Rio Potengi, afixado na Praça da Poesia Canto do Mangue-Rocas RN

Fonte:
http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=1048

Angela Togeiro (Brinde de Ano-Novo)


Um segundo para começar o Ano-novo.
No silêncio, na solidão do coração,
um poeta ouve o torvelim dos corações:
Vou parar de fumar, de beber, de me drogar,
vou fazer regime, vou estudar,
vou trabalhar, vou rezar, vou cantar,
vou comprar um carro novo,
vou te amar para sempre. Juro.
Vou... vou... vou... Juro, juro. Juro!
Não vou mais roubar, matar,
não vou mais desejar mal a ninguém,
não vou mais enganar meu semelhante,
não vou mais inventar bombas,
nem outras coisas que destruam a vida,
não vou mais explorar a cidadania do meu povo,
não vou mais ser mau exemplo... de nada. Juro.
Não vou... não vou... não vou... Juro, juro. Juro!
Brindes. Taças que se tocam. Sorrisos.
Abraços. Beijos. Música. Danças.
No coração solitário do poeta,
a esperança renasce majestosa.
O poeta feliz ergue sua taça.
Sua bebida tem gosto de sonho,
de encontros, de fé, de dias melhores.
E o ano-novo chega. Pontual. Inclemente.
...Tantas promessas vãs, tanto ano-novo... todo ano...
A taça do poeta se enche de lágrimas.
No seu coração, a alegria se esvazia.
Fica só a poesia - única certeza e companhia,
até o próximo brinde de Feliz Ano-novo

Fontes:
A Autora
Inagem = www.recados.etc.br

Carlos Drummond de Andrade (Receita de Ano Novo)


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.80)


Trova do Dia

Não sonheis tanto, meu povo,
nada muda realmente:
o verdadeiro ano novo
tem que estar dentro da gente!
JOSÉ OUVERNEY/SP

Trova Potiguar

Na minha “sonhocultura”,
vou cultivar para o povo,
leirões de literatura
para enfeitar o Ano Novo.
FRANCISCO MACEDO/RN

Uma Trova Premiada

2002 > Garibaldi/RS
Tema > Natal > 3º Lugar

Que cesse, enfim, toda a guerra,
que vença o amor a Jesus,
que seja o Natal na Terra
sem luz de bombas... só luz...
LEDA MARIA BECHARAMG

Uma Trova de Ademar

No Ano Novo, com certeza
eu irei pedir ao nobre
que as sobras de sua mesa
mande pra mesa do pobre.
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

Ano Novo, nova vida
e muita poesia nova,
desejo a elite que lida
na lapidação da Trova!
CLARINDO BATISTA/RN

Estrofe do Dia

Ano novo que desponta,
por favor traga alegria,
que se faça menos guerra
e reine mais harmonia,
que se veja aqui na terra
menos barriga vazia.
HÉLIO PEDRO/RN

Soneto do Dia

– Thalma Tavares/SP –
NO ANO NOVO.

Ano que vem quero esquecer as dores,
quero vestir a roupa colorida,
a que me faz sorrir dos dissabores,
para enfrentar com mais humor a vida.

Eu quero repensar os meus valores,
se os tenho respeitado na medida
em que suporto a dor dos sofredores
pungindo mais minha alma dolorida.

Eu quero abrir meu peito à humanidade,
mudar meu egoísmo em caridade
e transformar-me assim no Homem Novo.

E espero que o bom Deus, nosso Senhor,
transforme este meu sonho em Paz e Amor,
em trabalho e mais pão para o meu povo.

Fonte:
Ademar Macedo

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Lino Sapo (Conhecendo as Cidades do Rio Grande do Norte em um Conto)


Cumpade PEDRO VELHO me diga como você anda? Inda ta trabaiando muito? E como anda cumade NÍSIA FLORESTA? Caba veio tou puraqui mei perdido, é uma históra meia adoidaiada mai se o senhor me ouçar desbatarei sem arrudei. Eu vinhe pra essas bandas buscar um TOURO chamado GUAMARÉ, pra levar lá pru ALTO DO RODRIGUES. Meu patrão seu ANTÔNIO MARTINS comprou o bichinho a seu MÉSSIAS TARGINO, meu patrão é abastado, é um homem bom e influente, foi amigo de infânça de RUY BARBOSA. Ele vive muito bem, agora eu cumpade, é que ando com uma maruzia e uma azalação da mulinga.

Cumpade ultimamente eu ando meio os imboléus, já fiz inté prumessa e já rezei pra SÃO PEDRO, SÃO FERNANDES e inté para SÃO VICENTE, pru mode eles falar com meu BOM JESUS pra eu ter BOA SAÚDE. Asto dia eu fui ao DOUTOR SEVERIANO e ele me arreceitou um lambedor de JAÇANÃ. Inda disse mai, que era bom pra eu viajar, ir pra outros lugares. Ele inté me idicou BARCELONA, MACAU, EQUADOR ou se não quisesse sair do Brasil fosse pra PORTALEGRE ou pru ESPÍRITO SANTO. Sabe o que eu fiz? Eu fui foi pru PARANÁ, mas pense cumpade cumaé pequeno, é um PARAZINHO!!. Mai purlá tem um TABOLEIRO GRANDE com uma AREIA BRANCA, bem pru lado tem uma SERRA NEGRA DO NORTE, na verdade é uma SERRINHA!, Só que lá enriba cumpade tem uma PEDRA GRANDE, e é uma PEDRA PRETA e purriba dela tem uma NOVA CRUZ feita de ANGICOS. Mai lá cumpade é tão quente, tão quente que parece o ceará, um CEARÁ-MIRIM, claro.

Cumpade prosiando e atencionando as coisas purcá, mai que BAÍA FORMOSA, é muita bunita. Me alembrei de seu LUIZ GOMES, ele inda mora pru trai daquelas MONTANHAS? E seu PEDRO AVELINO, ainda é morador de seu AFONSO BEZERRA? São um povo muito prestativo. Cumpade! Tou me alembrando que tenho uma conta a acertar, é umas PENDÊNÇIAS com seu SEVERIANO MELO. Tou só esperano baixar a IPUEIRA par ir cobrar meus GALINHOS, que ele trouxe lá da SERRINHA DOS PINTOS. ITAJÁ na hora de a gente acabar com esse quelelé esse EXTREMOZ, esse CARNAUBAIS de desavenças, acabar de vez com essa picuinha.

Cumpade cortei esse chãozão de uma ponta a outra, em todo canto ta uma caristia danada, as coisas tá pelo oio da cara. Cumpade vou te dizer uma sabença, do jeito que a coisa tá rumando só vai piorar, prumode de que ultimamente passei uma fome danada. O sinhor me imagina que nessa sumana só comie uns peixinhos, uns ACARI pequeno que parecia um BODÓ. PATU ver JAPI die inté a SANTO ANTÔNIO e a SÃO MIGUEL uma boa forragem pru bucho. Pidie com tanta isperança que chega fechie os oios e imaginei o rango, e falei arto e GROSSOS, SÃO MIGUEL DO GOSTOSO!!!!!

Mudando o prosiado, o cumpade se alembra da fazenda siridó? Pois bem, tá bunita, lá fizero CURRAIS NOVOS, só de PAU DOS FERROS duro feito ASSÚ, e de CARNAÚBA DOS DANTAS, lá daquela LAGOA DANTA. Cumpade foi trabaiada danada, os morão foram tudim cortado pur seu FRANCISCO DANTA e o empregado dele seu JOSÉ DA PENHA. Cumpade ficou de primera, lá tem o mai bunito JARDIM DO SERIDÓ. O padroeiro da fazenda é um santo de casa, é SÃO JOSÉ DO SERIDÓ. E a padroeira não pudia ser de outro lugar e esculhero SANTANA DO SERIDÓ. Mai dizem as más línguas, Cá pra noise, que ela num tá fazendo nenhum milagre não, tão inté quereno jogalá no mato. Já tem inté gente chamando, ver se pode, de SANTANA DO MATO. Desse jeito tá rim, já pensou cumpade se o padroeiro não fizer milagre, e quiserem jogalo naquele CAMPO REDONDO, imagine só cumpade aquele CAMPO GRANDE, vão bem apilidar de SÃO JOSÉ DE CAMPESTRE. Magina só?

Mai cumpade cum toda buniteza o lugar tá sem um pé de vida, logo adispois que seu BENTO FERNANDES bateu as botas, os filhos RAFAEL FERNANDES e RODOLFO FERNANDES quisero vender as terras. Inda chegaru a vender uma parte para ALMINO AFONSO, que fez um SÍTIO NOVO, que vai do RIACHO DA CRUZ inté o MONTE DAS GAMELEIRAS. Cumpade num vendero todinha pruque seu MARCELINO VIEIRA e seu FERNANDO PEDROSA cuma era os moradores mai antigo se intrumeteram. Tavam brabos e eles diziam: o resto vocês num vendem, o pai de vocês era um santo já esqueceram? Vocês deviam era fazer uma igreja para o pai de vocês, pra noise as terras inda são daquele santo. E a SERRA DE SÃO BENTO ninguém toca, e do jeito que eu tou me agarru cum cobra, piso inté em cascavel e CERRO CORÁ.

Cumpade a confusão foi grande demai, era tanta da fofoqueira na fazenda, pisano purriba das plantas e se rindo, que parecia um JARDIM DE PIRANHA. O qui qui foi maior quando FRUTUOSO GOMES falou que as TIMBAÚBAS DOS BATISTAS tava sendo irrigado do OLHO DÁGUA DOS BORGES. Minina cumpade, quando MARTINS oiçou foi logo dizeno: quero ver irrigar lá do meu MONTE ALEGRE, pruque lá é uma LAGOA SALGADA! Nisso cumpade, chega RAFAEL GODEIRO trazendo o CORONEL EZEQUIEL e o TENENTE ANANIAS. Cumpade quando os homi chegaru, inté a CRUZETA, feita de OURO BRANCO, fincada na entrada da fazenda num pé de BARAÚNA, ficou sem ENCANTO. O estrelado foi logo falando: e essas mueres VIÇOSA não têm nada que VENHA VER aqui. Nesse momento cumpade, ele espiou pra eu que me tremie todinho, logo ele cumpade, que me achava caipira e só me chamava de CAIÇARA DO NORTE.

Ai Ele preguntou o que é que eu fazia ali. A voz ficou entalada mai eu resmunguei tempo dispois: vinhe rezar pra SÃO BENTO DO NORTE. Ele chega muchou e com um oiar macriado disse: aqui só tem rezatório só se for pra SÃO BENTO DO TRAIRI, vá simbora percurar outro santo. Arribe para o oeste lá tem muitos, talvez você encontre um SÃO FRANCISCO DO OESTE. Num pricisou nem terminar a pronunciada, sai em toda disparada, paricia inté que agora eu nadava e vuava que nem um CAIÇARA DO RIO DOS VENTOS.

Cumpade! Cumpade! Fui muito azilado. Na carreira bati num palanque que tava o GOVERNADOR DIX-SEPT ROSADO, o SENADOR ELOI DE SOUSA e mesmo na horinha que o SENADOR GEORGINO AVELINO tava se pronunciando. Quando os povos me viro na carreira em direção ao palanque, pensava que eu ia matar os chefes pulíticos. Nisso o CORONEL JOÃO PESSOA me viu. No aperreio que eu tava eu nem pensava, daquele jeito eu merguiaria inté no RIO DO FOGO. Cumpade, quando eu espio pru lado o MAJOR SALES e o TENENTE LAURENTINO já vinha nos meus carcanhar pega num pega. Ai foi que eu corri, inda mai com o tiro zunindo no peduvido. Pulei por riba de uns PILÕES e sai com a gota serena. Escutei na carreira quando dona LUCRÉCIA disse, é guerra, FELIPE GUERRA! Felipe venha pra casa meu fio, SÃO JOÃO DO SABUGÍ pruteja meu fio.

Num parei não cumpade de correr, se eles me pegam eles iam JUNDIÁ de eu. Dei um pitú nos homi e sai mei escundido pru trai de uma LAJES PINTADA, peguie um RIACHUELO e sai sem deixar rasto. Vie de longe uma VÁRZEA e ai eu fui em busca do PORTO DO MANGUE que era menos pirigoso. Quando cheguie purlá só tinha PASSAGEM na canoa TIBAU DO SUL. A TIBAU já havia saído, elas chegam em PARELHAS, mai uma sae meia hora antes. Ai cumpade eu pensei desse jeito num dá, sou nortista, no sul num vou agüentar. Entonce cumpade eu sai por um BREJINHO e vie um filete d’água conhecido, era do RIACHO DE SANTANA, uma ÁGUA NOVA, tumei logo umas goipadas. Adispois cheguie a uma BAIXA VERDE e vie muitas arvures agrandaadas e fui andano pra lá. Cumpade pense num lugar bem sombraiado, paricia um JARDIM DE ANGICOS. Pensei ter escapado dos homi mai a armadia foi pior. Sai bem no mei de uma aldea dos índios JANDÚIS e MOSSORÓ.

Continuei andano como se num tivesse percebido nada. Foi quando oucei o pajé MAXARANGUAPE dizer pra dois índios assim: IPANGUAÇU, PARNAMIRIM corram atrás e PARAÚ e tragam para mim. Eles realmente me pararu, me amarraru e me colocaru em uma LAGOA DE PEDRA e adispois em um POÇO BRANCO. Cumpade o corpo todo tremia, a voz já num saia, os cabelu nem sentava no casco. Foi quando eu a lembrei de SANTA MARIA e do meu anjo da guarda SÃO RAFAEL, e cumecei a rezar. Nisso o pajé me olhou da cabeça aos pés e disse: UMARIZAL, TAIPÚ vá buscar CANGUARETAMA.

Cumpade pense numa agonia danada, enquanto eles saia eu me borrava todo nas calças. Quando vortaru o pajé falou: veja fia se esse serve? Enquanto eu espiava aqueles cabelus e oios pretu feito a casca de uma CARAÚBAS, ela tapava o nariz e balançava a cabeça em negação. Entonce JUCURUTU me soltou e APODI disse aqui é PASSA E FICA, mai você num vai ficar. O pajé com um oiar dar uma ordem e ARÊS trai um jumento, ITAÚ inda diz: o nome dele é nema. Ai me ajuda a muntar no burro, e espanca o animal que sae em toda carreira, enquanto eles gritam aqui num é lugar pra covardes.

Cumpade o burro curria e eu agradecia pru céu, o meu estoque de santo já tinha acabado, mai inda restava alguns, então cumecei a agradicer, a SÃO PAULO DO POTENGI, SÃO GONÇALO DO AMARANTE e SÃO JOSÉ DO MIPIBÚ. Fiz o sinal da SANTA CRUZ e sai me escurregando nos espinhaço do burro, que começa a desembestar e a pular devido a catinga. E eu gritano aperriado, upa, upa, UPANEMA, pare meu bichinho. Nisso só oucei a burduada, cai estatelado no tronco de um pé de MACAÍBA, e ali mesmo adurmicie todo duido.

Acordei com o canto dum CAICÓ e dum TANGARÁ. despertei adispois de uma madorna boa e sai andano a pé, com o bucho roncando que parecia um truvão, a vista já tava escura de sede num via mai nada. Só sei que cheguie numa LAJES e caminhei até achar uma LAGOA NOVA pra me banhar. E bem na frente encontrei uma LAGOA DE VELHOS. Pedi cumida e me derum umas GOIANINHAS, preguntei onde estava, e eles disserum na SERRA DO MEL. Entonce sai por entre umas plantaiada que formava uma FLORÂNIA e que parecia uma VILA FLOR. Siguie as abeias e achei uma JANDAIRA, e que mé, foi um SÃO TOMÉ.

Rumei para o oeste e dicie a SERRA CAIADA na noite de NATAL. Foi lá que vie a beleza e a PUREZA de ALEXANDRIA. chamie um muleque pru nome de IELMO MARINHO e pidie um favor. Só pra dar um recado aquela donzela que meu coração amou. Mas o minino olhou e disse: Deus que me livre meu sinhor, aquela muier bunita é fia de seu JOÃO DIAS e ele é o lampiã da regiã. Mai eu te juro cumpade, em nome da VERA CRUZ, aquela muier inté os anjos seduz. Tudo que hoje eu mai quiria era com ela casar, e se isso um dia vier a acuntecer, pode ter certeza, pra eu será o trofé do meu TRIUNFO POTIGUAR.
–––––––––––––––––––––––-
Conto Poético de Lino Sapo ( Andrelino da Silva) em homenagem e respeito a todas as Cidades que pertence ao estado do Rio Grande do Norte.

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.79)


Trova do Dia

"No ano que vem" - diz o povo -
"tudo vai ser diferente",
sem perceber que o Ano Novo
começa dentro da gente!
RENATA PACCOLA/SP

Trova Potiguar

Moribundo o Ano velho
murmura dizendo ao novo;
preserve nosso evangelho:
dê nova esperança ao povo.
MANOEL DANTAS/RN

Uma Trova Premiada

2002 > Garibaldi/RS
Tema > Natal > Menção Especial

Natal: volte a ser criança,
colocando – em profusão –
sapatinhos de esperança...
na janela da ilusão!
REGINA CÉLIA DE ANDRADE/RJ

Uma Trova de Ademar

Eu desejo aos Trovadores,
mesmo em medalha de bronze
o pódio dos vencedores
agora em 2011!!!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

É Natal! A casa cheia
e a família reunida
no amor de Deus faz a ceia,
dividindo o pão da vida!
VERA MARIA BASTOS/MG

Estrofe do Dia

Estou rogando a Jesus,
o Cordeiro de Belém,
para que o ano dois mil e onze
não deixe triste ninguém
e, no seu itinerário,
renovando o calendário,
renove os homens também.
JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN

Soneto do Dia

– Darly O. Barros/SP –
JURAMENTO.

Antes que o sol desponte e, em ouro puro,
se faça sobre a areia e sobre o mar,
a perscrutar o manto claro-escuro
da via-láctea, quase a despertar,

ao ano que começa agora, eu juro,
em vala funda as mágoas soterrar;
quero de todo, novo o meu futuro
e nele as mágoas não terão lugar!

Cumprindo a jura feita, renovado,
começo dando as costas ao passado
e dele, enfim liberto, abrindo os braços,

sorvendo do ouro desse sol nascente,
com alma nova, vou seguindo em frente,
como se desse os meus primeiros passos...

Fonte:
Ademar Macedo

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Graça Graúna (Antologia Poética)


ABISMOS

Toda lua é engano
todo anjo é cruel
no abismo de eternidade
e ânsia
do corpoema

CUMPLICIDADE

Agora e pela hora da minha agonia
louvo Trindade e Jorge de Lima
cantando,
catando as duras penas, só.
– De onde vem, Solano, esta agonia?
– Vem de longe, nega, muito longe!
De Afroamérica sonhada,
lá, donde crece la palma
plantada en versos de alma,
del hombre José Martí.

– De onde vem, Solano, esta agonia?
– De muito longe, nega.
Do comecinho das coisas;
de muito longe, minha nega, muito longe...

CRIANÇAS DE ANGOLA
ao poeta angolano Arlindo Barbeitos

... e as crianças cantavam
na altura dos sonhos
o de mais sagrado:
- por esta rua, ó dominé
passeou o meu bem, ó domine .

Quando as granadas adormecem o vento,
um coro de anjos dentro da noite
tece o (em)canto no tempo sem tempo:
- Por essa rua, ó dominé
passeou meu bem, ó dominé
orai por mim, o dominé
e por mais alguém, ó domine.

Assim, pelas ruas,
crianças d'Angola
brincam de roda
numa perna só.

(A MENINA VÊ A CHUVA)

A menina vê a chuva
na janela e diz:
é Deus chorando.

MIRAGENS

À meia luz
escudados nos sonhos
despistaram o medo de amar
e só diante do espelho admitiram
que a nudez é um perigo
capaz de intimidar o Amor
...depois do amor a espera
sem pressa, sem dor
depois do amor
o desejo natural
de repousar entre lençóis
e continuar a loucura
que não se vê em jornais.
Escudados nos sonhos
beberam a angústia do ser
na boca molhada de suor e sexo
seguindo o infinito
neste sopro de adeus...

A CAMINHO DO HAITI TEM UMA PEDRA (*)

tem uma jangada de pedra
a caminho do Haiti
a esperança se avizinha
pois navegar é preciso
ou como diz o velho Mago
uma obrigação todos temos.
E agora, que fazer?
A caminho tem uma pedra
e uma jangada se recria
pois não há mais tempo a perder
________
(*) Fiz este poema, pensando em Carlos Drummond de Andrade, autor do poema “No meio do caminho” e empreguei o termo Mago para homenagear SaraMAGO e a sua solidariedade ao povo do Haiti.
–––––––––––––––
ESCRITURA FERIDA

à Florbela Espanca

Atiram mil pedras
na charneca em flor.

Ossos do ofício:
no mais fundo do poço
retirar o poema
encharcado de mágoas

CRAVOS DE ABRIL

Do outro lado do Atlântico
a liberdade é uma flor
a liberdade é vermelha.

Do outro lado do Atlântico
os prantos se foram
e o canto agora é de paz
à Grândola, Vila Morena
onde é possível encontrar
um amigo em cada esquina
e em cada jardim um sonho
de alegria e esperança
pois há um cravo a brotar

8 DE MARÇO

Saúdo as minhas irmãs
de suor papel e tinta
fiandeiras
tecelãs
no embalo da rede
rubra ou lilás
no mar da palavra
escrita voraz

Saúdo as minhas irmãs
fiandeiras
tecelãs
cantando uma só voz
o que nós sonhamos
o que nós plantamos
no tempo em que a nossa voz
era só silêncio

GEOGRAFIA DO POEMA

O dia deu em chuvoso
na geografia do poema.
Um corpo virou cinzas
um sonho foi desfeito
e mil povos proclamaram
— Não à violência!
A terra está sentida
de tanto sofrimento.

Na geografia do poema
as bandas tocam
“b”, ou “a”
passam na TV
os seres nus
o pátio aglomerado
o chão vermelho
onde a regra do jogo
da velha é sentença
marcada na réstia
do sol quadrado.

Pelas ruas
a tristeza dos tempos
a impossibilidade do abraço.
Crianças choram
nos corredores da morte
meninos e meninas
nos becos da fome
consomem a miséria
matéria prima
de sua sobrevivência

Nos quarteirões
dobrando a esquina
homens e mulheres
idôneos, cansados
a lastimar o destino
de esmolar o direito
dos tempos madrugados.

Se o medo se espalha
virá o silencio
e as cores sombrias
o espectro das horas
Se o medo se espalha
amargo será sempre
o verbo

No entanto
haverá manhã
e a paz cobrirá
com seus raios de luz
a rosa dos ventos.

Amanhã haverá manhã
de sol a sol festejar
o pão de cada dia

LUZ E SOMBRA
a F. Árias

Na curva do tempo
meus cabelos negros
teus cabelos brancos
teus sonhos azuis
meu retrato em branco e preto
sem tirar nem por
o desconcerto do mundo.

Mal-me-quer o tempo
assim, pelo avesso:
um barco à deriva
um campo sem flor
e o mais que imperfeito
entre Marília e Dirceu
Tristão e Isolda

Quero Paz
e o tempo me quer
na foz dos meus cabelos brancos.
Teus cabelos negros no meu dorso
são trilhas sagradas. Sou o teu refugio
argila em tuas mãos...
Beijo teu corpo febril e amanheço

Todavia quisera viver o tempo do amor
assim, mais-que-perfeito
e o que me fica
é uma esperança parda
sobrevoando o abismo da solidão atávica.
Tudo que me fica é um fio de luz
para ser mais sombra
---

Graça Graúna (1948)


Graça Graúna, nome de adoção de Maria das Graças Ferreira. Origem potiguar, de São José do Campestre (RN). Poeta, ensaísta. Mestre e Doutora em Letras, pela UFPE. Pesquisadora e autora de livros (poemas, ensaios) voltados ao universo indígena, afro e luso-brasileiro.

Atualmente é professora adjunta na Universidade de Pernambuco (UPE), onde coordena o Núcleo de Estudos Comparados em Literaturas de Língua Portuguesa (NEC), o Projeto de Capacitação em Literatura e Direitos Humanos (MEC-SECAD) e o Curso de Especialização para Formação de Professores Indígenas no Estado de Pernambuco (SEDUC-PE), junto ao Curso de Letras, Campus de Garanhuns-PE.

Autora de Canto Mestizo (poesia, Ed. Blocos, RJ, prefácio de Leila Miccolis) e Tessituras da Terra (poesia, Edições M.E, Coleção Terceiro Milênio, MG, prefácio de Tânia Diniz).

Participa do Grupo de Literatura Indígena (sob a coordenação de Eliane Potiguara).

Consta da Enciclopédia de Literatura Brasileira (Afrânio Coutinho, org.) e do Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras (Nelly N. Coelho, org.), entre outras publicações.

Em uma apresentação sua ao universo indígena expõe com inequívoca propriedade: “A literatura indígena é um lugar de confluência de vozes silenciadas e exiladas ao longo da história há mais de 500 anos. Enraizada nas origens, esse instrumento de luta e sobrevivência vem se preservando na autohistória de escritores (as) indígenas e descendentes e na recepção de um público diferenciado, isto é, uma minoria que semeia outras leituras possíveis no universo de poemas e prosas autóctones.

Fontes:
http://ggrauna.blogspot.com/
Enciclopédia Virtual Blocos de Poesia Brasileira: Saciedade dos Poetas Vivos Digital. Vol. 1 e vol. 11.
Sesc Santa Rita

Roberto Pinheiro Acruche (Lançamento da Revista Trovas e Poemas – numero 23 – Janeiro de 2011)

As trovas abaixo e muitas outras e poemas, você pode obter fazendo o download, clicando sobre a figura ao lado. ---
Qualquer vivente se esbarra nesta evidência que aterra: -é no balanço pós-farra que o bom farrista se ferra! ANTÔNIO JURACI SIQUEIRA-PA Amor é brisa suave, é aconchego, é carinho; é vôo cadente da ave indo em busca do seu ninho A.M.A. SARDENBERG – RJ Quando esta mágoa me invade, meu peito em dor se resume, e eu percebo que a saudade também usa o teu perfume. ARLINDO TADEU HAGEN-MG Anjos criados no inverno são os filhos dos casais que, dentro do lar paterno, são tudo, só não são pais... DIVENEI BOSELI – SP Fraternidade exercida, é um bumerangue veloz: O bem feito nesta vida, volta sempre para nós! FRANCISCO NEVES MACEDO-RN O meu amor é bonito, é grande, imenso, sem fim... É bem maior que o infinito, mas cabe dentro de mim! GISLAINE CANALES - SC Você pode até amar aos limites do impossível, mas ao se relacionar, equilíbrio, imprescindível. RAYMUNDO SALLES BRASIL-BA Minha magoa e desencanto foi ver, no adeus, indeciso: - Eu disfarçando o meu pranto… - Tu disfarçando um sorriso… RODOLPHO ABBUD – RJ Fonte: R. P. Acruche

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.78)


Trova do Dia

Virando o tempo no avesso,
na fé que nunca se cansa,
o Ano Novo é o recomeço
da viagem da esperança !
EDUARDO TOLEDO/MG

Trova Potiguar

No balanço de Fim de Ano,
Jesus é meu contador:
já zerou o desengano,
com mil créditos de amor.
JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN

Uma Trova Premiada

2002 > Garibaldi/RS
Tema > Natal > Menção Especial

É Natal. O amor é pleno,
Deus assume os meus fracassos.
E se torna tão pequeno,
que até cabe nos meus braços!
FRANCISCO ASSIS MENEZES/MG

Uma Trova de Ademar

Neste ano que principia,
eu desejo a cada irmão
mais saúde, mais poesia,
mais confraternização!
ADEMAR MACEDO/RN

...E Suas Trovas Ficaram:

É Natal! Lá na favela,
no seu barraco sombrio,
ele encontrou na janela
o tamanquinho vazio!
CAROLINA A. DE CASTRO/PE

Estrofe do Dia

Ano novo, vida nova,
assim diz velho refrão,
mas a vida ensina e prova
que em qualquer situação,
só o amor constrói o bem,
tornando feliz quem tem
afeto no coração.
VITOR RONALDO COSTA/DF

Soneto do Dia

– Francisco Macedo/RN –
UM FELIZ ADEMAR NOVO!...

Senhor!... eis mais um Ano que termina!
- Ano feito de amor e poesia,
e dar graças por tudo eu gostaria,
por mim, pelo Ademar e a mão divina!

foi ela, tua mão, a medicina
que o curou e se fez anestesia,
e o remédio do qual precisaria
para que retomasse essa rotina.

genuflexo, aos teus pés peço que ajude,
dando, senhor, a mais plena saúde,
ao trovador, do amor, da paz, do povo.

e que possamos ter daqui pra frente,
para cada um de nós, este presente:
um feliz Ademar, neste Ano Novo!...


Fonte:
Ademar Macedo

Menotti Del Picchia (Juca Mulato)


Juca Mulato nasceu em Itapira, cidade da zona mogiana do Estado de São Paulo, em 1917. Seu pai, recém-formado em Direito e fazendeiro nessa cidade, acabara de publicar na Capital paulista seu poema Moisés. Exercia agora uma vaga advocacia numa terra quase sem demandas e dirigia o jornal local, Cidade de Itapira, em cujos prelos imprimiu o primeiro exemplar do seu poema.

Foi no ambiente da fazenda Santa Catarina da Capoeira do Meio e na paz e no silêncio do parque que se debruça sobre o Cubatão, bairro no qual serpeja o Rio da Penha, em cujas margens bivacavam ciganos, que a imagem do caboclo do Mato e sua alma lírica empolgaram o advogado-poeta.

E a Filha da Patroa ?

Essa, ainda hoje, nascerá no coração de cada leitor do poema quando haja atingido a idade do amor. É uma idéia e um sonho. Continuará a lembrar, vida afora, a criatura que teria sido o complemento do seu ser, realização sempre sonhada e impossível de um perfeito amor ideal.

Compõe o poema o Céu e a Terra. Todas as coisas telúricas e celestes, o chão que abriga o homem e o alimenta e o que há no mistério do azul quando ele olha para as estrelas. Ali descobre uma nova e mágica dimensão do universo: os animais, como o prudente e confidente Pigarço e os lerdos bois pensativos e decorativos; o galo, clarim do dia que ilumina as coisas para a vida e oferece as maravilhas do mundo ao homem que acorda.

A fala do "Juca" é coloquial e divina. Sai da boca do homem e vem da conexão mágica que ele tem com as coisas. É que o universo é um eterno diálogo de vozes mudas. Cabe-lhe comunicá-las às demais criaturas. Ele é o intérprete da formidável comunhão espiritual que nos envolve numa harmoniosa coesão de vivências e mistérios regida pela fatalidade dessa divina força que é o amor ("...Che muove il sole e l`altre stelle...")
_

GERMINAL

1
Nuvens voam pelo ar como bandos de garças,
Artista boêmio, o sol, mescla na cordilheira
pinceladas esparsas
de ouro fosco. Num mastro, apruma-se a bandeira
de São João, desfraldando o seu alvo losango.

Juca Mulato cisma. A sonolência vence-o

Vem, na tarde que expira e na voz de um curiango,
o narcótico do ar parado, esse veneno
que há no ventre da treva e na alma do silêncio.
Um sorriso ilumina o seu rosto moreno.

No piquete relincha um poldro; um galo álacre
tatala a asa triunfal, ergue a crista de lacre,
clarina a recolher entre varas de cerdos e
mexem-se ruivos bois processionais e lerdos
e, num magote escuro, a manada se abisma na treva.

Anoiteceu.
Juca Mulato cisma.

2

Como se sente bem recostado no chão!
Ele é como uma pedra, é como a correnteza,
uma coisa qualquer dentro da natureza,
amalgamada ao mesmo anseio, ao mesmo amplexo,
a esse desejo de viver grande e complexo
que tudo abarca numa força de coesão.
Compreende em tudo ambições novas e felizes,
tem desejo até de rebrotar raízes, deitar ramas pelo ar,
sorver, junto da planta, e sobre a mesma leiva,
o mesmo anseio de subir, a mesma seiva,
romper em brotos, florescer, frutificar!

3

"Que delícia viver! Sentir entre os protervos
renovos se escoar uma seiva alma viva
na tenra carne a remoçar o corpo moço..."

E um prazer bestial lhe encrespa a carne e os nervos;
afla a narina; o peito arqueja; uma lasciva
onda de sangue lhe incha as veias do pescoço...

Ei-lo, supino e só, na noite vasta. Um cheiro
acre de feno lhe entorpece o corpo langue
e, no torso trigueiro,
enroscam seus anéis serpentes de desejos
e um pubescente ansiar de abraços e de beijos
incendeia-lhe a pele e estua-lhe no sangue.

Juca Mulato cisma.
Escuta a voz em couro
dos batráquios, no açude, os gritos lancinantes
do eterno amor dos charcos.

É ágil como um poldro e forte como um touro;
no equilíbrio viril dos seus membros possantes
há audácias de coluna e elegância dos barcos.

O crescente, recurvo, a treva em brilho frange
e, na carne da noite, imerge-se e se abisma
como num peito etíope a ponta de uma alfange.
Juca Mulato cisma...
A natureza cisma.

4

Aflora-lhe no imo um sonho que braceja;
estira o braço, enrija os músculos, boceja,
supino fita o céu e diz em voz submissa:
"Que tens, Juca Mulato ?..." e, rebolcado na erva,
sentindo esse cansaço irritante que o enerva
deixa-se, mudo e só, quebrado de preguiça.

Cansado ele ? E por quê ? Não fôra essa jornada
a mesma luta, palmo a palmo, com a enxada
a suster no café as invasões da aninga ?
E, como de costume, um cálice de pinga,
um cigarro de palha, uma jantinha à toa,
um olhar dirigido à filha da patroa ?

Juca Mulato pensa: a vida era-lhe um nada...
Uns alqueires de chão, o cabo de uma enxada,
um cavalo pigarço, uma pinga da boa,
o cafezal verdoengo, o sol quente e inclemente...

Nessa noite, porém, parece-lhe mais quente
o olhar indiferente
da filha da patroa...

"Vamos, Juca Mulato, estás doido ?
Entretanto, tem a noite lunar arrepios de susto,
parece respirar a fronde de um arbusto.
O ar é como um bafo, a água corrente, um pranto.
Tudo cria uma vida espiritual violenta.
O ar morno lhe fala, o aroma suave o tenta...
"Que diabo !" Volve aos céus as pupilas, à toa,
e vê, na lua, o olhar da filha da patroa...
Olha a mata: lá está! O horizonte lho esboça,
pressente-o em cada moita, enxerga-o em cada poça
e ele vibra, ele sonha e ele anseia, impotente,
esse olhar que passou, longínquo e indiferente!

5

Juca Mulato cisma. Olha a lua e estremece.
Dentro dele um desejo abre-se em flor e cresce
e ele pensa, ao sentir esses sonhos ignotos,
que a alma é como uma planta, os sonhos como os brotos,
vão rebentando nela e se abrindo em floradas...

Franjam de ouro, o ocidente, as chamas das queimadas,
Mal se pode conter de inquieto e satisfeito.
Advinha que tem qualquer coisa no peito
e às promessas do amor a alma escancara ansiado
como os áureos portais de um palácio encantado!...

Mas a mágoa que ronda a alegria de perto
entra no coração sempre que o encontra aberto...

Juca Mulato sofre... Esse olhar calmo e doce
fulgiu-lhe como a luz, como a luz apagou-se.
Feliz até então, tinha a alma adormecida....
Esse olhar que o fitou, o acordou para a vida!
A luz que nele viu deu-lhe a dor que agora o assombra,
como o sol que traz a luz e, depois, deixa a sombra...

6

E, na noite estival, arrepiadas, as plantas
tinham na negra fronde, umas roucas gargantas
bradando, sob o luar opalino, de chofre:
"Sofre, Juca Mulato, é tua sina, sofre...
Fechar ao mal de amor nossa alma adormecida
é dormir sem sonhar, é viver sem ter vida...
Ter, a um sonho de amor, o coração sujeito
é o mesmo que cravar uma faca no peito.
Esta vida é um punhal com dois gumes fatais:
não amar é sofrer; amar é sofrer mais"!

7

E, despertando à Vida esse caboclo rude,
alma cheia de abrolhos,
notou, na imensa dor de quem se desilude
que, desse olhar que amou, fugitivo e sereno,
só lhe restara no lábio um travo de veneno,
uma chaga no peito e lágrimas nos olhos!

A SERENATA

1

Canta, Juca Mulato...
Ele pega na viola:
seu dedo nervoso os machetes esfrola.
Solta um gemido o aço vibrado
como um grito de dor de um peito esfaqueado.
É tão suave a canção, tão dolente e tão langue
que cada nota lembra uma gota de sangue
a fluir e a pingar dos lábios de uma chaga.
É noite. A brisa sopra uma carícia vaga.

A turba espera. O terreiro tem brilhos
quando, de chapa, a lua esplende nos ladrilhos
e, sentindo a paixão estuar-lhe a garganta,
Juca Mulato canta:
"Veio coleante, essa mágoa
arrastas triste e submisso;
também choro, veio dágua,
sem que ninguém dê por isso...

Saltas nos seixos de chofre.
Choras. No mundo inclemente,
só não chora quem não sofre
só não sofre quem não sente...

Procuras dentre os abrolhos
ver o céu que astros povoaram.
Eu também procuro uns olhos
que nunca me procuraram...

Os céus não vêem tua mágoa,
nem estas ela advinha...
Veio d’água, veio d’água,
Tua sorte é igual à minha.

Ora em bolhas vãs tu medras,
eu em sonhos bem mesquinhos,
Teu leito é cheio de pedras,
minha alma é cheia de espinhos...

Se uma rama se desfolha
sobre teu dorso e resvala,
corres doido atrás da folha
sem poder nunca alcançá-la.

Às vezes, também, risonho,
um sonho minh’alma junca,
Corro doido atrás do sonho
Sem poder tocá-lo nunca.

Ventura... doida corrida
de uma folha sobre um veio.
Folha... Esperança perdida
de um bem que nunca me veio.

Assim vou, sangrando mágoa
e doido, para onde for
veio d’água, veio d’água
corro atrás da minha dor!"

ALMA ALHEIA

1

Que tens, Juca Mulato ?
Uma tristeza mansa
embaça-lhe o fulgor dos olhos de criança.
Ele é outro... Um langor anda a abrasar-lhe a pele.
Não sabe definir o que há de novo nele.
Fuma e segue pelo ar uma espiral que esvoaça,
pensa que seu destino é igual a essa fumaça...
"A vida é mesmo assim..." ele cisma tristonho.
"Sai do fogo da dor a fumaça do sonho"...

Da cocheira, um nitrir, de intervalo a intervalo,
vibra no ar... É o pigarço. Esse pobre cavalo
anda esquecido e há muito que, sozinho,
sente a falta que faz o calor de um carinho.
Juca Mulato todo o dia vinha vê-lo...
Afagava-lhe o dorso, acamava-lhe o pelo,
e ele, baixando, quieto, as pálpebras vermelhas,
nitrindo e resfolgando, espetava as orelhas...
Juca Mulato, então, numa voz doce e calma,
dizia-lhe baixinho o que ele tinha n’alma.
Coisa de pouca monta: umas fanfarronadas,
uns receios pueris, façanhas de caçadas,
desafios na viola em noites de luar;
coisas que tinha pejo até de lhe contar,
que sussurrava a custo, onde, por entre os dentes,
a gente advinhava umas frases ardentes:
bocas mordendo um seio em que os bicos quentinhos
tinham a cor da rosa e a ponta dos espinhos...
Ele ria e a risada espoucava-lhe aos pinchos
e o pigarço sisudo explodia em relinchos
que diriam, talvez, traduzido em frases:
"Toma tento, Mulato! Olha bem o que fazes..."

Juca afagando-o, então, murmurava contente:
"Pigarço, você tem uma alma como a gente!"

Hoje, anda abandonado e pesa-lhe o abandono.
Há no seu manso olhar saudades de seu dono.
Quem não vê nesse olhar úmido e cor de enxofre
que esse cavalo sofre ?

2

Vê uma ave voar na tarde calma e suave,
vem-lhe o desejo absurdo e doido de ser ave.
Quando junto a uma fonte acaso se debruça,
se a corrente soluça, ele também soluça...
Depois, envergonhado, encolhe-se, procura
no seu imo o porquê dessa vaga ternura.
Até vendo uma flor, comove-se, suspira...
"Juca: toma cuidado... Estás ficando gira...
Deixa de te arrastar, como um doido qualquer,
atrás da tentação de uns olhos de mulher!"

E resolve, consigo, ir altivo e insolente,
fingir que não padece e mostrar que não sente,
montar o seu pigarço, atacar a restinga
às foiçadas, beber um cálice de pinga
na venda do caminho e, entre parvos caipiras,
de mistura, contar três ou quatro mentiras
onde lampeja a faca, onde, aos uivos e aos brados
põe em fuga, triunfante, um bando de soldados!
Revive a ilusão! Ele é outro! Salvou-se!

Insidioso, de novo, um olhar meigo e doce
o alucina, o subjuga, o domina, o amolece...

E nem sabe porque humilhado obedece
à sugestão da luz que cintila naquele
lânguido e triste olhar que nunca olhou para ele.

FASCINAÇÃO

Tudo ama!
As estrelas no azul, os insetos na lama,
a luz, a treva, o céu, a terra, tudo,
num tumultuoso amor, num amor quieto e mudo,
tudo ama! tudo ama!

Há amor na alucinada
fascinação do abismo,
amor paradoxal, humano e forte,
que se traduz nas febres do sadismo,
nessa atração perpétua para o Nada,
nessa corrida doida para a Morte.

Por isso, quando as lianas
em lascívias florais cercam de abraços
o tronco hirsuto e grosso,
têm, no amplexo mortal, crueldades humanas.
Há no erótico ardor de enlaçá-lo, abraçá-lo,
a assassina violência de dois braços
crispados num pescoço
atenazando-o para estrangulá-lo!

É que o amor quer a morte. Num momento
resume a vida, os loucos entusiasmos
dos supremos espasmos...
Nesse furor que o invade,
tem a volúpia da ferocidade,
tem o delírio do aniquilamento!

É por isso que vês, por tudo
uma luta de morte, um desespero mudo:
a insídia da raiz que mina a terra e a esgota,
o caule que ergue o fuste, a rama, em sobressalto,
agitando pelo ar a própria dor ignota,
no torturante amor do mais puro e mais alto!

2

E, na noite estival,
enchendo o Espaço e o Tempo, a Luz e a Treva,
o turbilhão fantástico se eleva
do amor UniversaL.

Tudo ama!
As estrelas no azul, os insetos na lama,
a luz, a treva, o céu, a terra, tudo,
num tumultuoso amor, num amor quieto e mudo,
tudo ama! Tudo ama!...

3

Juca Mulato freme. Imerge os olhos entre
as estrelas curiosas.

Não sabe que anda o amor nos espaços profundos
a fecundar o ventre
das próprias nebulosas
na eterna gestação de novos mundos...

Ele é a matriz da vida: multiplica
seres e coisas, numa força eterna,
cria o verme, animais que andam de rastros.
Mata e ressurge, estiola e frutifica,
e, pelo espaço rútilo, governa
a prodigiosa rotação dos astros!

E a vertigem do amor, fascinadora,
tudo arrasta, fantástica, nos braços
e a terra que palpita, canta e chora,
ora imersa na treva ora imersa na aurora,
leva através do Tempo e dos Espaços...

Acendendo no olhar um lampejo divino,
Juca Mulato cede à vertigem que o enlaça
e brada num transporte:
"Arrasta-me também, no turbilhão que passa!
Leva-me ao teu destino,
Amor que vens para a Vida e que vais para a Morte!"

LAMENTAÇÃO

1

"Amor?
Receios, desejos,
promessas de paraísos,
depois sonhos, depois risos,
depois beijos!

Depois...
E depois, amada?
Depois dores sem remédio,
depois pranto, depois tédio,
depois... nada!"

2

"Também como esse bosque eu tive outrora
na alma um bosque cerrado de emoções.
As palmeiras das minhas ilusões
iam levando o fuste espaço afora.

Floriam sonhos; era uma pletora
de crenças, de desejos, de ambições...
Não havia por todos os sertões
mais luxuriante e mais violenta flora.

Ai! Bosque real, é o tempo das queimadas!...
É agosto, é agosto! O fogo arde o que existe
em turbilhões sinistros e medonhos.

Ai de nós!... Somos almas desgraçadas,
pois na luz de um olhar lânguido e triste
também ardeu o bosque dos meus sonhos..."

3

"Água cantante, soluçante, esse gemente
marulho triste, quantas tristes cismas trás...

E fica incerta, ao ouvir-te a voz, a dor da gente,
se vais cantando por ansiar o que há na frente
ou soluçando pelo que deixaste atrás...

Água cantante, água estuante, é singular
a semelhança em que te iguala à minha sorte:
vais para a frente e nunca mais hás de voltar,
vens da montanha e vais correndo para o mar,
venho da vida e vou correndo para a morte.

Água cantante, ai, como tu, esta alma embrenho
nas incertezas de caminhos que não sei...
E, na inconstância em que me agito, só obtenho
essa ânsia imensa de deixar o que já tenho,
depois a dor de não ter mais o que deixei!"

4

Tenho uma santa em casa; o seu olhar encanta.
O olhar dela é, porém, igualzinho ao da santa.

Quando rezo, nem sei, é como o olhar da corça,
tem, na própria fraqueza, a sua própria força.

Quando o fito minha alma enche-se da incerteza
que há na canoa sem dono á flor da correnteza.

Ele é tal qual o sol, indiferente e mudo,
sem saber quem aclara anda aclarando tudo...

Mas no olhar que o fitou brilha,
constantemente,
um reflexo de luz ambicionada e ausente.

Eu nunca vi o mar, mas vendo esse olhar penso
num barco que se afasta onde se agita um lenço...

Ou no doido terror que, em meio de procelas,
há num casco sem leme ou num barco sem velas...

Creio ver o meu vulto em teus olhos, tão vago
como as sombras que espelham a água morta
de um lago.
Eu bem sei que, tal qual na líquida planície,
o meu vulto não vai além da superfície.

Fica à tona, a boiar nessa pupila absorta
como na água parada alguma folha morta..."

5

"Pigarço: a dor me aquebranta...
Quando lembro o olhar que adoro
e que nunca esquecerei,
ah! Sinto um nó na garganta
e choro, pigarço, choro,
eu que até chorar não sei...

Quando, a trote, ela nos via,
debruçada na janela,
nós levávamos, após,
com o pó que do chão se erguia
o nosso olhar cheio dela
e o dela cheio de nós...

Então, pouco me importava
que seu olhar nos seguisse...
Galopava-se a valer...
Quando esse olhar eu olhava
era como se não o visse
tanto o olhava sem ver!

Hoje pago essa ousadia...
Ela os olhos de mi tolhe.
Queixar-me disso por que ?
Antes era eu que não o via,
agora, por mais que me olhe,
é ela que não me vê.

Sou um caboclo do mato
que ronda a luz de uma estrela...
Já viste uma coisa assim?
E o pobre Juca Mulato
morrerá por causa dela
e tu, por causa de mim...

Eu da luz desse olhar garço,
tu da dor que te machuca,
morreremos e, depois,
eu fico sem meu pigarço,
meu pigarço sem seu Juca
e o olhar dela... sem nós dois!"

PRESSÁGIOS

1

Juca Mulato sofre. Em cismas se aquebranta.
Uma viola geme, uma voz triste canta:

"Antes de amar eu dizia:
para cortar na raiz
esta constante agonia
preciso amar algum dia,
amando serei feliz".

"Amei... desventura minha!
Quis curar-me e piorei.
O amor só mágoas continha
e aos tormentos que já tinha,
novos tormentos juntei".

2

A cantiga, a gemer, nos ecos agoniza.

A vaga sugestão dessa angústia imprecisa
contamina-lhe a dor que o tortura sem pausa.

Juca sofre... Por que? Não advinha a causa.
Só sabe que, em seu peito, o olhar amado e langue,
deixa um rastro de luz como um rastro de sangue...

Tornou-o, pouco a pouco, a imensa dor que o oprime,
pálido como a cera e magro como um vime.
Tem olheiras cercando os grandes olhos lassos
cor do manto que traz Nosso Senhor dos Passos
quando carrega a cruz na procissão das Dores
no mais tristonho andor de todos os andores...
Mas por que sofre assim? Talvez mesmo ande nisso
artimanhas do Demo e coisas de feitiço...
Precisa, sem demora, ir uma sexta-feira,
à tapera do Roque, abrir sua alma inteira,
contar-lhe o mal que sofre e do peito arrancar
essa mágoa, essa luz, esse olhar!

A MANDIGA

1

Juca Mulato apeia.
É macabro o pardieiro.
Junto à porta cochila o negro feiticeiro.
A pele molambenta o esqueleto disfarça.
Há uma faísca má nessa pupila garça,
quieta, dormente, como as águas estagnadas.

Fuma: a fumaça o envolve em curvas baforadas.
Cuspinha; coça a perna onde a sarna esfarinha
a pele; pachorrento inda uma vez cuspinha.

Com o seu sinistro olhar o feiticeiro mede-o.
- Olha, Roque, você me vai dar um remédio.
Eu quero me curar do mal que me atormenta.

- Tenho ramos de arruda, urtigas, água benta,
uma infusão que cura a espinhela e a maleita,
figas para evitar tudo que é coisa feita...
Com uma agulha e um cabelo, enrolado a capricho,
à mulher sem amor faço criar rabicho.

Olho um rasto, depois de rezar um bocado
vou direitinho atrás do cavalo roubado.
Com umas ervas que sei, eu faço, de repente,
do caiçara mais mole, um caboclo valente!
Dize, Juca Mulato, o mal que te tortura.
- Roque, eu mesmo não sei de este mal tem cura...

- Sei rezas com que venço a qualquer mau olhado,
breves para deixar todo o corpo fechado.
Não há faca que o vare e nem ponta de espinho:
fica o corpo tal qual o corpo do Dioguinho...
Mas de onde vem o mal que tanto de abateu?

- Ele vem de um olhar que nunca será meu...
Como está para o sol a luz morta da estrela
a luz do próprio sol está para o olhar dela...

Parece o seu fulgor quando o fito direito,
uma faca que alguém enterra no meu peito,
veneno que se bebe em rútilos cristais
e, sabendo que mata, eu quero beber mais...

- Eu já compreendo o mal que teu peito povoa.
Dize Juca Mulato, de quem é esse olhar?
- Da filha da patroa.

- Juca Mulato! Esquece o olhar inatingível!
Não há cura, ai de ti, para o amor impossível.
Arranco a lepra do corpo, estirpo da alma o tédio,
só para o mal de amor nunca encontrei remédio...
Como queres possuir o límpido olhar dela ?
Tu és qual um sapo a querer uma estrela...

A peçonha da cobra eu curo... Quem souber
cure o veneno que há no olhar de uma mulher!
Vencendo o teu amor, tu vences teu tormento.
Isso conseguirás só pelo esquecimento.
Esquecer um amor dói tanto que parece
que a gente vai matando um filho que estremece
ouvindo, com terror, no peito, este estribilho:
"Tu não sabes, cruel, que matas o teu filho?"

E, quando se estrangula, aos seus gemidos loucos,
a gente quer que viva e vai matando aos poucos!
Foge! Arrasta contigo essa tortura imensa
que o remédio é pior do que a própria doença,
pois, para se curar um amor tal qual esse...

- Que me resta fazer ?
- Juca Mulato: esquece!

A Voz das Coisas
E Juca ouviu a voz das coisas. Era um brado:
"Queres tu nos deixar, filho desnaturado?"

E um cedro o escarneceu: "Tu não sabes, perverso,
que foi de um galho meu que fizeram teu berço?

E a torrente que ia rolar no abismo:
"Juca, fui eu quem deu a água para o teu batismo".

Uma estrela a fulgir, disse da etérea altura:
"Fui eu que iluminei a tua choça escura
no dia em que nasceste. Eras franzino e doente.
E teu pai te abraçou chorando de contente...
- Será doutor! - a mãe disse, e teu pai, sensato:
- Nosso filho será um caboclo do mato,
forte como a peroba e livre como o vento! -
Desde então foste nosso e, desde esse momento,
nós te amamos seguindo o teu incerto trilho
com carinhos de mãe que defende seu filho!"

Juca olhou a floresta: os ramos, nos espaços,
pareciam querer apertá-lo entre os braços!

"Filho da mata, vem! Não fomos nós, ó Juca,
o arco do teu bodoque, as grades da arapuca,
o varejão do barco e essa lenha sequinha
que de noite estalou no fogo da cozinha?
Depois, homem já feito, a tua mão ansiada
não fez, de um galho tosco, um cabo para a enxada?"

"Não vás" - lhe disse o azul - "Os meus astros ideais
num forasteiro céu tu nunca os verás mais.
Hostis, ao teu olhar, estrelas ignoradas
hão de relampejar como pontas de espadas.
Suas irmãs daqui, em vão, ansiosas, logo,
irão te procurar com seus olhos de fogo...
Calcula, agora, a dor destas pobres estrelas
correndo atrás de quem anda fugindo delas..."

Juca olhou para a terra e a terra muda e fria
pela voz do silêncio ela também dizia:

"Juca Mulato, és meu! Não fujas que eu te sigo.
Onde estejam teus pés, eu estarei contigo.
Tudo é nada, ilusão! Por sobre toda a esfera
há uma cova que se abre, há meu ventre que espera.

Nesse ventre há uma noite escura e ilimitada,
e nela o mesmo sono e nele o mesmo nada.
Por isso o que te vale ir, fugitivo e a esmo,
buscar a mesma dor que trazes em ti mesmo ?
Tu queres esquecer? Não fujas ao tormento.
Só por meio da dor se alcança o esquecimento.
Não vás. Aqui serão teus dias mais serenos,
que, na terra natal, a própria dor dói menos...
E fica que é melhor morrer (ai, bem sei eu!)
no pedaço de chão em que a gente nasceu!"

RESSURREIÇÃO

1

Coqueiro! Eu te compreendo o sonho inatingível:
queres subir ao céu, mas prende-te a raiz...
O destino que tens de querer o impossível
é igual a este meu de querer ser feliz.

Por mais que bebas a seiva e que as forças recolhas,
que os verdes braços teus ergas aos céus risonhos,
no último esforço vão, caem-te murchas as folhas
e a mim, murchos, os sonhos!
Ai! coqueiro do mato! Ai! coqueiro do mato!
Em vão tentas os céus escalar na investida...
Tua sorte é tal qual a de Juca Mulato...
Ai! tu sempre serás um coqueiro do mato...
Ai! Eu sempre serei infeliz nesta vida!"

2

"Ser feliz! Ser feliz estava em mim, Senhora...
este sonho que ergui, o poderia por
onde quisesse, longe até da minha dor,
em um lugar qualquer onde a ventura mora;

onde, quando o buscasse, o encontrasse a toda hora,
tivesse-o em minhas mãos... Mas, louco sonhador,
eu coloquei muito alto o meu sonho de amor...
Guardei-o em vosso olhar e me arrependo agora.
O homem foi sempre assim... Em sua ingenuidade
teme levar consigo o próprio sonho, a esmo,
e oculta-o sem saber se depois o achará...

E quando vai buscar sua felicidade,
ele, que poderia encontrá-la em si mesmo,
escondeu-a tão bem que nem sabe onde está!"

3

E Mulato parou.
Do alto daquela serra,
cismando, o seu olhar era vago e tristonho:
"Se minha alma surgiu para a glória do sonho,
o meu braço nasceu para a faina da terra."

Reviu o cafezal, as plantas alinhadas,
todo o heróico labor que se agita na empreita,
palpitou na esperança imensa das floradas,
pressentiu a fartura enorme da colheita...

Consolou-se depois: "O Senhor jamais erra...
Vai! Esquece a emoção que na alma tumultua.
Juca Mulato volta outra vez para a terra,
procura o teu amor numa alma irmã da tua.

Esquece calmo e forte. O destino que impera
um recíproco amor às almas todas deu.
Em vez de desejar o olhar que te exaspera,
procura esse outro olhar que te espreita e te espera,
que há, por certo, um olhar que espera pelo teu..."

Fonte:
PICCHIA, Menotti Del. Juca Mulato. 1917.